Não tem como não se ficar chocado ao ver a falta de respeito e consideração dos pais com os filhos na hora da separação, momento em que a criança está fragilizada, sofrendo, mesmo que não verbalize. Nesta hora o que impera é o sentimento de vingança em relação ao cônjuge, esquecem que têm filhos e que deveriam poupá-los. Vê-se isto com frequência nos processos litigiosos, onde um cônjuge quer agredir o outro e acaba usando o filho para isto, não pensando nos prejuízos que isto causara na vida psíquica da criança. Este mecanismo usado por alguns pais, chama-se de Alienação parental ou Síndrome de Alienação parental.

Gadner, psiquiatra americano que nos apresentou a alienação parental e a síndrome de alienação parental, diferencia a alienação parental da síndrome, referindo que a síndrome se dá quando a criança se junta ao alienador e começa a falar e agir contra a figura do alienado. Claro que temos que ter cuidado para não querermos enquadrar todo mundo neste quadro de alienação ou na síndrome de alienação parental. Temos que entender também que a pessoa que age desta forma, muito provavelmente apresenta problema de ordem emocional/psicológica e quiçá um transtorno de personalidade.

A alienação parental pode começar quando o casal ainda está casado e se acentuar após o processo de separação. Desconsiderar ou desvalorizar o que o cônjuge diz, criticá-lo, ridicularizá-lo, desautoriza-lo em relação aos filhos são algumas das formas de alienação parental. A pessoa que age desta forma denota ter algum tipo de problema, pois esquece que aquela pessoa que está atacando foi escolhida por ela, inclusive para ser o pai ou mãe dos seus filhos. As dificuldades que surgem no decorrer da relação, deveriam ser solucionadas pelo casal, porém, muitos preferem ficar trocando farpas até o respeito terminar e não conseguirem mais viver juntos.

Alguns autores referem que a alienação parental é feita pelas mães, mas na prática isto não se confirma, vê-se também pais que fazem alienação parental e que conseguem jogar a criança contra mãe. O interessante que o alienador normalmente não se percebe como tal, acredita que está protegendo o filho. As estatísticas referem que o maior número de alienações se dá pela figura materna.

Durante este processo de alienação e de colocar a criança contra o alienado é bastante comum a implantação de falsas memórias, ou seja, são informações falsas compatíveis com a experiência, passando a ser incorporado como vivido. A criança afirma que algo aconteceu, mas na realidade nunca vivenciou a situação, mesmo assim, a riqueza de informações e detalhes é espantoso.

Pode-se pensar que a criança que é envolvida neste comportamento perverso de um dos seus genitores é vítima de maus-tratos, porque isto terá uma repercussão importante na vida psíquica e emocional da criança. Ela poderá começar a apresentar agressividade física e/ou verbal podendo ser justificado por motivos fúteis, sentimento de ódio dirigido ao alienado sem ambivalência, referindo que chegou sozinho as conclusões e passa a defender o alienador de forma racional, relata casos que não viveu e armazena na memória fatos considerados negativos sobre o genitor alienado, evita entrar em contato com o genitor alienado. Futuramente, em sua vida adulta, poderá se tornar um alienador.

Tentar resolver seus conflitos, diferenças, ciúmes, frustrações valendo-se da ingenuidade da criança é algo muito doentio. O casal deveria resolver as diferenças e os sentimentos que surgem na hora da separação entre eles, sem usar os filhos para atacar o cônjuge, deveriam procurar proteger os filhos dos conflitos que vivem neste processo, porém, o que vemos é exatamente ao contrário, escracham os conflitos e muitos querem que o filho tome partido, esquecendo que a criança não tem estrutura de ego para dar conta disto e que não é algo que tenha que resolver, pois amo os dois e, provavelmente, gostaria que seus genitores permanecessem juntos.

Usar a criança no processo de separação demonstra o alto grau de egoísmo do genitor alienador, a sua falta de capacidade de lidar com a frustração, o sentimento de fracasso, de revolta, entre tantas outras coisas que poderia citar aqui. O ideal seria que ao verem que o casamento não dá mais, procurassem um profissional da saúde mental para que pudessem ser ajudados neste processo que é difícil, a fim de que o casal saísse do relacionamento com o menor número possível de sequelas, para que as crianças não precisassem viver esta tortura em que as colocam.

Quando o processo de alienação ou a síndrome de alienação parental está instalado, o ideal é que todos os membros da família recebessem um apoio psicológico, para que conseguissem romper o ciclo de acusações e violência que se estabelece, entretanto, sabe-se que na maioria das vezes este tipo de agressividade que se estabelece perdurará até a criança conseguir ter discernimento do que realmente aconteceu no processo de separação dos pais. Por vezes, carregam isto por toda vida, repetindo com os seus parceiros (as) o que viveram na infância, sem perceberem. Com isto, continuam sofrendo, infelizes e perpetuado o processo de alienação ou da síndrome de alienação parental na família que constituiu, percebendo como algo natural.