RESENHA

Cassorla, Roosevelt M.S. - O Que é Suicídio - Editora: Brasiliense-ISBN: 8511011277
Ano 1992 ? 4 ª Edição.

Neste livro o autor nos leva a refletir sobre o suicídio e suas causas, uma engenhosa reflexão para que possamos enveredar até a obscuridade deste ato, sem que julguemos quem o faça. O autor acertou quando narra ser o suicídio, a morte de si mesmo, os devaneios da mente diante da vontade de interromper, aniquilar a vida, diante de uma eminência chamada dor, sofrimento, depressão, solidão, que a maioria dos suicidas acredita ser para sempre em suas vidas, e onde o corpo e a mente ficam debilitados, fazendo com que um seja cúmplice do outro, físico e moral tornando-se complacente na amargura, findando em um suicídio. Disse bem o autor, quais são as causas que nos levam a cometer essa ação? Deixa também uma pergunta no ar: Falta de Fé? E acredita ser a total incredulidade na vida após a morte. Quer ele, que com essa leitura interessante, percebemos as fantasias que aspectos diferentes relacionados à dor passam em nossas cabeças, quem nunca pensou em suicídio, quando nos deparamos com o sofrimento, queremos fugir não existir, desintegrar, isto é uma forma de suicídio inerente. O suicídio está em todas as partes, em todos os lugares, tendo sua terminologia, como um fato social, ou seja, qualquer forma de coerção sobre os indivíduos que são tidos como uma coisa exterior a eles, tendo uma existência independente e estabelecida em toda a sociedade, daí o sociólogo Emille Durkheim envolto ao início da Revolução Industrial, notando o alto crescimento do suicídio, estudou com afinco a atitude individual de revogar a própria vida, podendo ser causada entre outros fatores por um elevado grau de sofrimento, que tanto pode ser verdadeiro ou ter sua origem em algum transtorno afetivo, transtorno psiquiátrico agudo quando o indivíduo sai da realidade, contudo, não o percebe, ou a depressão delirante. O autor alerta para as fantasias que surgem no suicida, que acredito ser proeminente do ego, do orgulho, da vergonha. A vingança vem atrelada na mágoa, muitas vezes martela tanto na cabeça, que a pessoa torna-se escravo desta vontade. Disse bem o Filósofo Michael Foucault, relações de poder estão em diversas partes de nossas vidas, Algumas pessoas cometem suicídio após o rompimento de um romance, por vingança também, como lembra o autor. Então encontramos uma relação de poder entre o suicida e seu conflito atual, Getúlio Vargas como ressaltado no livro, matou-se não com o intuito de vingança contra seus inimigos, para que estes por sua vez ficassem arrependidos, Getúlio saiu da vida para entrar em sua própria história, seu conflito era seu próprio orgulho ferido, pelo qual acreditava ou delirava, que um homem como ele nunca deveria entregar-se. Acredito que pela mesma alucinação passou Nero, assim como Cleópatra e Adolf Hitler. Quantos não cometem esse desatino em hospícios, prisões, seria uma luta entre o indivíduo e os constantes remédios recebidos, ou o indivíduo e os carcereiros, onde o sistema que impõem regras e não suportando tal pressão mata-se. Ao terminar seu romance com Rodin, Camille Claudel entrou em transe e acabou em uma clínica para loucos, decretando assim o seu próprio suicídio, anos e anos mais tarde quando já envelhecera, morrendo sozinha e solitária. No livro, Madame Bovary não agüentou ser deixada por seu amante caindo em ruína, até dar cabo de sua vida, enquanto que seu marido sofrendo a separação na morte da esposa, comete o mesmo ato, entramos então em um campo delicado, onde Allan Kardec diz que continuamos a viver além túmulo e colheremos as conseqüências de erros passados, olhando por este lado, volto a citar que o autor está certo quando reflete sobre a falta de fé. Mas vale lembrar, que nem todo mundo acredita em vida após morte. Toda ação em matar-se, trás suas causas, e infelizmente suas conseqüências e sua autodestruição comenta muito bem o autor. Quando o autor cita a epidemia de moças suicidas, onde os cadáveres eram levados nus, até o cemitério para servissem de modelo e para que não ocorressem mais a mesma insanidade, exemplifico o pensamento de Foucault novamente, à época dos suplícios, ocorria à mesma manifestação, daí refletimos: suicídios existem desde os tempos remotos, e a vontade e maneira só depende de estar na hora certa e no lugar certo. Pensemos agora nas fantasias citadas no livro, acredita o autor serem reações dos vivos diante da morte, muitas vezes não querendo sua própria morte, mas fantasia o objeto de sua desforra, sofrendo, amargurado. Conta o autor uma estória engraçada onde o suicida não querendo nada que pudesse salvá-lo, desiste do feito, quando se vê ameaçado com uma arma. Então pensamos, ninguém no fundo do seu ser, quer morrer, apenas amenizar a sua dor. Na leitura deste livro sentimos vontade de analisar diversas facetas do suicídio como o cultural e social bem lembrado pelo autor. No social encontramos Santos Dumont, notando que sua grande invenção acabou nas mãos da grande guerra, tirou sua vida em total depressão, acreditando ter fragmentado a sociedade. Os anciãos acreditando estar dando muito trabalho a seus familiares devido à idade avançada e doenças constantes, acabam por dar cabo de suas vida, com o mesmo sintoma. Não podemos deixar de citar que ainda no social, existem pessoas que por encontrarem desempregados, sem esperança, filhos e esposa para serem alimentados, perdem totalmente o chão, sentem-se fracos, incapazes. No cultural existem diversos aspectos a levar em consideração, o tabu criado através das crenças religiosas, onde condenam taxando de pecado e o ato cometido para fugir à desonra, onde diversos jovens japoneses quando não conseguem passar no vestibular cometem suicídio. Ernest Hemingway, escritor renomado, várias obras escrita por ele teve o seu final trágico, acredito que certas pessoas entram tanto em suas ficções, que acarretam dupla personalidade, não sabendo até onde vai ou está seguindo sua própria existência, onde de repente, talvez cansado, fantasiando incorrigível, certa manhã, acabou de vez com seu sonho. Mas no aspecto cultural, uma pessoa, com uma bagagem cultural ampla, poderá cometer o suicídio, devido às pressões encontradas, como filhos onde os pais querem a qualquer custo que siga a profissão do pai ou do avô, como Advogado, Médico, e o mesmo por sua vez não quer estudar para exercer este cargo, sem ação, sem noção do que fazer e até mesmo não querendo desiludir seus familiares, arraiga-se então, na única saída possível para seu pesadelo atual, ou seja, a morte do seu ser.
O autor leva-nos a delirar em nossos próprios pensamentos, quanto ao suicídio inconsciente, como o fumante dizendo sempre não conseguir parar, arranjando desculpas, onde analiso friamente ser o desejo de morrer gritando de dentro do seu íntimo.
Vale lembrar que o autor cita também no mesmo grupo, os alcoólatras e os viciados em drogas. Descreve bem o autor, suicídios ligados ao fracasso, ao mesmo tempo em que existe suicidas que ao atingir o cume da sua vida profissional, tendo então status e poder, e não existindo mais nada a conquistar, cai em profunda depressão, acreditando ser o fim de sua existência, comete essa atrocidade no seu próprio corpo e espírito, como citou Allan Kardec. A leitura deste livro é interessante porque nos leva a ver e a pensar de vários anglos, tanto no campo espiritual, científico e atual. Virginia Woolf sentia a sensação de opressão, perigo, horror, sintomas de depressão grave, sentindo-se incapaz de controlar a vida, escolhe a morte, afogando-se num rio com os bolsos repletos de pedras. Ressalto que muitos jovens estão se matando por qualquer razão que os desagrada, ou seja, seria o excesso de uma vida elitizada ou a falta de estrutura fazendo com que estes procurem a morte como consolo? Vale refletir! O suicídio é a causa mortis de depressivos, solitários, desesperançados, deprimidos, desempregados, mulheres, homens, crianças e jovens, negros, brancos e índios, um sentimento, mágoa, desgosto, melancolia que pode ser experimentado por qual raça, e onde devemos respeitar e tenta entender as razões.
O filósofo Albert Camus deixou-nos uma frase para refletirmos: "O suicídio é a grande questão filosófica de nosso tempo" Enfim, este livro nos leva a imaginar, fantasiar, estudar e pensar profundamente no suicídio e suas conseqüências.
Analisando o que o autor transcreveu neste livro, partindo do pressuposto que o indivíduo possa ter tendência suicida, e acredito que até involuntariamente, como Oscar Wilde escritor intelectual, após uma vida conturbada com seus amores, alcançou sucesso, mas acabou na prisão acusado de sodomia, gestos obscenos e por sua escrita imoral para a época, foi à falência, terminou seus dias embebedando-se, solitário em um quarto de fundos, morreu de um violento ataque de meningite agravado pelo álcool e pela sífilis. Cometeu suicídio? Sim. Constrangido com sua vida cheia de rumores, sem esperança, encontrou alento na bebida, e por anos e anos achou que aquela condição lhe traria conforto, quando que na verdade só lhe trouxe a morte, regada a frustrações. Acredito que não queria morrer, mas a infelicidade, somente mostrou-lhe a morte como saída.
Interessante citar alguém que tenha cometido o suicídio, para analisar o ponto de vista do autor, como Judas Iscariote, tirou sua vida após entregar Jesus, que teria levado-o a cometer essa injúria contra sua própria vida e a de Jesus? Não sabemos, e a mais de dois mil anos ainda procura-se entender o porquê.
A vergonha, o medo do inferno, o remorso fez com que num ato corajoso, desse cabo de sua existência. Se pararmos para pensar seriamente, veremos que existem realmente inúmeros motivos para o suicídio, o autor deixa bem claro este argumento.
Porque uma depressão nos deixa totalmente indefesos, incapazes a ponto de não querermos mais viver, a humilhação faz com que perdemos o rumo da situação, fazendo-nos acreditar que sua realidade é outra, que somos puros vermes, daí gerando dados ao consciente, para que ele se torne totalmente inconsciente.
Totalmente levado pela insensatez, pela falta de esperança na alma, o espírito cansado de sofrimento e dores constantes, a mente debilitada de energias negativas, desacreditado de si mesmo, a falta de confiança no seu próximo, a falta de fé crescente dentro do seu íntimo, o não temer as leis divinas, ignorando qualquer religião, por total egoísmo naquele instante de loucura frenética e acreditando só haver salvação na sua morte, vindo a matar-se, perder-se, desgraçar-se, arruinar-se, causar a própria ruína.
Por fim, sintetizando ainda Durkheim pensava ele que o suicídio varia na razão inversa do grau de integração da sociedade. Existem vários casos de homens e mulheres em casos de falência preferiram matar-se por entender que a vida não seria mais a mesma e a sociedade não mais os aceitaria ou precisariam deles. Era o modo que pensavam, imaginavam, o egoísmo em alta naquele momento, sem saber se estavam certos ou errados.
Creio que o indivíduo que comete o suicídio, não está no seu juízo perfeito não por doença como é taxado, encontra-se apenas na sua doideira, maluquice, demência, insanidade, do seu "eu" interior, a sua psique grita por auxílio, por luz, por felicidade, por amor, por qualquer coisa que a sua alma acredita ser bom para sua vida, e quando se vêem abandonados, amargurados, acreditam ser vítimas da desumanidade e crueldade que lhes afetam o coração, e em total desatino acabam por matar-se. Esta situação está enraizada em qualquer raça, credo, cultura, no social, intelectual, sexo, todos que se arrastam pelos infortúnios da vida.
O autor quer nesta leitura discussão, reflexão, análise e modos de pensar de cada um, abordagem interessante, que já vem sendo discutida por várias décadas.


Outros Livros do Autor:
Da morte: estudos brasileiros.
Roosevelt M. S. Cassorla
São Paulo: Papirus, 1991.
Do suicídio: estudos brasileiros
Roosevelt M. S. Cassorla e Haim Grünspun (org.)
São Paulo: Papirus, 1991.