O QUE É VIDA DEPOIS DA MORTE

Para eu saber que sobreviverei após a morte, tenho que provar que sou espírito e que apenas o corpo morre (se desfaz em suas partes constituintes, como uma casa abandonada). Que o corpo morre é fato que ninguém contesta, pois tudo que é matéria está constantemente se esfacelando. Por isso temos que nos alimentar para repor o que está sendo perdido a cada instante (temos que fazer manutenção na casa enquanto a estamos ocupando ou somos responsáveis por ela). É como uma fornalha na qual sempre estamos pondo lenha para o fogo não apagar.

Como um fogo poderia queimar para sempre?

O fogo, como o conhecemos quimicamente, teria que ter um suprimento infinito de oxigênio e de combustível. Estas duas substâncias teriam que estar reagindo e infinitamente presentes naquele lugar, já que o homem mortal não poderia ficar para sempre mantendo aquele fogo.

É difícil aceitar que a quantidade de matéria, principalmente matéria combustível, seja infinita. Quando a razão vê conjuntos limitados de alguma coisa, ela não consegue aceitar que haja um conjunto infinito daqueles conjuntos. Mas, vamos supor que o oxigênio e o combustível existam em quantidades infinitas.

Agora, como você, enquanto matéria, poderia viver para sempre como aquele fogo?

Veja que ele passa a existir apenas com o oxigênio e o combustível. Você precisa de oxigênio, de alimento e de um mecanismo para transformar o alimento em combustível.

O fogo, também material como você, está “tecnologicamente mais avançado” em relação a você. Sim, pois o teu alimento não vem do ar, não está pronto, precisa ser simplificado.

Claramente, esse mecanismo que existe em você, tem, pelo menos, duas partes: a parte que encontra e traz (ingere) o alimento e a parte que transforma esse alimento em combustível.

A primeira parte não sabemos o que é ainda. É o que tentaremos descobrir adiante.

A segunda parte é um maquinário que é mantido pelo próprio combustível transformado do alimento, do mesmo modo que o maquinário do coração purifica o sangue e alimenta as peças dessa máquina antes de alimentar o resto do corpo.

Esse maquinário, essa segunda parte do mecanismo que te sustenta, claramente depende totalmente da primeira parte. Isso te diferencia do fogo. Você é mais complexo do que ele. Tudo o que ele faz, você faz também. De certo modo, ele está em você. Então, tecnologicamente, você está, no mínimo, pareado com ele.

Com exceção da primeira parte do mecanismo, que podemos chamar de alma ou espírito, você sabe que o resto degenera e morre. O teu avô, com 90 anos de idade, está fisicamente acabando, mas o EU dele permanece intacto, apesar de algumas dificuldades de se manifestar através do corpo em ruínas.

A questão a ser provada aqui é se o EU, a alma, o espírito, ou qualquer nome que se dê a isso, àquilo que nos faz percebermos a nós mesmos como um corpo e perceber a si mesmo como aquele que percebe o corpo, morre junto com o corpo; se aquilo que controla o corpo, que interage consigo mesmo e com os demais seres, seja através do corpo ou do pensamento, desaparece com a morte[1].

É muito difícil de aceitar que um corpo totalmente matéria seja capaz de ter aquele tipo de percepção (perceber e ser percebido por si mesmo). Por outro lado, é fácil aceitar que eu sou algo diferente de meu corpo e que eu o comando, seja eu um indivíduo dentro de meu próprio corpo ou uma força que se individualiza através deste corpo.

Esse corpo nasceu da junção de pequenos fragmentos (na verdade, dois fragmentos) de dois outros corpos, os quais chamo hoje de “meu pai” e de “minha mãe”. Dois fragmentos, como um grão de milho e um grão de feijão. O que poderia nascer daí se não houvesse uma força intencional agindo em cada um? Venha essa força de fora ou de dentro de cada grão, o certo é que ela tem consciência do que deve ser feito, caso contrário, haveria muito mais espécies de mamíferos do que conhecemos, e seria impossível fazer uma separação de espécies. Haveriam seres materiais que chamaríamos de bizarros, apesar de “bizarro” ser o que sai do “normal” hoje.

O certo é que aqui estou com meu corpo e sou diferente de meu pai e de minha mãe. Na verdade, a única coisa que precisei deles foi um fragmento de cada um. A questão da barriga de minha mãe e a alimentação de meu corpo é uma questão de ambiente ideal apenas.

A força que sustenta meu pai e sustenta minha mãe, pode ser a mesma força que me sustenta, fazendo cada um diferente através do corpo que ela mesmo formou para se manifestar. Ou pode ser uma força exclusivamente minha (e uma exclusiva para meu pai e outra para minha mãe).

De qualquer maneira, a força que sustentava o corpo de meu pai, deixou de fazê-lo há 37 anos, assim como a que sustentava o corpo de minha esposa deixou de fazê-lo há 8 anos. Podem estar, agora, sustentando outros corpos, ou não. Sumiu a força ou sumiu o instrumento? Se a força é única (universal), então foi o instrumento (o corpo) que sumiu; se a força é individual, não se sabe se foi ela que sumiu, pois não há como medirmos isso. Por enquanto, a que sustenta meu corpo ainda está aqui.

Com esse corpo eu ando, corro, controlo o meu carro, me alimento (até de animais, vegetais e minerais), dejeto, tomo banho, carrego alguém ou alguma coisa, converso, rio, choro, durmo, acordo (felizmente, pois dormir está mais sob meu controle do que acordar), pulo, brinco, conserto coisas, estrago coisas, construo, destruo, jogo bola, assisto TV, assisto cinema, pego, solto, vejo, ouço, sinto formas, sinto cheiros, sinto gostos, tenho dores, sinto alívio, passo mal, fico bem, fico triste (como o corpo fica triste?), escrevo, leio, faço tudo que não possa machucar meu corpo severamente.

Eu penso, desejo, imagino e sonho. Eu lembro, esqueço (esqueço mesmo ou apenas não consigo acesso às minhas memórias naquele momento?). Mas, no final, esse corpo morre.

O que um animal faz? Muitas das coisas que eu faço e coisas que eu não faço. A diferença a meu favor são coisas construtivas, como controlar o meu carro, consertar coisas e escrever. Tomar banho, carregar algo, construir e mesmo conversar (apenas não entendo), ele pode fazer, sim. No geral, faço mais coisas com meu corpo que o animal com o dele.

Alguns animais voam, outros põem ovos, alimentam-se (de outros animais, incluindo o homem, vegetais e até de minerais).

Outras coisas mais temos em comum: nascemos de dois fragmentos, mesmo que no caso de alguns deles esses dois fragmentos provenham de um único corpo.

Para matarmos, não precisamos de ajuda, mas para criar vida precisamos. Se precisamos de ajuda para matarmos, então, quem se suicida é corpo e é alma. Como temos a capacidade de nos matarmos...

Em termos de corpo, um chimpanzé deveria ser capaz de construir coisas, dirigir um carro e escrever. Tamanho de cérebro nada significa, capacidade cerebral sim. Porém, capacidade cerebral é como um conjunto de programas especializados que são distribuídos entre os cérebros sob um critério que desconhecemos.

Que grupo de pessoas pode se movimentar como um bando de andorinhas, sem encontrões entre si?

O corpo é um instrumento controlado por uma vontade que é um pouco nossa enquanto estamos conscientes dele e, talvez, totalmente nossa (ou não!) quando ele morre. O que, claramente, limita a nossa vontade é o próprio corpo, se bem que esse limite se expande, até onde pode, quando uma vontade maior entra em cena. Se, nesse momento, nos conscientizarmos disso, a nossa própria vontade crescerá.

O que um vegetal pode fazer? Muito menos coisas que um animal. Além das coisas que obviamente ele não pode fazer, uma que temos absoluta certeza é que um vegetal não se locomove.

Outras coisas que não são tão óbvias para nós, como sentimentos, apesar de acharmos, às vezes, que uma planta está triste ou alegre. Não sabemos se choram, conversam ou dormem. Temos um grande defeito: achamos que se tal ou qual ser não tem nossas “qualidades”, então ele é inferior.

Temos a mania de pensarmos no inverso da verdade. Isso é um complexo inconsciente.

A coisa em comum que temos com os vegetais é, de novo, a origem através de dois fragmentos provindos do pai e da mãe.

Você consegue diferenciar várias pessoas umas das outras, mesmo que sejam da mesma família. Com mais dificuldade, pode conseguir diferenciar vários animais uns dos outros, mesmo que sejam de famílias ou espécies diferentes. Por que tem gato, leão e tigre, chimpanzé, macaco, gorila e babuíno, e só homo sapiens?

A coisa fica pior ainda se forem animais de tamanhos invisíveis ou quase.

Dificilmente você vai conseguir diferenciar vegetais em uma floresta.

Nesse quesito (capacidade de diferenciar), a maioria dos animais nos deixam para trás. Têm um grau de reconhecimento bastante acima do nosso. Por isso construímos máquinas complexas para superá-los. Isso que nos põe, artificialmente, acima deles.

Nada sabemos sobre essa qualidade nos vegetais. Nada podemos afirmar.

Será que a força que sustenta nosso corpo é a mesma que sustenta os animais e as plantas? Por que a aparência física aumenta ao se descer na pirâmide?

 
   


Em outras palavras: por que há um maior número de espécies vegetais do que de animais, e mais de animais do que de humanos (apenas uma)?

O que viria acima do homem e abaixo dos vegetais? Em termos de semelhança física, logo abaixo do homem estão os macacos. Mas, mesmo no grupo dos símios há grande variação: micos, macacos, babuínos, chimpanzés, orangotangos e gorilas.

Em termos de semelhança mental, o número cresce bastante. Além dos macacos, podemos incluir porcos, cães, gatos, algumas aves, e até seres marítimos.

Fica claro que o ambiente planetário influencia muito a forma física e muito pouco a forma mental. Em outros planetas, certamente não reconheceríamos as formas físicas, mas podemos reconhecer muitas formas mentais. A forma mental mais elevada até agora conhecida é a do homem. E é isso que o coloca no topo da pirâmide. Forma mental como a humana só ocupa um tipo de corpo físico.

Logicamente, uma forma mental superior à humana não ocupará um corpo físico humano. Tem que ser um corpo que não é único como o humano e, obviamente, nem variável como o dos animais.

Desde a base da pirâmide, o número de variações vem diminuindo, até que reste um, apenas um, se confundindo com a própria matriz geradora da espécie, que se replica sem variações, numa simetria perfeita: qualquer filho de humano é humano (um filho de macaco é mico, ou é chimpanzé, ou é gorila, etc.).

 
   

A replicação ocorre em qualquer faixa da pirâmide. Então ocorre também nas faixas que estão acima do homem.

A matriz humana é 1 e é material. O que está acima do homem não é material e pode ser uma outra pirâmide, que provê os correspondentes espirituais da pirâmide material. E estes seres, com forma mental apenas, podem habitar qualquer planeta, pois, cada planeta tem a pirâmide “material” que é adequada a seu ambiente.

Nesse caso, somos espíritos encarnados, estando estes no topo da pirâmide espiritual. O que implica que em suas partes inferiores estão as forças que animam os animais e outras formas de vida.

E a pergunta recorre: o que está acima da pirâmide espiritual?

De que o corpo precisa? De um espírito para animá-lo e cuidar dele e dos outros corpos, animados e inanimados.

De que o espírito precisa? Por um lado, de um criador de si, dos outros e, talvez, precise de um corpo em qualquer planeta.

Precisa ele ser animado, como o corpo? Não, ele já é essa animação, essa força.

Precisa ele ser gerado, como o corpo é gerado?

Temos estas alternativas:

  • Ele existe desde sempre. Mas, já teria aprendido tudo!
  • Ele é criado por aquele que está acima da pirâmide espiritual. Mas, criado do nada? Do ser superior? Mas, estas são perguntas materiais.
  • Ele é uma manifestação daquele que está acima da pirâmide espiritual. Mas, aqui e acima, o “aquele” tem que existir desde sempre.

Sim, ele precisa ser gerado como uma centelha o é. Ele precisa aprender. Aprender o que? Eu não sei. Talvez um deles saiba. Talvez aquele que está acima da pirâmide espiritual esteja gerando, com isso, um ser igual a ele, assim como a matriz humana gera humanos.

Talvez o universo deva ser populado com deuses apenas, e somos apenas uma transição.

Talvez Deus seja uma população universal.

Talvez tudo caminha do mineral, vegetal, animal, passando pelos humanos, santos e anjos até virar um corpo único, como um bando de andorinhas, porém individualizados.

Mas, a ciência materialista se apressa em explicar fisicamente (mesmo sabendo que o físico não existe), como se a demora em dar uma explicação materialista confirmasse o outro lado (não-materialismo). Existe um temor do que lhes é inexplicável se mostrar exatamente o contrário do que pensam.

Como falei anteriormente, a barriga de minha mãe e o alimento são apenas uma questão de ambiente adequado. Esse ambiente adequado pode ser uma cuba, com os nutrientes necessários, na temperatura adequada (interna e externamente), contendo um óvulo maduro e vários espermatozoides.

 
   

Diz-se que qualquer parte do óvulo é penetrável, mas, quando um espermatozoide penetra, o óvulo reage e endurece a “casca”, evitando mais penetrações.

O óvulo, e qualquer espermatozoide, contém 23 cromossomos, representados pela letra n. Quando um espermatozoide se funde com o óvulo, surge uma célula com 46 cromossomos, ou 2n.

Por que o espermatozoide é atraído pelo óvulo? Necessidade de 2n? A atração é química? Claro que esta atração é por causa de algo que o próprio espermatozoide não tem. A atração não pode ser pela forma, senão qualquer tipo de espermatozóide poderia servir para ele.

O destino do óvulo é escapar para o ambiente externo, fugir, morrer. O destino do espermatozoide é ficar preso no ambiente interno, ser reabsorvido, continuar vivo. Se ele sai deste ambiente, ele busca desesperadamente voltar. Ou morre.

Ele vê no óvulo a sua porta de retorno e ali entra e é “reabsorvido”.

Nessa reabsorção, o ambiente é estranho. Não é capaz de regerar o espermatozoide, fazê-lo viver novamente.

Entram em ação, então, os mecanismos de reconstrução do ambiente. Um organismo inteiro começa a ser formado, com o apoio do organismo-mãe.

Do ponto de vista do organismo-mãe, aquilo é um tumor, mas ele lança mão de mecanismos que podem impedir a rejeição. Se, por algum motivo, o organismo-filho não se completar no devido tempo, o mecanismo de proteção falha e a rejeição ocorre: o espermatozoide e tudo o que foi gerado até aquele momento são expulsos para o ambiente externo e morrem.

Mas, o espermatozoide terá uma chance, entre duas, de conseguir seu intento de retornar a viver, porque a outra chance pertence ao óvulo. O que vai determinar o sucesso de um e o fracasso de outro será a formação do par 23 de cromossomos na célula inicial (embrião) do organismo-filho. Se o par for XY, o espermatozoide vence; se for XX, é o óvulo que vence. E cada um volta, de novo, à sua rotina: o óvulo querendo morrer e o espermatozoide querendo viver.

Provavelmente alguns óvulos vagueiam pelo universo, enquanto os espermatozoides estão absorvidos no nada. Se um espermatozoide escapar, eventualmente ele vai encontrar um óvulo. Mas, seu sucesso, depois desse encontro vai depender do local do encontro.

Aquele desespero do espermatozoide pode ser puramente químico-físico. De certa maneira ele (e também o óvulo) está vivo. Mas, estará plenamente vivo, isto é, é ele um ser que se funde com o ser óvulo, gerando o ser final que vai conter um ou outro?

O espermatozoide tem um espírito, consciência, alma? O óvulo tem?

É a parte n que gera um novo ser. Então, somos n apenas. Não importa o 2n.

Matematicamente falando:

n1 + n2 = n1 ou

n1 + n2 = n2, com n1 ≠ n2

n1 + n1 = 0

n2 + n2 = 0

C resulta de A + B, mas aonde estava o espírito de C? Seguramente ele é diferente do espírito de A e do de B. Idem, o corpo, obviamente. Mas, o corpo pode derivar, sim, de A e de B, desde que A e B (ou A, no caso) sejam alimentados para isso:

CA + CB + alimento à CC

Mas EA + EB                          EC

Se valesse: EA + EB + alimento = EC, o que seria o alimento?

É certo que cada n+n vai ter um espírito próprio e corpo próprio, o que implica que os n’s são diferentes. Mas, mesmo duas sequencias de n iguais (n1 + n2 e n3 + n4, onde n1 = n2 e n3 = n4) resultam dois corpos e dois espíritos diferentes.

Os corpos podem ser iguais, fisicamente e fisiologicamente, mas serão diferentes espacialmente. Os espíritos, seguramente, serão diferentes.

Portanto, o espírito não pode estar materialmente em n. Ele, certamente, surge depois da junção de n1 com n2, por exemplo.

Também não pode ser a vibração física resultante do “batimento” entre n1 e n2, pois que o batimento entre n3 e n4 resulta na mesmíssima vibração!

A conclusão é uma só: o espírito de C já estava em algum lugar antes de A e B se juntarem para gerar C, ou seja, o espírito de C preexistia a C.

O espírito de C pode ser uma força geral que se individualiza através de C (mas, como ficaria D = n3 + n4 ?) ou uma força individual em si (nesse caso, D tem sua própria força, seu próprio espírito).

Mas, uma vez em C e o corpo de C morrendo, o que acontece com EC?

Se ele é uma força geral, ele permanece, não morre com o corpo.

A força geral explica:

Sem lembranças das vidas passadas (as conexões que resultam na manifestação da memória ficam nas sinapses cerebrais);

Força mental para mudanças, pois é a própria força geral que é manipulada;

Memória sináptica – a força monta as conexões entre neurônios de acordo com o fato. Sempre que ela vibra essa estrutura, ocorre a lembrança

Se ele é uma força individual, então sempre existiu ou foi criado no momento em que 2n surge (isso é o que pensam católicos e evangélicos). Pode ter sido criado por uma entidade (Deus?) ou como uma reação ao corpo (nesse último caso, qualquer coisa no universo tem espírito, inclusive uma pedra).

Se ele sempre existiu, então vai continuar assim, ou seja, não vai morrer com o corpo, e isso leva à conclusão que a vida (não biológica) continua após a morte do corpo.

Se ele é uma reação ao corpo, então ele se dissolve na força geral e, portanto, permanece, apesar de não guardar experiências, ou, pode ainda, guardar essas lembranças na força geral, como se as lembranças de todo mundo fossem apenas lembranças de uma única pessoa, ou podem até ficar individualizadas (na força individual que reagiu ao corpo).

Em qualquer caso, o que importa é que ele permanece, o que nos leva à conclusão que a vida continua após a morte do corpo.

Se ele foi criado, não pode ter sido a partir do nada, por mágica. Tem que ter vindo da energia geral, o que nos leva, novamente, a concluir que ele permanece, e a vida continua após a morte do corpo.

Depois de abandonar o corpo morto, o que o espírito leva? Os pensamentos e experiência da última vida. Mas, seria a última e única vida, como pensam católicos e evangélicos? Ambos acreditam que o espírito entra num sono quase eterno, até o Dia do Juízo Final – a partir de quando não haverá mais criação. O Deus deles se cansou.

Enquanto aquele dia não chega, Deus continua criando um novo espírito para cada corpo que se forma. E se não nascer? e se houver aborto? Deus sabe de antemão? Mas, e o livre-arbítrio da mulher? Não, Deus sabe do que somos capazes e do que estamos prestes a fazer, mas não interfere diretamente.

Se sempre é criado um novo espírito, então por que quanto mais fundo no passado, menos “inteligentes” são os espíritos?

O criador era inexperiente e foi aprendendo com o tempo, como ocorre com o homem em relação à tecnologia? Nesse caso, o homem aprendendo é Deus aprendendo. E, se apenas Deus “lucra” com isso, então nada somos. Somos como pecinhas de lego.

Se apenas o homem lucra, então Deus está condenando-se a perder seu posto. Nem é preciso dizer, mas já dizendo, ambos lucram, como o pai lucra ao permitir o aprendizado para o filho.

O plano do criador é esse, depender do tempo que ele mesmo determina ao criar (dando um ritmo para as coisas) e ir evoluindo o espírito a cada nascimento? Para que encarnar, então? E, se é ele que determina o grau de inteligência, então não somos o que pensamos que somos. Somos, sim, bonecos sem vontade própria. E, se sou um boneco sem vontade própria, por que estou discutindo tudo isso? E por que você está lendo tudo isso se você não tem vontade própria? Por que estamos aqui “peitando” esse Deus rígido e desamoroso? Será que ele está perdendo o controle sobre seus bonecos como o Gepeto perdeu sobre o Pinóquio?

Não, não é assim. Espíritos novos podem ser criados, mas não o são para cada nascimento, pelo menos não para a Terra. Espíritos novos são mais atrasados do que espíritos velhos. Se um espírito novo, recém-criado, encarnar, não o será no planeta Terra, apesar do atraso mental deste.

Além do mais, dando uma olhada para trás em relação a essa teoria do “sempre é criado um novo espírito para encarnar”, veremos milhões de espíritos mentalmente atrasados “estocados” e/ou em sono eterno. Para que? Esse não é um plano inteligente.

De repente, o criador pode nivelar a inteligência de todos eles? Então ele não estava aprendendo, estava apenas perdendo tempo. Plano burro.

Mais lógico seria se estes espíritos (a geração passada) morressem com o corpo (ou se dissolvessem na energia geral, voltassem à massa primordial). Mas, continuaria não sendo um bom plano, pois mostra incompetência e continuamos sendo bonecos apenas.

Havendo um criador ou não (reação ao corpo), nossa razão não consegue, não quer aceitar essa “bonequice”. Ela sente que não é assim.

O fato de não termos lembranças claras do passado não prova que somos “fresquinhos”.

Sim, há criação nova, mas não é sempre nova. Há criação de espírito e há criação de corpo. Um corpo pode receber um espírito novo, fresco, ou um espírito renovado, mais experiente que o novo. Um espírito pode reencarnar. A razão clama por isso. A lógica clama por isso. Haja um criador (e há, pois é óbvio que a Natureza cria, sem ser humana) ou não (não há uma entidade humanizada criadora), é isso que acontece. Ninguém morre. Nada se perde, tudo se transforma. Isso acontece na vida e na chamada morte.

Há vida depois da morte, para quem continua vivendo e para quem morreu para os vivos.

A única coisa (não envolvendo um Deus) que provaria a reencarnação seria a lembrança de vidas passadas. O problema é que não sabemos diferenciar uma lembrança atual de uma lembrança passada, porque qualquer lembrança acontece agora (e tem que ser assim), e a ligamos ao momento se não aconteceu nesta vida.

A única coisa que prova vida depois da morte ou não e reencarnação ou não, é a morte do corpo. O problema é que um corpo vivo plenamente (com um espírito se manifestando através dele) só pode interagir com outro corpo plenamente vivo. Mesmo que o espírito daquele corpo que se foi esteja presente, não há comunicação, porque não há mais sintonia. De qualquer maneira, a prova do contrário também não é possível.

De qualquer modo, a balança pende mais para o lado da vida após a morte, e isso é uma prova aproximada.

Brasilio – 2007/2008.



[1] A questão de responder sobre a morte é exatamente a questão da interação. Podemos dizer que se um amigo teu para de interagir contigo fisicamente (para todos os teus sentidos), ele morreu. Fulano está morto se vejo seu corpo inerte, sem respiração, sem batimentos cardíacos, frio, rijo, começando a degenerar.

Não há como provar que a interação total consigo mesmo cessa com a morte. Mesmo que fossemos todos telepatas, até a interrupção total da comunicação entre você e o teu amigo não poderia provar que ele morreu. A interação dele consigo mesmo pode continuar, tenha ele morrido ou não.

O único jeito de se provar que não se morre é morrendo. O problema é que essa prova é particular, mas vamos ver se conseguimos uma prova geral ou nos aproximamos de uma, seja para o sim, seja para o não.