Thiago B. Soares[1]

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[1] Doutorando (PPGL-UFSCar). E-mail: [email protected]

 

 

De início, devemos levar em conta que comumente não se considera a complexidade do processo de ensino-aprendizagem, sendo nesse sentido que Edgar Morin (apud MONTE-SERRAT, 2007, p.68) aponta que:

 

Todo acontecimento cognitivo necessita da conjunção de processos energéticos, elétricos, químicos, fisiológicos, cerebrais, existenciais, psicológicos, culturais, linguísticos, lógicos, ideais, individuais, coletivos, pessoais, transpessoais, e impessoais, que se encaixam uns nos outros.

 

Visto isso, a didática necessita compreender o educando como um indivíduo complexo para assim efetuar seu trabalho de forma pontual, ou seja, articulando os elementos constituintes do ser integral. Morin a esse tocante se expressa da seguinte forma: “quanto mais se busca totalidade mais se encontra o vazio” (apud ARAÚJO, 2002, p. 50). Aqui a educação se encontra num dilema do qual a didática soergue-se como uma musa inspiradora para a resolução de tal conflito, dessa forma Pereira e Hannas (2000, p. 168) consideram que a educação “deve alinhar-se à visão natural, sistêmica e não fragmentada, como consequência da nova visão de mundo e de pessoa”. Somado a isso, tem-se que a didática compreende uma metodologia que alcance o educando levando esse ao saber, contudo um saber que articule suas necessidades com seu espaço na sociedade, assim pode-se explorar uma integração de conhecimento e prática sociais. Não obstante a esse fato, outro atravanque constitui necessidade premente da didática, a saber, a metodologia das aulas, pois essas devem ser segundo Araújo (2002, p. 50):

 

A construção dos conhecimentos pressupondo um sujeito ativo, que participa de maneira intensa e reflexiva das aulas. Um sujeito que constrói sua inteligência e sua personalidade por meio do diálogo estabelecido com seus pais, com os professores e com a cultura, na própria realidade cotidiana no mundo em que vive.

 

A partir desses levantamentos pode-se dialogar com o pensamento do filósofo alemão Nietzsche que também contribuiu para educação ao dizer: “tanto conhecimento e cultura quanto possível – logo tanta produção e necessidade quanto possível – daí tanta felicidade quanto possível: eis mais ou menos a fórmula” (apud DIAS, 2003, p. 90). Em suma, considerar a realidade e sua disposição para os educandos na atualidade requer uso de uma didática materialista-dialética, na qual perceba-se as relações ideológicas de poder e medidas para compreendê-las e disseminá-las com o objetivo da construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Como um estudante francês escreveu em 1968 nas paredes da Sorbonne: “sede realistas, procurai o impossível” (PEREIRA & HANNAS, 2000, p. 97).

Tendo em vista o que foi dito, uma didática eficiente pressupõe um olhar diferente sobre o aluno e o contexto em que esse está inserido, de forma a valorizar o que já é lugar comum para os alunos, ou seja, sua bagagem de vida, em outras palavras, seu conhecimento prévio. Contudo, é fundamental lembra que professor esteja sempre alerta no sentido de desenvolver competências e habilidades úteis para a vida do aluno, claramente, sem perder de vista os conteúdos já padronizados pela legislação educacional, e, ainda, demonstrar a validade do saber na medida em que possa ser aplicado, ou seja, articular a teoria com a prática. Assim, pode-se desenvolver uma prática pedagógica mais humana que contribua para o crescimento do ser e seus valores éticos e morais, renovando sempre os laços da escola com a sociedade em constante mudanças, somadas as práticas docentes.

REFERÊNCIA

ARAÚJO, F. Ulisses. A construção de escolas democráticas: histórias sobre complexidades, mudanças e resistências. São Paulo: Moderna, 2002.

DIAS, Rosa Maria. Nietzsche educador. – 2ª ed. – São Paulo: Editora Scipione, 2003.

Hannas, Lucia Maria; Pereira, Iêda Lúcia Lima. Educação com consciência: fundamentos para uma nova abordagem pedagógica. São Paulo: Editora Gente, 2000.

MONTE-SERRAT, Fernando. Emoção, afeto e amor: ingredientes do processo educativo. São Paulo: Editora Academia de Inteligência & Planeta, 2007.