O QUE É TUDO III Qual é o maior número do universo? E o menor? É muito difícil para nós reconhecermos que possa existir algo indivisível, absoluto. Talvez o fato de podermos juntar coisas, formando coisas ainda maiores nos dê a ideia contrária do que podemos dividir, separar. O que é material é, obrigatoriamente, formado de partes menores. Nossa razão nos diz que é sempre possível dividir um objeto material em partículas cada vez menores, até chegarmos ao nada (que, na verdade, é uma energia não-material). É, também, essa ideia de alguma coisa que pode ser dividida até ao nada que nos dá uma ideia deste. Pelo mesmo motivo acima, é difícil reconhecer que algo possa ser infinitamente grande, mas, também, não conseguimos admitir que o espaço (onde podemos colocar muitas coisas) possa ser finito, porque pensamos logo numa “parede” e, por não conseguirmos admiti-la, nos vem a pergunta: o que tem atrás dessa parede? E assim por diante. Coisa nenhuma é absoluta, seja na direção do pequeno, seja na direção do grande, mas o espaço parece ser absolutamente infinito. É mais fácil admitir a infinitude do nada do que a infinitude do tudo material, talvez porque este seja formado por partes separáveis, tendo o vazio a separá-las. Se juntarmos as partes numa coisa só, teremos um bloco material rodeado por uma imensidão vazia. Se, ao contrário, dividirmos cada parte em partes cada vez menores, o que restará será a imensidão vazia (e infinita). Mas, se assim é, temos as seguintes possibilidades:  A matéria é uma ilusão.  O vazio não é de todo vazio, mas é infinito. Deste último decorre que: • O nada é a parte vazia ou um objeto mental formado pela possibilidade mental do vazio ser totalmente vazio (e obrigatoriamente infinito). • O que não existe “estᔠno nada, está em outra forma no não-vazio (em algum lugar perto ou longe) ou na forma que conhecemos em algum lugar distante, o que invalida a afirmação de que “isso” ou “aquilo não existe”, ou que essa mesma coisa existe, apesar de esta última afirmação ser mais possível que as primeiras, numa medida de 2/3 para 1/3. Se tudo é uma ilusão, então, não é uma ilusão comum. A nossa definição de ilusão não se aplica, pois esta é algo passageiro (a realidade também é!) e sem sequência (a realidade tem sequência). O que nos faz acreditar que não se trata de uma ilusão é a noção que temos de nós mesmos a cada instante (o nosso EU), o que nos separa do resto do tudo e nos faz perceber este resto. Sob efeito de certas drogas, porém, o eu pode sumir ou se transformar. A questão é: será que aquele instante não é uma ilusão comum? Temos a sensação que se passam horas, dias e anos, mas, na verdade, está se passando apenas um nadésimo de tempo? Só saberemos quando deixarmos nosso corpo físico (que não parece uma ilusão, normalmente) ou nunca saberemos se morrermos com ele. Mas, se a vida é uma ilusão, a morte também é. Nesse caso, podemos (nós e tudo o mais) ser o pensamento de um outro ser, que pode ser eterno ou não, o que te faz ser ele. Bom, mesmo que tudo seja uma ilusão podemos discuti-la e discutir outras possibilidades também. Se o vazio não é de todo vazio (o que faria tudo ser uma ilusão), então, ao dividirmos um objeto em partes cada vez menores, obrigatoriamente chegaremos a algo que não é divisível e, portanto, não-material, ou encontraremos um oceano não-material, não-divisível, mas do qual se pode tomar partes para formar objetos “materiais”. Esse oceano até tem um nome: energia. A partir daqui, um leque de questões se abre: 1) Como parte dessa energia se transforma numa pedra? 2) O que comando o início dessa transformação? 3) E numa planta? 4) E num animal? 5) E numa pedra flutuando no espaço orbitando outra e sendo orbitada por outras? 6) E num ser que reproduz outros seres iguais a si? A energia para o ser reproduzido é retirada do produtor ou do oceano energético? Do oceano energético, obviamente (afinal o produtor necessita de alimento para possibilitar a reprodução). 7) E na infinidade de pedras diferentes, de plantas diferentes, de animais diferentes? 8) Todas estas coisas são mesmo materiais ou são energéticas? Acaso, ilusão (de novo?) ou um ser desconhecido? Qual desses manipula a energia e cria tudo? O ser desconhecido só pode ser uma de duas coisas: a) Um ser totalmente (e talvez para sempre) desconhecido, capaz de dominar a energia e, portanto, mais forte que ela, podendo ser ela derivada dele mesmo. b) Ele é a própria energia, portanto, não tão desconhecido, capaz de se transformar em várias coisas e continuar sendo si mesma. Nos dois casos, ele tem um atributo que a única palavra que temos para tentar descrevê-lo é inteligência. Mais uma questão surge: por que ele faz todas estas coisas? Para brincar? Obviamente que não, pois brincadeiras não têm ordem. Para jogar? Talvez, pois todo jogo tem um objetivo. Nem todo jogo é de perde-ganha. O importante é o objetivo. Para não se sentir sozinho? Ora, quem pode tudo e sabe disso não se sente sozinho. Um objetivo existe e só nos resta submetermo-nos, queiramos ou não, portanto não nos importa conhecê-lo. Por que poderia ser ilusão de novo? Como a ilusão pode manipular a energia? Ilusão manipula ilusão, que continua ilusão. Aí a energia é ilusão também. Como ficou claro (ou confuso?) mais acima, ilusão não é algo fácil de definir. Mesmo durante uma ilusão, do tipo alucinação, você se percebe, caso contrário você não perceberia o momento. Mesmo a questão de que a ilusão não tem uma sequência lógica cai por terra quando começamos a tratar sobre energia (não ilusória). Até onde sabemos, a ilusão tem a ver com nossos sentidos, e sabemos também que qualquer um dos nossos sentidos pode ser enganado. Como saber se não estão sendo constantemente enganados? Não há como saber. O que você vê, por exemplo, é uma imagem gerada no teu cérebro por raios de luz partindo do objeto que você “vê”. Você não vê a realidade do objeto. Ninguém vê. A energia luminosa que entra pelos teus olhos é que te mostra o objeto. Se você resolve se aproximar dele e tocá-lo, você pode se surpreender que o que você via não é exatamente o que você toca agora. Ficará mais surpreso ainda quando souber que não há como tocar um objeto, porque o que ocorre é uma interação energética entre as partículas que formam o objeto e as partículas que te formam: você “varre” a estrutura do objeto, percebendo sua forma energeticamente e ele faz o mesmo em relação a você! É assim que a ilusão “manipula” a energia. Manipula (entre aspas) porque a ilusão é um efeito da própria interação entre você e o objeto. A ilusão não é algo separado e existente. Não é uma causa primária, nada manipula realmente, nada cria de “real”. A energia em si ou o ser desconhecido podem, sim, ser uma causa primária. Para aqueles que acreditam no acaso, só restou ele para analisarmos. Será que ele manipula a energia? Bom, até mesmo aqueles que acreditam no acaso sabem que ele não é algo à parte de tudo, sabem que ele não é uma causa, é um efeito introjetado em causa. Não se consegue conceber uma força criadora que seja inconstante. Assim, o acaso é considerado um encontro fortuito de condições. Admite-se que esse encontro simplesmente acontece, apesar de surgir uma necessidade extrema de um pontapé inicial. Isso é gritantemente gritante. Atirar um dado ao acaso é fazê-lo rolar ou girar um número não sabido de vezes (ou sabido, desde que não se conheça sua posição inicial) até que ele pare com uma das faces para cima (normalmente se considera como posição final a face que se mostra para cima). A chance dele mostrar a face 3 é de uma possibilidade entre 6 possibilidades diferentes. Imagine que a energia seja um dado. Cada coisa conhecida no universo seria uma face desse dado. O que nos é desconhecido são as faces restantes. Como ninguém atira esse dado (porque antes de tudo só existe ele), ele tem que se atirar sozinho. O mais aceitável para esse “se atirar” é que a energia está sempre “fervendo” e, vira-e-mexe, uma bolha se desprende e se transforma numa estrela, num planeta, num animal, num homem... Para plantas, animais e os seres humanos, o acaso agiu apenas uma vez e aqueles herdaram do acaso a sua propriedade de criar ao acaso. Só que tem um problema aí: a criação (reprodução) não é aleatória, é BEM DETERMINADA. Mesmo a criação da matéria inorgânica não é aleatória. Tem mais um problema para este tipo de acaso: apesar dos objetos ditos materiais serem contáveis, sua quantidade beira o infinito. Isso implica que nosso dado tem um número infinito de faces. Em termos matemáticos, a probabilidade do acaso gerar um dado objeto é dada por: 1 / (número de faces), ou 1 / ∞ = zero! Portanto, crentes do acaso, vocês não têm uma base para a sua fé. O acaso é apenas um efeito da ilusão que vivemos ou da realidade criada por uma entidade inteligente, seja um deus ou apenas uma força. Brasilio/2007.