Em primeiro lugar devemos conceituar “igreja”, definindo-a nos termos originais do vocábulo. Sabe-se que o termo “igreja” vem da língua grega – “akklesia” – significando   “assembléia”. Assim, igreja no contexto cristão é a totalidade do corpo de Cristo, “a qual ele comprou com o seu próprio sangue”. (Atos 20:28). Convém, a título de esclarecimento, salientar: fazem parte deste corpo somente os remidos, os que foram lavados pelo sangue do Cordeiro, excetuando-se todos os demais que não passaram pelo processo de remissão, e que ainda continuam sendo o “velho homem”.
            Ao tratarmos de igreja de Cristo, devemos ter em mente – et tão somente – este grupo seleto de indivíduos, os quais estão restritos ao termo “igreja”. Somente a eles e a ninguém mais. Infelizmente com o passar dos tempos – logo após o primeiro século – o desvirtuamento teve início, transmudando o sentido do termo. Naquelas circunstâncias, o que era para ser a continuidade do momento apostólico, adquiriu um glossário imenso, alheio mesmo às prerrogativas da igreja propriamente dita. Tão verdade é, que foram anexados conteúdos extremamente adversos aos elementos contidos na vida das primeiras assembléias. Desde esse tempo o termo vem englobando o que de mais estranho há em matéria de aglomerados, distanciando da realidade do corpo de Cristo. Para firmar de vez esta restrição – apenas os remidos como sendo a igreja na sua correta definição – somos informados pelas escrituras que Cristo, quando vier buscar sua igreja, levará apenas os que se enquadrarem no plano remissivo, ou seja, apenas os que foram nascidos de novo. Todos os elementos adicionados, colocados além do que faz parte da verdadeira Igrejas, ficará neste mundo para receber a ira divina. Inclusive todos que transmudaram o sentido do termo, Assim, aqueles que não fazem parte da remissão, que ainda permanecem arredios à palavra, bem como todo o conteúdo alheio à verdadeira Igreja, receberão o anátema divino. Como as organizações eclesiásticas possuem em suas fileiras um conteúdo misto, evidente que a elas não se pode dar o designativo IGREJA. Esta palavra, como dissemos, está restrita apenas ao corpo de Cristo, o qual subirá com Ele para as bodas do Cordeiro. 

            Partindo dos momentos que mudaram a concepção do termo “igreja”, até nossos dias, quando se refere ao termo o que se tem em primeiro plano é uma organização com seus estatutos, normas baseadas em conceitos humanos e o alto conteúdo oriundo do fundador dessa organização, bem como suas posses. Um templo, um sistema de conduta e a restrição adotada de acordo com a interpretação de alguns textos bíblicos. Inclusive o patrimônio material passou a configurar como fazendo – e sendo – parte das “igrejas”. Há inclusive uma organização que mantém um alto padrão em preservar seus arcabouços eclesiais, os quais, apesar de pertencerem ao plano material, situam-se como sendo de inteira propriedade da “igreja” – organização –  fazendo e sendo parte dela. Assim é que entram nesse conteúdo uma espécie de governo tripartite, onde o material, o político e o religiosos se engraçam, formando até um estado político dente de outro estado.O conceito de igreja como organização relígio-temporal tem sido tão sério, que se criou um hermetismo tão intenso, que as comunidades se fecharam em quatro paredes, com tudo girando em torno de si mesmas. Na realidade, tudo que é arrecadado em matéria de contribuição é gasto no seu interior. Na verdade, o “ide” deixou de ser a prerrogativa principal, pois o que se quer é que o ouvinte venha aos átrios das supostas greis, receber a palavra, esta muitas vezes deturpada de seu sentido original. Nesse contexto, criou-se uma série de outros “evangelhos”, que diferem em número e grau do evangelho essência. O que se tem são as organizações em si mesmas, sendo elas o motivo de tudo que gira em suas órbitas. Na verdade, elas tomaram o lugar do senhor da igreja, estando Este apenas como um serviçal à disposição de sua membresia. Outras há que têm no ser humano o motivo de suas reuniões. Estas organizações conclamam a plenos pulmões para que seus ouvintes venham receber benefícios, sem que o senhorio de Cristo seja colocado “a priori”. É o homem como o centro dos favores divinos. A mensagem do desprendimento da matéria, tão bem propagada por Jesus, de forma nenhuma se admite nesses meios. Nada de tomar sua cruz; nem de negar a si mesmo, nada de dar guarida ao “meu reino não é deste mundo”.

  Sem a menor dúvida, é este o panorama que se tem em matéria de igreja em nossos dias. Excetuando as simples assembléias do tempo apostólico, o que se vê são verdadeiros impérios eclesiais, praticamente todos distanciados do verdadeiro sentido em ser Igreja. Não estaria a sua comunidade, caro amigo, envolvida neste contexto? Não estaria ela sendo o motivo principal de sua existência?  Poderia, em alto e bom som, dizer que a identidade de sua comunidade é exatamente a mesma dos dias apostólicos? Estaria ela preocupada com a salvação dos pecadores, fazendo incursões aos locais afastados? Não estaria ela esperando que os indivíduos venham ouvir o que o pregador tem a dizer do púlpito? Qual a postura dela em relação ao evangelho como “o poder de Deus para a salvação”? Ainda, não estaria ela presa às quatro paredes, sem que a mensagem fosse levada aos rincões mais distantes? Mesmo em sua cidade onde existem milhares de seres carentes da palavra de salvação?

Triste realidade é verificar que as organizações transmudaram o sentido de ser da “assembléia dos santos”. Interesses adversos predominam no seio delas. Começando com seus líderes, os quais destoam dos antigos heróis que não mediam esforços no sentido de levarem a palavra aos necessitados; o que se tem hoje são líderes funcionando como bons administradores de organizações eclesiásticas. Apesar de terem tudo à disposição:  veículos, combustíveis, casas, telefones, ajuda de custo, poupança, viagens pagas,  preferem se ocultar no seio das “quatro paredes”, sem sair a campo. Nesse contexto a “igreja” vai muito bem, sim senhor! As finanças em dia, o patrimônio legalizado em cartório e bem conservado, sem contar a parte social da organização funcionando às mil maravilhas! Nada escapando às suas expensas. Corre no meio eclesial um ditado alusivo à condição dos líderes atuais: “Não se fazem mais pastores como antigamente”! Os antigos baluartes da difusão da palavra andavam em lombos de cavalos, a pé, indo a quaisquer lugarejos onde o evangelho não era conhecido. Como o sentido da palavra igreja recebeu alterações profundas, o vocábulo “pastor” não poderia ser diferente. Hoje as ovelhas têm que vir ao pastor, ao invés do pastor ir até elas.

A postura dos membros, por sua vez, não difere muito na atual conjuntura. Criaram um status adverso ao momento primitivo, que a religiosidade tomou vulto entre eles. Dias para isto, para aquilo, e até para freqüentar os trabalhos. Estes, por serem mecânicos, não deixam transparecer a essência da palavra. Ritualismos, práticas, conformismo e uma série de fatos que desabonam o ser IGREJA. Crentes somente na “igreja”. Nos demais dias identificam-se com o mundo, com seus cardápios imorais, fazendo de novelas e outras formas de recreação mundana seu “modus vivendi”. Falar do evangelho para vizinhos nem pensar! Distribuir uma literatura, jamais! É o formalismo eclesial tomando conta do indivíduo. E o papel de um presbítero (ancião), que na melhor das hipóteses não passa de um distribuidor de ceia, reunir em assembléia para tratar de assuntos pertinentes à administração e nada mais. Sair a campo? Ora essa!

Que é feito da mensagem de Cristo, a qual exigia renúncia; que ditava normas de vida, apartada das coisas deste mundo? Quais eram, neste contexto, os elementos dignos de culto, senão somenteDeus? Havia portentosos santificados recebendo oblações cúlticas pelo que fizeram, a ponto de serem colocados como uma vertente dos dotes únicos e exclusivos do Senhor? Não! Somente o Senhor era digno de culto, em atenção ao próprio Jesus que determinou: “Ao senhor teu Deus adorará e só a ele darás culto”. O vocábulo IGREJA, assumindo a forma camaleônica, não pode dar guarida à exclusividade do conteúdo do período apostólico. É este o panorama (infelizmente) da religiosidade atual.

 Se bem notarmos, nos momentos logo após o Pentecostes, as lideranças apostólicas prescindiam dessa gama infame de práticas ritualísticas, de objetos adornados com efeito miraculosos, bem como de ‘vendinhas” circundando os átrios das greis. Não havia instalados, os cassa-níqueis, os vendilhões do templo, e nem os assalariados destinados a receberem os proventos dos membros. Verdadeiros antros de jogatinas tomam conta das dependências das organizações, onde o consumo de bebidas alcoólicas são a “tela quente” das comemorações. Bancas disto, daquilo, som estridentes ao sabor de músicas profanas, o triste contexto dos átrios das chamadas igrejas. Alguém, indignado com a situação reinante, confessou: “Se cristo viesse como veio naquela época, por certo ele escorraçaria os vendilhões do templo, expulsaria os cambistas e os organizadores de barraquinhas. Há uma organização eclesiástica – milenar – que tem como estilo, a formação de inúmeras barraquinhas e similares ao redor de seu templo, este, erroneamente, denominado igreja.

No que tange aos elementos dignos de culto, o momento eclesial reserva um acervo imenso de figuras dotadas com caracteres distintos. A começar pelos “Homens de Deus”, que absorvem os dotes da exaltação, passando pelos objetos místicos, o contexto cúltico reserva verdadeiros exércitos de figuras destinadas a tomar a atenção devocional dos “Maria vai com as outras”. Tais figuras recebem a prioridade da devoção, chegando mesmo a suplantar os oferecimentos destinados ao Criador. Caravanas saem de longas distâncias visando agradecer, exaltar e, por não terem como diferenciar os postulados cúlticos, acabam por adorar tais ícones. Bilhares de fogos pipocam em certos dias dedicados a “quem de direito”.  São as efusivas homenagens que jamais podem ser comparadas às mirradas exaltações, quando dirigidas ao Soberano. Nunca, mas nunca mesmo o Senhor recebe dotes dessa monta. Jamais se soube que grupos percorram longas distâncias visando exaltar a Deus, nem dedicar metade dos proventos cúlticos ao Senhor. As figuras colocadas como expoentes do fator intercessório ficam com a maior parte do “bolo” devocional.

Por outro lado, as neo-comunidades de cunho pentecostal se instalaram como verdadeiros ‘trusts’ onde o fator humano-material suplanta em número e grau o lugar do senhorio de Cristo. Este por sua vez funciona apenas como um doador de prosperidade, um curandeiro e um “topa tudo”, ou até um unguento que cicatriza por cima a ferida do pecado. Contudo, por baixo da casca da ferida jaz o purulento pus que mantém o pecador preso ao reino deste mundo.

Não podemos expressar de outra forma o estado latente em que vivem as aglomerações denominadas igrejas. Também não encontramos palavras mais adequadas, que qualifiquem tais comunidades além do que expomos. Assim sendo, só nos resta rematar nosso modesto trabalho com este retumbante “the end”: lamentável!