O QUE É RELIGIÃO

Cada um, a seu tempo, procurou dar um sentido à “palavra” religião. Sim, à “palavra”, porque a palavra não é a coisa. É apenas uma maneira do ser humano associar um significado a um som ou conjunto de sons que ele pode emitir.

É preciso notar, porém, que tudo muda, o Universo está sempre em movimento, alterando suas características a cada instante, às vezes de modo perceptível, outras vezes de modo imperceptível. Por isso, nem mesmo a linguagem escapa dessa Lei Natural.

Como o significado (a compreensão) das coisas depende da linguagem, não sendo, porém, a linguagem que dá o significado às coisas, mas essas são que se “expressam” através da linguagem, também essa expressão tende a se alterar. Por isso, o que é uma verdade hoje, não o será amanhã.

As definições que deram à palavra religião no passado se aplicavam bem naquele tempo. Só. As definições que esta palavra tinha eram:

  • Relegere – Forma de tratar o sagrado (Cícero).
  • Religare – Reunir, com o sentido de unir de novo.

Este último significado é o que “vale” ainda hoje.

Como é isso de unir de novo? Alguma coisa foi quebrada?

Para variar, o homem sempre inventa uma explicação com base em coisas já existentes, como que querendo forçar uma verdade em cima de uma lógica.

Está claro que esta definição foi feita em cima da estória da “queda” de Adão e Eva. De novo, com sua mente limitada, o homem procura limitar o incompreensível para ele. Montando a estória de Adão e Eva ele limita a sua compreensão, criando uma estória com dois personagens humanizados (à sua imagem e semelhança).

Aí então, o “unir de novo” dá a idéia de “voltar para Deus”. Isto reforça que a idéia foi baseada na “expulsão do Paraíso”. Quem conhece o pensamento de Deus para afirmar que houve uma expulsão e agora é necessário um retorno? Ninguém. Admitir isso vai contra a idéia do Deus magnânimo.

Para mim, a definição dada por Cícero é muito mais aceitável. Cícero era pagão, por isso compreendia melhor, pois estava do lado de fora da “experiência”. Não era cegado pelos que se diziam mestres, sem o ser. Mesmo assim sua definição é incompleta.

Para mim, não é apenas a forma de interpretar o sagrado, mas também a forma de agir para se tornar sagrado.

Religião não é algo estático, feito de rezas e solicitações.

Alguns tentaram até uma terceira definição: reunir, com o sentido de juntar em assembléia. Querem algo mais estático do que isso?

Daí é que surgiram as igrejas, a princípio com boas intenções até, mas, hoje, a maioria é usada como fonte de renda para rapinadores.

Religião é forma de agir para o bem, o bem comum e o bem próprio. Sim, o bem próprio, pois o bem próprio verdadeiro, honesto, leva, inevitavelmente, ao bem comum.

Uma definição completa de Deus é bondade e justiça, apesar desses dois significados se confundirem. Se a “religião” leva ao bem, então ela leva a Deus.

Não importam os credos, as cerimônias, os princípios. Apenas espelham imperfeições humanas. Com o triunfo do bem, desaparecerão.

A religião verdadeira é única, universal, não incita ao ódio ou a brigas. Os que a isso se prestam não participam de uma religião, participam de um grupo, de uma quadrilha. O caminho que buscam é totalmente oposto ao da religião.

A religião é muito maior que as “religiões”, que a Ciência e a Filosofia. A religião engloba tudo isso. E leva tudo numa única direção, apesar de alguns sempre tentarem ir contra a corrente.

Quando qualquer atividade humana, seja a Ciência, a Filosofia, as seitas, praticarem o bem comum, elas estarão praticando a religião.

Não importa, portanto, a origem da palavra religião, pois ela não dá sentido a nada, como qualquer outra palavra. O que importa é a expressão que deriva através dela, mesmo que ela seja escrita ou falada como “religião”, “religare”, “relegere”, “bem comum”, etc., etc.

Brasilio – Mar/2005.