O QUE É RELACIONAMENTO SOCIAL

Todos os dias, para ir para o trabalho, eu pego o metrô e o trem. Fico observando as pessoas ao meu redor, no vagão, sem deixá-las perceber que as estou observando, uma a uma, porque, é exatamente aqui que percebo uma característica que está se tornando mais forte à medida que o tempo passa: a reação, muitas vezes violenta, ao olhar fixo de alguém. É como se naquele momento a pessoa que você encara começasse a pensar: ele está me questionando, está achando isso de mim, está pensando aquilo de mim... Mas, nunca imaginam que pode ser algo de bom, sempre acham que é a pior coisa possível, que nem sabem qual é.

A maioria acha que você as está encarando com más intenções. Destes, alguns se retraem, outros reagem negativamente. Mulheres, em geral, se retraem. Homens reagem, sempre negativamente, principalmente se são encarados por outro homem. Se são encarados por uma mulher, sempre a diminuem, não importa se ela é bonita ou não.

Se é uma mulher que encara outra, esta última costuma reagir negativamente. Assim, no computo geral, a reação é negativa.

Se você encara uma criança, a maioria delas sorri. Se uma criança encara alguém, sorrindo ou não, aquele alguém sorri.

Por que adultos não reagem assim com outros adultos? À medida que ficamos adultos, ficamos menos confiáveis? Por que adultos são tão defensivos uns em relação aos outros? Do que eles têm medo?

Infelizmente, o mundo está cheio de pessoas mal intencionadas. Isso entrou nas cabeças de todo mundo e se transformou num sinal de alerta que acende sempre que um desconhecido se aproxima de alguma maneira. Alguns desses, muitas vezes, conseguem ludibriar o sinal de alerta e, realmente, se aproximam.

Devido à existência de tais pessoas é que não existe confiança entre desconhecidos. É muito difícil a arte da aproximação, mas, estranhamente, aqueles com más intenções a dominam melhor do que aqueles que apenas querem o bem. É como se a inocência disparasse mais o sinal de alerta do que a má intenção. Você fica mais desconfiado de uma pessoa que se aproxima com palavras amenas do que daquele que usa palavras “mais firmes”. Na cabeça das pessoas, o malandro sempre procura dar uma de inocente. Assim, em vez de partir do malandro para a inocência, as pessoas partem da inocência para o malandro, e todos os desconhecidos que vem com inocência são malandros, mesmo que sejam inocentes disso.

Quando esse tipo de relacionamento acontece entre dois inocentes, sendo ou parecendo, a aproximação acontece. Se ambos forem realmente inocentes, aparece a amizade. Se um deles é um malandro, o outro vai sair prejudicado.

Se ambos são malandros, ocorre um conflito, às vezes violento, como acontece entre malandro e aquele que é honesto e não é um inocente.

Para conseguir uma aproximação, é preciso estabelecer a confiança. Infelizmente, isso serve tanto para bem intencionados como para mal intencionados. Aquele que é abordado tem que ter discernimento suficiente para decidir se permite ou não aquela aproximação. Infelizmente, de novo, isso exige uma certa experiência, seja tendo sido prejudicado alguma vez, seja através de aprendizado com o que aconteceu com outras pessoas. Tudo isso ensina.

Uma vez descobertas quais são as intenções daquele que te aborda, você decide até onde vai levar aquela tentativa de estabelecer uma confiança.

Hoje, em todas as cidades, só se vê casas e prédios com muros altos, alarmes, vigias, portões eletrônicos, etc. Aqui na rua onde moro, por exemplo, é assim. Percebo o medo doentio de alguns moradores que, antes de se aproximarem do portão de suas casas, já acionam o botão de abertura do portão, entram com uma pressa danada para dentro e fecham o portão em seguida, como que sentindo um alívio por ter conseguido chegar são e salvo mais uma vez.

Houve uma vez em que eu estava com um carro diferente do meu, me preparando para entrar no prédio, quando um dos moradores chegou na minha frente, abriu o portão e começou a entrar. Eu, querendo aproveitar o portão aberto, coloquei meu carro na direção do portão. O morador, percebendo isso, já imaginou que eu era um marginal que ia entrar junto com ele e o assaltar na garagem. Assim, ele parou o carro no portão, bloqueando a entrada. Porém, como o portão era automático, este começou a fechar e acabou por arranhar o carro do morador, apesar dele ter tentado entrar de vez. Esperei o portão fechar, o abri de novo com o controle remoto, entrei na garagem, estacionei o carro e percebi uma discussão entre o morador e sua mulher sobre o ocorrido.

Esse pavor que a população sente é desnecessário e só leva a problemas, seja com a própria saúde seja entre vizinhos.

As pessoas precisam perder um pouco de medo e ir tentando estabelecer relações de confiança. Só assim elas vão poder determinar quem pode se aproximar e quem não pode. Simplesmente assumir que todo o resto da população não é de confiança é uma carga muito pesada para qualquer um. Sem falar que esse monte de pensamentos negativos acaba atraindo realmente a maldade, o que aumenta mais ainda o pavor e a desconfiança em relação aos outros.

Há um ditado que diz: Quando um não quer, dois não brigam. É exatamente isso o que as pessoas devem exercitar quando alguém que não é de confiança se aproxima com algum tipo de intenção. Vai depender só de você se aquilo ali vai virar um conflito, uma amizade ou apenas um relacionamento social, tipo aquele em que uma pessoa se aproxima de você para pedir uma informação e você dá essa informação ou coisa que a valha. Eu, por exemplo, acho que tenho escrito na testa: Informações Aqui. Posso estar no meio de mil pessoas. Se tiver alguém querendo uma informação, acaba se aproximando de mim. E, devido à desconfiança total que todos temos com nossos desconhecidos, quando vejo tal pessoa se aproximando, a primeira coisa que me vem à cabeça é que ele vai me pedir dinheiro.

Depois, fico até arrependido de meu pensamento. Mas, sei que vou ganhando experiência. Isso já foi pior, pois, simplesmente continuava meu caminho como se não tivesse ouvido a pessoa.

Que bom seria se conhecemos todo mundo, não é? Você poderia andar nas ruas o quanto quisesse e em qualquer hora que desejasse. Nem se preocuparia se trancou a porta ao sair ou não. Na lanchonete, no restaurante ou na praça, poderia se sentar junto a qualquer um, onde o cumprimentaria e teriam uma conversa agradável.

Como conseguir isso? É fácil? O pior (para quem não quer) é que é fácil sim. É preciso primeiro se aproximar e passar confiança. Você não deve ser espalhafatoso ou fazer muito alarde, porque, em vez de passar confiança, vai passar dó ou desinteresse.

Como saber a maneira de se aproximar? Muito fácil. Está em você. Dê-se uma olhada: como você permitiria (ou gostaria) que um desconhecido se aproximasse de você? Outro ditado cai bem aqui: Faça aos outros aquilo que desejas que eles te façam.

Só assim você vai chegar feliz no trabalho, porque teve conversas agradáveis no trem, e vai chegar feliz em casa, entrando na garagem com calma, dando passagem também para seu vizinho que chega logo atrás, porque, pelo caminho, vários amigos acenaram para você. Só assim as doenças vão diminuir, a quantidade daqueles que vivem nas ruas vai diminuir e tua felicidade vai aumentar.

Relacionamento social tem que ser relacionamento entre pessoas, conhecidas ou desconhecidas e não racionamento entre pessoas, em que umas são aceitas com desconfiança e outras simplesmente rejeitadas sem que se saiba o que exatamente são e poderiam contribuir para tua própria felicidade e, consequentemente, para a felicidade deles próprios. Nesse caso, mesmo não querendo, você estaria fazendo aos outros o que desejas que eles te fizessem.

Brasilio – Julho/2009.