O QUE É QUE O PROFESSOR NÃO SABIA?

Faustino Moma Tchipesse

Resumo: O presente artigo tem como objectivo compreender as linhas de base da acção educativa, a partir da qual serão estabelecidas as metas a concretizar numa perspectiva de curto/médio prazo sobre educação preventiva. A pergunta serve de diagnóstico e se constitui numa oportunidade para reforçar através desta introspecção os processos de capacitação on-job caedam; a competência técnica do professor. Procuramos reflectir sobre a diferença entre o bom e mau professor, pois esta dicotomia entre ser e não ser, saber e não saber vão além do ensino e se revela nas atitudes do educador.Com isso, pretendemos ajudar o professor: a definir os seus objectivos, ter noção dos seus propósitos, ter uma atitude positiva, ter senso de humor a fim de reduzir o estresse e a frustração dos alunos, ser sincero ao encorajar os seus alunos, reflectir sobre os seus próprios métodos, adaptar-se as necessidades dos estudantes, reajustar o ambiente da sala de aula. O Professor tem a responsabilidade de identificar certos problemas emocionais que podem afectar o processo de aprendizagem dos alunos. Assim sendo, o professor deve seleccioná-los, buscando entender os motivos que ocasionam a sua dificuldade, e com isso despertar nos alunos a esperança de um futuro melhor.

Palavras-chave: Educação. Ensino. Conhecimento. Esperança.

1.INTRODUÇÃO 

O professor é aquele que ensina e aprende, ou seja, aprende e ensina com um sonho na mente. O que nos leva a escrever este artigo é, fundamentalmente, esse imperativo pedagógico, histórico e existencial que nos obriga a questionar sobre o que sei fazer e o que não sei fazer, sobre o ser e estar, que eleva o processo educativo como uma renúncia impossível da acção pedagógica. Afinal o que é que o professor não sabia?

Nas nossas abordagens, temos feito com que os professores reflictam sobre o sentido que as sociedades actuais têm em relação a qualidade da educação. Neste contexto, o professor não deve ser visto apenas como mediador do conhecimento diante do aluno que é o sujeito da sua própria formação. O professor deve ter a responsabilidade de ajudar o aluno a construir e reconstruir o conhecimento a partir do que faz. Para isso, o professor precisa ser curioso, precisa buscar sentido àquilo que faz e deve apontar novos sentidos para o que fazer do seu aluno.

O professor não sabia que, a reflexão e o senso de humor são ingredientes indispensáveis na fatigada arte de educar, que nos permite optar pelos valores mais altos e transcendente da pedagogia preventiva. O professor precisa saber que, a sua antropologia, é um pressuposto ontológico para abordar as distintas questões sobre educação da esperança, critério de criação de conhecimento, análise sobre os desafios do professor do século XXI e algumas questões sobre ética na profissão educacional que estão reclamando uma resposta valente neste momento hodierno no qual estamos imersos.

Com esta pergunta, pretendemos “inaugurar uma nova filosofia da autonomia da pessoa, considerando a estrutura do ser como estrato indispensável no sistema interior do indivíduo, o saber, a totalidade, a interioridade pedagógica, a personalidade ideológica” e o eu pessoal (professor-aluno). Nós partimos do concreto (professor enquanto pessoa humana, ser falível), enquanto pessoa humana é uma realidade complexa na qual se encontram interligadas todas dimensões, faculdades e condicionamentos que confrontam a totalidade do ser vivente.

A nossa abordagem faz uma introdução num quadro de intensos processos de globalização como o que se vive neste século, em que as forças de mudanças influenciam significativamente a reconceptualização a vários níveis do trabalho pedagógico. Nestes termos, o professor é sempre convidado a apresentar o conceito próprio de educação, pois educar é cada vez mais uma tarefa exigente e de enorme responsabilidade que requer equilíbrio e coerência entre orientação formativa, procedimentos metodológicos adoptados pelo professor. É importante assumir que não sabemos para reduzir as espectativas e as implicações do processo que pode levar a bom porto, o exercício docente que relega a maiêutica como um conjunto de saberes e competências que permitem o professor construir um ensino de qualidade, marcado pela multiculturalidade, complexidade, avanços científicos e processo de permanente mudança.

Nós entendemos que o professor não sabia o que o presente século evidência, por isso é cada vez mais importante valorizar a formação pessoal e profissional dos professores, para que estes possam, pela sua competência e factores pessoais associados a nível de rendimento e desempenho elevado, contribuir significativamente para uma educação que leva o aluno a pensar, a reflectir, a formar conceitos, ao discernimento e a ter capacidade para aplicar pedagogicamente o que foi elaborado para alterar a sua própria realidade, visando a inserção e o crescimento, isto é, indivíduos capazes de ajudar a conduzir com sucesso o destino do país, num futuro breve.

Deixamos aberta a necessidade de se prover a virtude da veracidade enquanto uma opção pedagógica. A pergunta que colocamos leva-nos ao plano realista, justamente porque consideramos a realidade do trabalho do professor em sua totalidade antropológica- filosófica e didáctico-pedagógica.

As respostas envolvem as pessoas, desde a sua interioridade, numa atitude vital que transforma a maneira de agir e a aceitação das outras pessoas envolvidas no processo de ensino e aprendizagem (alunos, pais e encarregados de educação). Lembrar que não podemos ficar satisfeitos com a pergunta, nem com a resposta. Precisamos aprofundar sobre as questões que rasgam os saberes dos professores e as componentes essenciais da sua identidade. O professor é pessoa. E uma parte importante da pessoa é o professor.

Precisamos questionar sempre sobre os saberes com origens distintas, que se constituem na acção e se edificam no trabalho e no conhecimento do meio social. São saberes que, in fine, alicerçam a prática do professor, constituem o seu acto de ensinar, são garantias de sua boa actuação, servem de base à estruturação da sua vida profissional, à relação com os alunos e com os colegas. Em síntese, ao seu modo peculiar de ser professor, que traduz no aluno uma educação de esperança.

2. UMA EDUCAÇÃO SEM ESPERANÇA NÃO É EDUCAÇÃO

O processo educativo, deve nutrir a confiança dos pais e encarregados de educação. A esperança, para o professor, não é algo vazio de quem espera acontecer. Ao contrário, a esperança para o docente encontra sentido na sua própria profissão, que consiste em transformar as pessoas e construir pessoas. Nestes termos, a acção educativa não deve estimular sensações de impotências, dor ou mau humor. Ainda que, de uma maneira geral, a reacção mais comum seja verbalizada, o mal-estar dirigindo os alunos com castigos, ameaças ou ainda provas de hostilidade num plano mais profundo da acção. 

O Professor deve alimentar, por sua vez, a esperança para que os alunos consigam, por si só, construir uma realidade diferente, mais humana, menos feia. Uma educação sem esperança não é educação. Devemos familiarizar-se com a ideia segundo a qual «a educação se deve dar com amor e sem violência» tal como dizia (Martinez, 2013, p.8).

Sabe-se que as acções dos professores ganham maior protagonismo na escola, pois a escola é um espaço democrático. O professor precisa indagar-se constantemente sobre o sentido do que está fazendo, deve oportunizar conhecimentos relacionados aos seguintes temas: valores e ética, ou seja, deve incitar uma educação de esperança a fim de contribuir com acções reflexivas que ajudam os jovens a construir a sua própria escala de valores, levando a pensar sobre aquilo que é possível mudar em situações extremas sobre valores humanos.

A «educação é entendida como um processo de desenvolvimento da capacidade intelectual da criança; tem um significado tão amplo que, em geral, prescindi de adjectivos, por ser um processo único, associado sempre à escola» (Tchipesse, 2019,p.80). A educação só tem sentido como vida. Ela é vida. A escola perdeu seu sentido de humanização quando ela virou mercadoria, quando deixar de ser o lugar onde a gente aprende a ser gente, para tornar-se num lugar onde as crianças e os jovens vão para aprender a competir no mercado de trabalho.

A escola é uma instituição muito antiga, cuja origem está ligada ao desenvolvimento de nossa civilização e ao acervo de conhecimentos por ela gerado, é nela onde acontece o processo educativo. É necessário que o professor promova, nas suas aulas, uma educação que «implica a assimilação de conteúdos científico-culturais que sirvam de referência para todas as experiências naturais e sociais que a pessoa vive e que sejam a base da sua actividade profissional» (Diez, 2013, p.23). 

A educação, para ser transformadora, emancipadora, precisa estar centrada na vida e para vida, ao contrário da educação neoliberal que está centrada na competitividade sem solidariedade. "A Educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida, é a própria vida", disse, (Dewey, 1933). Todavia, de modo algum constitui a essência da educação e muito menos se pode considerar como único campo desta educação. Educar a dimensão intelectual do homem «é desenvolver as suas capacidades de observação, experimentação, analise e síntese, compreensão, raciocínio, sistematização, critica, criatividade, interiorização, admiração, contemplação, que são o suporte e o garante da inteligência», disse (Diez, Op.Cit.). 

Para ser emancipadora a educação precisa considerar as pessoas, suas culturas, respeitar o modo de vida das pessoas, sua identidade, pois o educando aperfeiçoa as suas capacidades de compreensão, de análise, síntese, de sistematização quando defronta directa e pessoalmente com textos filosóficos que traduzem uma educação de esperança.

 

3. SER PROFESSOR É NECESSÁRIO TER CAPACIDADE DE CRIAR CONHECIMENTO

Ser professor consiste em construir uma relação forte entre as diferentes noções que se estabelecem com dificuldade, com objectivo de elevar a motivação dos alunos na criação do seu próprio conhecimento. Este processo educativo é necessário para a sobrevivência do ser humano. A motivação é uma soma de desejo e de vontade que impele uma pessoa a realizar uma tarefa ou avisar um objectivo que corresponde a uma necessidade (Legendre,1993). Ela determina, frequentemente, a conduta do aluno, para que ele não precise inventar tudo de novo.

É função primordial da escola «determinar os objectivos cognitivos que cada aluno deve atingir ao longo do seu processo pessoal de maturação intelectual e, paralelamente, estabelecer os temas científicos que melhor contribuem para conseguir alcançar os objectivos traçados»(Diez, 2013. p.28). 

A escola deve construir laços estáveis e seguros junto das famílias e da comunidade, deve reconhecer que nem todos os pais viveram relacionamentos afirmativos e respeitosos com a escola. É preciso aproximar-se a eles a fim de se reforçar a ideia de que, educar é também aproximar o ser humano do que a humanidade produziu. O professor precisa saber, contudo, que é difícil para o aluno perceber essa relação entre o que ele está aprendendo e o legado da humanidade.

 O professor deve ter a capacidade de ensinar o aluno que a alegria, a tristeza, prazer estético, desagrado, amor e ódio, entusiasmo e depressão, esperança e frustração, coragem e desânimo, autoconfiança e complexo de inferioridade são realidades psíquicas difíceis de enquadrar em esquemas preconcebidos. Desta forma, «o aluno que não perceber essa relação não verá sentido naquilo que está aprendendo e não aprenderá, resistirá à aprendizagem, será indiferente ao que o professor estiver ensinando», disse (Moacir,2003, p.22).

Não devemos descurar o erro da educação, no que concerne ao desenvolvimento da sensibilidade e do carácter, em benefício, por vezes, exclusivo da educação intelectual. Ao desenvolvermos capacidades de criação de conhecimento, devemos apostar numa educação efectiva, pois a efectividade é uma necessidade psicológica básica que dá calor e vivacidade à existência, de tal maneira que a falta de maturidade afectiva pode causar neuroses, obsessões, complexos, desdobramentos da personalidade, desajustes, inadaptações familiares e sociais, tal como defende (Diez 2013, p.32). Para Moacir o aluno «só aprende quando quer aprender e só quer aprender quando vê na aprendizagem algum sentido» (Moacir, 2003). Ele não aprende porque é burrinho, antes pelo contrário, às vezes, a maior prova de inteligência encontra-se na recusa em aprender.

É importante deixar claro que, aprender não se relaciona apenas com o ensinar, mas depende, igualmente, dos processos de desenvolvimento do aluno que aprende e de como interage com os objectos a serem conhecidos, os procedimentos de compreensão e a realização e os valores requeridos para isto.

Para Kupfer (1995, p.79) apud Tchipesse (2020, pp.132), defende que “[...] o processo de aprendizagem depende da razão que motiva a busca de conhecimento. Os alunos precisam ser provocados, para que sintam a necessidade de aprender”. O professor deve saber que, aprender depende também do aluno, de que ele esteja pronto, maduro para incorporar a real significação que o conteúdo tem para ele, para incorporá-la vivencialmente e emocionalmente. Se o conteúdo não fizer parte do contexto pessoal - intelectual e emocional não se tornará verdadeiramente significativo, não será aprendida verdadeiramente. É preciso defender a ideia de que, «ensinar o que não sabemos pode nos levar a frustração ou lamúria».

4.SER PROFESSOR NÃO É UM EMPREGO, MAIS UMA PROFISSÃO

Ser professor não é um emprego, mas sim uma profissão. Para ser professor é necessário: ter um conceito próprio de educação; ter uma formação política, ética e moral; respeitar as diferenças e apostar na formação continuada; ser prestativo e tolerante diante de atitudes; preparar-se para o erro e ter autonomia didáctico pedagógico; ter domínio do saber específico que lecciona e ser reflexivo a fim de saber relacionar-se com os alunos; ter uma formação geral, polivalente e transversal”. Enfim, fazer da profissão um projecto de vida.

Os professores têm de estar mais sensibilizados pelas necessidades dessa mesma acção e até para trabalhar na realização dos seus objectivos. O debate sobre a missão do professor e a sua relação com o meio social continua actual, vale lembrar apenas que, às mudanças do contexto sociopolítico nacional e internacional, permite repensar as formas e conteúdos da sua interacção durante a formação dos alunos. 

Nos países africanos, este tema tem grande actualidade por se colocar no areópago político, no centro do debate público por causa da sua crise funcional. Ser professor não é um emprego, mas uma profissão, hoje as questões sobre qualidade de educação tem se realçado a dimensão reflexiva do papel do professor como algo muito novo. Todavia, não existe nenhuma teoria da educação que não defenda expressamente a necessidade da reflexão na prática do professor. Por isso, falar sobre o professor reflexivo pode ser considerado como redundância.

As condições para aprendizagem de qualidade, sempre resultaram de uma apropriação activa de novos saberes, competências e condutas, baseadas nos princípios do construtivismo. Para o educador, não basta ser reflexivo. É preciso que ele dê sentido à reflexão. Os professores são os principais agentes responsáveis pela qualidade do ensino e da investigação, pelo que se torna imprescindível uma adequada política de admissão e gestão destes recursos humanos que deve ter como núcleo a renovação e a actualização permanente das suas competências. 

A profissão, enquanto prática habitual de um trabalho, «oferece uma relação entre necessidade e utilidade, no âmbito humano, que exige uma conduta específica para o sucesso de todas as partes envolvidas – quer sejam os indivíduos directamente ligados ao trabalho, quer sejam os grupos, maiores ou menores, onde tal relação se insere» De Sá (2001, p.137). A reflexão é meio, é instrumento para a melhoria do que é específico de sua profissão que é construir sentido, impregnar de sentido cada e toda vida quotidiana, como a própria palavra latina insignare que significa «marcar com um sinal». A reflexão deve, portanto, ser crítica. 

Por isso, é essencial assegurar a formação contínua dos que estão na carreira e a contratação de novos professores a partir dos melhores candidatos a quem exigirá uma formação contínua. O professor não pode ser reduzido a isto ou àquilo. Seu saber profissional, de experiência feito, de reflexão, de pesquisa, de intervenção, deve ser visto numa certa totalidade e não reduzido a certas competências técnico-profissionais. A escola é a principal agência de formação de que dependem a produção e manutenção de competências socioprofissionais requeridas pelo sistema social. 

Ela surge como medida para fazer face às pressões do mercado de trabalho mais exigente, ou para qualificar os cidadãos. A escola reafirma-se enquanto agência educativa. Nestes termos é importante reaver o papel preponderante do professor neste processo educativo, visto que educar é também arte, ciência, práxis, ou seja, é um factor de enriquecimento cultural dos cidadãos numa lógica de educar ao longo da vida, realizando a difusão cultural com que se manifesta o seu engajamento com a comunidade. 

Realçar o carácter reflexivo do fazer educativo do professor pode ser relevante, na medida em que se contrapõe à corrente do pensamento pedagógico, pragmatista e instrumental, mas pode ser limitativo se esse carácter não for compreendido numa certa totalidade de saberes necessários à prática educativa.

Ao abordarmos sobre o desenvolvimento educativo em Angola, ímplica completar áreas que têm incidência directa no desenvolvimento social, ou seja, nos domínios que se referem à formação do homem, a educação dos cidadãos em termos de consciência cívica e ética, a educação das comunidades nos valores da democracia, do patriotismo e da identidade nacional e às construções de um sentido de nação virada para o progresso, pois hoje se fala muito de competências profissionais do professor.

A tarefa de ensinar é um exercício profissional que, exige amorozidade e benevolência, pressupõe ter criatividade, competência científica e mais recusa pedagógica a estreiteza científica, que exige de forma premente a capacidade de brigar pela liberdade sem a qual a própria tarefa fenece. Fala-se menos de saberes, devo acrescentar que é muito difícil «aprender a ser professor», já «ser professor, me parece bem mais fácil», pois basta para isso ter disponibilidade e humildade para querer estar com o outro, ouví-lo e permitir que nos ouçam. Virou moda falar de novas competências ou do enfoque por competências, que lembra um pouco o debate do período da educação tradicional entre competência técnica e compromisso político.

Podemos afirmar que, as estratégias políticas educativas devem ser definidas com responsabilidade e por pessoas competentes, para não guilhotinar o futuro de um país, pois, em alguns casos, as políticas educativas tendem a acompanhar a moda. Como em toda moda, em toda antropologia ideológica, ela tem um fundamento. É preciso reconhecer que o contexto actual coloca novos desafios à escola, para as famílias, para o ensino, o professor e o aluno. O professor precisa saber organizar o seu trabalho e orientar o aluno a organizar o seu, saber trabalhar em equipa, participar da gestão da escola, envolver os pais, utilizar novas tecnologias, ser ético, continuar sua formação. Precisamos deixar claro que, ser professor não é emprego, mas sim uma profissão que visa educar para uma vida saudável.

5. SER PROFESSOR É EDUCAR PARA UMA VIDA SAUDÁVEL

Você já se perguntou o que define um bom professor? Como é que se educa para uma vida saudável? Ao tentarmos definir quais saberes um professor deve ter para ser um bom professor, podemos começar a nos perguntar primeiramente de que professor estamos a falar e, logo em seguida, sobre ser bom para atender quais exigências educacionais?

Definir qual o conhecimento de maior valor para a formação docente é uma escolha ideológica e política, a educação não é neutra e o professor está envolvido em um acto político, estando ele ciente ou não disso, defende (Apple, 2006). O professor está inserido em uma sociedade de múltiplas exigências simultâneas, de grande avanço tecnológico e de fácil acessibilidade à informação, portanto, este professor não é mais o único detentor da informação. 

O professor deve criar limites em conjunto com os seus alunos, pois, estes limites são saudáveis no espaço da construção do saber, daí a necessidade de apelar a responsabilidade do professor.

Os fatos contemporâneos ligados aos avanços científicos e tecnológicos, à globalização da sociedade, à mudança dos processos de produção e suas consequências na educação, trazem novas exigências à formação de professores, agregadas às que já se punham até este momento (Libâneo, 2010, p.76). Então, o professor não é mais necessário para esta sociedade?

Ele precisa dar sentido e propiciar conexão entre as informações para que elas se transformem em conhecimento. Importa ressaltar que, o bom professor a quem nos referimos é aquele que tem a função pedagógica de mediar entre a informação e a capacidade de transformá-la em conhecimento, isto é, ser um profissional que seja capaz de conduzir seus alunos na busca da produção de conhecimento no vasto mundo de/da informação no qual vivemos nos dias de hoje. 

Para todos os efeitos, este profissional precisa compreender a necessidade da formação continua como uma condição imprescindível. As novas exigências do século XXI geram a necessidade de que o professor se forme continuamente. O bom professor precisa ter uma prática reflexiva para ser capaz de aprimorar seus planos, seu entendimento do contexto no qual está inserido, compreender o seu aluno e, principalmente, ser capaz de ensiná-lo a fazer mais perguntas do que apenas dar respostas prontas e acabadas como se a realidade fosse imóvel, estimulando os alunos a pensarem, tratando o conteúdo não como verdade acabada, mas questionando-o sobre (o que sei e o que preciso saber para ter uma vida saudável?).  

É de extrema importância que o professor seja autónomo, seja capaz de dominar o conteúdo a ser apresentado, escolhendo estratégias e metodologias que se ajustem a realidade e o contexto em que a escola está inserida. Isto significa que, deve acompanhar o desenvolvimento dos seus alunos, acreditando no potencial de aprendizagem de todos eles. Ele deve demonstrar o prazer por aprender e por ensinar. Afinal, nós somos os maiores interessados na valorização da nossa profissão. Precisamos demonstrar para todos o quão importante ela é para uma sociedade, de modos a despertar no aluno a capacidade de interpretar e reconstruir a realidade em que vive, pois o aluno de hoje será o professor de amanhã. 

O Professor é um agente activo do processo de ensino-aprendizagem, que tem a responsabilidade social de articular entre os princípios e a realidade, redimensionar os comportamentos de acordo com os ditames da recta-razão com exemplos de boas práticas fundadas no princípio do imperativo moral; façam o que digo e o que faço, ou melhor, simplesmente o professor ensina a fazer, fazendo. Esta variável de partida deve ser vista sempre na perspectiva de educar o aluno para uma vida saudável.  

A pedagogia nos ensina a olhar no processo de facilitação e o desenvolvimento livre e espontâneo do aluno, o professor deve permitir na sua linguagem o diálogo e a troca comunicativa com os alunos. Com isso deve determinar o autodesenvolvimento e estimular a curiosidade, o foco, partindo do princípio de que, a existência pessoal está sempre no reconhecimento da beleza de «ensinar e aprender» a «aprender a ensinar», pois esta beleza deve existir em toda prática educativa. 

A função do professor nunca foi de dar respostas já produzidas, pois estas já se encontram nos manuais, nos meios de comunicação social, em particular na internet. A principal função do professor consiste em incitar a inteligência, a fim de provocar o espanto e elevar a curiosidade do aluno. O professor tem de conhecer o aluno enquanto pessoa e o estrato indispensável do seu sistema interior, tudo isso depende do nosso olhar, da nossa sensibilidade; depende da nossa consciência, do nosso trabalho docente e do nosso cuidado. 

A beleza existe porque o ser humano é capaz de sonhar. Aprender e ensinar com sentido tem uma explicação imediata. Desde este primeiro estrato, a técnica deve ser feita por meio de uma manifestação dos impulsos operativos naturais. A técnica não é uma utilidade pedagógica, mas sim uma obra pedagógica. Esta obra do ser humano pode ser um potencial perigo ou verdadeiro projecto político pedagógico, se for feito com racionalidade decisiva, compreenderemos que, aprender e ensinar com um sonho na mente, é muito mais do que mediar o conhecimento diante do aluno que é o sujeito da sua própria formação. 

A pedagogia serve de guia para realizar esse sonho. A decisão de ensinar e aprender com sentido deve optar pela técnica de quem decide, mas é preciso ter consideração à potência objectiva a alcançar, com isso equilibrar por uma medida correspondente com respeito, responsabilidade, ética, sabedoria, bondade, força de carácter, e se, portanto, aquelas possibilidades são colocadas sob critérios adequados. Se se faz recuar o olhar pedagógico aos começos da criação e execução técnica, há, sem dúvidas, graves motivos de preocupação.

O professor, antes de dar conta dos conteúdos curriculares, deve necessariamente dar conta de uma gama de outras aprendizagens, dos saberes da sociedade, tudo isso para não enviusar o retrato do professor na perspectiva tradicionalista e, desta forma, evitar que ele seja visto como aquele que é detentor do saber ou como aquele que exerce uma função de supremacia.

Esta análise permite-nos admitir que o caminho do professor passa obrigatoriamente em dominar os conteúdos que pretende leccionar mas, sobretudo, por conhecer os principais métodos de ensino que vão surgindo todos os dias em função dos desafios impostos pelo sistema. O professor tenderá, cada vez mais, a ser um agente que indica e sugere maneiras de fazer, soluções alternativas e formas criativas de aprender.

É importante salientar que nos dias de hoje, o professor é considerado como uma entidade híbrida, ou seja, aquele que transmite certa idoneidade intelectual na sociedade, sem esquecer o facto de muito deles transmitirem os seus saberes de forma tradicional, têm dificuldades de recorrer às novas tecnologias que têm ao seu dispor para transmitir o que pretendem.

Existe uma proliferação de definições acerca das profissões, mais entre elas apenas uma analise critica é reconhecida a sua contribuição original. Temos de aceitar o facto de que ter uma profissão é ter uma ocupação, nem sempre podemos reconhecer a ocupação como um emprego. O professor, além de se ocupar, preocupa-se. Ele preocupa-se sempre com os seus alunos, com aquilo que transmite mas, sobretudo, com o exemplo que dá, pois trata-se de um modelo cheio de defeitos mas, aos olhos dos seus pequenos alunos, um mestre, responsável, justo, detentor de sabedoria, de muita sabedoria.

Este processo também garante o crescimento do professor, pois ele cresce enquanto ajuda a crescer, e desenvolve-se enquanto transmite conteúdos que ajudam a desenvolver competência, com isso descobre-se enquanto incentiva a descobrir, desta forma, a profissão de professor passa a ser a ligação de afectos na troca de vivências e até experiências do dia – a – dia do aluno. Precisamos fazer duas provocações antropológicas.

a) Em que consiste a antropologia filosófica do professor?

A antropologia filosófica do professor consiste necessariamente em responder a pergunta: quem sou enquanto homem? Muitas vezes, o discurso sobre a essência do homem é condicionado pelo conceito deturpado de pessoa e não do homem concreto o que existe pessoalmente. O professor enquanto «pessoa está destinado por essência a ser o eu de um tu. A pessoa fundamentalmente solitária não existe, daí a necessidade do professor conhecer a sua antropologia filosófica». Disse (Guardini 2000, p.121). 

O professor precisa conhecer o estrato indispensável do sistema interior enquanto pessoa. Para isso deve saber que: a pessoa é um ser conformado; a pessoa é um ser alicerçado na interioridade; a pessoa é um eu pessoal. Portanto, o professor deve reconhecer que enquanto pessoa ele é um estrato inferior ontológico da pessoa, ou seja, é uma conformação fenológica, «a pessoa existe na forma de diálogo, orientada a outra pessoa», tal como disse o professor de filosofia (Bosch sdb, 2018, p.135).

O professor é uma pessoa, pois ocupa um posto central nas lições sobre ética. Por essa razão devemos entender o sentido completo das motivações pedagógicas de Tchipesse nos seus primeiros escritos, especialmente aquele que se refere ao tema da polaridade ética; é preciso saber organizar o seu trabalho e orientar o do aluno a organizar o seu, saber trabalhar em equipa, participar da gestão da escola, envolver os pais, utilizar novas tecnologias, ser ético, continuar a sua formação. Ademais, esses saberes não foram desde sempre os saberes necessários à prática educativa?

A incumbência antropológica e pedagógica da ideia sobre ensino – aprendizagem nos remete a realçar o carácter reflexivo do que o fazer educativo do professor, pode ser relevante, na medida em que se contrapõe à corrente do pensamento pedagógico pragmatista e instrumental, mas pode ser limitativo se esse carácter não for compreendido numa certa totalidade de saberes necessários à prática educativa.

b) O que significa ensinar e aprender com sentido? 

 O professor hoje precisa ser um profissional capaz de criar conhecimento. É necessário ter cuidado quando se fala em especialista em educação. É claro que existe saberes e competências específicas, mas separá-los burocraticamente é um equívoco que tem custado caro aos sistemas educacionais, tornando-os inflexíveis, apesar das declarações em contrário. É necessário exigir aos órgãos competentes a valorização específica da função docente e com isso responder com o salário que promove e dignifica a classe.

Não há como negar: somos profissionais de baixa renda. Perdemos com isso. Mas, pensamos todos os dias numa «civilização do oprimido», pelo facto de os políticos entenderem que, este profissional pode ter, por essa característica particular, uma potencial evolução que outras profissões não têm, já que esta profissão é voltada para emancipação da pessoa. Os salários baixos só têm a ganhar com a transformação. Que faz o político, quando fala da qualidade de ensino? A primeira resposta coloca-nos no universo das sensações e vivências concretas, tão necessárias e vitais que oferecem a porta de entrada das nossas relações. Estamos a falar da alegria, da tristeza, do medo, da dor, da tranquilidade, do ânimo, etc. O mundo interior dos professores manifesta-se, liberta-se quando para além de motivar os alunos a aprender, também são motivados com uma remuneração justa: é o sentimento que se exprime … também com palavras e acções.

A reflexão sobre ensinar e aprender com sentido deve, portanto, ser crítica. Fixemos mais uma vez o nosso olhar sobre o conceito de pessoa e liberdade, enquanto adesão livre do ser humano, podemos compreender que o professor não pode ser reduzido a isto ou àquilo. Isso significa, porém, ser uno consigo mesmo, propriamente consciente, pois o seu saber profissional, de experiência feito, de reflexão, de pesquisa, de intervenção, deve ser visto numa certa totalidade e não reduzido a certas competências técnico-profissionais. A partir da análise filosófica podemos entender que, educar é também arte, ciência, práxis. 

Diante disso, importa realçar que, «o século XXI propõe grandes desafios para o sector da educação, pois para o aluno aprender é necessário articular as teorias e manipular as metodologias, todavia o professor deve saber que o tempo de aprender depende do tempo de ensinar, porque é nele que se insere, ao modo dela, o tempo do conhecer». Tal como refere, (Tchipesse 2020, pp.133).

5. CONCLUSÃO 

Por este trabalho percebe-se que, o poder do professor está na capacidade de reflectir criticamente sobre a realidade para transformá-la, quanto na possibilidade de formar um grupo de pessoas para lidar por uma causa comum. Neste artigo, procuramos trabalhar nas questões sobre antropologia, ética e estética do professor. Existe uma discussão interessante sobre, como «ele deve ser para ser professor». As análises sobre o «o que o professor não sabia?», nos ajudou a compreender que a introspecção é uma verdadeira metodologia para dar um passo na direcção do outro mundo possível, é também um instrumento de diagnóstico de trabalho, para isso precisamos ensinar as pessoas como construir um novo paradigma do conhecimento, começando pela pergunta: quem sou?

Acreditamos que existe ainda no seio dos professores uma imensa reserva de altruísmo e de solidariedade, uma dica que o professor precisa saber: educar é empoderar, não é tanto ensinar quanto reencantar. Ou melhor, ensinar, neste contexto, é reencantar, despertar a capacidade de viajar no seu subconsciente, despertar a crença de que é possível mudar o mundo. No final, podemos afirmar juntos que essa profissão é insubstituível, e não podemos imaginar um futuro sem os professores. O professor não sabia que ensinar é um exercício de imortalidade, pois precisamos continuar a viver num mundo cujos os olhos aprenderam a ver a magia da nossa palavra. 

Precisamos sair do plano ideal para a prática, não é abandonar o sonho para agir, mas agir em função dele, agir em função de um projecto de vida e de escola, de cidade, de mundo possível, de um país, de um projecto de esperança. Desta forma, o papel do professor no quadro de um ensino inovador é cada vez mais marcado pela preocupação em criar situações de aprendizagem estimulantes, desafiar os alunos a pensar, apoiá-los no seu trabalho, favorecer a divergência e a diversificação dos percursos de aprendizagem, tornando-se desta forma em factor facilitador de um processo de mudança.

Certamente o professor não sabia que uma educação sem esperança não é educação, ensinar o que não sabes pode te levar a frustração, ser educador não é ser professor, ser professor é necessário ter capacidade de criar conhecimento, ser professor não depende das tecnologias para ensinar com qualidade, ser professor não é emprego, mas uma profissão, ser professor é educar para uma vida saudável.

 

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 Faustino Moma Tchipesse- Licenciado em Pedagogia pela Universidade Católica de Angola (UCAN), no Instituto Superior Dom Bosco (ISDB). Técnico Médio em Instrução Primaria pelo Magistério Primário de Luanda (MPL) é pós graduado em: Administração, Gestão de Qualidade Pedagógica (AGQP), através da Universidade de Ciências Pedagógicas (UCP), HenriquesVarona; Elaboração de Projectos de Investigação e Desenvolvimento (CEPID), pela Universidade Agostinho Neto, através do Centro de Estudos de Apoio à Formação, Investigação e Extensão (UAN-CEAFIE); Elaboração de Artigos Científicos (CEAC), pela universidade Agostinho Neto (UAN-CEAFIE). Foi Director do Liceu nº6075 km44. Autor do livro Dimensão Ética do Professor na Sala de Aula; autor do artigo científico Princípio Pedagógicos para Ensinar quem não quer Aprender. (2020).

Email: [email protected].