O QUE É OLHAR PARA TRÁS

Por que olhamos para trás? Por que é tão importante olhar para trás?

Podemos olhar para trás de dois jeitos: um, muito importante, é para fazermos algo tão bem ou melhor do que fizemos no passado, ou para não fazermos como fizemos no passado, ou, de novo, fazermos melhor. Isto nada mais é que usar nossa memória para tomarmos nossas decisões, para pensarmos, para raciocinarmos.

O outro jeito que usamos para olharmos para trás é do medo de não termos feito a coisa certa, a escolha certa; o medo de não conseguirmos consertar o que achamos que quebramos; o medo de acontecer de novo.

Se não tivermos realmente feito a coisa certa, o medo não se justifica, pois não pode existir medo no passado. Como saber se fizemos a coisa certa? Basta perguntar: Ferimos alguém? Ferimos a nós mesmos?

Se ferimos alguém só temos dois remédios: ir a esse alguém e se confessar a ele, se desculpar, ficar em paz com ele e ele conosco; ou enviar pensamentos nobres, engrandecedores para esta pessoa, numa espécie de oração. Se não ferimos a alguém então o medo não se justifica. Se ferimos a nós mesmos, o único remédio é aceitar que aprendemos e que vamos fazer melhor da próxima vez. Se não nos ferimos, o medo não se justifica.

O que é não fazer a escolha certa? É aprender, é compreender a vida, é compreender a nós mesmos, é poder escolher de novo.

Achar que quebramos não é quebrar. Quebrar é ferir alguém ou a nós mesmos.

Não há justificativa para o medo nesses casos.

E o medo de acontecer de novo? Aí está, este medo é presente.

Ora, só vai acontecer de novo se voltarmos ao passado (mesmo em ações presentes) e repetirmos tudo; só vai acontecer de novo se não olharmos para trás (viu como é importante olhar para trás?); só vai acontecer de novo se não olharmos para a frente. Sim, porque o medo de acontecer de novo é o medo de ir em frente, pois para se ter medo de ir em frente tem-se que ter medo de olhar para trás. O desconhecido verdadeiro não está adiante, está atrás, exatamente quando deixamos ou temos medo de olhar para trás. No futuro não existe o desconhecido, pois nosso futuro é construído no presente com o que aprendemos no passado, OLHANDO PARA TRÁS.

E o tempo? Será que dá tempo de eu olhar para trás e seguir em frente? Se não der tempo então eu estou morto, se estou morto então estou parado, se estou parado então estou com medo, se estou com medo então não vou em frente e nem olho para trás. O tempo nada mais é que uma sensação. É esta sensação que constrói nosso eu consciente. Se sentimos que estamos “perdendo tempo” na verdade estamos é sem direção. Com direção, a sensação é que estamos “ganhando tempo”.

Ora, se esse tempo pode ser espichado e encurtado conforme nossas ações então ele é um atributo nosso, não existe fora de nós, pode ser do tamanho da eternidade ou do zero absoluto.

De novo, não passa de uma sensação. Páre de pensar e o tempo para. Se esse tempo não existe em absoluto, o que dizer do tempo marcado pelos relógios? Vá para Marte e ele não vale mais! Pergunte ao seu inconsciente o que é o tempo.

O que nos faz olhar para trás, a razão ou o coração? Os dois! A razão vai ao passado em busca de seu futuro. Sim, de novo, não se pode ir em frente sem as experiências do passado, sem olhar para trás; o coração vai ao passado em busca de alegrias e em busca de aprendizado para que, cada vez que ele for ao passado, encontre mais alegrias que lições, ou seja, ele também vai lá para construir seu futuro.

Quem manda a razão ir ao passado? Ela mesma? Não! O coração. Sim, o coração, porque ele é a fonte da bondade pela qual nossa razão se guia e nos leva pelo caminho da verdadeira elevação espiritual.

E quem manda o coração ir ao passado? Ele mesmo? Não! A razão. Sim, a razão, porque é através da elevação espiritual que o amor verdadeiro cresce em nós.

Sim, o coração ouve a razão e a razão ouve o coração. Por que? Porque são a mesma coisa. Nem a razão é dura demais e nem o coração é mole demais, mas se a razão amolece, o coração endurece. Um não pode existir sem o outro, eles se completam e se equilibram, sempre sob o comando de uma terceira parte, que também é um com eles: a consciência.

Se achamos que a razão não ouve o coração ou que o coração não ouve a razão, na verdade nós, a consciência, é que estamos impedindo. Deixemos os dois conversarem:

Coração: Razão, eu estou querendo vender tudo o que tenho, distribuir o dinheiro para os pobres e ir morar numa caverna sem nada, nadinha.

Razão: Coração, você tem condições de fazer isso? Não tem ninguém que dependa de você? Não tem realmente uma missão a cumprir? Se não, vá, faça isso. Se você se arrepender você pode começar de novo porque, apesar de você vender tudo o que tiver, o que você aprendeu não poderá ser vendido.

Coração: Mas razão, eu estou com medo.

Razão: Se você está com medo então não é isso o que você quer fazer ou pelo menos você não quer fazer exatamente como você disse. Você pode ir morar numa caverna sem precisar vender tudo o que você tem, sem precisar se livrar de tudo. Se você não gostar, você volta para cá.


Coração: É, mas aí eu vou voltar como um derrotado. Como é que eu vou explicar a minha falha?

Razão: Peraí coração, agora você já está entrando no meu campo. Eu é que devo decidir se uma coisa vai dar certo ou não, e o que vou fazer em cada caso. Você é livre. É porisso que você pula de um lado para o outro. Vá, volte, vá de novo e torne a voltar; chore, ria, chore de novo e volte a sorrir; ame, ame, ame de novo e volte a amar. Se você precisar de ajuda eu vou estar sempre ao seu lado. Se eu te puxar para cá, corra para lá; se eu te puxar para lá, corra para cá. Se você encontrar a felicidade eu ficarei feliz; se você não encontrar eu te ajudo a continuar procurando.

O coração não anda sozinho, a razão está sempre com ele. Soltar o coração não significa fazer loucuras, a menos que se tenha perdido a razão.

Quer soltar o coração sem usar a razão e sem fazer loucuras? Sonhe, fantasie. Isto também satisfaz o coração e não incomoda a razão e nem a consciência.

A razão dá a certeza, o coração dá a coragem, a consciência mostra o caminho.

Brasilio – 12/jan/2000.