O QUE É O RESPEITO

Respeito é aceitar o momento do outro, não importando o que aquele momento nos pareça.

Eu não cumprimentar o Papa não é falta de respeito. Eu fazê-lo por causa da “etiqueta” é escravagismo. Idem fazê-lo por temor, a isso ou a qualquer outra situação. Ele sim, tem que aceitar aquele meu momento.

Eu fazê-lo por vontade própria, por causa de uma força “irresistível” é amor. Essa força irresistível não está sob o meu controle. Na verdade, fico sob o controle dela, às vezes. No dia em que esse controle for contínuo, terei evoluído bastante.

Cumprimentar para “aparecer” ou por fingimento é falta de respeito para comigo mesmo: não aceitei meu momento.

Nesse sentido, os animais são muito mais respeitosos do que nós. E, dificilmente, aceitamos o “momento” deles. É como se eles também tivessem que ter uma etiqueta. Nossa tendência é a de escravizá-los.

Que animal agradaria alguém para “aparecer” ou por fingimento? Quem admite isso? Grande parte deles o fazem por temor.

Na verdade, em termos de amor, eles estão muito à nossa frente. Temos tanta carência desse amor, sentimos tanto a falta dele que, ao não aceitarmos o momento do outro, dizemos que ele não está nos respeitando, quando, na verdade, trata-se do contrário: estamos exigindo a atenção dele.

Esse sentimento é a resultante entre a força que nos arrasta em direção àquele amor e a nossa resistência a este arrasto. A resistência é uma reação inconsciente que surge quando descobrimos que estamos sós, a cada momento. Isto é, se deve à consciência que temos de nossa individualidade, no sentido de estar (estar no espaço, estar no tempo).

A força que nos arrasta é o desejo inconsciente de acabar com a solidão, nos tornando um só, no sentido de ser.

E o respeito pelas coisas que não sejam pessoas ou animais?

Até onde podemos perceber, apenas pessoas e animais se manifestam. Então, as coisas não têm “momentos” emocionais.

No entanto, a falta de respeito com as coisas torna-se falta de respeito para consigo mesmo, e mais ainda: falta de respeito com as demais pessoas e até para com os animais, pois você não estará aceitando o momento deles. Ao desrespeitar algo, você os pode estar afetando.

Dar vazão à sua raiva não é aceitar seu próprio momento, ao contrário, é ir contra ele.

Brasilio/Fevereiro 2005.