O QUE É O PRECONCEITO

Preconceito é uma daquelas palavras que quando quebrada em duas continua com o mesmo sentido e até deixando seu sentido mais claro: pré-conceito, um conceito criado de antemão. No caso do significado desta palavra, um conceito forjado, dado para o objeto do preconceito sem saber-se o real conceito que aquele objeto informa.

É uma atitude maldosa, pois é criada conscientemente e incondicionalmente, como que antevendo um futuro com a consciência de que não é possível fazer previsões acertadas. Ao mesmo tempo em que o preconceito é exercitado, a pessoa sente nele uma espécie de falsidade, como se soubesse que aquilo não está certo, mas, assim mesmo, ela escolhe mantê-lo. Na verdade, alguns preconceituosos, recriminam mais a si mesmos do que o suposto objeto de seu preconceito.

Dentre todos os seres vivos, o homem é o único ser que cria preconceitos, seja em relação a outras pessoas, coisas e até contra si mesmo. A vida está aí, dando exemplos constantes, como no caso dos animais, que não sabem o que é preconceito. Um cachorro, por exemplo, quando ataca alguém ou alguma coisa, o faz por medo do desconhecido, por sentir-se ameaçado. A reação de qualquer ameaçado não é o preconceito e sim o medo.

 

A fonte do preconceito são os sentidos, em toda as suas extensões, ou seja, desde que ele é acionado até o ponto onde a informação sensorial é processada. Os sentidos podem ser as fontes, mas não são a razão. A razão está na própria razão, no raciocínio, no processamento da informação, tenha ela vindo dos sentidos ou não. É possível formar uma ideia preconceituosa sobre um pensamento que tenha surgido do nada. É daqui que nascem os preconceitos contra si mesmo. Estes acabam se transformando num complexo de inferioridade que fica difícil de remover depois.

O preconceito tem a ver com a formação moral do indivíduo e com sua atuação social solidária. Esta última, na verdade, é a escola onde o indivíduo pode acabar com os seus preconceitos e elevar a sua formação moral.

O preconceito é uma barreira que criamos entre nós e o objeto de nosso preconceito ao colocarmos nesse objeto algo que é negativo no nosso modo de entender e agindo como se aquela coisa negativa estivesse vindo do objeto mesmo e não colocada nele.

Fazemos isso por dois motivos principais: falta de conhecimento e falta de amor fraterno. Para os dois casos, uma única palavra os descreve bem: ignorância, uma vez no sentido positivo e outra vez no sentido negativo desta palavra.

A falta de conhecimento pode ser resolvida, pois há várias fontes materiais de aprendizado com as quais podemos interagir, como livros, escolas, a Internet, etc. Os preconceitos derivados da falta de conhecimento são aqueles contra pessoas com algum tipo de doença, como AIDS, por exemplo. Mas, mesmo doenças que não tem o mínimo perigo para quem se aproxima são suficientes para alguém criar um preconceito.

Preconceitos desse tipo também são derivados da condição social da pessoa discriminada, pela raça, cor, cultura, idade, etc. Contra a raça e cor já é mais próximo da falta de amor, mas é mais falta de conhecimento, de interesse. Preconceito contra a idade cai nos dois casos, mais em falta de amor do que falta de conhecimento. Neste último se encaixam aqueles que acham que velhice é uma espécie de doença. Não pensam, em nenhum instante, que vão chegar naquela condição também, ou pior, podem não chegar. Não que vão viver para sempre na juventude, apesar de naquele momento se sentirem eternos, mas que poderão desaparecer no próximo dia, o que é pior do que ficar velho. Os que se encaixam na falta de amor fraternal são aqueles que se recusam a dar apoio aos idosos, principalmente quando são seus parentes. Preferem interná-los numa instituição, abandonando-os lá, como se tivessem sido jogados no lixo. Não fazem nenhuma visita. Acho que esse é o tipo de preconceito que mais existe e ele é derivado da falta de amor fraterno entre não-parentes. Todos os que não são nossos parentes são desconhecidos para nós. Se estão sofrendo e nós não, então eles nos são inferiores e não merecem nosso apoio. Os parentes deles que se virem para ajudá-los. Com isso, não percebemos que estamos envenenando a nós mesmos e, no dia que um parente nosso cair naquela condição, mesmo sendo o pai ou a mãe, o trataremos da mesma maneira que tratamos o desconhecido, talvez fingindo um pouco de atenção, mas mais para se justificar para si mesmos.

O que você faria se teu pai ou mãe, tendo apenas você como filho único, ficasse incapacitado de usar braços e pernas, impedindo-o de se alimentar ou de tomar banho? Na pior das hipóteses, você deverá pagar alguém que cuide deles, mesmo que seja uma instituição apropriada, mas a qual você monitorasse quanto ao tratamento que estão dando a seus pais e, também, visitá-los, pelo menos uma vez por semana. Alguns filhos mais abnegados, realmente com amor fraterno, tomam esse cuidado para si, às vezes até esquecendo de si mesmos para trazer seus pais para uma condição o mais próximo possível de suas antigas condições normais. Alguns se empenham tanto que parecem que fazem aquilo com uma espécie de desespero positivo.

Talvez o conhecimento, através de meios materiais até te levem a uma atitude mais amorosa, mas só amor fraternal pode levar você a alcançar as duas coisas ao mesmo tempo: amor e conhecimento. Conhecimento é fácil de se obter, basta querer.

Quanto ao amor fraternal, trata-se de algo bem difícil de obter, pois não existe uma fonte material de amor fraterno, pois amor não é algo material, e como temos mais facilidade de interagir materialmente, a busca dele fica extremamente difícil.

Coisas materiais vem de fora de você, mas coisas não materiais têm que vir de dentro de você. Só que o poço inteiro desse amor pode estar seco e isso vai te dar a medida de teus preconceitos, mesmo que você já tenha conseguido todo o conhecimento do mundo para sair da ignorância do conhecimento.

Amor fraterno só vai começar a crescer em você quando começares a ver você mesmo nos outros em uma condição inferior àquela em que estás agora.

Ninguém tem falta de amor fraterno por si mesmo, a menos que tenha preconceitos contra si mesmo, seja em frente a um espelho (se acha feio, desinteressante, gordo, magro demais, etc. etc.) ou em seus próprios pensamentos (eu não vou conseguir passar na prova, pois sou burro demais).

Brasilio – Setembro/2010.