O QUE É O INDIVÍDUO

Em O Que é a Verdade I tem um exemplo que lê:

1)      Se tudo que excita nossos olhos (ato de ver) é material e a luz excita nossos olhos então a luz é matéria.

a)      Base: tudo que excita nossos olhos é material (verdade suposta)

b)      Fato: a luz excita nossos olhos (verdade)

c)      Conclusão: a luz é matéria (verdade)

No exemplo acima a questão é: estamos vendo a luz ou seu efeito? Se estamos vendo a luz por que então não a vemos quando ela “sai” do Sol e ilumina a Lua à noite? Só a “vemos” quando ela atinge a Lua e, depois, nossos olhos. Então não dá para concluir que a luz é matéria, a menos que seja matéria invisível. Mas seria invisível apenas dependendo do ângulo pelo qual olhamos, porque se estivéssemos na Lua certamente veríamos a luz! Ela pode ser energia. Se ela for energia então nem tudo que excita nossos olhos é matéria pois, no caso Sol-Lua acima, se fosse matéria que viesse da Lua e atingisse nossos olhos, só olharíamos uma vez, porque ficaríamos cegos! Então somos forçados a admitir que tudo que excita nossos olhos é energia e, consequentemente, a luz (ou o seu efeito?) é energia.

Nem toda matéria excita nossos olhos: o ar é matéria e não o vemos. Nem toda luz excita nossos olhos. Isso implica que EXISTE MATÉRIA INVISÍVEL. Isso não implica na existência de matéria impalpável. Pela própria definição de matéria isso não é possível, ou seja, a matéria é sempre palpável.

O calor é uma manifestação da matéria. É um efeito cuja causa não é a matéria.  Então o calor, em si, não existe. O que existe mesmo é o frio, mas este só existe se há calor presente!!! Como é isso? Se minha temperatura subir à temperatura do Sol (supondo que eu continue vivo) posso viver no Sol; se ela descer à temperatura do zero absoluto (supondo que eu continue vivo) posso viver no zero absoluto. O quente e o frio não existem por si. O que faz a matéria se manifestar é a energia. Dois corpos com o mesmo grau de energia não são quentes e nem frios entre si.

Um martelo batendo num prego dá energia às moléculas do prego e este às do martelo, como se o prego batesse no martelo (e é o que acontece também – ação e reação). As trocas de energia precisam de contato material. Quanto mais semelhantes em termos de estrutura são dois objetos, mais fácil será a troca de energia entre eles: o martelo batendo no ar trocará energia mais dificilmente que com o prego.

Como nossos sentidos têm estruturas mais ou menos fixas (são limitados) podemos concluir que existe matéria que não os afeta; não ocorre troca de energia. Se a energia surge da reação entre dois objetos então a matéria contém energia. Esta energia pode sair e afetar outros objetos.

Existe energia pura, que não saiu da reação entre objetos?

Se energia causa o efeito luz e o efeito luz excita nossos olhos, que são matéria, então a luz é energia.

Existe energia, luz, que não afeta nossos olhos devido a limitações destes. Toda energia pode causar algum efeito físico, desde que o corpo que a receba reaja a ela. Se a energia causa a reação de um corpo e a toda reação corresponde uma força então a energia é uma força.

Como o pensamento sempre causa uma reação fisiológica ou física então o pensamento é uma força, é uma energia. Mas o pensamento só é uma força para quem está pensando pois só causa uma reação em quem está pensando. O pensamento do indivíduo A só influenciaria no indivíduo B se e somente se A=B. É o mesmo caso do martelo com o prego (só se diferenciam na forma) e do martelo com o ar (diferenciam-se na forma e na constituição).

Nos seres pensantes, as diferenças psicológicas são extremamente mais amplas que as diferenças físicas. Uma pequena diferença física entre dois indivíduos não é suficiente para tirá-los simultaneamente da influencia de uma energia, mas a mesma quantidade em diferença psicológica é. A diferença física entre os seres humanos é mínima; a diferença física entre os indivíduos que formam um bando de andorinhas é menor ainda. Mil andorinhas fazem movimentos tão coordenados que mil homens nunca fariam! E elas não ensaiam antes! Será que um único indivíduo pensa por todas elas ou todas têm o mesmo pensamento (o que dá na mesma) naquele instante?

Um indivíduo é o somatório de seu psicológico com o seu físico. Este resultado (R) está sempre variando pois ambos os fatores variam sempre. Eventualmente esse resultado pode se repetir, tanto pelo fato de P (fator psicológico) e F (fator físico) passarem pelos mesmos valores (PA+FA=RA) ou pelo fato de P e F não passarem por eles, mas PA’+FA’=RA. Se PA+FA=RA e, mais tarde, PA ocorrer e FA também ocorrer, então, naquele instante, RA ocorrerá. Se RA ocorre, não necessariamente PA e FA estão ocorrendo. Por exemplo, se numa dada condição física e psicológica eu tenho dor de cabeça, então quando aquelas condições se repetirem eu terei dor de cabeça; por outro lado, se estou com dor de cabeça não significa que estou com aquelas condições físicas e psicológicas.

Para dois indivíduos A e B serem psicologicamente iguais, mesmo num delta de tempo (Dt), temos que ter PA=PB. FA nunca vai ser igual a FB em nenhum Dt. Só o fato de serem dois indivíduos físicos já os fazem diferentes. Como as variações físicas são praticamente nulas frente às variações psicológicas, principalmente para um Dt pequeno, podemos eliminar o físico das equações. Isso vale até para o indivíduo único, o que equivale a dizer que alguém é o resultado de seu estado psicológico: RA=PA. Ou seja, VOCÊ É O QUE VOCÊ PENSA QUE É (ditado popular).

Então, quando PA=PB Þ RA=RB, ou seja, duas pessoas no mesmo estado psicológico terão a mesma reação frente a uma força externa a elas ou externa a cada uma individualmente (vinda do outro). Mas, em que situação o pensamento de A vai influenciar B como se o próprio B estivesse pensando e vice-versa?

A situação ocorre exatamente quando PA=PB se mantém, pois o que A pensar B estará pensando, e vice-versa, pois se A pensar uma coisa e B pensar outra coisa diferente então PA¹PB. Agora, como chegar a essa igualdade e mantê-la?

Mantê-la não é o maior problema. O maior problema é chegar a ela. Quando PA=PB , temos um único indivíduo naquele instante. Agora, o que define um indivíduo, o seu perfil psicológico ou o seu perfil físico? À primeira vista parece que o físico define um indivíduo, pois podemos separá-lo dos demais, podemos contá-lo numericamente. Mas, o que dizer de gêmeos siameses com um único corpo e duas cabeças? Ok, ainda podemos contar as cabeças. E se o que um falasse o outro falasse também no mesmo instante, ainda assim seriam dois ou um só? Seriam um só, com certeza. Então, para nós, o que define um indivíduo fisicamente são suas manifestações físicas, o que implica que, dois indivíduos, sejam duas cabeças no mesmo corpo ou corpos separados, tendo as mesmas manifestações físicas, são um único indivíduo. Concluímos daí que o perfil físico não define um indivíduo!

E uma pessoa que tem a chamada dupla-personalidade, é um único indivíduo ou mais que um? Dupla-personalidade é possível de ocorrer? Dupla personalidade ocorre exatamente quando PA¹PB para A=B, ou seja, quando PA¹PA !!!, sendo o indivíduo um único ser físico. Há casos, sim, de dupla-personalidade, sendo que PA¹PB em Dt1,¹ Dt2, sempre, pois é impossível ocorrer no mesmo Dt. Se tivermos PA¹PB no mesmo Dt então podemos afirmar que temos dois indivíduos físicos diferentes, sendo A¹B.

Uma pessoa com dupla-personalidade vai ter manifestações físicas diferentes; duas pessoas com as mesmas manifestações físicas vão ter uma única personalidade. Então, dupla-personalidade mostra dois indivíduos, enquanto que a única mostra um. Portanto, o que define um indivíduo é o seu perfil psicológico. Então, duas ou mais pessoas podem se tornar um único indivíduo, assim como o bando de andorinhas se torna um único indivíduo durante suas manobras. É como se os seus físicos se fundissem num só e também seus psicológicos, formando assim um único corpo animado por um único espírito.

Será que as forças mentais se somam naquele instante? Ou será que se nivelam pelo mais fraco? Ou pelo mais forte? As forças físicas se somam, desde que a ação de cada uma seja sobre um único objeto. Se as ações forem em objetos diferentes nem o pensamento será o mesmo. Então, as forças físicas sempre se somam. Quanto às forças mentais, elas não se somam, mas se fundem e se misturam, tornando-se uma única mente. Não há nivelamento pelo mais fraco ou pelo mais forte, mas uma equalização.

De novo, como chegar a PA=PB ? Ambos devem cooperar ou a força mental de A pode influenciar B e causar nele uma reação? O que A precisaria fazer para influenciar B? Conversar com B levando-o a pensar sempre como A? O indivíduo A teria que ser muito mais forte mentalmente que o indivíduo B para este nunca se desviar; teriam que estar sempre em ambientes semelhantes para terem o mesmo pensamento no mesmo Dt; “visualizar” que B está pensando a mesma coisa que A, como se B fosse a cabeça de A? Isto é possível em uma imagem de pensamento (num sonho), mas é possível na realidade em que vivemos?

Dê uma olhada em “O que é o pensamento” e em “O que é o sonho” e verifique o que é a realidade em que vivemos.

Brasilio Junho/2000.