O QUE É O AMOR II

Quem nunca se apaixonou? Quem nunca, sem querer, integrou uma pessoa em sua mente a tal ponto dela se tornar seu próprio pensamento, seu próprio sangue? Sente-a correr nas veias; qualquer coisa em que pensa, pensa simultaneamente naquela pessoa.

Pode ser até que exista alguém que nunca passou por isso, mas, a maioria absoluta já passou.

Mesmo que nunca tenha havido um relacionamento físico de qualquer nível, podemos nos relacionar com aquela pessoa “especial” para sempre. É o que eu chamo de “minha Kara virtual”, onde Kara é um nome qualquer.

Alguns, que se auto intitulam de entendidos no assunto, dizem que isso é doença. Outros até perguntam: “E, como é que você se vira?”, dando ênfase na palavra vira, falando, claramente, da questão do sexo carnal, como se ele fosse essencial, como se ele fosse o sustentáculo de uma relação. Esses acham que sexo é amor e que amor é sexo. Que um não existe sem o outro. Que sem sexo não há amor.

Engano imenso. Talvez devido à confusão gerada pela expressão “fazer amor”, que é mais um eufemismo para “fazer sexo”, pois, “fazer sexo” é mais feio do que “fazer amor”. Hipocrisia pura, inocente ou não.

Por que eu tenho que me “virar”? Sexo não é essencial para se viver, para se amar. Ele é consequência do amor e não o contrário. Mesmo sendo consequência do amor, ele é independente, tanto que é vendido por aí sem amor. Ele não é bem uma consequência do amor, é mais uma exacerbação dos instintos animais que ainda temos.

Você pode comprar sexo, mas não pode comprar amor, pois ele não tem preço definido. Dizem que o amor é gratuito, que você dá amor. Não, você não dá amor, é o amor que dá você; você não leva amor, é o amor que te leva, você não o controla, é ele que te controla. Quando alguém é instado a dar amor ou o dá de vontade própria, não está dando amor, está, na melhor das hipóteses, dando caridade e, na pior das hipóteses, está querendo se promover, que é o que mais acontece por aí.

Se ter uma pessoa virtual é doença, então o amor é uma doença e nem todas as doenças são ruins. Como não conseguimos controlar as doenças ruins, muito menos conseguiremos controlar as boas, como o amor, por exemplo. Ninguém pode ter alguém real e depois ter amor por esse alguém. O amor tem que vir em primeiro lugar, mesmo que o objeto dele já esteja perto. Então, sim, o objeto virtual vem bem antes do objeto real. Quando este se encaixa perfeitamente ao objeto virtual, o amor por ele já nasce grande. Mas, este encaixe perfeito é raro, porque a maioria de nós idealiza uma imagem que é controlada por nós (minha Kara virtual). Quanto maior o controle, mais difícil será o encaixe. É por isso que o verdadeiro amor é destituído de apego, isto é, contém o puro desapego, tornando o objeto amado numa fonte de amor também, não só recíproco, mas universal.

Brasilio – Julho/2009.