O QUE É NÃO SABER

Por que sentimos mais o não-saber do que o saber? É ignorância o que experimentamos? Por que temos essa necessidade de saber? Por que o que sabemos não é suficiente e o que aprendemos não nos preenche?

Nossa capacidade de aprender é extremamente grande. O problema é que estamos todos no mesmo nível, daí, não sobra ninguém para ensinar. O que significa que corremos o risco de ficarmos ignorantes para sempre. Todos juntos é mais pesado, fica arrastado, pois são poucos os que querem ir em frente, aprender, saber. Esses é que nos tiram da ignorância. Devagar, mas tiram, passo a passo.

Sim, éramos mais ignorantes no passado, mas, o que aprendemos é muito pouco. Tão pouco que ainda preenchemos alguns espaços com sentimentos de violência, ódio e orgulho. É mais um grito de quero saber, mais um pedido de socorro do que, propriamente, um ato consciente.

Mas, por que não sabemos? O que nos falta para atravessar essa penumbra na nossa frente? Temos que esperar que ela se abra ou devemos penetrá-la? Por que a maioria de nós tem medo do desconhecido? Eventualmente aquela penumbra pode se abrir. Ás vezes ela se abre, mas não percebemos, porque nos falta conhecimento anterior (ou interior). Quando alguém tem esse conhecimento, então ele se torna o mestre e ensina os outros. Aí a humanidade evolui.

Mas, talvez mais penumbras se abram do que existem homens capazes de perceber. Alguns mais apegados ao eu quero saber e outros vivendo com zumbis. E parece que a coisa está é piorando. Estamos ficando menos ignorantes, mas mais alienados. Hoje, o que mais se vê por aí são jovens com um par de fios escorrendo dos ouvidos (!), criando a figura perfeita do alienado, do zumbi. Diz-se que estão ouvindo música. Mas, não basta só ouvir. É preciso sentir, se integrar, compreender (não o que o autor diz, mas o que o resultado na mente diz).

Como penetrar a penumbra? Como baixar o véu do desconhecido? Usar o que já conhecemos para conhecer o desconhecido? Mas, nos falta conhecimento de como usar o que conhecemos!!!

Eu junto peças do que conheço e formo uma peça que não me diz nada. Pelo menos, não vejo. Pelo menos, não ouço. Provavelmente estou juntando pedaços aleatoriamente, sem critério. Ora, se eu conhecesse o critério conheceria o resultado final!

O que nos falta é exatamente isso: o critério.

Para começar: o conhecimento fica do lado do bem ou do lado do mal? Nem de um e nem de outro, porque ele é um instrumento e nenhum instrumento é bom ou mau de per si.

Aquele que faz uso de um instrumento é que é bom ou mau, independentemente do instrumento.

Será que a propensão que temos para o mal é que nos impede de penetrar a penumbra? Será que a sombra que criamos não torna essa penumbra ainda mais espessa?

É notório e mais que provado que o pensamento direcionado para o mal vibra no corpo inteiro, desregulando-o, tensionando-o e embotando suas principais funções, sejam físicas ou mentais. Assim, não é de admirar que não consigamos enxergar além da penumbra.

Então, já podemos definir um critério inicial, formado de calma, paz, solidariedade de atos e pensamentos, em atos e pensamentos para com os outros e, principalmente, para consigo mesmo.

Esse critério inicial é, com certeza, a chave mestra para todos os demais critérios criadores de conhecimento. Mas, como obter calma e paz num lugar tão repleto de vibrações negativas? Como tirar calma e paz de nossos próprios conflitos internos, gerados, principalmente, pela falta de conhecimento? Parece que estamos num círculo vicioso: a falta de conhecimento nos pressiona pela busca do conhecimento que nos faz sentir o não-saber, que nos manda de volta à falta de conhecimento.

Não dá. Temos pressa, o que aumenta a pressão. Intimamente sabemos que não temos tempo suficiente, o que alimenta pressão.

Mas, será que precisamos saber mais? O que temos não basta?

Se estivermos menosprezando o que já temos de conhecimento, nunca diminuiremos a pressão da busca e, pior, talvez nunca alcançaremos um fim. Ou porque não existe um ou porque estaremos procurando no vazio infinito, como se tivéssemos ultrapassado o fim de tudo que podemos conhecer.

E daí, se uma vida não dá? Quem falou, onde está escrito, que o conhecimento é mais longo do que a vida? Se não for, você vai conhecer tudo. Se for, você vai conhecer tudo o que puder. E alguém vai conhecer mais do que você. Teu filho vai conhecer o que você conhece mais o que você jamais vai conhecer.

Se você “personalizar” teu conhecimento de tal modo que ele é que é você e você é só um caminho pelo qual ele passou, então você viverá mais através dele. E esse mais é aquilo que teu filho aprendeu além de você. Dessa maneira, a pressão que você sentia por conhecimento deve ter diminuído bem. Talvez, até tenha acabado. Basta você ser um pouquinho mestre de alguém para seu conhecimento começar a se estender, não é?

Taí. Descobrimos outro critério. Aquele que vai te trazer calma e paz. Com isso você obterá a chave mestra para te permitir ultrapassar aquela penumbra. Talvez você resolva ultrapassá-la, talvez não. Mas, por que não? Porque você não estará pressionado. Você aprendeu a juntar as peças com critério e não aleatoriamente. Você virou mestre de alguém, o que te tornou mestre de si mesmo.

Só percebe o não-saber aquele que é empurrado contra ele, ou melhor, que tenta ver o que não conhece, desprezando o que conhece.

O não-saber, a necessidade de saber, é, também, consequência de nosso desinteresse pelo o que nos cerca. Damos tanta ênfase ao sentido da visão que tudo nos ofusca, ofuscando os demais sentidos, principalmente o pensamento, o raciocínio. Com isso, tudo perde o interesse.

Olhar, ver, não é interesse. Interesse é pensar. Você não precisa ver para se interessar. Ver não ensina, pensar ensina. Só ver é não saber. Interessar-se é começar a saber.

Pegue um pouco de amido de milho, maizena, por exemplo. Veja que o pó é bem fino, pode se espalhar, ser levado pelo vento. Até aí, nada demais. Tem pouco interesse. Agora, misture água nesse pó, bata um pouco e espere toda a água, ou boa parte dela, evaporar. Você vai ter uma massa colante ou dura. Mas, como? A água entrou e saiu. Por que o pó se modificou? O que aconteceu? Água não é cola, o pó seco não é cola, por que, então, virou cola?

A maioria das pessoas não pensa e, muito menos, quer pensar nisso, porque, para elas, não é extraordinário. Mas é, é muito extraordinário, é quase mágico. É tão extraordinário quanto um sorriso, mas é tratado da mesma maneira. Na verdade, grande parte dos sorrisos são tratados pior ainda: você sorri para alguém e ele acha que você está rindo dele. Rindo de que? Na cabeça dele, você acabou de criar nele algo que ele não gosta. Mas ele não sabe o que é, e muito menos você sabe. Ele acha que sabe, mas, não sabe e não quer saber que pode ser algo extraordinário.

Mas, por que as pessoas não querem saber? Por que você não quer saber se você sente uma necessidade de saber?! Afinal, é o não-saber que te assusta ou é o saber que te assusta?

Se você não dá importância às coisas extraordinárias que estão à sua volta, por que ficar procurando o extraordinário sem ter algo que o apresente? Primeiro olhe para as coisas, por mais insignificantes que pareçam. Depois veja o extraordinário nelas. Não veja só com os olhos. Aliás, você verá melhor se fechar os olhos. De novo, mesmo com os olhos fechados, não veja o insignificante, pois, se você o ver, só vai provar que a insignificância não está na coisa para a qual você olha, mas, sim, no seu método de avaliação, em você. Quem assim age, diminui, achando que está se agigantando. Abra bem seus olhos, seu pensamento. Quanto mais fechados, mais insignificante tudo parecerá.

O não-saber é os olhos do pensamento que estão fechados.

Brasilio – Maio/2009.