Normalidade e Loucura - Conceitos distintos ou inseparáveis?

Nas páginas que pude apreciar com a minha leitura, foi claro a percepção de que a loucura é vista de vários ângulos, de várias cabeças, e por aí se mudam os pensamentos.
Nota-se que é fácil falar da loucura do outro, desta loucura alheia e produzir argumentos de que louco é quem é contrário à sociedade, ou melhor, de quem é contrário às suas atitudes, às suas crenças ou a normalidade do mundo. Apenas basta fugir de uma regra moral, feito, já se é considerado um louco.
Mas como podemos falar com tanta liberdade esta palavra? Sem ao menos termos o conhecimento estabelecido para usá-la. Será que poderíamos denominar a loucura algo ruim? Ou apenas uma liberdade de expressão fora das normas da sociedade?
Este tema sobre loucura é muito extenso e é preciso muito cuidado para interpretá-lo.  Hoje em dia, o senso-comum crê em uma loucura localizada no indivíduo, que o transforma em monstro tendendo assim a retirar o seu estatuto de humano, como também faz-nos esquecer que algo se diz através da loucura.
Os loucos são os que sabem olhar o mundo com os olhos da realidade, e por isso mesmo são reprimidos da sociedade.
Segundo Artaud, o autêntico louco seria aquele que preferiu enlouquecer (conscientemente ou não), no sentido em que socialmente se entende a palavra, a trair certa idéia superior de honra humana (regras morais).
Em meu ver, esta opinião é célebre e consegue chegar ao sentido abstrato. Tanto que colocarei nesta resenha todos meus pontos de vista, não deixando de analisar todos os outros e não ser a favor nem contra, mas sempre pensar a respeito.
Há um pequeno trecho de um dos internados em que ele diz: “Não procure as razões do meu internamento. Não procure saber quem sou nos registros oficiais. Escute-me, sou um órfão rejeitado da sociedade”.
Dá-se para refletir diante deste pequeno trecho pessoas que usufruem do bom-senso e eticamente falando conseguem ver a essência da moral. Diante deste apelo, médicos e psiquiatras ainda procuram entender se há um distúrbio orgânico ou uma doença mental que seja e apenas procuram razões para se explicar para a sociedade que em fervor clama a “normalidade no mundo”. E não há uma trégua para escutar e ouvir a interioridade cada indivíduo que chamamos de “louco”.  
E se loucos fôssemos nós? Aceitando e cumprindo todas estas regras e normas? Será que há um tempo para se pensar nisso?
Para psiquiatras organicistas, onde a biologia é determinante, há um psiquiatra que é o pai da medicina mental em que afirma que não lhe interessava ouvir o doente e dizia que “ignorar a língua do enfermo é, em medicina mental, uma excelente condição de observação”. Convenhamos que para nós psicólogos e estudantes de psicologia o melhor a fazer é ignorar esta afirmação, pois para organicistas a loucura é vista realidade material.
Há muito que se distinguir entre neuroses e psicoses. As psicoses se referem aos distúrbios da personalidade como um todo e este caso é mais grave. Já as neuroses se referem às alterações de apenas um setor da personalidade sem implicar em estruturas cognitivas. Porém, por detrás destas explicações deveríamos saber o que gera tudo isso.
Segundo Freud, a sexualidade é uma causa de neurose, no sentido da libido, de nossos instintos, desejos, e tudo que nós reprimimos. Isto não é fator que acontece no dia-a-dia diante das normas que nos aparece na sociedade? Portanto o indivíduo é doente sempre em relação aos outros, em relação a “si mesmo”.
Não podemos dizer que um indivíduo é louco por ser louco somente. Podemos designar o louco como sendo aquele indivíduo cuja maneira de ser é relativa à outra maneira de ser.
É muito importante ressaltar o que é normalidade antes de tentar dar uma definição para o que é loucura. Pois bem, uma norma é aquilo que serve para retificar, pôr de pé, endireitar. E esta regra sempre aparece propondo-nos um possível modo de eliminar o excepcional.
Ou seja, uma norma só vem a ser uma norma mediante a uma possibilidade de infração. Podemos assim dizer que: “a anterioridade histórica do futuro anormal que provoca uma intenção normativa”.
A relação entre normalidade e loucura parece ser distinta entre si, porém, não a podemos separar, pois o anormal é uma relação que só existe entrelaçado com o normal. Paradoxo não?
 Hoje e sempre, as pessoas são o que são suas sociedades. Afinal, se tal sociedade valoriza algo e é contra alguma outra coisa, se sairmos desse patamar seríamos considerados contra a lei. Mas por quê? A nossa subjetividade não conta?
E sociedades mudam. Valores morais mudam. De acordo com a etnia social o que pode ser prazeroso pra mim pode ser um desastre para outro alguém. Isso teria um nome: Subjetividade de cada um. Porém esta subjetividade está sendo coletiva, querendo ou não, apenas pela moralidade convencional.
Nós homens, de qualquer época ou lugar, sempre tomamos partidos diferentes ou pensamos diferentes sobre o mesmo objeto. Essa é a psicologia.
Não generalizando, mas muitos manicômios seriam uma forma de limitar a expressão do eu - individual de cada um, pois qualquer desvio em relação a uma conduta normal devia ser observado e seguido de punição imediata.
A loucura é antiga, sempre existiu, mas é também muito mais jovem do que se possa imaginar.
Trata-se a loucura sobre vários pontos etnológicos: biológica, sobrenatural e como um desvio social a procura de si próprio.
Não falarei muito sobre o aspecto sagrado em que se retratam as loucuras. Sim, li e não ignoro o que está escrito nesta parte, porém há coisas mais importantes em me ponto de vista para serem retratados.
E é sempre bom lembrar: Diversidade não é necessariamente doença.
Há um destaque que é preciso ser instigado sobre esta tal racionalidade abstrata onde um “louco” a faz e que poucos entendem por este fato, fato  onde muitos não sabem nem o que é isso e não procuram chegar dentro de si mesmos e usar deste pensamento abstrato e individual. Assim, a loucura e o louco ameaçam o mundo.
No século XVI a loucura acabou sendo confiscada por uma razão dominadora que se chamava “consciência crítica”. E então no decorrer do século XVII, na Europa, criam-se casas de internamento onde a loucura é retida.
E infelizmente a partir deste tal racionalismo a sabedoria e a loucura se separam.
Através do texto, pude observar que desde sempre todos os obstáculos que a sociedade em massa acha fora de ordem, tentam obter a exclusão, e esta era feita e é até hoje através de manicômios.
E neste século a loucura chegou a ser considerada um erro ético. Dá-se para acreditar? E cada vez que o mundo ia se tornando mais complexo, mais casos de loucura apareciam...
E podemos dizer que a medicina, sim, a que serviria pra nos curar, se torna totalmente cúmplice da moral. E a loucura vira o objeto de estudos médicos (psiquiatra): pois ganha o valor de doença. E ironicamente falando, cabe ao médico recorrer aos meios como ameaças, punições, privações alimentares, humilhações e tudo isso para que o poder supremo possa infantilizar e culpabilizar o louco. Portanto, se o médico foi capaz de circunscrever a loucura, não é porque a conhece, e sim porque a domina.
Algo que eu considerei muito importante foi o seguinte trecho: “é o não-louco que conhece o louco”. Pois bem, por quê? O não-louco segue normas e condutas e consegue observar indivíduos que saem fora deste eixo.
A loucura será uma ameaça sempre presente numa sociedade que tem horror ao diferente, que reprime a diversidade do real à uniformidade da ordem racional científica.
“E que um dia nossa interioridade venha a ser resgatada”.