Quando falamos em letramento lembramos logo da palavra "letrado", que significa aquela pessoa erudita, conhecedora de língua e de literatura. Mas o termo letramento tem atualmente outra conotação, que não se limita a essa definição.
Originalmente, a palavra letramento é uma tradução para o português da palavra "literacy, que vem do latim "littera" (letra) e com o sufixo "cy" denota estado de quem aprende a ler e a escrever. O termo foi introduzido primeiramente por Mary Kato em 1986 para atribuir um nome a um novo fenômeno começado a ser discutido no Campo das Ciências Lingüísticas com o objetivo de delimitar o impacto social da escrita dos estudos sobre alfabetização.
Segundo Kleiman(1995), pode-se definir letramento como um conjunto de práticas sociais que se usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos.
Logo, pode-se afirmar que nem todos os adultos alfabetizados são letrados, isso porque o processo de alfabetização é algo contínuo que não se esgota. No entanto, os programas de alfabetização focam a ação de ensinar a aprender a ler e a escrever, sem que os alfabetizados incorporem práticas de leitura no dia-a-dia e sem adquirirem competências para usar essas habilidades nas diversas situações exigidas: ler livros, jornais, revistas, escrever bilhetes, cartas, ofícios, declarações, preencher formulários, encontrar informações em bulas de remédio, em listas telefônicas, em contas de água, de luz e de telefone.
Por outro lado, pode uma pessoa adulta ser analfabeta, mas ser letrada. Isso porque mesmo sem saber ler e escrever ela conhece as funções da leitura e da escrita na sociedade. Verifica-se isso quando analfabetos pegam ônibus corretamente, interpretam manuais de instrução de acordo com as figuras representadas, vendem produtos, compram, passam troco, dão medicamentos corretamente a pessoas enfermas, manuseiam aparelhos celulares e até conseguem identificar números de outros aparelhos celulares no ato das chamadas.
Pode-se afirmar que uma criança que ainda não freqüentou a escola é letrada, ou possui um certo grau de letramento, isso porque convivendo em contexto de prática social da escrita ela ver pessoas lendo, ouve histórias, manuseia livros, jornais, revistas e muitas vezes se observarmos é comum essas crianças simularem que estão lendo ou que representam as letras impressas no papel ou escrevendo, mesmo sem serem alfabetizadas.
Logo, tem se tornado necessário não apenas saber ler e escrever é preciso saber fazer o uso dessas competências para as exigências impostas pela sociedade no dia-a-dia.
Cabe à escola proporcionar situações em que o processo de alfabetização seja ampliado continuamente, e com acesso a livros, revistas, biblioteca, internet, etc. venhamos a ter pessoas alfabetizadas e também letradas, como afirma Soares (2004) [...] o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e a escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, de modo que o individuo se tornasse ao mesmo tempo alfabetizado e letrado.
Assim, a relação ensino-aprendizagem a partir de uma perspectiva de letramento busca as questões culturais, as diversas situações comunicativas e a necessidade de interação entre o conhecimento que o aluno traz e o conhecimento escolar e a partir disso, aprende-se a ler o mundo.

REFERÊNCIAS

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2ª edição. Autêntica, 2004.

KLEIMAN, A.(Org.) Os significados do letramento. Campinas: Mercado de Letras, 1995.