O QUE É INTERAÇÃO SOCIAL

Alguns acham que a interação entre duas pessoas, ou entre uma pessoa e um grupo, se trata de uma simples troca de palavras ou gestos, mas, não é assim, pois, nessa maneira de agir é que está a origem da maioria dos desentendimentos, sejam de si para si ou de si para o outro ou em relação ao grupo.

Veja, por exemplo, o relacionamento entre professor e alunos. O professor chega na sala, despeja um monte de palavras faladas e/ou escritas sobres os alunos, sendo que o assunto do qual ele trata só tem significado total para ele apenas (se tiver), caso contrário ele não estaria ali “ensinando”. Todos os dias ele repete os mesmos atos, “desenvolvendo” o assunto, à sua maneira, claro.

Não importa se a escola “adota um método”. Não funciona. Se funcionasse, bastaria dar uma gravação áudio-visual para cada aluno e dispensar o professor (os donos de escolas adorariam isso).

Se os alunos forem substituídos por máquinas ou por cadeiras vazias não fará a menor diferença no jeito do professor agir.

Dias depois, ele dá um teste de prova de que os alunos aprenderam (ele não quer saber se aprenderam) o que ele ensinou. Alguns alunos vão bem, outros nem tanto, outros ainda se saem muito mal. O que está errado? O professor? O método? O aluno?

O aluno não pode estar errado, senão ele não estaria ali. Ele está ali exatamente para aprender. Se ele não aprendeu, ele não está em erro.

Então, é o professor que está errado? Em parte, sim, principalmente aqueles professores que não sabem diferenciar entre intenção e expressão. Não sabem ver que o aluno apreendeu a matéria. A função principal do professor é a de orientar e não de ensinar. Ensina-se máquinas e, às vezes, animais. Pessoas não.

O resto do erro está no método. O método não deve ser da Escola. Ele tem que ser do professor. Melhor ainda, ele tem que ser do professor com cada aluno. O ideal mesmo seria ter-se um professor para cada aluno, em que os dois “falassem a mesma língua”. Mas, uma escola assim seria economicamente inviável no mundo capitalista.

Alguns professores são capazes de enxergar isso, e até conseguem estabelecer um canal particular com cada aluno e sabem perceber a intenção do aluno, apesar da expressão. Se o aluno desenvolveu o raciocínio correto e pegou um desvio que o levou à solução errada, este professor não anula a questão toda, como fazem aqueles que não tem percepção. Se o aluno começa errado e acaba certo, fazem a mesma coisa, quando não pensam que ele colou. Por outro lado, se a questão está totalmente correta, alguns nem pensam em cola, enquanto outros pensam nisso (talvez esses últimos até conheçam melhor os alunos). Por que? Falta de interação.

Interação não implica proximidade fisica. Se não houver percepção, nada adianta.

Uma alternativa para “um professor para cada aluno” seria fazer uma filtragem: cada professor de uma mesma matéria daria aulas para todos os alunos do colégio (pode ser simultaneamente ou por turmas). Depois daria um teste. Aqueles alunos que ficassem acima da média formariam uma turma para aquele professor.

Assim seria feito até que cada professor tivesse as turmas mais sintonizadas com ele. Poderia sobrar professores (que tentem em outro Colégio, ou desistam da profissão) ou faltar (nesse caso contrata-se mais ou manda-se os alunos para outros colégios). Se isso funcionar, seremos uma potência em pouco tempo.

Outro exemplo que mostra um erro semelhante é a relação médico-paciente. A maioria dos médicos têm a mania de agrupar os pacientes por sintomas e associam um remédio ao sintoma, quando deveriam individualizar o paciente, seus sintomas e o remédio específico para os dois (paciente e sintoma).

Vários males causam o mesmo sintoma, e o remédio tem que atacar o mal (a causa) não o sintoma (o efeito). Atacar o efeito sem saber a causa pode ser perigoso e, às vezes, fatal para o paciente.

O problema é que é o efeito que perturba o paciente, daí o que leva à auto-medicação perigosa. Esta só pode ser feita se o paciente já foi “testado”. Mais um problema é que alguns pacientes (e médicos também) fazem testes às cegas.

O paciente, por seu lado, tem o costume de endeusar o médico, assim como o aluno endeusa o professor. Estes são “infalíveis”: “o professor sabe tudo para me ensinar e nunca vai errar”; “o médico vai saber qual é a causa de meu mal só pelo fato de eu dizer o que estou sentindo, ele vai indicar o remédio que vai me curar...”.

Se o médico nada indica, o paciente sai frustrado da consulta; se o médico indica algo que não funciona ou piora a situação, o paciente resmunga contra o médico; se o médico acerta na receita (é tentativa-e-erro, de certo modo), o paciente não volta mais (e o médico não quer nem saber se o paciente se curou ou morreu), ou volta só para pedir nova receita, sem procurar saber se a “cura” é passageira.

O médico deveria ser capaz de enxergar o “todo” do paciente para poder indicar o remédio definitivo (apesar de não ser do interesse de alguns laboratórios). Mas, o que seria esse todo? Seria o que o paciente foi ao longo de toda sua vida até aquele momento ou o que ele é agora, tanto em termos físicos e psicológicos?

O todo é o que ele é agora, fisicamente, e o que ele tem sido psicologicamente. Esta última é que o médico deveria ser capaz de enxergar, pois é invisível aos seus olhos e, quase sempre, invisível às percepções do próprio paciente, pois, se ele a percebesse totalmente, não estaria consultando.

Não serão duas horas de consulta que farão com que o médico enxergue. Alguns, realmente interessados, são até capazes de verem a “ponta do iceberg” nestas duas horas; outros, no outro extremo, estão mais doidos para chamarem o próximo paciente (pensam com o bolso!).

Todo médico que indica deveria ser, tambem, psicologo, mas, ser psicologo aprovado mesmo, e não apenas ter o titulo obtido atraves da teoria. Os demais deveriam ir para áreas “robotizadas”, como cirurgia ou, simplesmente, seguir receitas (procedimentos operacionais) feitas pelos “médicos indicadores”.

Só assim os medicos serao capazes de indicar o remedio definitivo, em vez de ficarem fazendo testes: “tome este remédio e volte daqui a 15 dias”. Se não voltar, curou-se ou morreu?

Quanto ao remédio definitivo, acredito que até alguns já existam. Mas o sistema capitalista impede que eles sejam postos no mercado, pois, se não houver doentes, as fábricas de remédios, laboratórios, hospitais, clínicas terão que ser fechados, e muita gente perderá o emprego. Sim, mas não ficarao doentes, e poderão trabalhar com outras coisas.

O que sobra além desses dois casos cruciais da interação na educação e na saúde? As interações do dia-a-dia, sejam dentro ou fora de casa. Na verdade, estas são as responsáveis pelos problemas existentes nas duas primeiras. E, não é a toa que aquelas estão inseridas nestas, ou seja, “os problemas começam em casa”.

Ainda assim, é possível minorá-los de fora para dentro, como foi visto. Resolvê-los de dentro para fora é mais dificil, porque depende de cada individuo e cada individuo tem seu próprio nivel moral, sua própria maneira de enxergar as coisas, mesmo sendo totalmente cego a elas.

O que faz um individuo evoluir moralmente? O convívio social. O como a sociedade se relaciona com ele e ele com ela. Não basta só um lado funcionar. TEM QUE SER OS DOIS. A sociedade, como um grupo coeso, tem o nível moral tão alto quanto o do seu individuo de mais alto nivel e, por isso, como um “grupo individual”, pode ter uma influencia mais positiva que cada individuo separadamente. Mas essa influencia de nada adianta se o individuo estiver “fechado”. Então, não é o convivio social que faz o individuo evoluir moralmente. O que é então? Não resta outra alternativa a não ser a evolução espiritual, seja através de reencarnações sucessivas (a coisa mais lógica), através de um toque divino (o Deus parcial, portanto não infinitamente bom), ou através do acaso (o que significa que podemos perder a esperança de evoluir, porque o acaso não escolhe lado, pode tanto ir para a frente quanto ir para trás, ou seja, bagunça generalizada. Bem o que está aí, né?).

Apesar da bagunça generalizada, nota-se que tem havido evolução. Nota-se um grupo que sempre tem ido adiante, o que elimina, pelo menos, o acaso. Quanto às duas outras possibilidades, cada um escolhe a sua. Eu escolho a primeira, por uma dedução lógica. Quem escolher a segunda, obrigatoriamente escolhe a primeira. Quem escolher a primeira não escolhe a segunda, mas pode dispensar Deus ou não, mas neste último caso ele não é parcial, ao contrário, é imparcial e infinitamente bom. Por isso, imparcial.

Brasilio/Junho-Julho-2007.