O QUE É HONESTIDADE

Honestidade é uma qualidade que não se adquire e nem se aprende num curso ou numa escola. Ela vem para a pessoa ou não vem.

Depois de uma certa idade e experiência de vida, quem não a tem nunca mais a terá, isto é, quem não é honesto, nunca mais será. É como um hormônio que o corpo começa a produzir a partir dos 16 anos de idade e não para mais. Quem não tem a glândula produtora funcionando, jamais será honesto. Se ela parar de funcionar, a pessoa deixará de ser honesta. Uma vez parada, ela não voltará a funcionar, pois, é a própria honestidade em exercício que a mantem funcionando. As religiões chamam esta falha de cair em tentação, se bem que existem vários tipos de quedas em tentações e nem todas vão te levar para o caminho sem volta da desonestidade. Nada pode salvar o desonesto. A Escola não vai salvar, a prisão não vai salvar, a religião não vai salvar. Nem mesmo a morte irá salvá-lo: ele vai morrer desonesto.

Lembro-me de fases de minha vida de quando eu era criança e vejo que era uma fase em que a honestidade ainda não tinha vindo para mim. Muitas vezes eu peguei coisas, como frutas, bolinhas de gude, que não me pertenciam, mas, a ideia que eu tinha na época (análise que faço hoje) é que se tinha mais que um, de qualquer coisa, eu poderia pegar um e o dono ainda ficaria com a maior parte. Era como se tudo pertencesse a todos. Eu não tinha ideia de que por trás da coisa adquirida houve muito suor e trabalho. As crianças não costumam associar as coisas (bens) com o trabalho. Para elas, os pais irem para o trabalho é semelhante a elas irem para a Escola. As coisas e bens que aparecem ao redor são como presentes deixados por Papai Noel. Por isso elas acreditam em Papai Noel mais facilmente.

Eu não colocava os donos em meu lugar quando alguém roubava um brinquedo que me pertencia, apesar de, no caso, o brinquedo ser uma coisa única. Mas, poderia ser uma figurinha entre cem delas. Se eu percebesse, sentia-me roubado. Já eu não me preocupava se a pessoa ia perceber ou não. Torcia para que não percebesse. Eu tinha consciência (é, podemos ter vários tipos de consciência) de que, se elas percebessem e me cobrassem eu devolveria o que tinha tirado delas.

Hoje arrependo-me do que fiz e, se pudesse voltar atrás, devolveria tudo em dobro e pediria desculpas a cada um.

A honestidade apareceu em mim e a alimento a cada minuto, exercendo-a sempre, tanto em atos quanto em pensamentos. Eu, simplesmente, sinto-me incapaz de praticar um gesto desonesto. Sinto como se eu estivesse praticando aquele ato contra mim mesmo. É como se o "fazei aos outros o que queres que te façam" tenha tomado conta de mim totalmente.

Eu não tenho muitas posses e não tenho uma boa fonte de renda. Só isso já é necessário para tentar alguém, para empurrá-lo rumo à desonestidade. Porém, para mim basta. Mesmo que tudo o que tenho seja reduzido pela metade, ainda assim eu escolheria permanecer com a minha honestidade.

Não vejo muito disso por aí, hoje em dia, principalmente nas altas esferas da sociedade e da política, onde a honestidade realmente deveria imperar no seu mais alto nível. Mas, isso não acontece. É como se, tanto o não-ter em excesso e o ter em excesso fossem forças que empurram as pessoas para a desonestidade. É o quanto menos tem mais quer se juntando com o quanto mais tem, mais quer. Quem tem menos até que é justificado quando comparado àqueles que muito tem e, ainda assim, escolhem tirar dos outros. O exemplo mais triste é o dos políticos. Eles tudo tem, tanto em termos de posse quanto da possibilidade de obter mais de modo honesto: recebem salários maiores para o pouco que fazem; aposentam-se mais cedo pelo mínimo tempo que quase nada fazem; têm muito mais facilidade de obter crédito, devido à retaguarda que têm. Mas, mesmo com isso tudo, preferem roubar, enganar. Escolhem a desonestidade.

Escolher a desonestidade e ser desonesto de nascença não tem diferenças entre si. Como eu disse, ou se é honesto ou se é desonesto. Não tem meio termo. Não tem como ser desonesto e virar honesto. Não tem como ter a semente da honestidade e se tornar desonesto. Quem não era desonesto antes, na visão de uma sociedade, não estava era agindo, pois, honesto ele não era e nunca será.

Como você pode saber se você é honesto?

Você sabe que é honesto quando rejeita veementemente que um pensamento desonesto se transforme numa ação desonesta. Você sente que nada no universo será capaz de tirar de você a sua honestidade. Você sente que é, ao mesmo tempo, autor e receptor do ato desonesto e sente, com todas as tuas forças, que rechaçará qualquer ato desonesto que venha a seu encontro. É isso que mantém a sua honestidade, ou seja, é sua honestidade que mantém ela própria. É de honestidade que a própria honestidade se alimenta. Este é o principal e único alimento dela.

Infelizmente, o alimento preferido da desonestidade e a honestidade, ou seja, os honestos são aqueles de quem o desonesto mais se aproveita. Assim, além de honesto, não seja ingênuo. Não confunda as duas coisas.

Isso é duro, mas, honestidade nada tem a ver com bondade. Quem é bom, obrigatoriamente é honesto, mas, nem todo honesto é, necessariamente, bom. Da mesma maneira, nem todo ingênuo é, necessariamente, bom. Bondade é uma das virtudes superiores, que poucos alcançam.

Brasilio - Março de 2015.