O QUE É EXPOSIÇÃO MIDIÁTICA

Estou aqui no meu computador olhando para o papel de parede que estampa a fotografia da Elisha Cutbert (24 Horas, Um Show de Vizinha). Eu a conheço. Ela, aqui, me encarando, não me conhece, nem sabe que eu existo. Tenho aqui na pasta Minhas Imagens outras tantas atrizes, modelos e cantoras, do Brasil e do mundo.

De que tamanho é o mundo para elas? Quantas pessoas elas conhecem? De certa forma, eu as conheço todas, mas elas, com certeza, não me conhecem. Não existo para elas. O que não conhecemos não existe.

Por que tenho a fotografia delas e não tenho a fotografia de uma moça que vejo no trabalho que é tão bonita quanto qualquer uma dessas atrizes? O que uma atriz ou ator fazem que nos parecem mais importante do que uma pessoa que sabe que existimos?

Exposição. Sim, temos a necessidade de nos expor. Assim, fazemos deles a nossa imagem de espelho. Eles são nós mesmos fazendo o que gostaríamos de fazer. Mas, o que eles fazem que gostaríamos de fazer? Será que eles fazem de seus personagens uma imagem de espelho do que gostariam de ser ou apenas fazem seu trabalho como o pedreiro assentando tijolos? Certamente o pedreiro não quer ser tijolos!

Afinal, temos uma necessidade de aparecer ou de parecer? Aparecer para os outros e parecer para nós ou só parecer para nós? Apenas aparecer, ninguém quer. Queremos é parecer, mesmo quando queremos aparecer. Isso tem um nome: afetação.

Essa necessidade que temos de parecer expõe nossa capacidade de poder, o nosso querer ser mais do que somos. Mas, apesar de querer é poder, poder não é conseguir, seja por falta de recursos (financeiros ou de talento), seja por esbarrarmos na nossa realidade diária (família, trabalho, deveres).

Assim, só nos resta viver por instantes os personagens daqueles atores e atrizes para aplacarmos um pouco o querer e o poder, conseguindo, com eles, parecer o que não podemos ser.

No caso aqui da Elisha Cutbert ou da Keyra Knightley ou da Luiza Possi (as três lindíssimas nessas fotos, olhando para bem além desse mundo, nos trespassando com o olhar), etc., não se trata de querer parecer o que vejo nelas. Às vezes, pode ser o querer estar perto, durante um filme ou uma canção. O que me atrai é algo que não sei bem se está nelas (torço para que esteja). Parece estar através delas. É aquilo que a gente chama de beleza, não a beleza comum, mas, algo impalpável aos olhos. E não é só elas que tem. Muita gente tem. Um dia mais, outro dia menos. Por isso parece ser algo que não está nas pessoas. Não quero, assim, ser belo. Afinal, a beleza é algo que é visto em vez de mostrado. Primeiro porque vejo mais as outras pessoas do que a mim mesmo.

Segundo, porque sei o que estou pensando, enquanto que nos outros posso colocar meus pensamentos.

Eu mergulho na beleza da Elisha e vivo algo igual ao que podemos viver quando voamos com um super-herói e derrotamos o mal com ele, ou saímos voando rapidamente numa nave espacial, passando por planetas e estrelas.

Do mesmo modo posso mergulhar na beleza de uma mulher que esteja na minha frente no vagão do trem, até que ela me encare e destrua a vibração. A Elisha está aqui me encarando, mas não destrói a vibração. Ela me permite, assim, sonhar.

Atores, atrizes, cantores, cantoras que você vê, ouve, acompanha, completam a nossa vida, nos permitindo aparecer e parecer o que poderíamos ser, mesmo que só apareçamos e pareçamos para nós mesmos, pois, assim também é o sonho, a imaginação.

Eu conheço a Elisha, ela não me conhece, assim como muita gente a conhece sem que ela os conheça, porque ela está exposta para o mundo e nós não estamos. Se estivéssemos, ela nos conheceria também e, assim, não conseguiríamos imaginar nela (em seus personagens) aquilo que gostaríamos de ser. Isto porque ela seria comunizada, seria como um de nós, apesar dela se tornar verdadeira. Porque o que vemos não é a verdade. Nós a pegamos e colocamos na cabeça dela nossos pensamentos fantasiosos daquilo que nos faria bem em nos tornarmos. Enquanto ela não nos conhecer, e não a conhecermos realmente, poderemos tê-la em nossos sonhos diários.

Da mesma maneira, conhecemos nossos sonhos, mas eles não nos conhecem, pois eles estão expostos para nós. São sempre fantasiosos e nunca saberemos o que são verdadeiramente. Este sentimento parece um complexo de inferioridade. Talvez seja, talvez seja. Quem é completo? Ninguém é completo. Quando aparece algo que se encaixa bem naquele lugar em que esse algo está faltando, ficamos um pouco mais completos. Quando vemos ou sentimos esse algo, descobrimos que estamos incompletos e isso é um complexo de inferioridade em relação ao que almejamos ser. E como ninguém é completo, todos somos complexados, até mesmo os atores e atrizes que criam o que queríamos ser.

Que bom que existem atores, atrizes, cantores e cantoras, artistas, enfim. Que bom que existem os sonhos que existem e os sonhos que podemos imaginar. Tudo isso nos ajuda a viver e torna a vida muito mais interessante.

A ânsia que temos pela sequência de um filme ou por um novo filme com artistas conhecidos nossos (não nós deles) não é pelos artistas em si, não é pelo filme, é, sim, pelos sonhos que iremos ter, mas, o filme tem que ser com aquele/aquela artista. Assim ocorre com o novo disco daquele cantor/cantora.

Na verdade, isso não se aplica só a atores/cantores, mas a todos aqueles que conhecemos sem que nos conheçam, sejam eles reais ou não (afinal, nossa imaginação é também uma mídia onde desenhamos aquilo que queremos ser ou parecer com).

Tudo bem que a Elisha não saiba que eu existo, tudo bem que a Luiza Possi não saiba que eu existo. O importante é que elas existem para mim. Não importa que seja alguém que hoje não existe mais. Ela existirá para mim enquanto eu existir e me permitirá sonhar sempre que eu olhar através dela, seja num filme, num disco ou numa fotografia. Elas se expondo para mim me faz crescer, me faz maior, me faz exposto para mim mesmo e o meu querer vira poder e consigo ser.

Acho que isso é uma espécie de amor. É o mesmo tipo de amor, talvez em menor escala, daquele que sentimos por aquela pessoa a quem muito amávamos, mas que não está mais conosco. A partir do momento em que ela se foi, se torna uma imagem em nossa mente, que sabemos que existiu, mas, que não sabe que ainda existimos.

E tudo isso não se aplica apenas a nós como espectadores e ouvintes, mas também àqueles que se expõem para nós de alguma maneira. A Elisha também tem seus momentos de querer aparecer e de querer parecer.

Apenas quem tem tendência ao bem consegue sentir isso. Apenas quem tem tendência ao bem consegue provocar isso.

Brasilio/maio-2009.