O QUE É EVENTO

O que eu posso fazer simultaneamente? Posso andar e comer; andar e fazer xixi (ou qualquer outra necessidade); posso andar e cantar.

Não posso andar e pular (tem que ser ao mesmo tempo); não posso andar para frente e andar para trás; não posso assobiar e falar; não posso respirar e não respirar.

Os primeiros casos são eventos diferentes. Eventos diferentes podem ocorrer simultaneamente.

Os segundos são o mesmo evento: andar, não importando para que lado, é um evento único. Não tem como um evento único ser duplicado. Pular parece ser um evento único, mas não é, pois se examinarmos bem, pular é um jeito de andar, todos os recursos para se andar são postos em ação.

Assobiar é diferente de falar, mas ambos implicam movimentação de ar, ou seja, têm a mesma causa, o que implica no mesmo evento. Falar e assobiar é um evento único, por isso não tem como ser separados em dois eventos diferentes. Ou você assobia ou fala, não dá para fazer as duas coisas simultaneamente. Assim é também com cantar (um jeito de falar) e assobiar. Você pode cantar e seu amigo assobiar e com isso até conseguir uma harmonia. Não importa o jeito que você usa para cantar, você, sozinho, estará sendo harmônico, pois tudo que é único já é harmônico, porém, nem tudo que é harmônico é único. É aqui que se pode fazer coisas simultâneas, podendo gerar harmonia. Não é possível quebrar a harmonia de algo único.

Apesar de, para muita gente, não parecer, relâmpago e trovão é um evento único. É um tipo de evento que mostra como a sensação de tempo deriva do espaço, surgindo daí a separação de um único evento em dois, a “quebra” da harmonia. Podemos notar também que, na maioria dos casos (todos?) espaço e tempo não podem ser separados um do outro. Seriam um único evento?

Chamando dois eventos únicos e diferentes de X e Y, temos, nos primeiros casos, X e Y; e nos segundos, X e não-X. Assim temos uma notação matemática.

Que tipos de eventos seriam esses: engolir/expirar, vomitar/engolir, pensar/sonhar, morto/vivo, deitar/andar. Único, único, ?!, único, único.

Engolir é inspirar. Não tem como expirar e inspirar simultaneamente. Vomitar é como expirar, o que vai contra engolir, que é inspirar. Pensar e sonhar é mais complicado, mas veremos adiante. Morto e vivo são óbvios, ou se é um ou outro. Deitar é não-andar.

O espaço é um evento único. O fato de algo acontecer no espaço ao mesmo “tempo” em que o espaço está “acontecendo” torna esse algo e o espaço um evento único?

Dois eventos diferentes no espaço podem ocorrer ao mesmo tempo. Qualquer evento (único ou diferentes) pode ocorrer no espaço em tempos diferentes. Um evento único só ocorre uma vez; se ocorrer outra vez não é o mesmo evento, mesmo que seja a mesma coisa: Nasci em 1953. Isso não vai acontecer de novo. Andei para frente hoje; andei para frente ontem. Andei para trás ontem; andei para frente hoje.

Parece então que é o momento que define o evento único.

Se no momento M1 ocorreram dois eventos E1 e E2, então E1 é diferente de E2. Se no momento M1 ocorre o evento E1 e no momento M2 ocorre o evento E2 então, também, E1 é diferente de E2.

Ele não precisa do espaço? Eventos precisam do espaço?

Aparentemente pensamentos e sonhos não ocupam espaço, mas ocupam tempo. O que pode ocupar espaço sem ocupar tempo?

Veja que o evento é pensar e não o pensamento, ou seja, evento é ação.

Durante a ação de pensar, temos um pensamento e um momento. O momento na cabeça é espaço? Sim, é. Na verdade, tem neurônios ocupados durante aquele instante. Então, um espaço está sendo ocupado.

E quando eu sonho que estou pensando, ou seja, no sonho eu posso pensar também, o que implica que durante o tempo (real) em que estou dormindo e sonhando estou, simultaneamente, pensando. Como sonho e pensamento são a mesma coisa, então tenho um evento único sendo duplicado? Ou será que o “sabor” do evento, além do tempo, é necessário para defini-lo também? Temos aqui o “sabor sonho” e o “sabor pensamento”. Por exemplo, pode haver calor sem luz e luz sem calor. Quando ambos ocorrem simultaneamente, tenho um evento único duplicado ou dois eventos diferentes em que um, ocorrendo no mesmo tempo do outro, tem sabor luz e o outro tem sabor calor?

Então, aparentemente, precisamos de tempo, espaço e “sabor” para definir um evento. Ou podemos eliminar o tempo? Ora, para algo não ocupar tempo, esse algo TEM QUE desaparecer; mas se ele desaparece, passa a não ocupar espaço e nem terá sabor.

No mesmo instante (T) e lugar (E), pode ocorrer um evento único ou eventos diferentes; no mesmo lugar e momento diferente implica eventos diferentes; mesmo instante, lugar diferente, podemos ter um evento único ou eventos diferentes; em momento diferente e lugar diferente, apenas eventos diferentes.

T=

T≠

E=

ev dif ou ev único

ev dif

E≠

ev dif ou ev único

ev dif

Veja que se um mesmo evento (chuva, por exemplo) ocorre em tempos diferentes, são, na verdade, dois eventos diferentes.

Pelas definições atuais de tempo, temos que um evento único é definido apenas pelo tempo. A definição de espaço não é precisa como a de tempo. O espaço pode ser tanto o infinito quanto uma porção definida (ou “percorrida”) por um evento, daí, um evento único pode tanto ocorrer em qualquer lugar como no todo (ao mesmo tempo). E vários eventos podem fazer isso também.

Compare eventos com os dedos indicadores de suas mãos. Tocando a ponta do indicador esquerdo com a ponta do indicador direito você tem dois eventos diferentes ocorrendo simultaneamente.

Não existem dois eventos iguais. Dois eventos iguais é o mesmo evento. Ninguém vai me ver nascer de novo, pelo menos não na medida de tempo 1953, não importa se esse alguém esteja à velocidade da luz, num buraco negro ou saindo de um buraco de minhoca. Aquele evento é único e (melhor) não acabou ainda.

Tente tocar a ponta de seu indicador esquerdo com a ponta do indicador esquerdo. É impossível, é igual a nada, zero. Um dedo TEM QUE desaparecer para o outro aparecer. Disso resulta evento zero.

O “segundo” dedo indicador esquerdo é negativo, não existe. Por isso o resultado é nulo. Disso podemos concluir que valores negativos não existem. São apenas representações matemáticas da ausência:  -1 é a ausência do 1.

-1 é ausência do 1; -2 é ausência do 2, mas as duas ausências, juntas, não é ausência do 3! Ausência do 3 é -3.

Do mesmo modo, -x representa a ausência de x. x e –x não ocorrem juntos, porque isso é nada, zero. Se tenho 3 e faço o -3 aparecer, o 3 desaparece. Mas o -3 não é algo, é uma ausência, resultando em zero, nada.

Quando se fala em Matemática que -3 +3 = 0, o que está-se fazendo é representar, naquele instante, a ausência do 3. Mas, matematicamente, a ausência do 3 é igual à ausência do 2, isto é, -3 +3 = -2 +2 = 0 !!!.

Sim, porque isso é uma abstração. Se 2 e 3 forem considerados como eventos (e são eventos diferentes, pois 2 é diferente de 3), a abstração acaba e aquela igualdade não vale mais: a ausência de 3 é diferente da ausência de 2. Se ausência de 2 é igual a ausência de 3, então -2 = -3, o que é matematicamente incorreto.

Então -3 +3 = -2 +2 = 0 está errado? Não, a interpretação é que pode ser incorreta. -3 é ausência de 3; 3 e -3 não podem coexistir, o que resultaria em nada, zero. Assim é com 2 e -2. Ambas expressões resultam em nada. É nisso que são iguais. É disso que a Matemática fala. Coloque ‘n’ ausências de 3 de um lado da equação e o mesmo tanto do outro lado (também pode ser presença de 3). Depois faça o mesmo com o 2. Você chega a um evento único, mesmo matematicamente!

Mais um pouco de Matemática:

3 x 2 significa três vezes a presença de 2. Contando tudo resulta em 6.

3 x -2 significa três vezes a ausência de 2. Contando (!) tudo resulta em -6.

-3 x 2 significa três vezes a falta da presença de 2, que é a mesma coisa que três vezes a ausência (falta da presença) de 2, que resulta em -6.

-3 x -2 significa três vezes a falta da ausência de 2, que é a mesma coisa que três vezes a presença (falta de ausência) de 2, que resulta em 6.

Se –x é a ausência de x, então TUDO é a ausência de NADA, e vice-versa. Tudo e nada não convivem. Ou existe um ou existe o outro. Ambos não. O tudo é um evento único que ainda está ocorrendo, ocupando cada instante e o espaço infinito (pois no tudo está incluído a matéria e o espaço vazio, que nada tem a ver com o nada).

O que desaparece (morre) se torna ausência. Seu negativo “aparece”, tomando seu lugar, o que resulta na ausência. Se ele existe aqui como ausência, TEM QUE existir como presença em algum lugar. Isso é matemático!

Se tudo é um evento único e qualquer coisa que existe está no tudo, então isso implica que qualquer evento está no tudo. Por que, então, um evento único pode conter eventos únicos e eventos diferentes?

Na verdade, não existem eventos diferentes. Eventos diferentes são dois ou mais eventos únicos ocorrendo. Então, o tudo é formado de eventos únicos, por isso ele é único.

Mas muitos eventos têm um inicio e um fim. Sim, mas isso não acaba com o tudo, pois ele é infinito, ou seja, existem infinitos eventos. É como água fervendo eternamente: as bolhas que aparecem e desaparecem são eventos únicos, mas a água permanece. Também, o tempo entre o aparecimento e desaparecimento é diferente entre umas bolhas e outras. Veja que, na verdade, essa medida de tempo deriva de um comparativo entre o espaço ocupado por uma bolha e outra, isto é, a diferença entre a duração de uma e de outra. À escala usada para essas medidas deu-se o nome de relógio (baseada no evento único da rotação da Terra).

Portanto, essas teorias da Física que falam em possibilidades de viagem ao passado, se baseiam em uma idéia equivocada de que um evento é formado de sub-eventos distintos e independentes, como se a cada “nadésimo” de tempo, um Universo fosse criado e armazenado em algum lugar acessível.

Essas teorias derivaram da velocidade finita da luz, pois a luz que percebemos a cada instante vinda do Sol, saiu de lá há 8 minutos, ou seja, estamos olhando para o passado. Sim, mas se você levar um tiro, a bala que o atingir também veio do passado. Mas a luz que você vê, a bala que você sente é presente (descontado, claro, o tempo da consciência). Você não está olhando para o passado e sim para o presente. Se você se deslocar instantaneamente até a fonte de luz, verá que ela não está no passado.

Se um alienígena, num planeta a 65 milhões de ano-luz da Terra, apontar seu telescópio para cá e enxergar dinossauros e então pegar sua nave que percorre 65 milhões de anos-luz em quase zero segundo, ele não vai encontrar nenhum dinossauro. Vai encontrar, sim, a Terra no ano 2006 D.C.

É possível um evento ocorrer no espaço sem ocorrer no tempo? Se eu disser três vezes: andei para trás, o evento andei para trás será único ou serão três eventos distintos? Se eu desconsiderar o tempo (antes de ontem, ontem, hoje), será um evento único. Mas, se eu desconsiderar o tempo totalmente (T=0), não tem como o evento existir, pois, é ele que determina o tempo e é essa determinação que permite a sua existência.

Brasilio - Março/2006.