O QUE É DEGENERAÇÃO

O nosso processo vital está baseado em apenas dois sub-processos: disposição e reposição: entrada de alimento, geração/uso da energia, saída de restos.

A disposição/reposição é contínua.

O corpo é formado de partículas elementares, que formam células, que formam tecidos, que formam órgãos, que resulta no corpo. Em suma, trata-se de uma condensação da energia.

Quanto maior a condensação, maior é a disposição e menor é a reposição, o que torna o corpo mais "pesado", mais cansado. Quanto mais idade tem o indivíduo, mais estes dois últimos se destacam: temos a velhice. Aqui, é o sistema repositor que se cansa ou é a função de reposição que se degenera?

No ser vivo há a reposição natural e a reposição efetuada pelo próprio ser. Em uma pedra há apenas reposição natural, contra os vários agentes dispositores.

Tudo tende à disposição, descondensação, volta à energia leve.

O que luta para manter a condensação, para manter o peso no ser vivo? O que faz a reposição? Por que é uma guerra perdida? A reposição dá o conhecimento ou apenas permite que ele se manifeste?

Se "explodirmos" um homem de 40 anos em seus componentes básicos (partículas elementares - o que não o diferenciaria de uma pedra, de acordo com a Ciência) em câmera lenta, veríamos os vários órgãos (pelo, músculos de articulações, ossos, coração, cérebro, etc.), depois os vários tecidos, os grupos de células formadoras desses tecidos (células, estas, iguais no aspecto, mas diferentes nos materiais que usam para exercerem suas funções, o que as leva a terem funções diferentes - o que causa essa diferenciação? provavelmente a matéria que usam. Mas, quem comando a distribuição da matéria prima?), depois veríamos apenas moléculas, em seguida átomos, daí as estruturas destes (prótons, nêutrons) e muitos elétrons, depois quarks, mais elétrons, neutrinos e, finalmente, turbilhões energéticos em todas as direções.

Se olharmos bem, ver-nos-emos imersos num mar energético, e nosso homem de 40 anos não é mais distinguível, apesar de estar ali, em algum lugar, vivo. Seu corpo está ali, sua consciência está ali (pelo menos para ele mesmo).

Naquele momento e lugar em que estamos, não temos nenhuma interação útil com ele (não o vemos, não o ouvimos; talvez ele possa nos ouvir, talvez não). Ele é apenas uma lembrança para nós, como se tivesse morrido. Mas, a sensação que temos agora não é a de que ele morreu.

Primeiro porque não vimos seu corpo acabar-se de modo "natural"; segundo porque não vemos também as demais pessoas com quem podemos compartilhar, de uma maneira ou de outra (falar dele, perceber que ele não se mexe ou não está mais ali), o pensamento de que nosso homem de 40 anos morreu (tudo explodiu com ele, e somos espectadores - não importa o nosso estado).

Naquele momento, será que nós é que estamos mortos? Pode ser que sim, mas a sensação que temos (de novo) não é essa, porque podemos nos sentir. Ora, como ter a sensação de se estar morto não podendo ter sensações? Sim, pois qualquer sensação que nos faça perceber algo fora de nós, obrigatoriamente faz com que percebamos a nós mesmos.

O que importa notar na "explosão" é que, tanto em seu final quanto em antes de seu inicio, nada distingue o homem de 40 anos de uma pedra em termos de componentes básicos, energéticos (ou matéria, com queira).

Pulmões, coração, fígado e outros órgãos que podem ser distinguidos no homem e não podem ser distinguidos na pedra, não desabonam a pedra em momento algum. Aqueles órgãos são apenas regiões energéticas, coisas que podem ser encontradas em uma pedra também, mesmo que ela toda seja uma única região energética. Nomes de órgãos são apenas palavras e definições, nada mais. Em protozoários, as funções daqueles órgãos são encontradas, mas, os próprios órgãos não podem ser encontrados!

Fazendo o caminho inverso da explosão, perguntamos: por que o homem 40 já não é formado com 40 anos? Seria necessário um agente externo que fosse o formador, seja um Deus ou a essência (o eu) do homem 40.

Ele tem que partir do zero, crescer e chegar aos 40 anos. Por que? Por que ele tem que começar com "meia-célula" de um homem mais "meia-célula" de uma mulher, chamados de "seus pais"? É necessária uma reposição de menor para maior? A "cola" (imagem) é criada no inicio? Se isto for possível, então é possível a ressucitação do Juízo Final - as marcas ficam no espírito e não no corpo. O corpo é moldado pelo espírito[1].

Se os espíritos das pessoas que se foram vivessem por aí e fossem capazes de formar em torno de si um corpo com idade que acham que têm, ainda assim seria reencarnação.

Obrigatoriamente, é necessário nascer em um corpo formado de duas meia-células. É uma lei natural: tudo tem que começar com uma semente. No caso dos seres pluricelulares, essa semente se multiplica. Não existem diferenças entre partículas elementares, portanto, não há como reclamar tal ou tal partícula que me pertencia.

Além do mais, a troca é constante, tenha-se vida ou não no corpo. Então, levantar no Dia do Juízo Final é possível, só não é possível com corpo próprio para o planeta Terra, pois este é limitado (o número de pessoas que morreram é muito maior que o planeta comporta). Em resumo, o Dia do Juízo Final não é possível no planeta Terra.

Também, aquelas "meia-células" são turbilhões energéticos que se combinam, recebem injeções de energia externa (reposição) provinda do corpo da mãe ou artificialmente num tubo reprodutor; criam (processo principal - o zigoto já tem inteligência para se alimentar e multiplicar ou é controlado externamente? Se tem a inteligência, ela lhe é externa. Tem que ser. O zigoto, por si só, é incapacitado, é matéria) de si células-inteiras iguais, e o processo é repetido para cada célula-inteira.

Sub-processos são disparados para criar matérias-primas dentro de uma célula, fazendo com que ela se especialize numa dada função. Isso a leva a se associar com células que executam funções semelhantes à sua, daí terminando na formação e manutenção de tecidos e órgãos[2].

No final do processo (na verdade, não há um final aqui, pois a manutenção continua), temos um organismo completo, que vai chegar aos 40 anos de idade. Esse organismo foi sendo aumentado de tamanho até onde seu maquinário e as condições do planeta permitiriam. Até aí, vinha sendo travada a luta entre disposição e reposição, com a primeira prevalecendo ao longo do tempo.

O repositor é a vontade, ou o espírito. Os dispositores são as condições ambientais, as consequências da reposição (é necessário gasto de energia) e, muitas vezes, o próprio repositor, que pratica abusos.

Se o espírito sabe que a batalha será perdida, por que ele insiste? O que ele pensa de ter que começar do zero (em corpo de bebê) a cada vez? Ele aprende estando fora do corpo ou só encarnado? Por que o maquinário chega num ponto em que não aguenta mais, inclusive nem mais aceita reposição?

Da mesma maneira como sabemos que lutamos uma guerra perdida, mas continuamos a lutar, queremos continuar vivendo, também assim é o espírito e somos ele. Talvez até digamos que não é para evoluir que continuamos na luta, mas evolução é o que ocorre, queiramos ou não.

O espírito aprende, estando no corpo ou não (supondo que sobreviva), com a diferença que, no corpo, ele pode interagir com todos e quaisquer dos demais que lhe são semelhantes[3].

Quanto a recomeçar do zero, mais do que nós (encarnados), ele sabe que não é começar do zero, mas começar com zero numa nova etapa. O corpo é sempre o mesmo (em termos de formação), pois é uma exigência do planeta.

Quanto maior for o corpo, mais densa fica a energia, mais rápido é o desgaste. Por isso, não dá para formar o homem já com 40 anos. O que o maquinário constrói e deve manter é maior que ele próprio. Isso o força fisicamente.

Mas, por que o corpo envelhece? Por que a performance do maquinário diminui? Onde está o repositor? Por que o que ele tenta colocar, colar, não "prega" mais?

O gameta masculino e o gameta feminino são células incompletas, no sentido de formarem de si um ser completo. Em sua programação, eles são tentados, um a procurar o outro para se completarem. Sozinhos, são como as demais células do corpo: são programadas para se dividirem, formando, assim, células-filhas idênticas, em tudo, à célula-mãe, herdando, inclusive, o mesmo programa.

Essa função de divisão é para reposição daquelas que morreram naturalmente. O ponto de partida do processo é dado pelo ambiente local, sentido por todas as células, que se comunicam (quimicamente), permitindo assim que não haja um descontrole que pode levar a um câncer, por exemplo.

Assim é nos chamados seres superiores, onde se formam grupos de células especializadas (órgãos), sendo, porém, células incompletas (naquele sentido inicial). Ainda naquele sentido, os seres unicelulares estão a um passo à frente: são células completas. O processo de encontro e fusão dos gametas já aconteceu para eles. Assim, o processo de divisão é, ao mesmo tempo, um processo de reprodução: um indivíduo completo, porém idêntico, é gerado. Por isso, a reprodução deles é muito mais rápida. Eles não repõem órgãos e tecidos, mas indivíduos completos, sendo que, por outro lado, o desgaste, a morte, são, também, muito mais rápidos.

A incompletez celular nos seres superiores (ou pluricelulares) é que determina o sexo, ou gênero. É ela que leva estes seres a copularem, no sentido de se completarem, gerando, assim, outro indivíduo incompleto, que vai trilhar o mesmo caminho, talvez eternamente.

Células completas morrem mais rapidamente? Quanto mais incompleta, maior é a necessidade de se completar? A tendência é para a morte?

Imagine que um ser humano nasça com todas as suas células completas, como se juntássemos cem trilhões de protozoários e formássemos um homem. Imagine ainda, que estas células pudessem se especializar e formar órgãos. Até aqui, nada novo, aparentemente.

Vamos ver agora as chamadas células reprodutoras, neste caso específico, os espermatozoides. São completos, não são forçados a procurarem o complemento feminino. Quando “chegasse a época”, um desses espermatozoides começaria a se dividir.

Diferentemente da célula protozoa, as células-filhas não ficariam por conta própria, o que faria com que nosso homem aumentasse de tamanho ou virasse uma bola cancerosa ambulante. Num e noutro caso, ele morreria.

Mas não, elas começariam a formar outro homem completo. Aonde no corpo? Teria que ser num órgão adequado, como um útero. Claro, também, como ocorre, esse novo individuo teria que sair do corpo-mãe antes de atingir um tamanho que começasse a prejudicar a mãe.

Seríamos todos hermafroditas. Não haveria sexo (cópula), desejo sexual e suas consequências. Seríamos mais evoluídos, mas, provavelmente, teríamos vida mais curta.

A troca de matéria entre o corpo e o exterior é mais rápida entre os 30 e 40 anos de idade no homem. Há um equilíbrio, que começa a pender para o lado do exterior com o passar do tempo. Neste intervalo de tempo, as funções de reprodução e reposição estão em seus máximos.

A reprodução cria células novas, não especializadas, materiais novos, funções iniciais do organismo e a função de reposição.

A reposição no início da vida do organismo implica em divisão do material celular, que vai ficando cada vez mais rarefeito com o aumento da idade, necessitando, depois, de alimentação externa, com alimentos cada vez mais simples após os 40 anos, para não exigir muita energia, mas, fatalmente, com a tendência de parar a reposição, pela incapacidade de executar aquela função, incapacidade de absorver alimento cada vez mais simples, o que leva o organismo a ficar cada vez mais fraco e, assim, até o final, à morte do organismo, passando pela velhice.

Um alimento simples e forte retardaria o envelhecimento? Talvez ele eliminasse a concorrência dos fatores dispositores, como uma maior resistência ao ambiente.

Uma pessoa em inanição morre em duas semanas, perdendo no processo cerca de 20% de sua massa. Apesar de ser um processo muito lento, o efeito é o mesmo que passar pela velhice de uma maneira bastante rápida. Estranhamente, este mesmo processo de disposição é muito mais rápido nas pessoas bem alimentadas.

Daí, concluímos uma coisa óbvia: quanto maior a atividade do indivíduo, maior é a perda.

Num regime regular, isto é, a meio caminho dos dois indivíduos acima, a perda média é de 1/20 do peso, diariamente. Esta perda é compensada pela reposição externa, através da alimentação e da respiração. A respiração é uma combustão lenta. A vela queimando está “respirando”; o Sol respira. Na morte, há apenas combustão lenta, pois não há alimentação e oxigenação (reposição), a disposição venceu. O maquinário parou.

Dizem que o organismo todo (o corpo completo) se renova de 30 em 30 dias. Claro que ele não recebe, nessa renovação, componentes zero quilômetro, senão não haveria velhice.

Os componentes são imutáveis, não ficam velhos, desgastados, pois são moléculas (quarks, elétrons). O que envelhece é a relação entre eles. Esta envelhece sempre, inexoravelmente.

O que é essa relação?

Se a renovação celular de um órgão é operada de dentro para fora, o motivo da velhice é o bloqueio imposto pelas células exteriores do órgão à entrada de alimento para o interior. Elas já não têm mais força para executar a função de envio do alimento para o interior.

Diferentemente de alguns animais, que podem se renovar completamente, apenas alguns tecidos no homem têm esse poder. Mas, por outro lado, de novo, o homem tem maior longevidade que aqueles animais. Como dito antes, se nossa renovação fosse constante e completa, teríamos vida muito curta.

Quimicamente, um corpo vivo e um corpo morto há duas horas, são iguais, como um cientista disse. Mas, aqui só podemos tirar uma única conclusão: o corpo vivo tem algo a mais. Esse algo a mais é que se relaciona com o corpo. Essa relação tem uma data de vencimento, que nos é dado não saber, pois nossa missão é fazer com que ela vá para o mais longínquo futuro possível. Mas, essa relação é desgastante para ambos: para nós e para o corpo-matéria. Por ser matéria, ele se desintegra. E nós, permanecemos? Fica difícil, aqui, não nos separarmos do corpo (sobre o qual temos a missão) e não nos vermos como aquele algo mais.

Se tudo em nós é matéria (dor, alegria, etc.), se uma sequência de pensamentos é material, como afirmam alguns “sábios”, então, quem ou o que interrompe essa sequência ou muda-lhe o curso?

Foi dito que o corpo se renova completamente em 30 dias. Mas, foi também perguntado: por que, então, o EU permanece, se ele é material? Fica difícil, de novo, concluir que este eu não permanecerá após a morte, pois, o corpo anterior a este que foi renovado está morto, e o anterior a ele, e o anterior ao anterior.

Só o corpo degenera, não no sentido que esta palavra implica. O termo mais adequado e muito em voga seria “reciclar”. O corpo é reciclado para manter a relação entre ele e o que o anima. Juventude e velhice são apenas fases desta relação, desta reciclagem. O que era novo há um segundo, é velho agora.

É estranho como nos preocupamos com uma passagem lenta de tempo de 80 anos e não nos preocupamos com a passagem rápida de 1 segundo.

Por isso não percebemos o nosso morrer/nascer a cada segundo, a cada 30 dias. Por que então, tentar perceber o morrer em 80 anos sem tentar perceber o nascer depois? A falta deste último é que causa a preocupação. Mas, quem mais se preocupam são os jovens. Os chamados de velhos, em sua maioria, percebem, de alguma maneira, que será bom partir.

Brasilio - Maio/2008.



[1] Se somos apenas uma manifestação energética material, um mistério estelar que se transforma em algo não vivo e não consciente após a morte, então Deus não existe e temos que aproveitar a vida da melhor maneira possível e terminar todo e qualquer discussão sobre este mistério insondável.

[2] Não é possível que a célula inteira inicial ganhe consciência e comece a executar/coordenar todos os processos. Eventualmente, ela morre e é substituída; não é possível que ela passe essa consciência para todas as demais sem que essa consciência deixe de ser única como é. A conclusão possível é que o executor está fora delas e as manipula. Não há aleatoriedade em processos tão bem planejados.

[3] Consigo dar forma a tudo que me cerca, inclusive ao corpo que ocupo, mas não consigo dar uma forma a mim mesmo, o que me leva a crer que eu não sou material, não sou denso. O único problema é que não sei (ainda) me comunicar com os outros sem ser através do corpo que ocupo. Parece um problema complexo, o qual deve ter uma solução simples.