O QUE É CRIAÇÃO

Por que somos mais do que o que sabemos sobre nós mesmos? Por que a obra não pode conhecer seu criador totalmente?

Não temos a capacidade de criar algo igual ou maior que nós mesmos? É falta de capacidade ou é uma lei natural?

Um homem e uma mulher não são capazes de criar juntos uma obra material que seja igual ou maior do que qualquer um deles, mas, são capazes de "criar" um filho que pode ser maior que ambos. A questão aqui é que não são realmente eles que criam, no sentido de pegar uma matéria prima, transformá-la e terminá-la numa obra. É como se eles fossem apenas os instrumentos (com matéria prima) nas mãos de uma inteligência superior que os usam para criar uma obra que pode ser maior que os instrumentos.

Se a obra não pode conhecer seu criador, também não poderá conhecer outras obras desse mesmo criador. É por isso que admiramos o que aí está quando chegamos. Não conhecemos, não sabemos quem fez, não sabemos como funciona. Mesmo que algo novo surja diante de nossos olhos sem que humano nenhum tenha tido qualquer intervenção na criação, somos jogados na ignorância. Assim é com a árvore que nasce a cada dia, com o vento que resolve mudar de direção, com as chuvas, com o céu. Só nos resta olhar com olhos pequenos e mentes menores ainda.

Sempre serei um mistério para mim mesmo? Existe um EU maior que eu mesmo? Esse EU maior terá me criado? Ao mesmo tempo que me sinto poderoso, com capacidade de criar mais do que eu crio, também me sinto incapaz de ver como eu posso fazer isso, como eu posso ser isso. É como se o EU maior só pudesse criar através da mente e dos braços do EU menor, mas que esse, de alguma maneira não é capaz, ou não quer, inconscientemente, ou perde o tempo com contemplação de seu EU maior.

Não me parece que esse EU maior me criou. Também não parece que eu o criei (nem seria possível eu criar algo maior que eu mesmo, como dito antes).

O que mais parece é que somos um, mas, de alguma maneira separados. Eu o vejo, mas não sei se ele me vê. Assim sendo, eu fiz a separação, mas não sei como juntar, de preferência subindo até ele em vez de fazê-lo descer até mim.

Terá sido eu mesmo o causador dessa separação ou foi o mundo em que vivo, as pessoas com quem me relaciono? O meu EU total entrou em contato com outros EUs que já tinham se quebrado em vários. Por entrar em ressonância (vibração) com esses EUs, também fui quebrado. Todos os EUs pequenos se comunicam, e criaram um mundo para si, assim como os EUs maiores. Mas, dificilmente, ou nunca, nós, como EUs pequenos, conseguimos nos comunicar com nossos EUs maiores. O ideal é que todos subissem.

O meu EU maior existe. Portanto, foi criado, de alguma forma. Ele certamente conhece mais sobre os demais EUs maiores do que eu conheço sobre meus pares EUs menores.

Mas, será que ele conhece tudo? Se ele conhece tudo, ele é o próprio criador. Se ele conhece tudo, ele conhece totalmente seus pares e, assim, é um com eles, e é o próprio criador. Se ele não conhece tudo, ele é obra e, assim como eu, questiona e se vê na mesma condição em que me vejo: se vendo eu e vendo um seu eu ainda maior e desconhecido. Fatalmente vamos chegar, assim, num único.

Um criador conhece totalmente sua obra, mas a obra não pode conhecer totalmente seu criador. Ela nunca é maior que ele. Não posso conhecer totalmente minha mãe e meu pai, assim posso ser obra deles. Mas, também eles não podem me conhecer totalmente e posso ser maior que eles. Assim, NÃO SOU obra deles.

Nunca conseguiremos criar algo que seja igual ou maior do que nós mesmos. É por isso que, quando criamos algo, logo o desvalorizamos, assim que fica pronto. Fica faltando, pelo menos, a parte que nos completa, e sentimos isso. Não desvalorizamos nossos filhos porque eles não são obras nossas, ainda bem.

Imagine que você criou algo. Inicialmente esse algo é menor que você. Começa a surgir em você uma tendência a desvaloriza-lo. Então, você percebe que sua criação está crescendo em direção a você. Você agora se interessa. Não tem medo, porque você conhece tua obra totalmente. No momento em que aquilo que faltava para te completar estiver nela, você também se sentiu completo. Ela vai ser um teu EU com o qual você vai interagir e obter respostas. Você fica extasiado.

Imagine agora que essa sua obra fique maior do que você. Separação antes, separação depois. Quem criou quem? Você a criou, com certeza, mas você não mais a conhece totalmente. Foi ela que cresceu ou foi você que deixou de acompanhá-la? Foi ela que parou de te responder ou foi você que parou de perguntar? Foi ela que evoluiu ou foi você que parou de evoluir?

Nenhuma obra pode ser maior do que seu próprio criador, mas todo criador deseja que sua obra cresça até ele.

Sabemos menos sobre nós mesmos, do que realmente somos, porque somos obras estáticas, que apenas contemplam seu criador, como a pedra contempla a montanha.

Olhamos para o nosso EU maior, que existe, como se ele fosse um estranho mudo, quase irreal. Não tentamos conversar, não tentamos ouvir, porque estamos mais preocupados com os outros EUs menores que estão no nosso nível de vibração. Eles vão nos criticar se nos desligarmos deles por alguns momentos e vão nos crucificar se notarem que estamos nos distanciando deles para cima.

Infelizmente, você não pode levá-los juntos nessa viagem, porque seria uma imposição. Cada um tem que caminhar por si. Mas, só pelo fato de você alterar sua vibração, isso vai ressoar na deles, de certa maneira tentando levá-los também. Com o tempo eles irão. Essa é a tua contribuição. Comece a conversar com o teu EU maior, de preferência, timidamente, sim, para que você não se desligue do mundo.

Ideias de coisas novas e úteis pipocam em minha mente, mas, são produtos acabados e não ideias de como construir o produto a partir da ideia inicial, que, na verdade, é uma ideia final. Por que isso ocorre? Por que nos é dada a ideia mas não nos é dado o modo de como transformá-la para a realidade que todos compartilham? Talvez isso seja uma chamada para o futuro.

Brasilio – Maio/2009.