O QUE É ATEÍSMO

Ai daqueles que se colocam como porta-vozes dos santos para enganar o povo.

Quando alguém ouve a palavra ateu (e nesse alguém se incluem alguns que se dizem ateus), já imagina logo que se trata de uma pessoa que, simplesmente, rechaça Deus como aquele que acredita em Deus rechaça o Diabo. Assim, rechaçando Deus, o ateu está, automaticamente, associado ao Diabo.

O verdadeiro ateu é aquele que dispensa a necessidade da divindade. Note bem: ele pode dispensar, e talvez até rejeitar. Uma coisa que ele (e ninguém) pode fazer é negar, assim como muitos teístas não podem afirmar que uma dada divindade personal pode existir, mas, este pode afirmar que uma divindade em forma de sentimento pode, sim, existir. Nem esta o ateu pode ter, caso contrário, não será ateu. Veja também que todo materialista é ateu, mas, nem todo ateu é materialista. Então, não confunda os dois.

Alguns costumam classificar de ateus também os chamados deístas (aqueles que dizem que a única divindade é a razão) e os panteístas (aqueles que dizem que a divindade é Natureza). Mais divinizados, e provavelmente mais corretos, estão os paninteístas, que afirmam que a Natureza está contida na divindade e é menor que ela, sendo o resto desconhecido. Arrisco-me a dizer que os agnósticos (aqueles que dizem não terem condições de saber ou descobrir qualquer coisa sobre a divindade) se encaixam bem aqui.

Podemos criar uma escala de existência da divindade assim:

Negar à Ninguém se encaixa aqui (negar para si mesmo nada muda fora de si).

Rejeitar à Aqui se encaixam os que estão no escuro. Rejeitam com um certo receio ou decepção.

Duvidar à Aqueles que balançam. Tem mais medo do que aqueles que rejeitam.

Não sabem à Não rejeitam e nem duvidam. Aqui se encaixam os agnósticos.

Desconhecemà> Aqueles que nunca ouviram falar da divindade, como as crianças, por exemplo.  Mesmo assim, é muito difícil que tenha alguém aqui, pois, a divindade sentimento é latente desde o princípio. Vejam, a divindade não precisa ser apenas boa, pode ser má também.

O problema do segundo, terceiro e quarto grupos é que eles precisam de prova empíricas, aquelas dadas pelos sentidos físicos humanos, apesar de qualquer um reconhecer que estes sentidos não são confiáveis.

Esses, para os quais as provas empíricas não se mostram, são chamados de céticos. É mais fácil o que rejeita e duvida ser convencido pelos sentidos do que um agnóstico, por exemplo. O agnóstico vai achar que se trata de uma alucinação ou um sonho passageiro.

Não existe esse negócio de prova empírica para convencer um cético sobre a divindade. Não há como saber se é uma manifestação verdadeira. Essa decisão vai caber àquele que sofre a experiência.

O que podemos observar é muito pouco em relação ao que é observável.

 
   

O ateu, na verdade, não dispensa a necessidade da divindade. O que ele dispensa é a necessidade do Deus das religiões. Eles o dispensam com base na definição que foi dada para esse deus e que ele não atende àquelas definições como eles (ateus) e muitos outros gostariam. Aqui, os agnósticos estão mais certos, porque eles percebem que a definição que foi dada para Deus (o deus humano, imagem e semelhança do homem, como o Super-Homem, Batman, etc.) não é adequada. É muito reduzida.

Uma característica em que os ateus mais se pegam para mostrarem porque rejeitam é o chamado Problema do Mal: se Deus tem a capacidade de acabar com o mal do mundo, por que ele não o faz? Ou ele não tem essa capacidade ou não existe. Nos dois casos ele deve ser rejeitado. Mas, essa é a mesma necessidade que sentimos (ateus ou não) do Super-Homem e do Batman.

Bem e mal não tem a ver com Deus, mas com o homem. É o homem que cria o mal, apesar de ter a capacidade de criar o bem. Cabe ao homem acabar com o mal e não a Deus ou qualquer outra divindade. Se ele pode criar tecnologias avançadas, gastando muito dinheiro e suor, pode, com custo zero, criar o bem. Ele não o faz porque não quer. Por que, então, querer que uma divindade, exista ou não, o faça? De qualquer maneira, a origem do mal é humana, e não divina. O estranho é que, ao falarem do Problema do Mal, eles fazem Deus existir, para que possam, então, expulsá-lo. O bem e o mal são as duas faces de uma mesma moeda, e cada um se alimenta de si mesmo.

O problema daqueles que se dizem ateus é que o único assunto que eles têm para discutir é, exatamente, aquilo que eles dispensam: Deus. Falam mais em Deus do que os próprios teístas. Isto é um contrassenso, pois, o ateu é aquele que dispensa a necessidade de um deus (com mais força o deus moderno: Deus), e assim, não deveriam discutir nada que se refira a Ele. Ou querem impor sua crença na descrença ou não são realmente crentes de sua descrença. Nesse caso, são o que se chama da apologéticos (aqueles que fazem apologia - tentam impor apenas o lado que lhes interessam numa questão). Os dois casos só espelham uma coisa: incerteza. E é isso mesmo, pois, é a incerteza que nos guia no mundo, exatamente por não termos a capacidade de nada afirmar. Os apologéticos estão sempre em erro.

As religiões que estão por aí, não foram criadas por nenhuma divindade, e sim pelos homens. Aquele Deus que as habita é um deus humanizado, com tudo o que o homem deveria ter, mas, não tem. Não tem porque não quer.

A verdadeira religião habita no bem. Alguns homens habitam no bem também, mas, não creio que exista algum que habite na verdadeira religião.

 
   

Aos ateus, portanto, só restam duas alternativas:

1)      Nunca falarem sobre Deus, e ficarem calados, como que desaparecidos, pois não teriam assunto, ou falarem apenas sobre Ciência, que é onde mais se concentram aqueles que se dizem ateus. Na verdade, o sentimento que surge aqui é explicável: ao se tentar conhecer tudo, a pessoa acaba encontrando uma barreira intransponível, onde ela mais nada pode conhecer. O que ela enxerga é o nada. E, o que existe no nada?

2)      Definirem seu deus, porque, uma coisa é certa: Ninguém sobre este planeta tem a capacidade de afirmar que uma coisa desconhecida existe ou não existe. Aliás, estas duas expressões não podem ser aplicadas ao desconhecido.

O deus deles pode ser, exatamente, o não-Deus, que, só existirá se o oposto existir.

Os incertos ateus não admitem e nem acreditam em divindades, mais por não saberem o que é uma divindade, ou, talvez, o que recusam é a divindade humanizada e poderosa, um ser. Nesse último caso, eu também a dispenso, pois, divindade não é um ser. Divindade é um estado.

O problema das grandes discussões humanas é que elas são baseadas em conceitos introduzidos por palavras faladas e, principalmente, escritas. Qualquer um desses meios de expressão são sujeitos a variações, não só da língua mas, também, de quem a interpreta. Assim, qualquer discussão em cima disso carrega as mesmas variações e erros consequentes da própria discussão.

Reconhecendo isso é que alguns cientistas procuram fórmulas matemáticas para definirem a divindade, com a pretensão de que conhecem e podem derivar qualquer fórmula. Não o podendo, sem reconhecer isto, concluem que a fórmula não existe e, assim, aquilo que ela definiria não existe também.

A humanidade atual não pode prescindir de uma figura divina, porém. A humanidade não tem nível moral suficiente para dispensar a divindade. Talvez daqui a 10 mil anos ela esteja pronta. Por enquanto, não.

Quer queiram, quer não queiram, é essa figura divina que freia muitos humanos de demonstrarem seu baixo nível moral, sua face maléfica, enquanto o restante já o faz, incluindo alguns que fundam igrejas, cultos e seitas para enganarem o povo em nome da divindade, não importando aqui se ela existe ou não, pois, disso nunca saberemos.

Ainda bem que a parcela de ateus radicais no mundo é insignificante, pois, no dia que ela for metade da população mundial, a outra metade será exterminada por ela. Por fim, ela própria vai se exterminar, pois, não terão o freio da divindade que já dispensaram e sem a outra metade a quem temer.

Ser todo poderoso não significa tomar nossas dores e reagir violentamente para “regularizar” uma situação que nós mesmos criamos, seja conscientemente ou não. Ser super poderoso é alavancar o próprio coração e o de cada um para que o bem prevaleça. Não diga que uma divindade não existe por causa da falta da intervenção que você deseja dela. É em você que não existe algo que torne possível o resultado da intervenção que você deseja. Fazer tal alegação só mostra covardia, além da clara e comum falta de conhecimento.

Brasilio – Junho/2012.