O QUE É AMOR MATERNAL

Onde começa o amor maternal?

Sete fertilizações in-vitro: bebês “primordiais” que podem ir em frente (se forem implantados em um útero de mulher) ou não. Centenas de células em cada um: o blastócito. Praticamente só células-tronco. Por trás delas o mecanismo misterioso aguarda para comandar a diferenciação (será que a criação do Universo seguiu um caminho semelhante, uma partícula inicial que se diferenciou?).

Pode este mecanismo iniciar seu trabalho fora de um útero? Pode iniciá-lo fora das condições adequadas?

Três blastócitos são implantados em série, com diferença de 360 dias entre cada implantação. O primeiro se divide em dois e dois bebês idênticos são gerados. Os outros dois geram um bebê cada um.

Quando começa a nascer o amor da mãe para com aquela “vida” que se “forma”? Por que não há amor nenhum para os outros quatro blastócitos que não foram implantados? Falta-nos conhecimento, compreensão?

Parece que só adoramos formas, sejam reais (quando o bebê nasce) ou fantasiadas (enquanto ele ainda está em formação dentro do útero e começa a ser percebido).

A partir desses pontos, uma perda é muito sentida. Parece egoísmo.

Antes desses pontos, se os blastócitos forem destruídos ou se a mulher abortar antes de perceber o feto, ninguém sente tanto! Por que?

Vamos imaginar um bebê que se desenvolva completamente e com saúde perfeita em um útero artificial. A mãe sentiria amor por ele ou teria o mesmo sentimento que em relação a um bolo que acabou de sair do forno?

Afinal, amamos formas ou percepções (interativas)? Ou as duas coisas?

O amor materno começa com a percepção interativa, isto é, quando ela sente o bebê (ainda sem forma) interagindo com ela. Tanto é assim que um sonho é suficiente para ela sentir amor e, depois que o sonho acabar, sentir tristeza. Tanto é assim que dificilmente ela vai sentir amor pelo bebê que nasceu no útero artificial. Tanto é assim que muito pouca gente resolve adotar crianças órfãs.

Em termos de amor maternal (e paternal), muitos animais estão à nossa frente.

Isso prova que a vida só tem significado com o amor. Das duas uma: antes da percepção a vida não tem significado ou falta-nos o verdadeiro significado do amor.

No primeiro caso, ninguém vai sentir pela destruição dos blastócitos. Quem disser que sente está se forçando a sentir algo que, na verdade, não está sentindo, porque não há sobre a Terra alguém que conheça o verdadeiro amor. Somos inerentemente egoístas.

Eles projetam o futuro de um possível bebê em um monte de células pelas quais eles não têm nenhum amor (por não saberem o que é isso) e falsificam aí um amor que não existe.

Entre destruir embriões para salvar vidas que amamos e não formá-los, deixando que outras vidas se percam (além das dos próprios embriões), é preferível a primeira opção, porque estaremos exercitando, a nosso modo, o amor, enquanto que na segunda opção há total desamor.

No dia que deixarmos de ser egoístas, exercitando o verdadeiro amor, não precisaremos mais destruir embriões, porque a causa de todos os males e doenças é o egoísmo, e não precisaremos destruir vidas para servirem como remédio contra esse mesmo egoísmo. Sim, é por causa do egoísmo que existe pobreza, injustiça e violência contra os outros e contra si mesmo.

Veja agora o seu filho: ele está com 11 anos de idade. Onde está aquele bebezinho que você tanto amava, que pegava nos braços e bem cuidava? Por que você deixou de amá-lo tanto quanto amava? A forma mudou, o jeito de amar mudou. O amor mudou, NÃO DIMINUIU!

O que aconteceria se ele ficasse sempre bebê? Certamente você o amaria para sempre. Mas não, ele cresce e, sem você perceber, seu amor por ele cresce também. Você não percebe a lição que a vida te mostra: ame o bebê, a criança, o adolescente, o adulto. Você ama todos eles, mas não pensa nisso.

Quando ele fica mais velho, ele se casa, forma uma família, “vai embora”? Ele deixou de te amar ou deixou de depender de você? Infelizmente, alguns deixam de depender e de amar, enquanto outros não deixam de depender, mas deixam de amar.

O que diferencia o seu filho do filho daquela mulher desconhecida? Apenas uma coisa: a interação mãe-filho.

Se houve uma troca na Maternidade sem que as mães percebam, a interação mãe-filho vai continuar e ambas vão amar o filho da outra como se fosse seu. Isso não funciona com os animais, pois, de alguma maneira, eles conseguem reconhecer seus verdadeiros filhos. Nisso eles estão, ao mesmo tempo, à nossa frente e atrasados em relação a nós. Estão à frente porque podem reconhecer se seus filhos foram substituídos, nós não. Estão atrás porque a Natureza não lhes dá a capacidade de amar que ela nos dá: ela não nos deixa perceber para que possamos amar qualquer um, mas, mesmo assim, lutamos contra isso. No saldo final, os animais estão à nossa frente, mesmo que alguns rejeitem violentamente o filho estranho.

Os animais não se diferenciam muito do nascimento à idade adulta, mas, mesmo assim, seus pais podem reconhecê-los; os bebês humanos só são parecidos enquanto bebês, mas se diferenciam muito à medida que se desenvolvem. Só mais tarde os pais começam a desconfiar, no caso de uma troca.

O que vai acontecer quando a troca for desfeita 15 anos depois? Não haverá amor, porque não houve continuidade de interação mãe-filho verdadeiro. Haveria se aprendêssemos a interagir também com os filhos dos outros, se fossemos capazes de externarmos amor total.

O sentimento seria o mesmo que você sentiria caso a versão bebê de seu filho de 11 anos aparecesse de repente, não importando se seu filho de 11 anos continuasse ou desaparecesse. É o mesmo sentimento que se sente em relação a uma criança candidata à adoção.

É o mesmo sentimento em relação ao blastócito, seja ele seu ou não (como você sabe?), se bem que você daria mais importância ao seu do que aos dos outros, com a diferença que você mataria o blastócito, mas não mataria o seu bebê do passado ou a criança candidata à adoção. Ótimo, isto já é uma evolução, já existe amor.

Então, a vida começa com o amor, e enquanto esse amor não for total não há razão para se ir contra o uso de células-tronco para salvar vidas que já estão por aí, sendo amadas.

Como é inconcebível e mesmo bizarro a matéria ter sentimentos, os blastócitos, em si, não têm sentimentos. Idem a carne e ossos da mãe. São como os minerais. SÃO MINERAIS, assim como a parte física das plantas e dos animais. Desse modo podem, sim, serem usados como remédio, seja como órgãos transplantados ou partes deles.

Mas a partir do momento em que os blastócitos passam a serem habitados, quando começam a ocorrer as diferenciações e a interação com a mãe, quando aparece o amor, aí sim, tornam-se sagrados. Naquele momento, algo superior à matéria começa a habitá-la, algo que só poderemos amar sem nunca conhecer, sem nunca sabermos o que ele é, o que nos tira qualquer direito de destruir, seja uma planta, um animal e, muito menos, seres semelhantes a nós.

E quanto ao bebê gerado inteiramente no útero artificial?

Notem bem. Não é o amor da mãe ou a interação dela que causa a habitação no corpo que se forma. É exatamente o oposto: a habitação (que não sabemos o que é) é que causa o nascimento do amor e as interações.

Se aquele corpo que se forma não foi habitado, ele não vai se desenvolver, morrerá e não haverá interação e nem amor.

O bebê do útero artificial terá seu corpo habitado, lançará as sementes do amor e da interação, mas, será que ele vai encontrar terreno fértil? Difícil, muito difícil. Talvez daqui a mil anos. Não, melhor dez mil anos. Talvez nunca, pois, a julgar pela Tecnologia que, de algum modo, é contra o amor e a fé, estamos "involuindo" nestes termos.

E claro que a culpa não é da Tecnologia. Ela não se fez, não tem vida própria. O problema é o modo como ela é usada. A culpa é de quem a usa assim. A culpa é do próprio homem. Ele é mais propenso ao mal que ao bem, ou seja, é egoísta. De novo.

E isso só vai levá-lo a um destino: o desaparecimento, o auto-aniquilamento.

Então, vamos salvar quem está vivo, quem é amado, e não quem ainda não tem vida.

Nada de sobrevivência do mais forte e sim sobrevivência dos que são amados e dos que amam, esses são os verdadeiros fortes. A tendência dos outros é a de se destruírem.

Brasilio – Março/2005.