O QUE É A VIDA I

Eu não posso ser um animal, um monte de matéria. Se me abrirem e procurarem em cada milímetro, não encontrarão minha alma, não me encontrarão. Meu corpo talvez seja um monte de matéria, mas eu não. No máximo eu (corpo) sou um receptor de minha alma. Não sei de onde ela irradia. Não sei exatamente onde eu estou localizado. Não consigo me perceber em outro lugar. Quando estou sonhando, estou em outro lugar, mas não consigo me perceber dormindo. Mesmo no sonho estou em algum lugar específico. Acho que estou no corpo. Acho que sou o corpo. Mas, por que sou tão diferente da pedra (aqui, qualquer matéria inanimada)? Por que sou tão diferente da árvore? Por que sou tão diferente do boi? Por que ajunto coisas e crio outras iguais à pedra? Por que não consigo criar árvores, animais? Por que consigo criar homens apenas com coisas que já estão em mim? Por que esses homens não são cópias psicológicas minhas? Por que eles pensam diferente de mim? Por que quando falo, eles não falam simultaneamente? Por que sou um e muitos ao mesmo tempo? Se eu vivesse eternamente, eu criaria eternamente. Sou um único e muitos diferentes entre si. Esses “muitos” são aqueles que eu posso criar através de meu corpo ou junto com o corpo de uma mulher. Por que nasce com um sexo ou com outro, e não com um terceiro ou quarto? Sou só masculino e feminino?

Homens criam homens; animais criam animais; plantas criam plantas. Pedras criam pedras? Homens criam pedras com pedras. Nem plantas e nem animais fazem isso. Vida cria vida e vida cria não-vida. Vida cria tudo. O que criou a vida? Como começou a vida?

O problema é o começo, o problema é o TEMPO. O tempo atrapalha tudo. Não é possível achar o começo da vida. Vida não tem um ponto único de partida. Vida tem vários pontos de partida. Vida é. Sem início, sem fim. Vida ocorre, como a luz do Sol SEMPRE ocorre. Vida é como borbulhas de água fervente: aparecendo e desaparecendo. Mas, o que eu sou, o que a vida, enquanto em mim, faz de mim? Ou será que EU é que faço a vida? Ou será que é a planta, o animal, que fazem suas próprias vidas? Sim, cada um, cada ser faz a vida. Cada um tem seu instante, cada um tem a duração de uma borbulha de água fervente. A vida não é algo à parte. Cada um, sim, é algo à parte. O que eu sou em meu instante? Sou uma coincidência? Acho que penso mas não penso? Meu instante é minha ilusão? Mas, se tenho ilusão sou algo! Também, se penso, sou algo!

Crio a minha vida ou fui criado para viver minha vida?

Se crio minha vida, o que sou antes de criá-la?

Se fui criado para viver minha vida, o que eu era antes?

No primeiro caso não posso ser um nada!

No segundo caso, posso!

No primeiro caso, se não sou o nada, sou alguma coisa. Se sou alguma coisa que cria vida, então posso viver pelo menos a primeira vida. Mas, se eu era algo antes de viver, de onde vim? Como não podia criar, TENHO que ter sido criado!

Se eu era um nada e fui criado, quem me criou?

Sou uma planta que deu errado? Sou um animal que deu errado? Sou uma tentativa de uma planta ou de um animal querer criar coisas com pedras ou de criar um ser se juntando (planta e animal)?

Se sou uma planta ou animal, de onde veio o algo a mais que me faz diferentes deles? Será que sou separável entre planta e animal? Como é que eles conseguiram criar eu e mais um monte de gente (sim, porque eu sozinho não me reproduzo)?

Por que eles não mais criam?

Se assim foi, então quem os criou? Só resta a pedra: uma planta é uma pedra que deu errado? Como pedras não se reproduzem e nem criam, então o algo mais da planta em relação à pedra veio de outro lugar. Não pode ter sido da Terra, pois só havia pedras! Tem que ter sido de fora, mas não de lugares onde só tinham pedras, pois pedras com pedras nada produzem. E nem de lugares onde já haja plantas, animais ou homens, senão nosso questionamento recomeçaria e não teria fim.

E agora? Não existia “vida” no universo. Só pedras.

Como a vida surgiu, então?

E tem outra pergunta no ar: de onde e como surgiram as pedras? Melhor dizendo: o universo.

Só temos UMA alternativa para cada pergunta:

A vida surgiu quando uma pedra, na Terra ou de fora, de tamanho específico, com um movimento específico, com uma conformação especifica, bateu de uma maneira específica contra outra pedra, sendo estas condições com probabilidade quase nula de ocorrerem novamente. Se a primeira pedra veio da Terra, então não existe vida no resto do universo, e somos o resultado de uma coincidência.

Esta alternativa se quebra em três outras:

  1. As pedras surgiram do nada. Não. Quem aceita isso?
  2. As pedras sempre existiram. Não. Mas talvez apareçam e desapareçam como borbulhas de água fervente (assim eliminamos o tempo e evitamos procurar um começo, pois somos forçados a isso, mesmo que digamos que sempre existiram).
  3. As pedras são ilusões nossas. Se sim, então (1) acima fica invalidado e somos forçados a concluir que a vida (e tudo) surgiu do nada ou, então, tudo é uma ilusão. Mas, ilusão de quem? Alguém pode responder?

Se não, só nos resta a opção 2. Porém, se aparecem e desaparecem, o que causa isso? Não podem ser outras pedras, senão nosso questionamento continuaria ao infinito. Então, a causa só pode ser o nada. Mas isso é 1 acima, que negamos!

DAS DUAS UMA:

TUDO É ILUSÃO

HÁ UM CRIADOR.

Existe algum jeito de tentarmos descobrir o que somos e o que o universo é sem recorrermos a origens, inícios, pontos de partida? Tudo que é, que existe TEM QUE ter um início? Será que, para uma pedra, tudo tem um início? E para uma árvore? E para um animal? Será que eles questionam? Será que, para uma criança de 2 anos, tudo tem um início? Será que, para a bolha de água fervente que está no seu máximo, a bolha ao lado, que também está em seu máximo, teve um início? E a bolha que ela “viu” nascer?

Será que, por vermos coisas começarem e acabarem podemos concluir que tudo que está por aí começou algum dia e algum dia vai acabar?

Talvez nada comece e nada acabe. Talvez haja apenas uma transformação. Assim, podemos concluir que tudo é uma coisa só, tem uma única origem, e as diferenças que vemos, os “inícios” e “fins” que vemos são apenas transformações de um único elemento, de um único princípio.

Assim mesmo ficam questões:

  1. O que é esse princípio? Alguém pode responder?
  2. Quem o controla? Ele TEM QUE ser a própria inteligência, ou seja, o próprio princípio se controla.
  3. Será que nossas consciências criam tudo em “comum acordo”? Mas, criam REALMENTE ou, de novo, criam ilusões? Mas, se criam ilusões, elas próprias teriam que ser ilusões, daí foram criadas por outra “entidade”. Se criam realmente, então elas não podem ter se criado. Foram criadas.

Temos que ficar com A e B, acima.

Brasilio – Junho/2004.