O QUE É A VERDADE IV

As características de falso ou verdadeiro não se aplicam a coisas que se autodescrevem com aquelas características. Se uma autodescrição de falso/verdadeiro não puder ser testada, a descrição não tem sentido lógico, não passando de uma construção gramatical, como A Bola Chove. Não ser testável, porém, não implica ser falso ou verdadeiro. Não há como saber.

Veja estas frases:

1)      Eu sempre minto à Não testável, sem sentido.

2)      Esta frase é falsa à Não testável, sem sentido.

3)      O homem não se fez a si mesmo à Não testável, mas incontestável

4)      Eu não me fiz a mim mesmo à Não testável em termos físicos e fisiológicos, mas contestável em termos psicológicos

5)      Eu sou bom nisso à Testável

6)      Deus existe à Não testável, por falta de definição completa.

7)      Deus não existe à Não testável, por falta de definição completa. Ao que é indefinível não se aplica as características de falso ou verdadeiro.

8)      Há vida depois da morte à Testável, mas pré-contestável. Quem fica pode contestar, dizendo que o testador não vai voltar para informar o resultado.

9)      Etiqolas existem à Testável e verdadeiro para mim, pois tenho a definição completa: uma espécie de etiqueta colante.

10)  Verinoupri não existe à Testável e falso para mim, pois tenho a definição completa: uma estação que é, simultaneamente, verão, inverno, outono e primavera.

11)  Eu sou a minha própria vida à Não testável, mas incontestável.

12)  Eu sou um número perfeito e primo. Eu não existo ß Isto é uma verdade. Eu não existo como um número perfeito e primo, então eu estou mentindo na primeira frase.

  1. Se algo é tomado como falso, então ele é o oposto daquilo que ele mostra ser.
  2. Se algo é tomado como verdadeiro, o oposto do que ele mostra ser é falso.
  3. Se algo toma o seu oposto como verdadeiro e for tomado como verdadeiro...o fato é decidido como falso.
  4. Se algo toma o seu oposto como verdadeiro e for tomado como falso...o fato é decidido como verdadeiro.
  5. Se algo toma o seu oposto como falso e for tomado como verdadeiro...o fato é decidido como verdadeiro.
  6. Se algo toma o seu oposto como falso e for tomado como falso...o fato é decidido como falso.

As reticências acima foram colocadas antes de eu fazer os testes, usando a tabela a seguir.

Fato

Oposto

Confissão do oposto

Aceitação por um júri

Conclusão

V

F

V

V

O falso (Oposto) é verdadeiro. Mentira aceita. O fato é falso

V

F

V

F

O falso é, realmente, falso. Mentira não aceita. O fato é verdadeiro

V

F

F

V

O falso é falso. Confissão aceita. O fato é verdadeiro

V

F

F

F

O falso é verdadeiro. Confissão não aceita. O fato é falso

F

V

V

V

O verdadeiro (Oposto) é verdadeiro. Mentira aceita. O fato é falso. Deus não existe ==> Deus existe

F

V

V

F

O verdadeiro é falso. Mentira não aceita. O fato é verdadeiro. Deus não existe ==> Deus não existe

F

V

F

V

O verdadeiro é falso. Confissão aceita. O fato é verdadeiro

F

V

F

F

O verdadeiro é falso. Confissão não aceita. O fato é falso

Mentir é afirmar uma mentira como verdade, ou seja, a afirmação, em si, é verdadeira, mas, o que ela traduz não é verdadeiro. Mas, essa tradução pode ser tomada como verdadeira (mentira aceita como verdade) ou falsa (mentira não aceita, o que implica que o oposto dela é a verdade).

2+2 = 5, como uma colocação, um fato vocalizado, é verdadeiro, mas o que esse fato traduz é falso. Afirmar que essa tradução é verdadeira é mentir. Mentira não aceita, implica que 2+2 ≠ 5. Mentir é, também, afirmar uma verdade como mentira: 2+2 ≠ 4.

Dizer a verdade é afirmar uma mentira como mentira (2+2 ≠ 5) ou afirmar uma verdade como verdade (2+2=4).

Vamos analisar a frase EU SEMPRE MINTO. Para isso, vamos supor que o contrário de SEMPRE é NUNCA (não é ÀS VEZES).

Vamos supor que os quadros a seguir mostram as minhas vocalizações.

 
 

...

... (coisas que eu digo normalmente, não importando se é verdade ou não)

...

1 - Eu sempre minto

...

...

 

Ao dizer "eu sempre minto", podemos concluir que tudo que eu disse acima da linha 1 e abaixo dela foi e é mentira.

Vamos colocar assim agora:

...

... (coisas que eu digo normalmente, não importando se é verdade ou não)

...

1 - Eu sempre minto

...

...

2 - Eu sempre minto

...

...

...

 

Se tudo o que estiver acima e abaixo da linha 2 for mentira, então eu menti ao dizer que sempre minto, na linha 1, o que implica que o que está acima e abaixo da linha 1 não são mentiras. Então estou falando a verdade na linha 2, e o que está acima e abaixo dela é mentira, o que implica que o que eu disse na linha 1 é mentira.

Agora vamos colocar assim:

...

... (coisas que eu digo normalmente, não importando se é verdade ou não)

...

1 - Eu sempre minto

...

...

2 - Eu sempre falo a verdade

...

 

Pela linha 1, eu estou mentindo na linha 2. Vale o primeiro bloco. Se tudo que estiver acima e abaixo da linha 2 for verdade, então estou falando a verdade na linha 1, o que implica que estou mentindo na linha 2.

Se a linha 2 é verdade, eu estou mentindo, fazendo uma afirmação falsa. Se estou mentindo na linha 2, estou confirmando a linha 1, onde eu falo uma verdade. Se a linha 2 for uma mentira, a linha 1 está certa - é uma verdade.

Não há o jogo de empurra-empurra aqui, com há no segundo bloco.

Esse é o problema da verdade: "Eu sempre minto” pode ser uma verdade. "Não é verdade" pode ser uma verdade.

Veja:

"2 ≠ 2" não é verdade. "2 ≠ 2 não é verdade" é verdade!

("2≠2" é falso. "2≠2 é falso" é verdade)

"2=2" é verdade. "2=2 é verdade" é verdade.

"2≠2" é verdade. "2≠2 é verdade" é falso.

"2=2" não é verdade. "2=2 não é verdade" é falso.

("2=2" é falso. "2=2 é falso" é falso)

É verdade que algo pode ser falso. Também, é verdade que algo pode ser verdadeiro.

É mentira que algo pode ser falso? Não, pode ser mentira que algo seja falso.

Pode ser mentira que algo seja verdadeiro.

Vamos ver isso agora:

...

... (coisas que eu digo normalmente, não importando se é verdade ou não)

...

1 - Eu sempre falo a verdade

...

...

2 - Eu sempre falo a verdade

...

 

Aqui não faz diferença. Uma linha confirma a outra, em vez de contradizer.

O problema da verdade é que ela se aplica à mentira também. Verdade e mentira não pertencem ao mesmo grupo. Há a verdade de ser e a verdade de descrever. Há a mentira de ser que é descrita pela verdade de descrever.

Então, para caracterizar falso ou verdadeiro, a descrição não pode ser considerada, mas apenas o ser e o não ser. Assim, o EU SEMPRE MINTO não deve ser analisado descritivamente.

Deve-se separar entre o que a frase fala e o que se fala da frase.

O que a frase fala: Ele sempre mente.

O ser: se aplica a tudo o que ele diz, exceto a esta afirmação por parte dele. Veja que a simples troca de pronomes removeu o empurra-empurra.

O que se fala da frase: Ele está mentindo quando diz que sempre mente? Ele está falando a verdade quando diz que sempre mente?

Por que tem um verbo para a mentira e não tem um verbo para a verdade? Vamos criar um. Agora tem o verbo MENTIR e o verbo VERDAR.

EU SEMPRE VERDO

Verdade à Tudo, e isso, é verdade. Isso (a afirmação) sendo verdade, tudo é verdade.

Mentira à Isso sendo falso, nem tudo é verdadeiro ou falso. Eu posso ter sempre mentido. Posso ter mentido, às vezes. Posso estar mentindo apenas agora, com a intenção de mentir depois.

EU SEMPRE MINTO

Verdade à Tudo, exceto isso, é mentira. (A verdade é que) tudo que eu já disse e ainda vou dizer são mentiras.

Mentira à Tudo, exceto isso, é verdade. (A verdade é que) tudo que eu já disse e ainda vou dizer são verdades.

O que é falado (F) e o de que o que é falado fala (f).

Seja F a frase EU SEMPRE MINTO, e seja f tudo o que eu já falei ou falarei.

Como fica F(F)?

Aí está. F se descreve com características de falso ou verdadeiro. A falta de sentido lógico acaba levando a uma conclusão contraditória de si mesma. Não há como testar F, apesar de se poder criar um algoritmo/programa que represente F. Inclusive, esse tipo de algoritmo é usado em Teoria da Computação para “teorizarem” que não é possível construir um programa que analise outros programas quanto a pararem ou não.

Brasilio – Julho/2011.