O QUE É A VERDADE I

O que é a verdade? Precisa ser um fato? O que ainda não é fato ainda não é verdade?

A verdade pode ser um fato que causou um efeito. Normalmente, um efeito que afeta os nossos sentidos. Pode também ser um efeito de um fato, ou seja, também um fato. Pode ainda ser o efeito de uma prova matemática que afeta nosso raciocínio: é verdade que 2+2 é igual a 4, e isso pode ser um fato que afeta nossos sentidos (2 pessoas + 2 pessoas fazem 4 pessoas aos nossos olhos). Também, 4 dividido (distribuído igualmente para) por 2 faz 2 para cada um dos 2. Agora, como transformar Ö9 (raiz quadrada de 9) em fato? Sabemos que a “verdade” é 3. O que é a raiz quadrada de um número? Pela Matemática, a raiz quadrada de um número m é um número n tal que nxn=m. Sim, mas por que “raiz quadrada”? Por que “dois mais dois” é mais claro que “raiz quadrada”? Porque é fácil visualizar 2+2, mas é difícil (será que dá?) visualizar Ö9? Primeiro, porque a definição é um tanto obscura; segundo, porque o símbolo representativo da operação não é de uso corriqueiro e prático. Qual seria o problema de 2+2 ser representado por 2Ö2 e Ö9 ser representado por +9? Nenhum. É apenas uma questão de convenção que, agora, não vem ao caso. Na verdade, a raiz quadrada (e o seu oposto, o quadrado de um número) se baseia na figura de um quadrado (figura geométrica fechada que tem quatro lados de mesmo comprimento e os quatro ângulos internos com 90o, tendo cada lado um ponto comum com o outro no vértice do ângulo). O quadrado de um número n é um quadrado que tem n pontos em qualquer um dos seus lados, sendo que esse quadrado é representado pelo número resultante da operação nxn, e n é a raiz desse quadrado. E assim se generaliza para o cubo (figura geométrica fechada que tem 6 quadrados de mesma área e 24 ângulos internos com 90º) e raiz cúbica; para o tesseract (?!) e sua raiz quarta, etc. etc.

Concluímos daí que a raiz x-ésima de um número m é um número n tal que n multiplicado por ele mesmo x vezes é igual a m. Para transformarmos isso em fato, para “acreditarmos” devemos usar quantidades manipuláveis, ou seja, devemos “materializar” esta operação, só assim ela afetará nossos sentidos materiais e poderão se tornar uma verdade para nós.

Quantas bolas representam a raiz terceira (raiz cúbica) de 25 bolas? Pela matemática: que número multiplicado por ele mesmo e o resultado multiplicado pelo número novamente dá como resultado 25? Para simplificar, representa-se isso por nxnxn, ou n3, caso contrário gastaríamos aqui uma página só para definir a raiz décima de um número n, que é melhor representado por n10. Então n3=25. Um pouquinho de cálculo nos diz que é verdade que esse número está entre 2 e 3. Vamos supor que temos 27 em vez de 25. É verdade que a raiz é 3: ¨¨¨ 3 vezes dá 9 ¨: ¨¨¨ ¨¨¨ ¨¨¨ e ¨¨¨ ¨¨¨ ¨¨¨ 3 vezes dá 27: ¨¨¨¨¨¨¨¨¨ ¨¨¨¨¨¨¨¨¨ ¨¨¨¨¨¨¨¨¨. Se em vez de n=3 usarmos n=2, teremos como resultado 8. Então, a raiz de 25 está entre 2 e 3. Isto é uma verdade. O valor é, aproximadamente, 2,9241 (mais exatamente  2,924017738213). Mas, como “ver “isso? Quantas bolas são 2,9241 bolas? Mais, como “ver” que 2,9241 bolas 2,9241 vezes, multiplicado por 2,9241 se transformam em 25 bolas? Será que é necessário ver para crer?

Ora, 2,9241 bolas não são 2 bolas mais 0,9241 bolas. Por que? Porque qualquer coisa visível é inteira. 2,9241 bolas são 2 bolas do mesmo tamanho ou tem uma maior que a outra, mas são apenas duas bolas. Mas, se você montar um cubo com estas bolas você vai ter 25 bolas. Porém, um cubo com 2 bolas resulta 8 bolas! Então 2 é diferente de 2!!! O que é isto? Temos aí uma qualidade não notada: quantidade (2) e tamanho (2,9241). São duas coisas diferentes. Se confundem quando quantidade=tamanho. Deu pra “ver”? Vamos ver mais: 31 bolas são 3 grupos com 1 bola cada (total=3); 32 bolas são 3 grupos com 3 bolas cada (total=9); 33 bolas são 3 grupos com 9 bolas cada (total=27); 34 bolas são 3 grupos com 27 bolas cada (total=81); 3n bolas são 3 grupos com 3(n-1) bolas cada (total=3x3(n-1)). E a raiz enésima (primeira, segunda [quadrada], terceira [cúbica], quarta, quinta, etc.) da quantidade 3n é sempre 3! Dá pra “ver”, não dá?

20 laranjas + 5 laranjas resultam em 25 laranjas. Dá para comprovar (basta contar de novo). É fato. É verdade. 5x5 laranjas, idem. É fato. É verdade.

5 laranjas é a raiz de 25 laranjas se eu conseguir montar um quadrado contendo 5 laranjas em cada um de seus lados. Aqui há uma condição: Se um quadrado é formado por 25 laranjas (dá pra ver) e o quadrado é perfeito então cada lado contém 5 laranjas (e 5 é a raiz). Quando falamos em quadrado perfeito estamos falando de quantidade, não da forma: 25 laranjas fazem um quadrado perfeito na forma, mas 25 bananas também faz um quadrado perfeito não na forma.

O problema do ver para crer em relação à operação raiz é que tem pouco uso prático, diferentemente da soma e subtração. Se você tem um lote de 25 vacas bem gordinhas, quase redondinhas, agrupadas formando um quadrado perfeito, qual seria a utilidade de se saber que quaisquer 5 vacas significam a raiz das 25 vacas?

Não importa, o importante é notar que, partindo de uma regra (um quadrado contém n2 objetos) mais um fato comprovável (o quadrado é perfeito) podemos concluir outro fato comprovável, uma verdade.

Então, tudo que é fato é verdade. Mas o é para todas as pessoas?

Todo fato que afeta nossos sentidos materiais é uma verdade, é um fato material (tomando a causa pelo efeito), então TUDO QUE É FATO MATERIAL É VERDADE (alguma dúvida?).

Um fato material afeta todas as pessoas no local onde o fato está ocorrendo? Não, pode afetar apenas uma pessoa: se eu estou com dor de cabeça isso é um fato para mim, é uma verdade para mim, mas não é um fato para os demais, eles não estão sentindo a dor de cabeça, por isso para eles pode não ser uma verdade. Se estou triste isto é um fato para mim, é uma verdade. Alguém que me vê, nesse momento, pela primeira vez não notará o fato, portanto, para ele, não é uma verdade.

O que é a verdade então? É algo coletivo ou algo individual? Pode ser as duas coisas, ou uma só se individualizarmos a coletividade. Quem ficar de fora do grupo tem todo o direito de duvidar, mas isso não significa que não seja verdade. Um fato que afetar toda a humanidade simultaneamente vai ser verdade para todos. Se afetar apenas um grupo (com 1 ou mundo– 1indivíduos) vai ser verdade apenas para aquele grupo.

Então a verdade é relativa? Sim e não! Sim porque o que é verdade para uns (que foram afetados) não é verdade para outros (que não foram afetados); não, ou seja, ela é absoluta porque o fato ocorreu para um grupo de pessoas e não ocorreu para o resto por algum motivo: estas pessoas não estavam presentes, elas não foram “escolhidas”. Agora, devemos duvidar do que não nos afetou? Absolutamente não, relativamente sim, pois vai depender de nosso conhecimento em relação aos envolvidos e do nosso próprio discernimento. Por que quanto menor for o grupo de afetados mais temos tendência em duvidar? Porque achamos que é mais fácil uma única pessoa ser afetada por um fato do que um grupo maior. Ora, há um contra-senso aqui: ao mesmo tempo que admitimos que o fato pode ter ocorrido com aquele indivíduo também admitimos que ele não está falando a verdade! Ah não, estamos falando de um fato interno ao indivíduo e não de um fato externo a ele. Ele teve uma alucinação (algo que está na memória mas que parece estar entrando pelos sentidos materiais), já que as pessoas que estavam perto não foram afetadas. Elas não viram o que ele diz que viu ou elas viram o que ele diz que não viu ou não fez. Então, nesse caso, elas são “testemunhas” a favor ou contra ele. Bom, alucinações podem ocorrer, são fatos e, portanto, são verdades para quem as experimentam. Se o indivíduo diz que não fez uma coisa que um grupo diz que ele fez, quem está com a verdade? O grupo não pode ter tido uma alucinação também? Sim, pode. Então, o grupo está com a verdade (sua verdade), mas também o indivíduo está com a verdade (sua verdade). Como resolver isto? Apenas uma possibilidade: um deles está errado (não significa absolutamente estar mentindo). Nesse caso, o jeito de resolver é, partindo do fato resultante, ir em todas as direções selecionando verdades (fatos que podem ter acontecido) que, em sentido contrário, levariam ao fato resultante. O problema é que as possibilidades aumentam tanto que fica impossível selecionar apenas uma, a chamada verdade verdadeira. Por isso existem muitos crimes, por exemplo, sem solução. O máximo que se consegue é um acúmulo de suspeitas sobre um indivíduo de tal maneira que ele se torna 99.999% (nunca 100%, mesmo se ele confessar, pois pode ser uma alucinação!) culpado.

Voltemos à questão do grupo cujos sentidos materiais são afetados por um fato. Vamos para dentro do grupo agora. Façamos a pergunta: O que seria um fato não-material? Ele poderia afetar nossos sentidos materiais? Poderia afetar nossos sentidos não-materiais (vontade, intuição, etc.)?

Vejamos:

Um fato material: a chuva (tomando a causa pelo efeito). Podemos vê-la, senti-la, ouvi-la. Afeta nossos sentidos materiais. É verdade para quem está sendo afetado.

Outro fato material (de novo tomando a causa pelo efeito): uma tristeza que nos invade (de onde veio?) e nos faz chorar (nos afeta materialmente e não-materialmente) e ficar sem vontade (afetou um sentido não-material) e desvia nossos pensamentos (afetou outro sentido não-material).

O que aconteceu aqui? Acabamos de destruir o “fato material” que, por definição, é aquilo que afeta nossos sentidos materiais apenas. Portanto, não vamos mais tomar a causa pelo efeito (ou seja, usar o efeito como se fosse causa) e, em vez de dizer “fato material” diremos apenas “fato”. Isto nos força a considerar a existência de fatos não-materiais ou, simplesmente, fatos.

Outro fato: os sonhos. Não é preciso dizer que eles afetam todos os nossos mais que cinco sentidos. Por eles vemos, sentimos contato, sentimos gosto, ouvimos, sentimos cheiro, alteramos nossa vontade e mudamos nossa intuição. Por eles concluímos que temos, no mínimo, 12 sentidos.

Outro fato: o pensamento.

Creio que ninguém duvida que os fatos acima sejam verdade. A pergunta agora é: O que não é fato não é verdade? Ora, se não é fato não aconteceu, se não aconteceu não é verdade. Conclusão: VERDADE É FATO e FATO É VERDADE. Se um fato não ocorreu temos uma não-verdade (isto é diferente de mentira. Mentira só se aplica a pessoas pois é necessário a elaboração de um pensamento para simular um fato. Se pareceu que ia chover e não choveu o tempo não mentiu). A distorção de um fato é também uma não-verdade, o que implica que um fato distorcido é um fato que não ocorreu, portanto não é um fato. Vê-se que de uma única verdade podemos obter várias não-verdades e estas últimas nunca serão uma verdade. Por exemplo, se foi Pedro que matou João mas estão dizendo que foi o José que matou o João, mesmo que José tenha matado Carlos, não tem como o “fato” José matou João ser verdadeiro. Isso se deve ao fato de a verdade (um fato) ter um lugar no tempo e no espaço.

O que ainda não é fato pode ser verdade? Sim, desde que não seja fato para alguém e que tenha sido fato para outro; não, pois não existe verdade sem fato e vice-versa.

Se você tomar veneno você morre: verdade. Se veneno mata e você tomar veneno então você morre. Isso é lógica! Aqui, ou houve um fato no passado ou a Ciência provou que mata, através de experiências (fatos). A VERDADE É CONSEQUÊNCIA DE UM FATO.

Se x causa ação e x ocorre no meio que ele afeta então a ação ocorre. Se tem base e um fato que leva à base ocorrer então a base será comprovada.

O QUE É A LÓGICA? Um fato tem lógica? A lógica leva a um fato? A lógica é construída sobre fatos? A lógica leva à verdade? Tudo que é lógico é verdadeiro?

Podemos definir a lógica como uma sequência normalmente curta de raciocínios que, partindo de uma base, um fundamento, leva a uma conclusão única. Essa conclusão é sempre uma verdade dentro do contexto do raciocínio.

A lógica tem que partir de uma base, de um fato comprovado, de uma verdade para chegar a uma conclusão que pode vir a ser um fato e, portanto, uma verdade. Algumas bases não precisam de comprovação pois são evidentes demais. Por exemplo: ninguém pode estar em dois lugares simultaneamente (no tempo e no espaço), então, se João estava nos EUA na hora em que Pedro foi morto no Brasil então João não matou Pedro. Até onde se sabe, não é possível alguém atingir outrem estando ambos separados por uma distância de mais de 5 mil quilômetros, com cidades e montanhas no meio do caminho.

Mais:

Se veneno mata e você toma veneno então você morre.

Base: veneno mata

Fato: tomou veneno

Verdade: morreu (fato)

Se você toma veneno e veneno mata então você morre.

Não modificou o exemplo 1, apenas o Fato veio antes da Base.

Se você morreu e você tomou veneno então veneno mata.

Fato: morreu

Fato: tomou veneno

Conclusão: veneno mata (?)

Se você morreu e veneno mata então você tomou veneno.

Fato: morreu

Base: veneno mata

Conclusão: tomou veneno (?)

Por que o exemplo 3 está fraco e o exemplo 4 está mais fraco ainda, em termos de lógica? Por que os exemplos 1 e 2 não deixam dúvidas e ficamos em dúvida se veneno mata (no exemplo 3) e em você tomou veneno (no exemplo 4)? O porque está na Base, no ponto de partida, ela tem que ser uma regra geral, ou seja, ser única, excluir outras possibilidades que causariam o fato. No exemplo 3 pode ter sido o veneno ou não a causa da morte. Apesar do fato de você ter tomado veneno e morreu, não dá para concluir que veneno mata. A causa pode ter sido outra.

No exemplo 4 não dá para concluir que você tomou veneno porque não é só veneno que leva à morte.

Vamos tentar consertar os exemplos 3 e 4?

Se você morreu e você tomou veneno e nada mais te prejudicou então veneno mata.

Fato: morreu

Fato: tomou veneno e nada mais prejudicou (causou a morte)

Conclusão: veneno mata

Se você morreu e veneno mata e nada mais te prejudicou então você tomou veneno.

Fato: morreu e nada mais prejudicou

Base: veneno mata

Conclusão: tomou veneno (?)

O exemplo 3 foi consertado. Conseguimos unificar a Base. Mas o exemplo 4 não pôde ser consertado da mesma maneira. Por que? Porque não existe uma relação única entre a base e o fato “morreu”. No exemplo 3a fortalecemos a relação dizendo que a única coisa que poderia te matar é o veneno (o veneno se tornou o único suspeito), e o fato de você tê-lo tomado confirmou a base.

Então, a base tem que ter sido confirmada por um fato anterior, ou seja, ser verdade; o fato (conclusão) tem que ser o único fator que confirma a base.

Vamos agora melhorar nossa definição de lógica:

A lógica é uma sequência normalmente curta de raciocínios que, partindo de uma verdade confirmada por um fato condicional (uma verdade se o fato ocorrer) leva a outro fato (outra verdade).

Vamos tentar arrumar o 4 novamente:

Se você morreu e veneno mata e a única coisa que poderia te matar é veneno então você tomou veneno.

Fato: morreu

Base: veneno mata e só veneno pode matar

Conclusão: tomou veneno

Melhorou bastante. Veja que aqui afastamos todos os outros fatores que poderiam causar a morte, quaisquer que fossem. Estamos dizendo que você era imortal, exceto pelo veneno. Veja também que construímos tudo sobre fatos, verdades (no contexto).

Vamos tentar definir a lógica mais uma vez:

A lógica é uma sequência normalmente curta de raciocínios que, partindo de uma verdade confirmada por outra verdade leva a uma verdade.

Existe lógica sem fatos ou a lógica é construída sobre fatos?

Vamos ver um pouco de lógica matemática.

Se A é menor que B e B é menor que C então A é menor que C.

Isso em si não é um fato, mas é fácil transformá-lo em fato porque é algo “visível”, palpável, é algo que se impõe à nossa razão.

Se A é menor que B e B é maior que C então A? C.

Aqui já fica bem mais complicado. Já não é tão visível, palpável.

A é maior que C? Pode ser. Não há como saber.

A é igual a C? idem, idem.

A é menor que C? idem, idem.

Por que ficou complicado? Porque a relação entre A, B e C não mais é direta. Isso é necessário em comparações.

Se A é menor que B e B é igual a C, então A é menor que C. Alguma dúvida?

Se 1 mais 2 é igual a 3 e 3 mais 4 é igual a 7 então 7 mais 8 é igual a 17.

Sim, 17. Alguma dúvida? O raciocínio tem lógica? É verdade? Não, não é verdade porque sabemos que 7+8=15. Portanto, o raciocínio não tem lógica.

Pois vamos transformá-lo em verdade, fazer com que ele tenha lógica! Como?

Mudando algo que está escondido no raciocínio: a base de numeração decimal. Vamos alterá-lo para a base de numeração octal e o raciocínio se torna lógico e verdadeiro. É claro que o caracter 8 não existe na base octal mas seu valor oito sim, e é representado por 10 (um-zero).

Interessante, quer dizer que o que parece não ter lógica pode ter? Um raciocínio matemático é sempre lógico? Qualquer raciocínio é lógico se os fatos envolvidos são verdadeiros.

Vamos ver mais algumas sequências de raciocínios lógicos e separar os fatos:

1-Se fogo é quente e o Sol é quente então o Sol é fogo.

Base: fogo é quente (verdade absoluta)

Fato: Sol é quente (verdade absoluta)

Conclusão: Sol é fogo (verdade)

2-Se eu entendo Português e Pedro está falando Português então eu entendo o que Pedro está falando.

Base: eu entendo Português (verdade suposta no raciocínio)

Fato: Pedro está falando Português (verdade confirmável por quem entende Português)

Conclusão: entendo Pedro (verdade derivada da Base e do primeiro fato)

3-Se eu SÓ entendo Português e Pedro é português então eu entendo o que Pedro fala.

Base: eu só entendo Português (verdade suposta no raciocínio).

Fato: Pedro é português (verdade suposta no raciocínio)

Conclusão: entendo o que Pedro fala (verdade apenas quando Pedro fala Português)

4-Se toda bola é redonda e a Terra é redonda então a Terra é uma bola.

Base: toda bola é redonda (verdade absoluta)

Fato: a Terra é redonda (verdade absoluta)

Conclusão: a Terra é uma bola (verdade)

5-Se a Terra é redonda e a bola é redonda então a bola é um planeta.

Base: a Terra é redonda (verdade absoluta)

Fato: a bola é redonda (verdade absoluta)

Conclusão: a bola é um planeta (falso)

6-Se apenas planetas são redondos e a bola é redonda então a bola é um planeta.

Base: Apenas planetas são redondos (verdade suposta pelo raciocínio)

Fato: a bola é redonda (verdade absoluta)

Conclusão: a bola é um planeta (verdade)

7-Se planetas não existem na Terra e a bola é um planeta então a bola não existe na Terra.

Base: planetas não existem na Terra (verdade absoluta)

Fato: a bola é um planeta (verdade suposta pelo raciocínio)

Conclusão: a bola não existe na Terra (verdade)

8-Se todo objeto amarelo é ouro e a gema de ovo é amarela então a gema de ovo é ouro.

Base: todo objeto amarelo é ouro (verdade suposta pelo raciocínio)

Fato: a gema do ovo é amarela (verdade absoluta)

Conclusão: a gema do ovo é ouro (verdade relativa).

9-Se água molha e o pano está molhado então o pano contém água.

Base: água molha (verdade absoluta)

Fato: o pano está molhado (verdade suposta)

Conclusão: o pano contém água (?!)

10-Se apenas água molha e o pano está molhado então o pano contém água.

Base: apenas água molha (verdade suposta)

Fato: o pano está molhado (verdade suposta)

Conclusão: o pano contém água (verdade)

11-Se tudo que excita nossos olhos (ato de ver) é material e a luz excita nossos olhos então a luz é matéria.

Base: tudo que excita nossos olhos é material (verdade suposta)

Fato: a luz excita nossos olhos (verdade)

Conclusão: a luz é matéria (verdade)

O que podemos concluir de 8 acima?: NEM TODA VERDADE LÓGICA É UMA VERDADE ABSOLUTA.

Nos exemplos 6 e 10 podemos concluir que uma restrição pode levar a uma verdade, apesar de, no geral, a base ser falsa.

O exemplo 5 é interessante. Duas verdades levando à uma conclusão falsa. Por que? Porque a característica “planeta” da Terra não se aplica à bola, enquanto que a característica “bola” (ser redondo) da bola se aplica à Terra no exemplo 4. É o mesmo que modificar esse exemplo para ler: Se a bola é redonda e a Terra é redonda então a Terra é um brinquedo.

Vamos tentar uma nova definição para a lógica:

Uma sequência normalmente curta de raciocínios que, partindo de uma regra geral ou premissa (o que chamamos de Base), verdadeira ou não, e com base num fato (chamado de premissa menor) leva a uma conclusão única.

Agora vamos tentar responder as perguntas do início do capítulo:

Um fato tem lógica? Sim, pois todo fato é uma verdade, é algo que aconteceu, e é efeito de outras verdades. Portanto, todo fato tem lógica.

A lógica leva a um fato? Não. Se a conclusão for falsa não haverá um fato.

A lógica é construída sobre fatos? Não.

A lógica leva à verdade? Depende da premissa.

Tudo que é lógico é verdadeiro? Não.

Agora, a fé tem lógica? Sim se existir uma premissa verdadeira. Se você jogou na mega-sena esta semana e tem fé que vai ganhar então sua fé tem lógica; se você não jogou então a base não existe e, sua fé de que vai ganhar, não tem lógica.

A boa-fé tem lógica? Sim, sempre, pois a base existe e claramente se deriva do fato da boa-fé.

Vamos ver outras verdades com base na lógica:

Se descendemos de pais sem pais e nada surge do nada então algo criou nossos pais.

Premissa Verdadeira: descendemos de pais sem pais (Alguma dúvida? Arrume pais para eles e você terá um novo casal sem pais; tente de novo!)

Fato: nada surge do nada (uma coisa não pode vir do nada).

Conclusão: algo (ou alguém) criou nossos pais.

Esse “algo” ou alguém pode ser:

  1. Uma bactéria, da qual nossos pais evoluíram (quem criou a bactéria?)
  2. A água, da qual nossos pais surgiram.
  3. Uma força inteligente, que criou nossos pais com elementos da natureza.

O que seria necessário para uma bactéria evoluir para um ser humano? Das duas uma: ou ela já era um ser humano informe e portanto não era uma bactéria como a conhecemos hoje ou alguma coisa externa a ela lhe adicionou atributos. De qualquer hipótese que partirmos vamos cair na letra c.

Se nossos pais foram criados da água, não o foi pelo simples encontro, mistura ao acaso, das substâncias existentes no mar, ou nos rios, ou na chuva, caso contrário estaria acontecendo até hoje, ou de vez em quando. Como assim não é caímos, de novo, na letra c. Resta então saber que força inteligente foi essa.

Brasilio – Março a Outubro/2000.