O QUE É A TIMIDEZ

A timidez é filha do medo. Medo do que eu vou pensar de mim mesmo ou o que os outros vão pensar de mim quando eu tentar, e até mesmo pensar em tentar, executar uma ação que eu possa perceber ou que os outros possam perceber.

O tímido se biparte e cria uma imagem de si mesmo que, estranhamente, não é tímida. Pelo contrário, é alguém autoritário, policiador. Ele cria esta mesma imagem em relação à sociedade, só que, nesse caso, a imagem, apesar de única, não é única em sua formação: são todos em um. Ele não tem receio de alguém, especificamente, o censurar, como acontece no primeiro caso, mas sim de alguém único, que é, ao mesmo tempo, todos. Ou seja, é alguém que não existe.

Na verdade, ele pega seu “policial” e coloca-o no “grupo censor”, diluindo-o no grupo e transformando tudo num único censor.

Em resumo, o problema do tímido é consigo mesmo. É fácil ver que a causa primária da timidez é o policial que ele mesmo cria e a quem se submete.

Imagine o tímido numa roda em reunião em que cada um deve dizer o próprio nome e falar um pouco de si mesmo. À medida que vai se aproximando a vez dele o coração começa a bater mais rapidamente, o que ele tinha decorado na memória para falar começa a se apagar, a se embaralhar. Por que? Porque ele acha que tem que ser o melhor a falar, para que todos o observem e depois o aplaudam. Mas, é justamente esta possibilidade que destrói tudo o que ele construiu, porque ele não merece, ele tem que ser criticado, as pessoas têm que rir dele. Não há como sair disso, sem enfrentar todas as possibilidades.

Imagine o tímido ser obrigado a falar para uma plateia, e com um papel na mão, que deve ser lido. Ele gagueja, o papel treme, ele sua frio. E, percebendo tudo isso, ele faz seu censor crescer e a bola de neve começa a rolar e a crescer.

Imagine o tímido ser obrigado a falar com alguém que a sociedade considera muito importante. Ele se sente inversamente importante. Não sabe o que dizer. Ora, diga um “oi” e saia para outro lugar, e não pense mais nisso.

Imagine o tímido, em público, vendo alguém do sexo oposto se aproximando, com a clara intenção de falar com ele, chegando às raias da intimidade. Ele não acha que merece. Então se posiciona como acha que a outra pessoa deveria se posicionar. Ela se vai e ele a culpa e se culpa: ninguém gosta de mim mesmo. Ora, basta que você se goste.

Não existe o 100% tímido e nem o 100% não tímido. Timidez faz parte de nossa natureza, principalmente porque não conhecemos tudo. Quando alguém, conhecido como não sendo tímido, se vê encurralado numa situação em que nunca esteve, principalmente quando se trata de conhecimento sobre algum assunto, sua timidez aparece.

Temos a necessidade do crescer, do saber, mas não temos tempo suficiente para crescer e para saber tudo. Uns vão mais rápido, outros vão mais devagar. Do lado oposto vêm as situações, atingindo uns mais rapidamente que outros.

Se estamos sozinhos diante da situação, automaticamente começamos a pensar. Isso é aprender, é crescer, é ir em frente. Mas se estamos com alguém com quem queremos empatar em importância (importância essa um pouco aumentada por nós mesmos, de tal modo que não a alcancemos), nos tornamos tímidos, o que nos diminui e aumenta mais ainda a importância da outra pessoa que, de repente, nada sabe daquilo também. E melhor: pode nos esclarecer. Nos dois casos você consegue o empate que queria.

Olhe para tua timidez como algo que te empurra para a frente e não em algo que te puxa para trás, que te segura ou impede. Ela não faz isso, você o faz. Ela não apareceu do nada, você a criou ou, no mínimo, a aumentou porque achava que certas coisas você já deveria saber sem ter feito nenhum esforço para isso.

Nada vem sem esforço, nem mesmo as coisas negativas, como a timidez exacerbada.

Na próxima vez que você for tímido diante de uma situação, páre de se culpar e culpar outros e outras coisas e faça apenas isso: analise porque você ficou tímido diante da situação. Apenas a reviva de novo, porém se bipartindo em ator e observador. É o que basta. Se você se acostumar a fazer isso para cada situação, um dia vai chegar que você parou de fazer isso e você nem vai perceber. Simplesmente porque não haverá nada para ser analisado, pensado.

Tua timidez terá caído para níveis que apenas você perceberá. Isso é suficiente para te manter indo sempre em frente na vida, no crescimento e no conhecimento. E mais importante, não importa quem e quantos estejam a teu lado, você vai parar e pensar diante de uma nova situação.

Brasilio/2006.