O QUE É A MORTE II

Para quem morreu, tanto faz se os que lhe eram mais chegados chorem ou comemorem. É a mesma coisa de chorar ou comemorar por um motivo inexistente.

Ele não vai perceber nada, porque já não existe mais. Só a imagem dele formada nas nossas cabeças vai perceber algo. A imagem é dele, mas, a alma é nossa. Então, forçamos ele (a imagem) a ficar triste e querer que choremos.

Choramos alguém que se foi porque é como se um pedaço de nós fosse embora para sempre. Mas, isso acontece toda hora e não sentimos tanto: pensamentos que fazem parte de nós por alguns instantes, planos, etc. se vão e não sentimos.

Não sentimos porque são coisas que não vemos, com as quais não interagimos. São coisas intocáveis.

Um brasileiro que nunca esteve na Austrália não vai sentir a morte de um australiano, pois, este será como um pensamento fugidio. Também, não sente as mortes diárias em sua cidade, no seu bairro, na sua rua, na casa ao lado da sua.

Esse é o ponto de vista de quem fica vivo. E qual é o ponto de vista de quem morre?

O que ele sente no instante T -1s? Afinal de contas, ele está perdendo alguém muito, mas, muito próximo dele.

Eu posso me tocar, me sentir, interagir comigo a cada instante. Como me sentirei no instante T -1s? Eu choro a minha perda ou sinto medo?

Naquele 1s não choro minha perda e nem sinto medo. Talvez fique curioso. Talvez eu sinta um grande alivio.

E se eu pensar naqueles que vou deixar? Afinal, de certa forma eu os estou perdendo.

Choro ou não?

É estranho que, ao mesmo tempo que temos medo da morte, não nos preocupamos muito com ela, apesar de sabermos que ela virá, mais cedo ou mais tarde.

A única coisa certa na vida é a morte. Porém, como podemos imaginar a eternidade enquanto vivos, desejamos, ardentemente, chegar lá vivos. Como achamos que a morte vai interromper essa possibilidade de alcançarmos a eternidade, nós a abominamos e ela nos choca sempre.

A questão é que a morte pode ser a porta de entrada para a eternidade, mas, não podemos saber disso antes de passarmos por esta porta.

É a mente que comanda o corpo, seja o corpo físico que anda sobre a terra ou o corpo psíquico que anda nos sonhos e no pensamento.

Sabemos que o corpo morre e se desintegra, mas, não sabemos se isso ocorre com a mente, pois, podemos sempre interagir com os corpos, mas, nem sempre com as mentes externas a nós. Cada um pode interagir, SEMPRE, com sua própria mente.

Esses três FATOS nos desautoriza a afirmar que quem se foi desapareceu para sempre. Apenas aquele que atravessa aquela porta encontrará a verdade. De qualquer maneira, ele não mais temerá a morte.

Há 3 possibilidades:

1)      Você morre em corpo e mente. A eternidade é o nada. Então, para que desejá-la? Acabou o motivo para temer a morte.

2)      Cada um continuará interagindo apenas consigo mesmo. A eternidade é a solidão. Quem vai querer desejá-la? Melhor arrumar outro motivo para temer a morte.

3)      Você continuará interagindo consigo mesmo e, algumas vezes, conseguirá interagir com mentes externas a você. A eternidade está aqui e é o agora, a cada instante. Não há motivos para temer a morte.

Brasilio – Abril/2014.