O QUE É A MENTE

 

Qual é a diferença entre mente e pensamento? Por que temos a impressão que a mente é um lugar em nossa cabeça? Será que a mente nos controla ou somos nós que a controlamos? Por que tratamos a mente como se fosse uma “pessoa” à parte?

A diferença que fazemos entre mente e pensamento é a mesma que fazemos entre uma emissora de rádio e as ondas emitidas por esta emissora. Mas será que existe mesmo esta diferença? Podemos usar a mente sem pensar? Podemos pensar sem usar a mente? Ora, qualquer coisa que você pensa você está mentalizando, seja uma imagem ou seja uma sequência de raciocínios. Então pensar é mentalizar (mesmo que seja por um segundo) e mentalizar é pensar. Concluímos então que o pensamento não pode existir sem a mente, ou seja, não é possível pensar sem usar a mente. Agora, a rádio emissora pode existir sem a ondas que deveria emitir? Até pode, mas qual seria a utilidade dela? Do mesmo modo, qual seria a utilidade da mente sem o pensamento? Não há como usar a mente sem pensar, pois o pensamento é a força da mente.

A mente não é um lugar na nossa cabeça, pois a mente é uma função, ela não é como uma emissora de rádio. Veremos porque mais adiante.

A mente nos controla? Controlamos a mente? Não há sentido em dizer isso. Primeiro porque já dissemos que a mente é uma função; segundo porque estaríamos admitindo que temos, no mínimo, duas personalidades. É aqui que às vezes tratamos a mente como uma pessoa à parte. Isso realmente é muito forte. Muitas vezes é um pensamento que “martela” (a chamada “inner-voice”), aparentemente sem o nosso controle; ou aquela música que você ouviu e que “continua tocando” na sua cabeça mesmo quando você está pensando em outras coisas e, estranho, de repente você começa a cantarolá-la como se ela te forçasse a isso. E, mais estranho ainda, no mesmo instante uma pessoa a seu lado começa também a cantarolar a mesma música! Isso é até muito comum, acontece também com expressões, quando duas pessoas falam simultaneamente a mesma coisa, normalmente uma expressão curta (mais comum dentro do contexto que ambas as pessoas estão, mas muitas vezes nada tendo a ver com o contexto). São nesses casos que temos a sensação que há alguém mais dentro de nós (ou será que está fora?), e com força suficiente para controlar também o pensamento de outra pessoa.

Por que temos essa sensação? É como se nosso cérebro tivesse mais que um centro de pensamento. Ora, a maioria das pessoas é capaz de executar uma tarefa (ir de casa ao supermercado, por exemplo) enquanto pensa em coisas que nada tem a ver com andar ou supermercados. Os sentidos estão recebendo informações e estas são processadas para direcionar as ações (por exemplo, parar quando o sinal fechar e andar quando ele abrir) enquanto outra parte está processando os pensamentos, que podem até resultar em uma ação também. Agora, como é possível andar sem pensar em como andar? Quando estamos andando estamos pensando em “como andar” ou não? Parece que não, né? Como você aprendeu a andar? Difícil lembrar, pois você era um bebê. Então, como você aprendeu a andar de bicicleta (supondo que você sabe)?

Veja que exige mais do que dirigir um carro! Você subiu na bicicleta e começou a pensar como foi difícil a prova de matemática do dia anterior?

Claro que não, você concentrou todo o seu pensamento no pedalar, no não cair, no que estava à sua frente, no que vinha atrás de você. Mais: você não se mentalizou andando de bicicleta. Pode até ter “sonhado”, mas não foi uma mentalização insistente. Foi uma luta. Foi um aprendizado, muitas informações entrando, muitas informações saindo, muitos pensamentos (todos tendo a ver com o que você estava fazendo – todos naquele contexto). Não havia como pensar na prova de matemática. Talvez até estes pensamentos tentassem te invadir, mas você os rechaçava automaticamente. Se você não os rechaçasse, no minuto seguinte um pensamento que estaria te invadindo era o de como curar o braço esfolado devido ao tombo consequente da quebra da concentração.

Bom, você aprendeu. Dias depois está indo da escola para casa pedalando sua bicicleta, virando esquinas, desviando de obstáculos e pensando, desde que saiu da Escola, nas questões da prova de Química, repassando uma a uma para ver se deu a resposta certa. O que aconteceu? Como é que agora você pode andar de bicicleta sem se concentrar nisso? Por que ficou "automatizado”?

Vamos fazer uma inversão: Cada prova na Escola será uma bicicleta e sua bicicleta será uma única prova. Neste exato momento você vai obter nota máxima na sua prova porque você a faz automaticamente, “sem pensar”. E quanto às bicicletas? Toda semana a professora entrega para você uma nova bicicleta para você aprender a andar, sendo sempre uma diferente da outra, com outras questões que você ainda não conhece, pois não tinha na bicicleta da semana passada. O que vai acontecer? Supondo que você seja um aluno aplicado, depois de várias semanas, no fim do período letivo, você aprendeu a andar em todas as bicicletas. Será que você automatizou? Se a bicicleta número 1 for entregue a você novamente você vai conseguir andar nela? E mais, você andando nela vai conseguir pensar em outras coisas ao mesmo tempo? Sim, você vai conseguir. Quaisquer das bicicletas que te forem apresentadas você vai conseguir pedalar. E quanto à “prova” que está lá na sua casa? Ah, não vai dar para fazer automaticamente, você vai ter que pensar! Por que? Qual é a diferença entre executar uma prova de matemática e executar um passeio de bicicleta, mesmo que a prova seja a mesma todos os dias?

Você a bicicleta; você a prova de matemática (com uma questão única, para simplificar); você começa a andar de bicicleta (processamento e ação); você começa a resolver a questão de matemática (processamento e, bem depois, ação de escrever a resposta). Interessante. Quem executa o processamento de andar de bicicleta? Sim, tem que existir alguma coisa, senão todos nasceríamos sabendo andar de bicicleta. Você diz que não executou este processamento. Então, algo em você executa! Se não é você, quem é? Bom, se você não executa conscientemente (como você faz a prova de matemática), então você executa inconscientemente. Não seria ótimo se você pudesse executar a prova de matemática assim também? Você acreditaria na resposta?

Ora, você não acredita que está andando de bicicleta? Pois bem, está resolvido: não é possível executar tarefas múltiplas sem pensar. E agora, maravilha das maravilhas: GASTO TEMPO PARA “PROCESSAR” A PROVA DE MATEMÁTICA E NÃO GASTO UM SEGUNDO SEQUER PARA “PROCESSAR” O ANDAR DE BICICLETA!!! Lá se foi a dimensão do tempo.

O tempo só existe na consciência! Eu já disse em outro trabalho que o tempo não existe absolutamente, ele é uma relação física (medida) ou uma sensação apenas.

Vimos também em outro trabalho que o consciente e o inconsciente são uma coisa só e que se manifestam através do cérebro. Portanto, o cérebro não tem vários centros de processamento, ele é apenas um meio (mídia).

Agora, por que fazendo prova de matemática você consegue pensar em outras coisas e aprendendo a andar de bicicleta você não consegue? E por que, no primeiro caso, se você bobear, acaba se dando mal por não ter feito a prova dentro do tempo (de novo?!) determinado e, no segundo caso, também pode se dar mal se começar a pensar em outras coisas? Qual é a diferença? Nenhuma, porque em ambos os casos você está usando o consciente. Mais tarde, depois que você aprendeu a pedalar, teremos uma diferença: você não mais se dará mal no segundo caso. Agora, nos dois casos você vai conseguir pensar em outras coisas, mas vai continuar se dando mal no primeiro. O segundo caso você entregou para a sua “segunda pessoa”, aquela que não conhece a dimensão do tempo, porque ele não existe para ela.

Que tal entregar também a prova de matemática para a sua “segunda-pessoa”? Será que alguém neste planeta consegue isso? Talvez. O que seria necessário para conseguir? Por que é difícil, se não impossível, para a maioria de nós? É difícil porque a nossa “segunda-pessoa” não faz análise e, se o faz, faz no tempo zero, utilizando sentidos especiais, tanto para os “inputs” quanto para os “outputs”, ou seja, você não gasta tempo para processar o “como andar de bicicleta”, mas gasta tempo para fazer a bicicleta se mover. O “input” é para os sentidos especiais do inconsciente; o “output” é para os sentidos comuns do consciente. Então, no caso da prova, o inconsciente tem que ler a questão e, imediatamente, passar a resposta para o consciente que, por sua vez, escreve ou fala a resposta (a princípio não existe diferença fisiológica entre escrever e falar, apenas os esforços são diferentes). Existem casos de pessoas que conseguiram isso, como multiplicar dois números grandes e dar a resposta logo que a pergunta é terminada. Mas, por que, mesmo que seja apenas uma questão na prova, sempre vai haver gasto de tempo no “input”? Por que isso não ocorre com a bicicleta? Talvez o processo “andar de bicicleta” tenha se tornado um símbolo para o inconsciente.

Vamos então transformar a questão de matemática (uma única questão, para simplificar) num símbolo, um quadradinho amarelo, por exemplo. Agora, quando você olhar para o quadrado a resposta à questão será dada num tempo mais curto (isso depois que você associou a questão ao símbolo, ou seja, depois que gastou algum tempo, como também gastou para absorver o processo de andar de bicicleta). Mas, mesmo aqui, há gasto de tempo para processar o quadradinho amarelo. O símbolo é ainda um símbolo do consciente! Imagine se for apresentado um círculo amarelo ou um quadrado verde.

Como é um símbolo no inconsciente? Ora, quando você vê a sua bicicleta (uma imagem entrou pelos seus olhos e “bateu” com uma imagem armazenada em sua memória, ou, uma imagem armazenada em sua memória – que você chama de ‘bicicleta’ – se adaptou à sua bicicleta) você sabe que pode pedalá-la, porque você aprendeu isso. Então, você tem que ver a bicicleta (seja com a visão ou com o tato).

Existe um processamento de “input”. Se você treinar algumas dezenas de vezes resolver uma prova com dez questões, de tal modo que você percebesse que a forma principal da prova não mudou (pode mudar a cor, a forma das letras, etc., mas nunca o enunciado, assim como a bicicleta pode mudar várias características mas o resultado final tem que permanecer como uma bicicleta), então, sempre que você a visse, as respostas de cada questão “pipocariam” instantaneamente. Foi criado o símbolo no inconsciente. Note que, quando você vê a bicicleta você não consegue pensar em nada naquele instante de tempo. Quando você vê a prova, idem. Porém, quando você está executando o pedalar, você consegue pensar em outras coisas. Mas quando as respostas da prova de matemática estão “pipocando” você não consegue pensar em outras coisas! O símbolo não ficou perfeito. O que pode estar errado? Nada está errado. Na verdade o inconsciente controla o pedalar. A influência do consciente se restringe a parar, desviar de um obstáculo, evitar uma emergência.

No caso da prova, se o inconsciente controlasse a saída (output) poderia ser desastroso, ou seja, você sairia do contexto do consciente, onde, pelo menos por enquanto, acontece a maioria das interações entre as pessoas. Ninguém será tachado de anormal (fora de contexto) se estiver pedalando e cantando ao mesmo tempo, mas o será se estiver cantando e começar a dizer resultados matemáticos sempre que olhar para um quadradinho amarelo.

Esse controle, ou autocontrole, é que nos deixa ver a beleza, a inteligência de nossa criação. De modo algum o acaso poderia ter criado isso.

Tudo o que você pode fazer inconscientemente te deixa “tempo” para pensar em outras coisas conscientes.

É possível fazer duas ou mais coisas inconscientemente ao mesmo tempo? E duas ou mais coisas conscientemente?

Algumas coisas que podemos fazer inconscientemente:

  • Andar de bicicleta
  • Tomar banho de chuveiro (na piscina, no mar, num rio você tem que ficar “mais ligado”).
  • Tomar um copo de água.
  • Tamborilar os dedos numa mesa.
  • Aguar o jardim.
  • Olhar as estrelas
  • Caminhar
  • Dormir

Algumas coisas que temos que fazer conscientemente:

  • Prova de matemática.
  • Descer do ônibus no ponto certo.
  • Saltar do trampolim da piscina.
  • Escrever uma carta.
  • Fritar um ovo.
  • Pagar uma compra.
  • Cirurgia em alguém.
  • Sexo (experimente fazer inconscientemente!!!)

Dentro de cada um dos grupos acima, quais podemos fazer juntas? Tomar um copo d’água olhando a estrelas. Ok, dá para juntar mais uma?

Note que no primeiro grupo cada item tem um grau variável de interferência do consciente.

De novo, o que é a mente? A mente é simplesmente a função exercida pelo pensamento nas suas mais fortes interações com a memória, tanto a memória consciente quanto a memória inconsciente. Em resumo, a mente é o pensamento mostrando sua força construtiva, seja essa construção positiva ou negativa.

O que é esta força mental? Como funciona? Como podemos usá-la?

Vou usar um exemplo que pode enrubescer algumas pessoas e até chocar outras, mas é algo extremamente real e muito natural. Acontece com a maioria das pessoas do sexo masculino, se não com todos.

Você pensa naquela mulher de seus sonhos. Mentaliza vocês conversando, jantando e depois indo para um motel. Ela tirando a roupa e depois vocês transando loucamente. Você pode variar essa mentalização com outras cenas, mas sempre na direção início-fim (em uma sequência lógica). O que acontece durante esta mentalização? Você tem uma ereção real e um líquido seminal começa a vazar. Agora, quem está controlando, ordenando que isso aconteça? Você está só mentalizando. Aparentemente você não está causando a ereção. A força do pensamento é que está fazendo isso! Por que ela não faz outra coisa, tipo curar uma dor?

Alguém diria: “Mentalizar coisas baixas, coisas negativas, realmente faz efeito”. Será? Por que?

Outros diriam: “Assim é porque o planeta está contaminado por mentalizações negativas. É um planeta atrasado.”

Ótimo, estão então admitindo que a comunhão de pensamentos é capaz de materializar coisas. Eu concordo. Isso é uma prova! Mas, não podemos mudar isso? Será que só o pensamento negativo realiza coisas? É mais fácil ser negativo ou aquilo faz parecer ser mais fácil?

Bom, comigo aconteceu o seguinte fato. Eu nunca tive um furúnculo na vida. Meu filho, quando tinha pouco mais de 4 anos de idade teve um bem grande na perna, sem razão aparente. Aliás, todas as vezes que ele ficava doente eu sentia toda a minha impotência, como muitos pais sentem nessas horas, principalmente quando sente a necessidade de fazer um milagre, uma mágica. Naquelas horas só me restava orar ou mentalizar (o que é a oração sem mentalização, sem sentir?). Então eu mentalizei aquele furúnculo saindo dele e passando para mim, simplesmente isso, sem localizá-lo em nenhuma parte específica de meu corpo, ou seja, em qualquer uma serviria, desde que saísse de meu filho. Coincidência ou não (acho que não), poucos dias depois um furúnculo começou a se formar na minha axila esquerda, enquanto o da perna de meu filho desaparecia. Alguém diria: “Ah, vocês foram expostos à mesma causa; alimentação, produto, inseto...”. Seria muita coincidência, pois, além de nem sempre estarmos na mesma situação, quando estávamos a mãe dele também estava, e ela era extremamente mais susceptível do que eu.

Agora, foi um pensamento negativo? Não. O efeito até que foi negativo para mim, mas não para ele, e isso é o que importava para mim.

Então, mentalizar causa um efeito material sim, não importa se a mentalização é de baixo nível ou de alto nível. Eis a força da mente. Cuidado!

Como causar efeitos realmente positivos? Ora, se os efeitos negativos, os pensamentos de baixo nível têm a participação de pensamentos de origem estranha a nós, porém de mesmo nível, então o mesmo vale para os pensamentos positivos. Basta praticar.

Por que é mais fácil se agarrar com os pensamentos negativos? Simples, porque a causa deles nos impressiona mais:  se algo que eu desejava tanto não acontece é porque eu sou um merda, não mereço, sou a pior pessoa do mundo; se estou com uma pequena dor de cabeça fico pensando que ela vai piorar, e piora; se alguém me maltrata, como que me jogando no chão, me levanto revidando ou maltratando outro ser que nada tem a ver com aquilo.

Sei que é difícil, por exemplo, ignorar uma dor de cabeça, mas a ideia não é ignorar, é exatamente o contrário. Em todos os casos citados, a idéia é ouvir uma voz lá no meio, é ler nas entrelinhas, é ver o lado bom: se aquilo que você esperava não aconteceu, o que pode ter sido a causa? Se a sua cabeça dói, o que você comeu (por exemplo) que pode ter causado a dor? Se alguém te maltratou, por que ele agiu assim? TUDO tem um motivo, e nem sempre você é o culpado. Se for, então é sua chance de se corrigir. Quando começamos a pensar por esse lado estaremos pensando positivamente e, com certeza, estaremos recebendo ajuda de estranhos a nós pensando no mesmo nível. Mas, essa “ajuda externa” tem um limite, e deve ser um limite sábio.

Quando foi descoberto, em 1997, que minha esposa tinha uma doença incurável nos pulmões (hipertensão primária), tentei usar a mesma estratégia que usei no caso do furúnculo de meu filho. Eu mentalizei os pulmões dela ficando sadios e os meus recebendo o mal. Fiz isso várias vezes, muitas em tom de oração. NÃO FUNCIONOU. Por que?

Lembro que alguns pensamentos me assaltavam: como ela era extremamente ativa, eficiente e capaz em tudo que fazia, eu achava que ela era muito mais habilitada do que eu para encaminhar nosso filho na vida, ou seja, era como se eu estivesse querendo fugir de uma responsabilidade que tinha que ser minha, como está sendo hoje (e acho que estou fazendo um bom trabalho).

Então, não espere que o seu pensamento positivo vai dar sempre o resultado esperado, principalmente se há risco de outro ser ou algo ser prejudicado, mas um resultado sempre ocorre: você se aproxima do objetivo, fica mais sábio, mais sensível.

Durante a vida, a mente se esconde no corpo; após a morte, o corpo se esconde na mente.

Brasilio – Outubro/2000.