O QUE É A MEMÓRIA I

Por que sobre a memória temos mais controle que sobre os sonhos? Por que a memória é impressionada igualmente pelos sonhos, pelos pensamentos e pelos cinco sentidos materiais? Onde fica a memória? Ela guarda uma informação completa ou pedaços? Se ela guarda pedaços, é possível inserir um pedaço que geraria uma informação completa, porém falsa? Ou seja, formar um registro de algo que nunca pensamos, sonhamos ou sentimos?

Quando estamos lendo um livro usamos a memória? Isto é, quando lemos, primeiro armazenamos na memória e depois interpretamos ou interpretamos e depois armazenamos na memória?

Tudo que está na nossa memória são coisas que vivenciamos ou, admitindo que ela guarda pedaços de informação, os pedaços de informação geram coisas que nunca vivenciamos? Nesse caso, por que não nos lembramos? Ou essas coisas só aparecem nos sonhos?

Se a memória reside em células cerebrais, como diz a Ciência, por que não a perdemos, já que as células estão sempre se renovando (morrendo e sendo substituídas)?

Como não revivemos uma mesma lembrança, só nos resta admitir que uma célula passa a memória para outra antes de morrer, isto é, a célula-filha herda a memória da célula-mãe. Tem lógica, já que a filha tem que ser cópia exata da mãe. E mais, já que o número de células é limitado, então a memória também é, o que significa que algumas lembranças serão apagadas para sempre. Mesmo que o cérebro seja constituído de bilhões de células, e nem todas têm função de memória, a lembrança de uma vida ocuparia quase todo o conjunto, a menos que cada célula seja uma memória completa.

Sabemos que não existe um critério para esse apagamento de lembranças; também, é impossível provar que esse apagamento é para sempre. É mais fácil admitir que ele não acontece.

Com o avanço da idade morrem mais células do que nascem, daí as falhas de memória nos velhos. Se morrem mais células do que nascem, então algumas não vão passar suas memórias adiante, mas, é impossível saber que memórias vão se perder. Algumas que pareciam perdidas aparecem de repente. É como se outras células começassem a trabalhar dobrado ou então a memória não fica nas células.

Na memória tem dois movimentos: entrada e saída. Quando um começa a falhar, o outro também está falhando, porque não pode haver entrada sem saída e nem saída sem entrada.

A memória se localiza no cérebro, assim como a manifestação de todos os nossos sentidos. A visão se manifesta no cérebro através dos olhos; a audição através dos ouvidos, e por aí vai com os demais sentidos. Qualquer um deles pode usar a memória ou não. Usam a memória automaticamente para fazer um reconhecimento, mesmo que esse reconhecimento tenha sido possibilitado por outro sentido diferente (um sentido percebe, armazena na memória e o outro sentido usa depois). Uma coisa é certa: Sem os sentidos não haveria memória.

Então, a memória é a manifestação de nossos sentidos e ela se manifesta no cérebro através deles. Então a memória precisa do cérebro para se manifestar. Se a memória tem dificuldade em se manifestar, então o defeito é do cérebro e não da memória. Estamos, então, desvinculando a memória do cérebro, separando-a dele, dizendo que ela é uma coisa e o cérebro é outra. Assim é, porque memória é o que está ocorrendo à nossa volta, são as vibrações que nos rodeiam e elas estão sempre nos impressionando.

Mas não concluímos onde se localiza a memória, no corpo ou fora dele? A única certeza que temos é que ela se manifesta através do corpo, estando nele ou não. Se ela está nele, não está fisicamente, pois precisaria estar fisicamente para passar de uma célula a outra, como a capacidade da visão está fisicamente nas células. Ora, dizer que ela não está fisicamente no corpo é dizer que ela não está no corpo! Onde está a memória então? Por aí, diluída no todo universal? Podemos dizer que sim, porque onde você estiver sua memória estará com você. E nesse caso ficamos com duas possibilidades:

1) Você é um transdutor especial capaz de recolher do todo universal apenas as suas lembranças ou

2) Você é mais que corpo, onde sua memória faz parte desse “mais que corpo”.

Sendo bem materialistas e admitindo a possibilidade 1, então você vibra na mesma frequência de suas lembranças, para captá-las, e nada é capaz de alterar essas vibrações, porque você tem a memória, qualquer que seja seu estado emocional. Mas essa vibração é inteligente, porque ela é objetiva, o que implica, por sua vez, que tem uma força controladora por trás dela, e essa força é mais que o corpo ou ela é essa própria força. Isso nos leva para a possibilidade 2 !!!

Concluímos então que a memória se localiza no nosso eu não-material.

Quem falou que temos mais controle sobre a memória que sobre os sonhos? Se assim fosse, os sonhos não ficariam em nossas memórias. A memória é impressionada sempre, a todo instante, por qualquer tipo de energia. Isso é fato.

Se a memória consegue reconstituir um fato, então ela guarda uma informação completa. Isso não significa que a informação seja verdadeira. A memória pode armazenar tanto verdades como mentiras.

Quando lemos um livro, basicamente usamos a memória três vezes: uma para reconhecer a linguagem escrita; outra para interpretar o que lemos; e uma outra para armazenar o que interpretamos. Esses passos são sequenciais. O sucesso em um leva ao outro. O fracasso em um bloqueia o acesso ao outro. Quando escrevemos, são envolvidos muitos mais passos e em outra ordem, porque também usamos o pensamento que, por sua vez, usa a memória. Na leitura também usamos o pensamento pois não podemos armazenar a informação se não a interpretarmos, e interpretar é pensar, comparar (pensar), imaginar (pensar). Quando escrevemos, fica mais claro que usamos o pensamento, mas é como se estivéssemos fazendo uma leitura de nossa memória, interpretando o que lemos (pensando) e passando para o papel (e ao mesmo tempo lendo de volta, interpretando e comparando).

E ao falar, usamos a memória? Assim como andar de bicicleta (para quem não sabe serve outro exemplo) se tornou um ato automatizado no consciente/inconsciente, falar ficou automatizado também. Para falar é preciso pensar. O pensamento forma a frase que "lemos" em voz alta quando falamos. Então, SIM, usamos a memória para falar.

A memória, como já dissemos, está sempre sendo impressionada por coisas que nossos sentidos materiais percebem e também por coisas que só nossos sentidos não-materiais percebem. Então, tudo que sai da memória, mesmo em sonhos, foi vivenciado de alguma forma. O que vemos em sonhos pode estar se manifestando apenas nos sonhos, pode não estar na memória, mas vai entrar nela.

Só para pensar, eis o que a Ciência tem a dizer (em itálico) sobre três fenômenos que envolvem a memória:

Sensação do Já-Visto (Déja Vu) à É algo que está entrando pelos sentidos, mas que parece estar saindo da memória. O entrando mostra uma velocidade que é menor que a velocidade do saindo. É como se a cena fosse fotografada, armazenada e, depois, começasse a ser percebida. Talvez seja um armazenamento num espaço de tempo igual a zero, mas, um pouquinho depois, a “memória dos sentidos” é apagada e, ao invés de olharem para fora, eles olhem para dentro.

Sensação do Jamais-Visto à O fato está na memória, mas, o mesmo fato entrando pelos sentidos não “bate” com o que está na memória. Isso parece implicar que tudo o que ainda vamos saber já está na memória, não parece? Pode ser que o mecanismo de busca da memória esteja emperrado (os dados não foram corrompidos, a leitura é que está falhando).

Alucinação à É algo que está na memória, mas que parece estar entrando pelos sentidos. É a memória fazendo uma transmissão para os centros superiores dos sentidos?!

Este é o mais difícil de explicar. É como ler a memória com os olhos ou com os ouvidos. É como tirar tua memória de dentro de você e te colocar dentro dela. Isso aponta fortemente para o fato de a memória não estar fisicamente no corpo.

Brasilio Jan/2000