O QUE É A IGNORÂNCIA

Aqui está uma palavra com vários sentidos. Pode-se usá-la para alguém que não sabe sobre algo (ignora aquilo), alguém estúpido (ignora os bons modos, conscientemente, na maioria das vezes), alguém complexado (ignora que pode melhorar), alguém egoísta (ignora conscientemente). Ignorar pode ser uma ação consciente ou independente da vontade.

Se ser ignorante é estar perto de uma qualidade, a que mais se aproxima disso é a falta de conhecimento sobre algum assunto de interesse geral. A falta de conhecimento de algumas leis, por exemplo, pode gerar o ignorante calmo e educado, mas, também o ignorante estúpido.

Aquela pessoa que ignora os bons modos e age com estupidez é a mesma coisa da pessoa complexada. Ela tenta se completar sendo estúpida, porque vê-se sempre inferiorizada e acha que agindo com estupidez, falta de educação, violência vai torná-la melhor. Estranho, ela busca ser melhor sendo pior. Ela erra duas vezes, agindo com estupidez e ficando cada vez mais estúpida querendo não ser nada disso. Essas pessoas costumam-se bipartir, criando uma outra pessoa, um ditador, que a cobra por não ser estúpida, por querer conseguir as coisas com educação. Quanto mais difícil parece para se conseguir algo por meios mais educados, mais violenta ela fica. O seu ditador a domina e cega completamente.

Na mesma categoria se encaixa os egoístas, porque uma coisa leva à outra. O estúpido vai ficando cada vez mais egoísta quando, de algum modo, ele consegue o que quer. E, o que ele quer só o quer para si mesmo. Isso vai alimentando o egoísmo e o egoísmo vai fazendo isso crescer.

Para encontrar todos os tipos de ignorantes, basta sair por aí pela cidade, seja a pé ou de transporte coletivo, onde há um exemplo atrás do outro, ou um exemplo contra o outro, para verem qual é a ignorância maior. Até em você mesmo, se olhar com cuidado, vai perceber momentos de ignorância, de todos os tipos citados acima, mas, principalmente o da falta de conhecimento.

Creio que todos os ignorantes, de qualquer tipo, são filhos da mesma “mãe”: a falta de conhecimento.

Eu vou para o trabalho de metrô, aqui em São Paulo. Pego-o na estação Jardim São Paulo e desço na estação Jabaquara. São quarenta minutos de observações em que vejo todo tipo de reação, sendo a ignorância (a forma ruim) a maioria. O trem que eu pegava da estação da Luz para Santo André também é cheio de exemplos.

Um comum aos dois transportes é quando o vagão está lotado. Quando o trem para numa plataforma de uma estação, tem centenas de pessoas aguardando para embarcar. À medida que o trem vai diminuindo a velocidade, mais elas se aproximam da beirada da plataforma. Quando ele para, elas se acumulam na porta como se fossem uma tampa de uma grande garrafa. A porta se abre. Elas não entram e quem quer sair não sai. Ou seja, pela ignorância de uma lei bastante comum da Física, eles mesmos se opõem ao que querem fazer. E nada há que possa ser feito para abrir-lhes os olhos. O que quer entrar peita o que quer sair e vice-versa. Nesse momento eles começam a mostrar o quanto e quantos tipos de ignorância tem.

Os níveis de estupidez aparecem. E vão sempre para as alturas, o que implica que estão sempre lá. Ninguém pode ser mais estúpido do que sempre é.

Na estação Jabaquara, o trem para e leva mais de um minuto para voltar no sentido de Jardim São Paulo, mas, mesmo assim, as pessoas que querem embarcar descem as escadas correndo ou dão encontrão em quem está saindo no afã de entrar no vagão para que ele não parta sem elas. Entram, sentam-se e ficam mais de um minuto esperando o trem partir. Não veem que há tempo de sobra para descerem as escadas com calma, esperar os outros passageiros saírem e, aí sim, embarcarem com calma. Mas, não, agem como se fossem o último trem de suas vidas. E assim fazem todos os dias. Deviam saber que, agindo dessa maneira, nunca vão conseguir pegar o último trem de suas vidas.

Outro tipo de ignorância doentia, do tipo complexo de inferioridade sem causa definida tanto para quem vê quanto para quem pratica, é a relação entre alguns países. As duas Chinas, as duas Coreias, os uxxxquistões, India/Paquistao, sem falar na ignorância que reina dentro dos próprios países, em nada diferente daquela que reina dentro do trem e do metrô, das quais falei acima.

O pior de tudo é que esses países se dizem governados por adultos. A palavra adulto, nos dizeres da maioria, carrega consigo um sentido de respeito, de solidariedade, de sobriedade. Mas não é assim. Deve existir outra palavra para descrever tais governos. Creio que ignorante se encaixa bem. Países governados por ignorantes. Passageiros, de trens e metrôs, ignorantes.

Os governadores das duas Coréias, parecem duas criancinhas que estão brincando de jogar pedras uma na outra, sendo que ambas querem ganhar. A China embirrada com Taipé, e vice-versa. O Irã fazendo beicinho porque a ONU não aceita que mexam com material nuclear sem a supervisão dela. Cuba, preferindo deixar seu povo à beira da miséria do que deixar seu orgulho de lado. Orgulho criado por um regime que nunca deu e nunca dará certo, tanto que o “chefão”, a União Soviética percebeu isso e deixou de existir há muito tempo.

Do outro lado, as chamadas potências mundiais, se fazendo de mocinhos mas, na verdade, são lobos sob pele de cordeiro. Cantam para o resto do mundo: “ó, eu estou sendo bonzinho com ele, mas ele está sempre me desafiando...”. No fundo, o que querem é o controle total: façam o que mando e não faça ou que eu faço.

Na verdade, esse é o lema do ignorante: eu é que mando, tem que ser do meu jeito, doa a quem doer.

É assim em casa, é assim no trem, no metrô, no supermercado, no trabalho, na cidade, no país, no mundo. Tomara que não seja assim no restante do Universo.

Enquanto o homem não perceber seu tamanho frente ao Universo, sua insignificância perante a Natureza ele não vai melhorar. Enquanto ele não diminuir o tamanho de seu ego, ele não vai crescer, não vai se tornar um verdadeiro adulto, e vai ficar por aí fazendo beicinho, primeiro para si mesmo, para se diminuir (complexo) e depois para os outros, tentando diminuí-los para que ele pareça grande para si mesmo. Só que ele não enxerga que faz isso há muito tempo.

Não percebe que isso não o fez e nem o faz crescer, mas diminuir cada vez mais, o que aumenta cada vez mais seu complexo, o que significa, que, de alguma maneira ele percebe seu apequenamento, senão o complexo não aumentaria. Mas, ele prefere culpar os outros pela sua pequeneza do que a si mesmo. Quando culpa a si mesmo, se desvaloriza, se faz de vítima e espera que lhe estendam uma mão. Os que não lhe estendem a mão ele chama de ignorantes, sem perceber que essa medida de ignorância está é nele e não nos outros.

Não basta se culpar. Culpa não cura. O que cura são atos contrários à ignorância, atos adultos, atos construtivos.

Brasilio/Agosto-2010.