O QUE É A CULPA?

Qual é a diferença entre se sentir culpado e estar arrependido? Por que alguns sentimentos de culpa passam e outros não? É possível nunca sentir culpa? Por que a culpa é como um peso que nos impede de pensar ou de caminhar livremente?

Sentimos culpa quando: fazemos algo voluntariamente, conhecendo ou não as consequências; fazemos algo involuntariamente.

O que nos faz sentir culpa? Será que nos bipartimos em um que julga e em outro que é julgado? Como pode o que julga não sentir culpa? Ou será que ele é forte o suficiente para assumir sua parte na culpa e forçar o outro (o julgado) a assumir também? De qualquer maneira, em resumo, assumimos nossa culpa total, pois, na verdade, não nos bipartimos, apenas estamos nos arrependendo, desejando não ter feito aquilo, ou ter feito de outro modo de tal maneira que não prejudicasse outro ser ou a nós mesmos.

Do que depende o nível de culpa? Depende do que nos foi ensinado em nossa criação, depende do nível de consideração fraterna que temos com os outros e conosco mesmos. Uma pessoa que nunca viveu numa sociedade fraterna ou que não se importa consigo mesma é capaz de nunca sentir culpa. Por outro lado, uma pessoa a quem foram impostos ensinamentos e regras exagerados se sente culpada até por atos que por ela não foram praticados.

Muitas vezes sentimos culpa por atos praticados por outra pessoa. Por que?

Porque sentimos capacidade para impedir o ato e, ao mesmo tempo, medo de tentar e o ato se virar contra nós. É uma situação difícil. Se tínhamos realmente condições de impedir e não o fizemos, das duas uma: nos acovardamos ou não nos importamos.

No primeiro caso merecemos a culpa e devemos curti-la, meditar sobre a mesma e se preparar para evitá-la da próxima vez, realmente impedindo o ato.

O segundo caso só pode acontecer com pessoas menos sensíveis que a primeira. Também merecem a culpa, apesar de esta ser num nível menor e passar mais rápido. Estas pessoas estão mais sujeitas a repetir-se que as primeiras. Porém, nos dois casos, a culpa funciona como um escultor da sensibilidade.

Dependendo do meio em que vive e de sua índole, a escultura vai ficar angelical ou dura.

Se não tínhamos condições de interferir, o nosso sentimento de culpa vem apenas expor nosso amor fraterno e nossa consideração para com os outros. Por isso ela não deve nos machucar, mas tem que ser sentida e ouvida para que nunca nos desviemos, para nunca caminharmos em direção à dureza de coração.

Quanto mais sensíveis fraternalmente somos menos sujeitos estamos a praticar atos que nos façam sentirmos-nos culpados; por outro lado, se os praticarmos, muito menos livres nos sentiremos para pensar em outras coisas, enquanto não resolvermos este sentimento. Essa prisão aparente em que ficamos nada mais é que nossa sensibilidade, nosso amor tentando curar o mal que fizemos. Nada mais é que o nosso arrependimento.

É possível (para alguns) nunca se sentir culpado, mas isso não elimina a culpa. Estamos sujeitos a esse sentimento em todos os instantes, faz parte de nossa vida, faz parte de nosso aprendizado. Nunca vamos ficar sem ele, pelo menos enquanto não formos santos.

Só sente culpa quem é bom ou tem tendência a ser bom.

Brasilio 07/09/2000