O recente pacote habitacional lançado é polêmico. Como tudo que existe tem pontos positivos e negativos. Os que objetam têm motivos para tal, os que louvam também. Loas quando dignas, críticas quando merecidas. A melhor estratégia será sempre o resultado. Se o programa tem o claro viés político, ele só resultará em votos se for eficiente, a oposição pode até se aproveitar em seu fiasco. Precisamos aguardar mais informações, mas vamos analisar alguns fatos e tecer alguns comentários a luz do que foi divulgado até aqui. Alguns dados:

· Déficit habitacional atual: 7,2 milhões, o programa de milhão cobriria 14% deste déficit.

· O subsídio é de R$ 18 bilhões, mais R$ 2 bilhões para o fundo garantidor.

· O tamanho das moradias: 35 M² para casas e 42 M² para apartamentos e serão contempladas cidades com mais de 100 mil habitantes, capitais e regiões metropolitanas.

· Começo: 13 de Abril, final: Sem prazo para acabar.

· Juros: de 5 a 8%, reduzidos e menores que os atuais praticados.

Pontos positivos:

· Relação direta dos compradores com as construtoras evitando a burocracia

· Incremento na atividade econômica neste momento de crise. A construção civil é grande geradora de emprego e renda, com chances de movimentar a indústria de insumos importantes, como aço, cimento, etc.

· É programa eleitoral, mas dependerão dos governos municipais e estaduais nas questões licenciamento, infraestrutura, etc. Isso equilibra as forças e ações políticas.

· Ataque ao déficit habitacional. No passado o BNH fez muito, chegou a 800 mil moradias ano com resultados concretos para a sociedade.

· É considerado (pelos idealizadores) um programa rentável para as construtoras. Tomara. Este lado "mercado" é ponto forte.

Pontos Negativos:

· A meta não será cumprida, o cronograma desejado (principalmente pelo viés político) deve ir para o espaço.

· O subsídio deve sempre ser evitado. A conta é paga pela sociedade. Programas assistencialistas são incentivos a indolência e acomodação. Quando colocados, é difícil tirá-los. E em momentos de crise?

· As moradias são minúsculas, fora do perfil das famílias que devem ser atendidas. Alguém diria, mas eles não têm nada. Certo, mas a adequação a número de pessoas desta faixa social seria necessária.

· O padrão de qualidade deverá ser baixíssimo.

· Existem problemas ambientais nestas expansões urbanas, a expansão não pode ser feita com emoção e boas ações, ela demanda planejamento e bom senso.

· Faltarão terrenos e infraestrutura( saneamento, luz, estradas)

· A inadimplência pode ser alta, pelos prazos x rotatividade de emprego x desemprego quando enfrentarmos outras crises econômicas.

Para suster este programa o governo vai precisar muito mais que a boa intenção e inspiração política. Aparentemente tem muitas coisas boas. Um receio é que fique nas lousas de planejamento das cabeças coroadas de Brasília, nossa ilha da fantasia.

Outro ponto preocupante, a burocracia, mesmo com a relação direta da ponta de compra e de venda, vai trazer transtornos. Nosso país é muito engessado, pessoas de baixa renda, foco do programa, terão mais dificuldades, ou podem cair nas mãos de "agentes" e atravessadores que aumentarão os custos e a chatura.

O ideal? Se o país estivesse crescendo, com geração poderosa de emprego e renda para todos. Existira uma natural demanda forte pela construção, com as construtoras ganhado dinheiro e investindo e o governo financiando com taxas justas e reais. O mundo maravilhoso da prosperidade, mas infelizmente um pouco distante da realidade, ainda mais no conturbado momento desta crise mundial.

A capacidade operacional das construtoras que operam este mercado não é condizente com as metas e promessas. De outras empresas, uma ou outra, pode até entrar no nicho, mas, mesmo assim ainda parecem inexeqüíveis estes termos. Sabe por quê? Matemática. O mercado já possui diversos programas de apoio e financiamentos e não passamos de 200.000 mil/ano, dado de 2007, considerado um dos melhores anos. Um milhão de residências por ano? Vamos esperar, torcer e rezar.