KÁTIA DE OLIVEIRA CARVALHO, NUBIA DE SOUZA LEAL.

O PROFESSOR E O MEIO ESCOLAR: CONFLITOS DO TRABALHO DOCENTE

SORRISO/MT

2017

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo, analisar opiniões de profissionais da educação pública, no que diz respeito à valorização do professor, e as condições do ensino público, considerando as dificuldades encontradas no desempenho de sua função. Para tanto foi realizada uma pesquisa de campo com três professoras, duas da Educação Infantil (1 e 2) e uma do Ensino Fundamental (3) que atua desde 2009 no CEFAPRO (Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica) atendendo a 15 municípios da região norte do Estado. A entrevista nos proporcionou uma aproximação com a realidade escolar e nos mostra algumas questões estruturais e organizacionais que corroboram para a situação de descrédito, desrespeito e desvalorização dos profissionais, tendo como corresponsáveis o poder público, os pais/responsáveis e até mesmo os próprios profissionais. Leituras sobre problemas encontrados na profissão docente na atualidade possibilitaram, primeiramente, verificar de quais formas a questão é abordada em pesquisas da área. Através das entrevistas com docentes, buscamos evidenciar e entender as condições em que se encontra o ambiente escolar. Foi realizado também, um levantamento sistemático através de leituras de alguns periódicos e revistas, com objetivo de subsidiar e fundamentar-nos sobre o assunto.

Palavras-chave: Profissionais da educação. Valorização. Alunos.

INTRODUÇÃO

Queremos observar, inicialmente a complexidade e relevância do tema, enfatizando o lócus da pesquisa, as dificuldades no trato entre Professores e alunos, a valorização do trabalho no processo ensino-aprendizagem uma vez que este foi o motivo para a realização da presente pesquisa. Acredita-se que por trás da relação ou má relação, professor-aluno possa haver um fator mais intrigante e profundo que torne difícil essa convivência. Toda relação humana é passível de conflitos, uma vez que o confronto de ideias é presença indiscutível entre os seres humanos. Nesse sentido, vemos a relação professor- aluno como reflexo das relações sociais, onde cada um defende o seu espaço sempre buscando um “culpado” para os resultados encontrados quando esses forem negativos. Vivemos em uma sociedade capitalista onde os valores se transformam, as famílias se desagregam, pais são obrigados a trabalhar fora de casa para garantir o sustento e a qualidade de vida aos filhos. Essa nova postura acaba refletindo na falta de tempo para acompanhamento das atividades escolares e é delegada aos Professores a responsabilidade de não somente ensinar aquilo que prevê o currículo escolar, mas para, além disso, passa a ter também a função de “educar”. Não temos interesse em colocar em questão qual é o melhor tempo para se viver, se hoje ou ontem, nada de saudosismo, mas é importante observarmos quais as dificuldades presentes nas relações escolares de ontem e de hoje, nas relações humanas que podem influenciar e influenciam o processo ensino-aprendizagem considerando que obviamente os tempos mudaram. As escolas recebem alunos com uma grande diversidade de jeitos, vivências, saberes, situação financeira, classe social. Crianças auto-suficientes, desafiadoras e crianças completamente carentes que necessitam não de um professor, mas de um encorajador, de um orientador para que auxilie a definir que destino tomar e “para que o professor desempenhe seu trabalho de forma a atingir seus objetivos, o estabelecimento do vínculo afetivo é praticamente obrigatório.” (CODO e GAZZOTTI, 1999, p.55).  

Para que tenhamos uma sociedade melhor é imprescindível que haja compromisso, responsabilidade e participação de todos os autores que envolvem o mundo de cada criança a fim de compreender e contribuir para que sejam seres plenos.

Para Gauthier (1999), na atualidade o professor continua tendo a tarefa de seduzir seus alunos ou, mais do que isso, persuadí-los: “[...] persuadir é influenciar por meio da palavra e do gesto, é seduzir a mente e o coração ao mesmo tempo. Nesse sentido, o trabalho docente é um verdadeiro trabalho emocional.” (GAUTHIER, 1999, p. 19-20).

 O que costumamos presenciar nas escolas são espaços onde o professor é desrespeitado, sendo lhes atribuído o papel dos pais e como estes por vezes não dão conta de desempenhar sua função por trabalharem fora, por não terem uma estrutura sólida  familiar, por geralmente não terem possibilidades de acompanhar a vida da criança, então culpam os Professores e atribuem-lhes uma tarefa que é sua deixando esse profissional no descrédito.

  O desmando contra professores é imenso, a desvalorização passa pela questão financeira, falta de condições estruturais de trabalho, e enraíza na questão do respeito ao ser humano, ao profissional. Temos hoje um quadro preocupante de profissionais que não desejam continuar na profissão especialmente pela falta de trato que recebem de pais e alunos que os apontam, na maioria das vezes, como únicos culpados pelo fracasso escolar do filho. De outro lado desse octódromo estão os alunos que  não conseguem aprender satisfatoriamente no tempo específico, não querem e não gostam do que lhes é oferecido pela/na escola. Avaliam que é um lugar nada interessante e não reconhecem no ensino uma saída para a ascensão social. Então é perceptível que estamos em um circulo vicioso onde culpados e vitimas se revezam.

Dessa maneira os culpados, primeiramente são o aluno e a família, “[...] mas vai além, recai sobre o professor e a escola. Nossa categoria passa por uma desmoralização: somos incompetentes, somos descomprometidos, somos uma categoria muito heterogênea. A culpa está em todos, menos no poder que gera essa situação.” (DOTTI, 1992, p.24-25).

 O educador deve procurar sempre ouvir e saber conversar com os seus alunos. Orientar da melhor forma possível, alertando dos perigos, das armadilhas do nosso dia-a-dia. Abordar sempre que a responsabilidade é fundamental para o crescimento humano. Procurar compreendê-los e mostrar de maneira simples e objetiva os caminhos viáveis voltados para a família, aos amigos, e para si mesmo. Podemos traduzir isso na fala de Paulo Freire em seu Livro Virtudes do Educador (1985).

O Professor necessita manter uma coerência entre o seu discurso e sua prática, ou seja, não apenas falar, mas demonstrar em suas atitudes e ações que está sendo condizente assim consegue o respeito de seus alunos. Respeitar o tempo de seus alunos contextualizando e buscando maneiras de tornar sua aula interessante. A partir do momento que se acabam o respeito entre ambos, perde- se também a confiança. Partilhar é uma necessidade entre professor e aluno.

As questões relacionadas aos desafios que se colocam para os professores nas condições de adversidade, considerando aqui as precárias condições sociais da maioria dos alunos de escolas públicas e de seus familiares, nos fazem refletir um pouco mais sobre a problemática situação da rede pública de ensino. Devido a uma série de fatores sociais tais como a violência, a desvalorização do profissional da educação, a falta de estrutura nas escolas, a pobreza, as drogas, faz com que a relação entre professor e aluno seja desgastante. Então o professor [...] ‘tende a se culpar desde seus primeiros enfretamentos com a realidade cotidiana do magistério, porque em muito pouco tempo descobre que sua personalidade tem muitas limitações que não se encaixam no modelo de “professor ideal”, com o qual se identificou durante o período de formação inicial’. (ESTEVE, 1999, p.50).