A democracia não foge à regra e como tal, também utiliza os sistemas educativo e a formação profissional para divulgar e implementar os seus princípios e valores humanistas. Uma vez mais se relacionam aqui três elementos essenciais: escola, professor e aluno, para se compreender que eles se inter-justificam: «Coloca-se não apenas a questão quantitativa de assegurar o acesso dos cidadãos à educação, mas é mister, além disso, garantir educação de boa qualidade a todos. Ora, se é verdade que a boa escola é imprescindível para o desenvolvimento do indivíduo e da sociedade, é certo também que são indispensáveis bons professores, pois sem eles não há boa escola.» (GOERGEN & SAVIANI, 1998:14)

Acontece que, a influência do professor na formação dos cidadãos, invade também o domínio político, porque a cidadania pressupõe, no indivíduo, as condições mínimas para o exercício da atividade política democrática, fundamentalmente na assunção de direitos e deveres.

Neste particular o papel do professor é de extrema delicadeza, mas também de lucidez, de isenção e de firmeza, considerando que: «O papel político do professor e da escola está em garantir a todos, sem discriminação, o acesso ao conhecimento (…) para que o aluno se torne cidadão, o professor precisa estabelecer com ele um tipo de vínculo diferente daquele que reproduz a dominação (…) pois o aluno (…) deve evoluir para a independência (…). O papel do professor é o de alguém que quer modificar o comportamento do aluno no sentido de libertá-lo, isto é, de não depender do sistema educacional que reproduz a ideologia da classe dominante.» (CLARO, 1995:117)

Vislumbram-se algumas condições para admitir: por um lado, a indispensabilidade e importância do professor; por outro lado, as dificuldades e responsabilidades que sobre ele impendem.

Por isso, para alguns estratos da sociedade, a profissão de professor nem sempre é justamente reconhecida e recompensada. Situações menos favoráveis ao professor devem ser por ele tidas em atenção, mas jamais desmotivado para continuar no exercício da sua nobre profissão porque: «só uma sociedade subdesenvolvida não reconhece no professor um profissional de primeira linha para melhorar todo o contexto de vida. Os países desenvolvem-se por causa da educação.» (WERNECK, 1996:13)

O cidadão por cuja formação se desenvolve o presente trabalho, há-de ser uma pessoa dotada com sensibilidade, para refletir sobre a escola, sobre a educação, sobre o professor, e este será tanto melhor quanto mais disponível estiver para as atividades investigativa e  meditativa, direcionadas para o ensino, o que implica: «abertura de espírito (…) para ouvir e examinar pontos de vista diferentes; responsabilidade perante as decisões tomadas e suas consequências e entusiasmo para romper com rotinas e acomodações.» (GRILLO, 2000:77)

Concluir-se-á esta abordagem, sobre o papel do professor na formação dos cidadãos hoje, invocando, precisamente, a conveniência de uma sensibilidade para a filosofia da educação por parte do professor moderno. Perdoem-me  os profissionais de outras áreas do conhecimento mas, certamente, sabem tolerar a invocação de um domínio que, ao longo do tempo, e a partir das mentalidades tecnocratas, tem sido muito maltratado e ignorado, justamente porque lhes foi negada a formação integral, hoje tão necessária e indispensável nas sociedades que se pretendem tolerantes e cooperantes.

Apesar disso, a Filosofia, na sua dimensão educacional, nunca se eximiu a colaborar com todas as áreas disciplinares, submetendo-se, inclusivamente, à discussão de assuntos difíceis, hoje em dia tão difundidos: aborto, pena de morte, eutanásia, testamento vital, clonagem, bioética, sentido para a vida, toxicodependência, prostituição, tráfico de órgãos humanos, ecologia, e tantos outros.

A educação não poderia ficar de fora de uma profunda reflexão, sendo a principal interveniente no sistema educativo, como igualmente são importantes a escola, os professores, os alunos, os formandos, os encarregados de educação e a sociedade em geral. Ninguém pode fugir ao debate porque: «o papel da filosofia no planejamento educacional é pensar, a partir dos problemas levantados pelas outras disciplinas, numa perspectiva global.» (FURTER, 1973:11)

Esta humildade filosófica será a marca distintiva do bom professor, do bom aluno, do bom cidadão, ou seja, abertura para aceitar opiniões diferentes da própria. O cidadão que se está a construir, será tocado por esta dignificante virtude, precisamente porque a dimensão educacional do homem constitui um património inigualável e impossível de quaisquer outros seres o possuírem, pelo menos de forma consciente e com objetivos bem definidos.

É inadiável, para a pessoa humana, dar um sentido e dignidade à sua própria vida, porque não pode existir mais tolerância numa sociedade onde o homem continue a ser humilhado, torturado e assassinado. O cidadão que se deseja será suficientemente esclarecido para impedir que prossigam os atos de puro terrorismo, a diversos níveis e atividades humanas.

 

Bibliografia

 

CLARO, Maria Aparecida de Lima, (1995). “O Vínculo Libertador na Relação Professor-Aluno”, in: PONTES, Eglê Franchi (Org). A Causa dos Professores, Campinas, SP - Brasil: Papirus, pp. 441

FURTER, Pierre, (1973). Educação e Reflexão, 7ª Ed., Petrópolis, Rio de Janeiro - Brasil: Editora Vozes.

GOERGEN, Pedro & SAVIANI, Dermeval (Org.), (1998). Formação de professores: a experiência internacional sob o olhar brasileiro, Campinas-SP - Brasil: Autores Associados Nupes.

GRILLO, Marlene Carrero, (2000). “O Lugar da Reflexão na Construção do Conhecimento Profissional”, in: Marília Costa Marosini (Org), Professor do Ensino Superior: Identidade, Docência e Formação, Brasília-Brasil: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais.

WERNECK, Hamilton, (1996). Como vencer na vida sendo Professor”, Petrópolis-RJ – Brasil: Vozes.

 

Venade/Caminha – Portugal, 2019

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

DOCTOR HONORIS CAUSA EN LITERATURA” pela Academia Latinoamericana de Literatura Moderna y la Sociedad Académica de Historiadores Latinoamericanos.

TÍTULO NOBILIÁRQUICO DE COMENDADOR, condecorado com a “GRANDE CRUZ DA ORDEM INTERNACIONAL DO MÉRITO DO DESCOBRIDOR DO BRASIL, Pedro Álvares Cabral” pela Sociedade Brasileira de Heráldica e Humanística.

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