O PROFESSOR CONTEMPORÂNEO COMO MEDIADOR E AVALIADOR DO PROCESSO PEDAGÓGICO
Por Adolar da Silva | 26/03/2015 | EducaçãoO PROFESSOR CONTEMPORÂNEO COMO MEDIADOR E AVALIADOR DO PROCESSO PEDAGÓGICO
Adolar Da Silva
RESUMO
Abordarei entre outros, o perfil e a formação do professor contemporâneo, a importância da mediação no processo ensino e aprendizagem e a prática avaliativa. Diante das transformações sociais, da revolução científica e das inovações tecnológicas, sente-se uma necessidade urgente de modificar o contexto escolar que parece ter percebido todas as mudanças que estão ocorrendo diariamente. Os assuntos aqui discutidos trazem a contribuição de Paulo Freire, Jacques Delors, José Ernesto Bologna, Regis Morais, Vigotsky dentre outros, sobre o que se espera de um professor seguro de si e de sua prática pedagógica. A interação entre o educador e o educando, que por sua vez deve prevalecer a harmonia constante para que haja esta integração. Tão importante nos dias de hoje, e também o resultado dessa interação irá facilitar e muito o processo de aprendizagem. Devendo o educador esquecer aquela forma de império que se criou dentre os professores, onde ali reinava em absoluto.
Palavras-chave: Escola Contemporânea; Professor Contemporâneo; Mediação; Avaliação.
1 INTRODUÇÃO
A educação vem sendo discutida e questionada a longa data em âmbito mundial. Em meio às discussões, surgem os seguintes temas: tendências educacionais; tendências pedagógicas; metodologias de ensino; teorias da aprendizagem, da inteligência e do desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças e dos jovens; formação de professores; práticas pedagógicas e avaliativas, etc. São inúmeras as pesquisas e também são inúmeros os pesquisadores e defensores de tais práticas e tendências e cada qual tem seu ponto de vista e defende o que consideram correto e mais apropriado em relação ao processo ensino e aprendizagem.
A educação é a chave para a prosperidade e entre outros ela é um instrumento de luta pelo desemprego. A condição para que a sociedade se torne mais culta e um meio de garantir igualdade para todos. Precisamos de um ensino de qualidade adaptado às necessidades da sociedade, em todas as esferas do ensino, ou seja, da educação infantil até a universidade. Para se ter uma educação de qualidade, precisa-se de professores capacitados, escolas com infra-estrutura
adequada e alunos dispostos a darem o melhor de si para mudar essa dura realidade que se apresenta.
2 TENDÊNCIAS EDUCACIONAIS
A análise histórica da sociedade nos revela características peculiares para cada período características estas que determinam o modo de vida, o sistema educacional, as relações sociais e de trabalho. Desde os seus primórdios, a sociedade passou por vários períodos de transição, principalmente no que diz respeito à educação e a cada nova transição, muitas especulações acerca do que é ou não melhor e mais apropriado é discutido. Em relação a estas transições, Freire afirma:
Não há transição que não implique um ponto de partida, um processo e um ponto de chegada. Todo amanhã se cria um ontem, através de um hoje. De modo que o nosso futuro baseia-se e se corporifica no presente. Temos de saber o que fomos e o que seremos. (Freire, 1979, p.33)
Há três concepções que procuram entender a relação educação e sociedade: a educação como redenção, a educação como reprodução e a educação como uma transformação da sociedade e cada uma delas vê a educação de um ponto de vista diferente.
A educação como redenção, compreende que a sociedade é um todo orgânico e harmonioso onde vivem os indivíduos. A sociedade está naturalmente composta, mas há os que por algum motivo estão à sua margem, e é tarefa da educação incluí-los através da formação da sua personalidade, do desenvolvimento de suas habilidades e dos valores éticos. Desta forma, a finalidade da educação é a adaptação do indivíduo à sociedade.
A concepção de educação como reprodução entende que a educação fazendo parte da sociedade reproduz e perpetua seus condicionantes econômicos, sociais e políticos vigentes. Para esta concepção a sociedade capitalista é estruturada na divisão de classes. As classes economicamente fortes desejam exercer uma dominação das classes menos favorecidas para manterem o fluxo de mão de obra necessário à produção dos bens a serem comercializados, e também para manterem os rumos que a sociedade deve trilhar e que foram traçados por eles. Para tanto, controlam campos culturais como ciências, a tecnologia, a política e a economia. O Estado além de organizar, planejar e administrar a escola determina seus objetivos, conteúdos, metodologias e controla sua execução e resultados.
A educação como transformação, é uma concepção de educação de difícil implantação. Se pensarmos que o sistema está fortemente carregado com ideologias reprodutivas, tanto nos projetos e rotinas pedagógicas como também no inconsciente dos educadores, vítimas da formação tecnicista que receberam. Porém, é ela que pretende dar uma visão crítica da sociedade vigente e também uma formação de igual para igual com oportunidade para todos. Freire diz que: “Nutrindo-se de mudanças, a transição é mais que as mudanças. Implica realmente na marcha que faz a sociedade na procura de novos temas, de novas tarefas ou, mais precisamente, de sua objetivação’’. (Freire, 1979, p. 65).
3 EDUCAÇÃO FORMAL, NÃO FORMAL E INFORMAL
Na realidade, a educação pode ser dividida em três, e fundamentalmente aprendemos nestes três tipos de educação, mas, cada vez mais, a educação não formal e a informal têm uma grande importância ensino e aprendizagem.
Basicamente a educação formal é aquela que está estruturada nos currículos escolares e formalizada no ensino fundamental, médio e superior. É a educação ministrada numa sequencia regular de periódicos letivos/séries/ciclos e corresponde às diferentes etapas em que se encontra estruturado o processo educativo. Sua finalidade é a aquisição de conhecimento e o desenvolvimento da capacidade mental básica.
A educação não formal é constituída por todos os processos educativos não curriculares, mas estruturados, e que podem ocorrer de várias formas, como exemplo a educação científica realizada nos centros de ciências, os cursos avulsos, as palestras e as conferências.
Já a educação informal, são aquelas informais, pontuais e ocasionais, não organizadas em currículos ou estruturas. São as informais que qualquer pessoa recebe em sua vida cotidiana. Que ocorre em meio à família, ao ambiente de trabalho, a partir da mídia, em espaços de lazer, entre outros, e resulta no desenvolvimento de conhecimentos e valores. Ela abrange todas as possibilidades educativas, no decurso da vida de cada indivíduo, construindo um processo permanente, mas não organizado. Segundo Delores, a educação tem ainda como função, delegar a todos os seres humanos a liberdade de pensamento, discernimento, sentimento e imaginações de que necessitam para que possam desenvolver seus talentos e permanecerem, tanto quanto possível, donos de o seu próprio saber. “À educação cabe fornecer, de algum modo, os mapas de um mundo complexo e constantemente agitado e, ao mesmo tempo, a bússola que permita navegar através dele’’. (Delores, 2000, p. 89).
4 ESCOLA CONTEMPORÂNEA
A escola foi inserida no mundo contemporâneo, sem ter sofrido grandes transformações. Apesar das mudanças ocorridas, a escola tradicional ainda está muito presente no ambiente educacional. Em meio a tudo isso ela, conta com pouca participação da comunidade, principalmente dos pais. A desestruturação das famílias sobrecarregou a escola, que atualmente está desenvolvendo várias funções, como: de socializar e de culturalizar. E relacionando-se a isso, Bologna, psicólogo e consultor educacional, disse:
Se pegarmos as grandes instâncias sociais na sociedade do século XIX(família, Igreja, Estado, Empresa e escola), vemos que, em linhas gerais, a família socializava a criança, a igreja moralizava, a escola culturalizava, a empresa a inseria no processo produtivo e o Estado organizava esse processo. Agora, quase todas essas funções passaram para a escola. Os papéis mudaram muito na família, o Estado encolheu seu papel de educador, principalmente os que seguirem o modelo neoliberal, e o mesmo aconteceu com as igrejas tradicionais. Portanto, os professores têm razão quando reclamam do ônus excessivo que recaiu sobre a escola, já que ele não veio acompanhado de aumento de prestígio, de recursos ou de salários. Mas, eu vejo nessa transferência de responsabilidade um aspecto muito positivo para a escola. (Bologna, 2002, p. 46/47).
Dentre todos esses problemas, a escola também não conta com uma infra-estrutura adequada, tanto material/física quanto humana. O acesso às novas tecnologias ainda não está presente na maioria das escolas, e alguns profissionais da educação continuam pensando e vendo a escola como um lugar de disciplina rígida, em que o aluno deva estar calado, cumprindo as ordens estabelecidas pelo educador.
Outra questão é o ambiente onde acontece uma parcela da aprendizagem. As salas de aula com fileiras de carteiras, o professor colocado na frente da sala, apenas usando o quadro, giz e o livro didático. Pode-se ver que ainda existem professores que acreditam que a aprendizagem se dá na mera transmissão de conhecimentos.
Vivemos na era contemporânea, mas com uma escola organizada de forma que seus profissionais ainda sejam tradicionais. Se continuar assim, certamente iremos ver alunos questionando até que ponto o ensino formal é realmente necessário e adequado para atuar na sociedade contemporânea.
A sociedade precisa cobrar dos governantes, urgentemente, a reformulação dos currículos escolares, a reorganização do espaço escolar, para que se possa inserir a escola na era contemporânea, tornando-a mais atraente e um espaço real de mediação e troca de conhecimento. Para isso, deve-se também repensar práticas e metodologias de ensino. Não se pode mais aceitar professores que se acham donos da verdade, que acham que sabem tudo e que não precisam aprender nada mais.
5 FORMAÇÃO DO PROFESSOR E O PERFIL DO PROFESSOR CONTEMPORÂNEO
Felizmente os papéis dos professores estão sendo questionados e redefinidos em virtude da nova concepção sobre a educação, teorias de desenvolvimento, ensino e aprendizagem e o impacto das novas tecnologias. Os professores que teimam em permanecer com seus métodos arcaicos precisam perceber que estão formando seus alunos para a realidade que não existe mais. O professor contemporâneo precisa formar cidadãos que saibam lidar com a época que se encontram.
O novo professor, contemporâneo, precisa ser alguém que saiba orientar, mediar, lidar com a diversidade dos alunos, utilizarem novas metodologias, técnicas e materiais de apoio. O perfil desse novo professor exige que ele saiba se adequar as mais diversas situações e ainda torná-las produtivas. “[...] o trabalho do educador não é um trabalho como qualquer outro; de tão especial, é mesmo um trabalho que pode ser chamado de missionário’’”. (Morais, 2003, p. 116).
O professor precisa ser alguém que seja ético e que tenha autonomia para tomar decisões e seja responsável por elas. Esse deve ainda saber avaliar criticamente sua própria atuação. Porque muitas vezes os alunos podem aprender conteúdos mais valiosos em virtude da observação das atitudes e comportamento de seu professor, em relação aos demais profissionais do que em conseqüência de seu ensino.
6 MEDIAÇÃO: A INTERLOCUTORA DA APRENDIZAGEM
É por meio da mediação que o homem se relaciona com seus semelhantes e com o mundo em geral, por isso é importante a troca de conhecimento realizada por uma ou mais pessoas, como por exemplo, um professor com mais conhecimento ou mais experiente troca informações e conhecimento com seus alunos.
Por isso, segundo Vigotsky, o professor deve desenvolver as capacidades do aluno como um todo, em campos variados. Ele precisa trabalhar com o objetivo de orientar e estimular o processo ensino e aprendizagem, fazendo com que o aluno busque seu próprio conhecimento. A concepção de desenvolvimento de Vigotsky e sua relação com a aprendizagem é de fundamental importância. Segundo ele a aprendizagem escolar estimula e orienta os processos internos relacionados ao desenvolvimento. Este processo cria a área do potencial ao seguir o processo de aprendizagem. Ainda afirma que esta se inicia muito antes da vida escolar. Aprender exige a capacidade de estabelecer conexões entre elementos aparentemente desconexos, de processar informações, analisá-las, armazená-las, avaliá-las segundo critérios de relevância.
[...] a aprendizagem e desenvolvimento da criança, ainda que diretamente ligados, nunca se produzem de modo simétrico e paralelo. O desenvolvimento da criança não acompanha nunca a aprendizagem escolar, como uma sombra acompanha um objeto que a projeta. Os testes que comprovam os progressos escolares não podem, portanto, refletir o curso real do desenvolvimento da criança. Existe uma dependência recíproca, extremamente complexa e dinâmica entre o processo de desenvolvimento e o da aprendizagem, dependência que não pode ser explicada por uma única fórmula especulativa apriorística. (Vigotsky, 2001, p. 116-117).
Daí, a importância da mediação na sala de aula. O professor tem a prática em sala, faz com que seus educandos tenham um aumento significativo dos seus saberes, os quais permitem melhor compreender a sociedade sob os mais diferentes aspectos, porque a aprendizagem por meio da mediação faz despertar a curiosidade, que por sua vez irá estimular o sentido crítico que permitirá compreender melhor o real. Segundo Machado “compreender é aprender o significado; aprender o significado de um objeto ou de um conhecimento é vê-lo em suas relações com outros objetos ou acontecimentos; ‘‘[...]”. (Machado, 1995, p. 138).
7 O PROFESSOR CONTEMPORÂNEO E A AVALIAÇÃO
Já que a estrutura da escola precisa mudar para ser inserida no mundo contemporâneo, fazendo com que o ensino formal seja também prazeroso, que o professor precise se adequar às mudanças que estão acontecendo na sociedade, que a educação como transformação pede que haja mediação entre professor e aluno para que a aprendizagem ocorra, a avaliação também precisa ser rediscutida e reavaliada.
Diante desta nova perspectiva, o decorar perdeu a propriedade diante da necessidade de criar, inovar, mudar, buscar soluções para resolver problemas inusitados. As mudanças oriundas dos avanços científicos e tecnologias transformam o mundo num ritmo veloz, exigindo que desenvolvamos novas capacidades.
A avaliação é parte integrante do processo de formação, uma vez que possibilita diagnosticar questões relevantes, verificar os resultados alcançados considerando-se os objetivos propostos e, ainda, identificar mudanças de percurso eventualmente necessárias. O conhecimento dos critérios utilizados e a análise dos resultados e dos instrumentos de avaliação e também a auto-avaliação são importantíssimas para o aluno, pois isso o ajuda a conhecer ou reconhecer seus próprios métodos de aprender, desenvolvendo assim a capacidade de regular a sua própria aprendizagem, como afirma Demo a seguir.
Todo processo comprometido com educação não pode conviver com procedimentos sigilosos, esotéricos, obscuros, por que servem apenas para que o avaliador imponha-se sem questionamento; o avaliado deve poder sempre ter acesso ao processo e aos resultados da avaliação; um processo avaliativo bem conduzido e bem feito não precisa esconder-se; ao contrário, é a base de um relacionamento produtivo e maduro entre avaliador e avaliado. (Demo, 1996, p. 34)
Quando a perspectiva é de o processo de formação garanta o desenvolvimento de competências profissionais, a avaliação destina-se à análise da aprendizagem dos educando, de modo a favorecer seu percurso e regular as ações de sua formação. Não se presta a punir os que alcançam o que se prende, mas a ajudar cada educando a identificar melhor as suas necessidades de formação.
Em qualquer tipo de avaliação, o que se deve avaliar não é a quantidade de conhecimento adquirido, mas a capacidade de acioná-los e de buscar outros para realizar o que é proposto. Portanto, os instrumentos de avaliação só cumprem sua finalidade se puder diagnosticar o uso funcional e contextualizado do conhecimento. “A tarefa do avaliador constitui, portanto, um permanente exercício de interpretação de sinais, de indícios, a partir dos quais manifesta juízos de valor’’”. (Machado, 1995, p. 157).
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Depois de tudo, pode-se observar que o professor contemporâneo precisa estar apto a enfrentar situações inusitadas. Ele precisa ser dinâmico, irreverente, transformador, questionador, flexível e apaziguador. Além disso, o professor deve ser alguém que tenha autonomia e autoridade em sala de aula. O educador então precisa ter o total controle sobre seus alunos, porque cada vez mais esses adolescentes querem transgredir os limites para assim se destacarem perante seus colegas. Dar limites é como impor desafios, e estes por sua vez nos ajudam a construir nosso conhecimento, e nosso autoconhecimento.
E nessa construção e avaliação do conhecimento, que preferencialmente aconteçam por intermédio da mediação e da interação entre o professor e o aluno. Devem prevalecer à ética, o respeito, a justiça, a lealdade, a boa vontade e tudo o mais que for necessário para que ambos se entendam e dialoguem com a finalidade de dividir e fomentar seus saberes. Pois uma educação de qualidade não se faz sozinha, se não houver de cooperação entre o educador e o educando, quem perde é a sociedade.
Lembrando sempre que essa educação do aluno já tem que vir de casa, pois o professor só completa as bases de um fundamento regrado na ética e nos valores Moraes do aluno. Não cabendo assim que o professor faça sozinho um trabalho que seria dos pais.
REFERÊNCIAS
BOLOGNA, José Ernesto. Diálogos Criativos: Domenico de Mais: Frei Beto. São Paulo: De Leitura, 2002, p. 150.
DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. 4ª Ed. São Paulo: Cortez: Brasilia, DF: MEC: UNESCO, 2000, p. 84.
DEMO, Pedro. Avaliação sob o olhar propedêutico. 2ª Ed. Campinas, SP: Papirus, 1996, p. 160.
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 21ª Ed. São Paulo: Paz e Terra, 1979, p. 143.
MACHADO, Nilson José. Epistemologia e Didática: as concepções de conhecimento e inteligência e a prática docente. 4ª Ed. São Paulo: Cortez, 1995, p. 320.
MORAIS, Regis. Educação Contemporânea: olhares e cenários. Campinas, SP: Alínea, 2003, p. 132.
VIGOTSKY, L. S.; LURIA A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 2001, p. 126.