O PROCESSO DA LEITURA

Por Henrique Araújo | 17/02/2010 | Educação

O PROCESSO DA LEITURA

                                   

 

         O professor Frederico de Carvalho foi um grande autor de livros didáticos para todo o Brasil. Em 1891 ele terminou o livro chamado “Segundo livro de leitura” que, por incrível que pareça, chegou a 99ª.edição em 1939. Neste segundo livro conta que ele publicou 8 obras todas de cunho didático.

         A edição que consta no meu arquivo é a de 1939 e é dela que eu retiro o texto “O ensino da leitura corrente”. Com isto presto uma homenagem àquele ilustre batalhador que passou a vida lutando por um Brasil melhor.

         O ensino de leitura corrente deve tornar os alunos aptos para lerem de modo exato, fácil, claro e convenientemente rápido, uma sucessão de frases ligadas pelo sentido, articulando bem e pronunciando corretamente as palavras, sem atropelá-las ou repeti-las, dando ás sílabas o seu valor prosódico e finalmente observando as pausas e ligações que forem precisas.

         A leitura deve ser suficientemente lenta, porquanto, sendo muito rápida, dá lugar à omissão de palavras ou de sílabas, e não permite que o leitor compreende o que lê, o que aliás é indispensável.

         Articular a palavra é dar cada som que nela se contenha e é representado pela vogal, por mais de uma posição tomada pela língua e pelos lábios, para obter-se a modificação indicada pela letra consoante que vier junto à vogal.

         Concebe-se facilmente que o melhor meio de corrigir os vícios de articulação, é estudá-la bem, para fazer tomar pelos alunos a posição que os órgãos da boca devem ocupar na articulação que se pretenda retificar.

         Pronunciar é não somente articular uma consoante, mais ainda dar à vogal da sílaba o seu valor e a sua extensão. A boa pronúncia dá beleza à leitura, tanto quanto a má torna-a insuportável. É portanto, indispensável que se não descuide o professor de continuar na leitura corrente, a exigir dos seus alunos a pronunciação a que se deve ter obrigado na leitura elementar. Assim o professor se esforçará para extirpar nos seus discípulos os graves defeitos de pronunciar uma palavra dividindo-a em duas ou mais partes – de ler cantando, ou num mesmo tom de voz sempre, ou elevando a voz no fim de cada palavra, finalmente de pronunciar a palavra, articulando de modo particular certas consoantes, desfigurando as sílabas ou alargando demasiadamente as vogais.

         As ligações da leitura consistem em unir convenientemente as consoantes finais com as vogais iniciais das palavras seguintes. Para obter a ligação necessária deve o professor evitar principalmente que o aluno, parando no fim de uma palavra, leve contudo a última consoante dessa palavra a unir-se à vogal inicial da seguinte: isto é, lendo – eles amam, elas ouvem, diga a menina – elas...zamam, elas...zouvem

         As pausas são necessárias não somente para a clareza da leitura, para sua beleza como ainda para que o leitor não se fatigue, podendo respirar de modo preciso. Elas são indicadas pela pontuação: todavia acontece muitas vezes que o leitor deve fazer indicando por sinal algum de pontuação – é uma questão de gosto, que somente pode ser resolvido pelo sentimento da harmonia.

         Marcha a seguir para dar uma lição de leitura corrente: 1.O mestre lê convenientemente o trecho, que não deve ser muito longo. Durante essa leitura o professor não perderá de vista os alunos, mas antes seu olhar deve dirigir-se constantemente do livro sobre eles, a fim de mantê-los atentos, e obrigá-los a seguir a leitura, que será feita sempre lentamente. 2.Depois de haver lido, verifica o professor se os alunos compreenderam bem o assunto na sua generalidade e em cada um dos pensamentos que o desenvolveu explicando-os quando não hajam sido atendidos por algum aluno. 3.Se o aluno cometer alguma falta na leitura, fará o professor que outro aluno corrija esta falta, corrigindo-a ele mesmo só quando nenhum aluno o possa fazer. 4. Depois de cada lição de leitura o professor estenderá as idéias adquiridas pelos alunos durante esses exercícios, estabelecendo para isso uma conversação em que ele interrogará o aluno, incitando-o a que por sua vez lhe dirija freqüentes perguntas ou sobre o objeto das explicações dadas ou relativamente a outro que nelas se compreenda.