Cássio Miranda¹
Rafael Alexander²
RESUMO: Este trabalho científico tem por objetivo principal realizar uma análise
comparativa entre o romance português O Primo Basílio, de Eça de Queirós, e sua
adaptação homônima para o cinema brasileiro, com direção de Daniel Filho,
comparando estilísticas e o que cada um representa para a arte, em geral, de sua
época, analisando e confrontando peculiaridades que separam a literatura do
cinema e decodificando o que os aproxima em cada obra. Está análise indica que a
obra adaptada sofreu diversas alterações quanto a espaço, trama e época, com
efeito de contextualizar e ser verosímil, porém não abdicou do seu texto-base,
seguindo-o quase que religiosamente.
Palavras-chave: Literatura; Cinema; Realismo; Adaptação.
INTRODUÇÃO
O cinema em geral nos infere imagens bem peculiares sobre todos os tipos
de sensações e emoções possíveis; o cinema brasileiro talvez nos apresente ainda
mais raras impressões, visto que reúne elementos intrinsicamente nacional e
popular. Trabalhar com essas possibilidades de modo e linguagem artísticas,
contando a história de um grande clássico de tese - e aí vamos discorrer o porquê
desta obra ser um romance de tese – foi um desafio e tanto; nem tão menor é o de
decifrar a obra prima e a adaptação.
Incorreremos esta análise, linguisticamente falando, de forma simples e
direta, mas sem abdicar da formalidade que exige o estudo literário e
cinematográfico.
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¹ Graduando em Letras – Português e Inglês (2015) pela FAE Centro Universitário. E-mail:
[email protected]
² Graduando em Letras – Português e Inglês (2015) pela FAE Centro Universitário. E-mail:
[email protected]
O texto base, obviamente, é o romance realista escrito por Eça de Queirós em
1878, e a obra homónima adaptada para o cinema por Daniel Filho em 2007; com
auxílio bibliográfico do teórico Massaud Moisés.
Inicialmente, contextualizaremos obra, autor, período histórico e literário a fim
de que os leitores possam inserir-se da melhor maneira possível, para que o estudo
venha, unicamente, esclarecer ideias, principalmente como se é possível modernizar
o clássico, e não ganhe efeito contrário.
Visto o objeto e a proposta do artigo científico tentaremos, ao máximo,
trabalhar com a forma comparativa entre as obras, podendo, por vezes, cair na falha
da análise individual. A grande proposta é trazer aos leitores novas interpretações,
isso se faz fundamental para que o estudo não perca seu real sentido.
1. O CONTEXTO HISTÓRICO/LITERÁRIO COMO BASE ADAPTATIVA
Final do século XVIII e o Romantismo Português começava a extinguir-se
dando espaço a um movimento literário que teria influências de inúmeras teses
filosóficas; iniciava-se o Realismo em Portugal, a partir de 1860. Muitas insatisfações
tomavam os jovens literatos da época, mas o ponta pé inicial se deu depois da
Questão Coimbrã, uma briga explícita entre dois nomes importantes da época,
Antero de Quintal e António Feliciano de Castilho. Eça de Queirós, apesar de
participar do movimento dos jovens de Coimbra, indignados com o status-quo
instaurado na cultura portuguesa, resolveu não participar da polêmica, mas
absolutamente foi um dos nomes mais significativos na crítica ao movimento
romântico português, e isso é explícito no romance O Primo Basílio.
O livro escrito por Eça em 1878 é considerado como um verdadeiro romance
de tese por apresentar ao público português da época exatamente as críticas que
eram propostas pelo realismo. Era uma forma de o autor explicitar aos leitores, que
em sua maioria eram românticos, a falta de lucidez que estes procediam ao colocar
o romantismo como ferramenta de auxílio nas ações da vida. A presença contínua
de referências aos títulos românticos em O Primo Basílio se dá justamente para
exemplificar sua ineficácia, como nas cenas que Luísa suspira com tom invejoso de
personagens como Marguerite Gautier, do romance romântico A Dama das
Camélias de Alexandre Dumas Filho.
Considerando todos estes aspectos de conceitos e críticas, também as
influências obtidas do Evolucionismo de Darwin, Positivismo de Auguste Comte,
Comunismo de Karl Marx, entre outras teorias, embasaram e muito a linha de
raciocínio dos realistas, que não aceitavam mais a superficialidade do romantismo
português e a desatualização frente às escolas literárias europeias. Essa crítica é
latente no livro, mas também é proporcionalmente trabalhada no filme. As
passagens políticas entre matéria-prima e obra adaptada são semelhantes em
alguns aspectos específicos; Portugal acabara de viver uma guerra travada entre
monarquistas e liberalistas, onde se dividiu o povo e os próprios monarcas. O
liberalismo acabou sendo implantado no solo português e com certeza isso
influenciou os intelectuais da época, a primeira geração romântica, com nomes
como Almeida Garrett (1799 – 1854) e Alexandre Herculano (1810 – 1877). Esse
Constitucionalismo não agradou muita gente pois na prática Portugal ainda
continuava uma nação desigual e muito longe das atualizações políticas e
econômicas frente à face das demais nações europeias. É aí que surgem os
realistas já aqui citados.
O filme brasileiro trabalha com situações semelhantes. Em um contexto
brasileiro, transcorrendo a histórias na década de 1950, Daniel Filho conseguiu
trazer elementos políticos revolucionários, guardada as devidas proporções. A
alusão ao trabalho da personagem “Jorge”, sendo engenheiro, ele não mais partirá
para o Alentejo, como na obra portuguesa, e sim para Brasília, onde participará da
construção da cidade junto a Oscar Niemeyer em um governo que transformou
algumas bases políticas e sociais no Brasil. A alusão do Liberalismo Português ao
Governo de Juscelino Kubitschek é claramente proposital, e é a grande façanha do
diretor para tornar próxima e contextual sua adaptação fílmica. Quanto à crítica
realista, esta se embasa principalmente no julgamento ao comportamento burguês -
ou classe alta para ser mais próximo aos termos do país - quando manifesta certo
distanciamento ao público “inferior” – como na cena em que Luísa caminha ao
“paraíso” – no próprio tratamento aos subalternos, a questão da infidelidade na
família e certamente ao ócio da vida abastada.
2. PERSONAGENS: O PARALELO ENTRE CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E
PSICOLÓGICAS
A elaboração e criação dos personagens por Eça de Queiroz estão ligadas
diretamente a grandes aspectos da Escola literária que se dispõe a defender, o
Realismo aparece fortemente na elaboração de características que reforçam essa
ideologia e se opõem aos pensamentos românticos, quais são sinalizados como
atraso do desenvolvimento português relacionado a grandes países da época,
Inglaterra e França. Os personagens centrais da trama aparecem contextualizados
na baixa burguesia lusitana, que diferente de outras regiões da Europa, ficam presas
as glórias do passado e focam apenas em suas vidas medíocres e sem perspectiva.
Uma grande ferramenta utilizada pelo autor é a descrição, ele detalha cada
ambiente, roupas e histórias dos personagens para despistar e complementar a
fragilidade psicológica dos personagens. Com pontos fortes do Naturalismo Eça
representa os personagens comparados a animais, com suas necessidades e
instintos expostos, sempre dispostos a degradar toda uma sociedade.
A personagem central da obra é Luísa, caracterizada como uma personagem
plana pois não muda de personalidade durante o desenrolar da trama,
permanecendo fraca psicologicamente e passível de chantagens e ameaças por
Juliana. Uma moça inicialmente recatada, esposa “asseada”, como diria o autor,
dedicada ao comandar o lar, porém com a vida ociosa. Centralizando a atenção para
a obra original escrita por Eça, Luíza se apresenta com características românticas
bem marcantes, lírica e sempre inquieta por falta de exercícios vira alvo de suas
leituras, que a influenciam e fazem despertar vaidades e os desejos mais adversos
que o bovarismo pode demonstrar. Com a personalidade frágil ela se deixa inflamar
pelas visitas capciosas de sua amiga Leopoldina, nas quais conta suas aventuras
sexuais e experiências profanas chegando até a deixar Luíza envergonhada por
certas ocasiões. Luíza também é sensível sentimentalmente, porém não apresenta
características religiosas e não parece se importar com a justiça relacionada ao
mundo e as pessoas, estes são pontos que certamente reforçam as características
Realistas na obra.
Segundo Machado de Assis, em crítica publicada na época, Luíza é uma
personagem sem personalidade e não tem características psicológicas fortes a
ponto de causar a trama por si só, por isso o autor foi obrigado a criar argumentos
fracos para o desenrolar da obra, como a criação das cartas e da criada Juliana.
Assim, Machado afirma:
Para que Luísa me atraia e me prenda, é preciso que as
tribulações que a afligem venham dela mesma; seja uma
rebelde ou arrependida; tenha remorsos ou imprecações;
mas, por Deus! dê-me a sua pessoa moral.(DE ASSIS,
MACHADO, 2003, P. 126)
Porém Machado não levou em conta que era exatamente essa mensagem
que Eça gostaria que Luíza levasse ao leitor, tratando-se da sua obra de tese na
qual demonstrou o conceito realista com grande êxito. No plano fílmico, o Diretor
Daniel Filho é bastante fiel às características originais de Luísa. A atuação da atriz
Débora Falabella e sua caracterização são muito próximas a Luíza do Livro, assim
como a própria feição da atriz que lembra a descrição de Eça sobre ela. Em relação
à abordagem psicológica, Luíza se apresenta com aspectos distintos entre os
gêneros, no livro ela é mais recatada, tímida e tem medo atitudes arriscadas, já no
filme, devido às características do cinema brasileiro, ela é mais aberta
sentimentalmente e ousada nas decisões e até mesmo é mais sensual, embora na
obra literária o sentimento dela por Basílio se exponha em determinado momento,
ela não demonstra tanta superficialidade e sexualidade nas ações como no cinema.
O primo Basílio ou Basílio de Brito em nome original é responsável pelo início
do nó da trama. Sua volta para Lisboa e o contato com sua ex-noiva e prima
apresenta as suas principais características, já nos primeiros momentos em que revê
Luíza demonstra interesse por ela e inicia o processo de reconquista, com cinismo e
prepotência em todas as conversas procura agradar a todos em sua volta, a fim de
concretizar seu plano maligno seduzindo Luíza apenas para sua própria vaidade. No
filme, o escolhido por Daniel foi o grande ator Fábio Assunção que representou com
êxito este papel, este já é um ponto que não é comum com a obra literária por tratarse
de um ator considerado galã e bonito, pois a descrição de Basílio no livro é
exatamente oposta, desprovido de charme ou atributos sedutores seu cinismo é o
que se torna atrativo. Quando surgem os primeiros problemas na relação dele com
Luíza, suas atitudes o tornam grosseiro e extremamente sarcástico enfatizando sua
característica psicológica de plano, ao final da trama mostra seu verdadeiro caráter,
com descaso não se importa com a morte da prima, porém o autor deixa claro desde
sua primeira aparição quais são suas intenções, trejeitos e características.
Nenhuma criada poderia ser mais importante em uma obra quanto Juliana, a
causadora de todo o mal de Luíza, e se não fosse por ela não haveria o grande
conflito. Certamente
a personagem mais forte psicologicamente, com características marcantes e
redondas ela é a responsável pelo sofrimento de Luíza e até mesmo por sua morte
indiretamente. Juliana é uma personagem ambiciosa que sofreu muito por não
conseguir seus objetivos, trabalhou por muito tempo cuidando da tia de Jorge, de
olho em sua herança que nem ao menos foi citada no testamento. Criou uma
aversão as patroas. Odiava as amas apenas pelo título e, não se importando o quão
bom elas fossem, simplesmente ignorava qualquer nutrição de sentimento. Após
descobrir o caso de Luíza e Basílio, ela encontra as cartas de amor trocadas entre
eles que serve como prova do adultério, ela usa essas cartas para chantagear sua
patroa, pedir dinheiro e humilhá-la obrigando ela a fazer os serviços da própria casa.
Ao final da trama, ela morre sem conseguir realizar seus planos, tragicamente após
entregar as cartas roubas para Sebastião cai no chão, enfartada. No filme, Juliana é
representada pela atriz Glória Pires e seu retrato é muito fiel às descrições originais,
as características pessoais também são fiéis às descritas por Eça.
O marido, engenheiro e viajante Jorge é um homem bem-sucedido
socialmente, com uma esposa bonita e uma casa tranquila e equilibrada até sua
vigem a trabalho. Ele é um personagem plano com tendência redonda, pois apesar
de mostrar-se fiel no início da trama ao final da história entende-se que ele tem
algum caso amoroso na cidade em que está instalado. No papel de marido em pleno
século XIX, Jorge é apenas mais um homem que tem casos extraconjugais, esse
conceito da época era muito comum, pois as mulheres é que precisavam ser fiéis e
recatadas esposas. Todo o empenho de Luíza é em esconder a traição do marido,
fica uma dúvida no ar em relação a sua reação a traição de Luíza com primo, a qual
é representa por um personagem secundário chamado Emestinho Ledesma que
conta suas peças teatrais e o questiona ao contar o enredo que terminará em
tragédia por causa de traição e adultério.
Além de Sebastião e Emestinho, aparecem alguns outros personagens secundários,
o Conselheiro Acácio, frequentador de um círculo próximo a Luísa, é o intelectual
vazio e tem a habilidade em dizer o óbvio com empáfia. Joana é a cozinheira que
enfrenta Juliana em defesa de sua ama.
3. TEMPO PSICOLÓGICO E CRONOLÓGICO
Eça de Queiroz publicou O Primo Basílio em 1878, logo, a história se passa
nesta mesma época. Em Lisboa, no ano de1860 as características estéticas são
extremamente aparentes, no auge do realismo português os ideais que confrontam a
ideologia romântica são a influência de vários literatos, que buscam por meio dos
livros romperem os românticos atacando os três pilares principais da sociedade: a
família, o Governo e a Igreja. A história se passa num curto período, entre a viagem
de Jorge e a morte de Luíza passam em torno de seis meses, esse tempo não é
especificado, entretanto psicologicamente a obra é longa, o sofrimento de Luíza
parece ser cruelmente demorado, a maximização do tempo e dos problemas
também são características realistas, que servem para enfatizar os sentimentos de
dor, causados pela sociedade degradada.
Daniel Filho escolheu para o tempo cronológico adaptar está obra no Brasil, o filme
se passa em São Paulo na década de 50, também enfatizando a alta sociedade. O
diretor incluiu incrivelmente na adaptação a construção da nova capital nacional,
Brasília, a qual aparece quando Jorge viaja a trabalho e ajuda na construção da
cidade. Outra razão que fez com que o autor escolhesse este ano foi que o adultério
causaria mais impacto nesse período, não caberia essa problemática
contextualizada no século XX, por exemplo.
4. ESPAÇO
O espaço físico do livro se desenrola em Lisboa, uma cidade distante do que
desejava os Realistas, atrasada socialmente em comparação as grandes cidades
europeias. Uma cidade onde os valores tradicionais ainda são cultivados, valores
muito atacados pelo primo Basílio em diversas críticas em exemplos superficiais
espalhados pela obra. Embora o filme seja bem fiel ao livro, existem diferenças
quanto aos lugares que a história se passa; a adaptação fílmica foi trazida para o
Brasil e adaptada em contexto histórico e social; a caracterização dos atores e a
cidade cênica criada remetem aos anos 50, na verdade exatamente no ano de 1958,
época que existia um Brasil ingênuo em rigor moral que combina com a Lisboa de
1860. O enredo geral, tanto no livro quanto no filme, se passam na maioria do tempo
na casa do engenheiro, diversas conversa e encontro com os amigos de Luísa e
Jorge, o próprio adultério e a confusão com as cartas, as mortes de Luísa e Juliana,
tudo acontece debaixo deste mesmo teto. Em poucas ocasiões a cena fica externa,
saindo da casa, com exceção do Paraíso, é o principal lugar fora da casa que
compromete Luísa e a faz cometer uma sequência de erros que a leva a morte.
5. ENREDO: A HISTÓRIA E SUA ADAPTAÇÃO
Como todos os romances realistas a minúcia de detalhes na linguagem é
nítida. A exatidão da composição das cenas feitas pelo Eça de Queirós é
extremamente rica e isso colaborou na adaptação feita para o cinema brasileiro.
Contar como Jorge, engenheiro, e Luísa, senhora do lar, viviam em uma época que
a burguesia comandava os negócios, já que a queda iminente da aristocracia
permitiu isso, trazendo para o cenário brasileiro não foi nada fácil. O ócio contínuo
vivido por Luísa em Portugal após a partida de Jorge para o Alentejo também é
retratado de forma muito precisa no filme. Luísa vista impedida do convívio às ruas
da cidade de São Paulo – no livro essa proibição fica muito mais marcada – recebe
a amiga de infância e adúltera Leopoldina em casa, mesmo que contra a vontade
popular e do marido, e, na obra adaptativa, essa “má” influência parece afetar ainda
mais a “mocinha” do filme para as futuras aventuras com o seu primo Basílio.
Quando Luísa reencontra Basílio, vindo de Paris no filme e do Brasil no livro,
a chama da paixão adolescente ressurge em ambos, porém em proporções
desiguais. Luísa se mostra carente e frágil com a viagem do esposo e se rende aos
encantamentos do primo. Este parece gostar da ideia de ter alguém para viver um
romance em seu retorno, principalmente por nas obras isso ficar extremamente
explícito: o Basílio é um grande conquistador. Porém, o interesse do primo parece
restringir-se somente aos encantos e aos prazeres que Luísa viria a lhe proporcionar
e de fato foi assim que se deu nas obras. Inicialmente os dois resolvem
encontrar-se na própria casa da Luísa, mas, receando a descoberta dos vizinhos e
dos próprios criados, Basílio resolve alugar um quarto que alcunhou de “Paraíso”.
Pela descrição do Eça e as lentes do Daniel Filho, o ambiente era o avesso disto,
em um senso comum. Eles vivem nesse ambiente tórridas cenas de amor,
entretanto com o tempo, Basílio começa a esfriar-se em seus interesses e o destrato
e o desprezo torna-se iminente.
Tudo piora para a Luísa quando sua empregada, Juliana – a personagem
com a maior complexidade psicológica das obras – descobre o romance entre os
dois por meio das cartas perdidas por Luísa. Esse com certeza é o grande nó do
romance, a descoberta da infidelidade da mocinha “ingênua” e cristã, colocando em
cheque sua reputação e ficando automaticamente nas mãos de sua subalterna, que
vai aproveitar-se da situação. Juliana exige e ganha privilégios de espaço dentro da
casa dos próprios patrões e abstém-se de executar suas tarefas, que passam a ser
executada pela própria Luísa, uma situação extremamente humilhante para a
sociedade portuguesa do século XIX e para a década de 1950 no Brasil. O romance
articula essas cenas de forma muito detalhada, o “sofrimento” vivido por Luísa chega
próximo de ser digno de pena pelo leitor, e isso também é trabalho bem no filme. Em
uma das cenas, quando Luísa chega em casa, encontra sua empregada em um
plano superior da casa, preparando-se para sair, e Luísa, no plano inferior da casa é
tratada de forma esdrúxula. Esse momento figura de forma muito esclarecedora para
o público o que estava acontecendo com a reputação da heroína do filme, a
decadência. A única saída era a fuga junto ao Basílio, que se recusa e mais tarde
regressa ao seu país.
Transtornada, Luísa conta ao amigo fiel da família que resolve ajuda-la.
Sebastião, talvez o único personagem que não tenha uma crítica direta à sociedade
lisboeta, vai até a casa da família em um dia que eles não estavam, encontra Juliana
e pressiona-a com ameaças de prisão. A empregada acaba devolvendo as cartas,
mas perde os sentidos pela pressão sofrida e morre. Essa mesma passagem da
história não é tão fiel assim ao livro, pois a morte da personagem ocorre em
decorrência de um atropelamento. Esse é o grande disparate da adaptação. As
histórias findam com a descoberta casual do romance entre sua esposa e o primo,
por meio também das cartas. Luísa doente, piora quando toma conhecimento da
ciência do marido sobre o caso e tem um choque, morrendo dias depois. Esse final
da história serve principalmente para o realismo criticar o homem romântico, que
vive suas ilusões amorosas e coloca-as como questão de vida ou morte, o que eles
consideram superficialidade.
CONSIDERAÇOES FINAIS
O projeto desenvolvido neste artigo científico era inteiramente de cunho
acadêmico, porém, a força e a impulsão que desenvolvemos ao longo da pesquisa e
estudo das obras analisadas extrapolaram as barreiras da Academia e alcançou um
estágio que nos satisfez e muito. Constata-se por meio deste estudo que a obra
adaptada tem grande responsabilidade com a obra-prima, sendo fiel a esta quase
todo o tempo, contextualizando de forma inovadora e colocando nas cenas
ingredientes únicos. A crítica realista é presente na obra do Daniel Filho, pois
consegue fazer críticas à instituição familiar, governo e clero da época com a mesma
propriedade que Eça de Queirós faz a sociedade portuguesa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa. 18ª edição. Editora Cultrix: São
Paulo, 1982.
OLIVEIRA DE, Clenir Bellezi. Arte Literária: Portugal - Brasil. 2ª edição. Editora
Moderna: São Paulo, 1999. Disponível em Projeto Vercial – Literatura:
<http://www.ipn.pt/opsis/litera/index.html. > Acesso em 26 de março de 2016 às
10h41.
FRANSCISCO, Eva Cristina. O PRIMO BASÍLIO: Da narrativa literária à fílmica,
2010. Disponível em Unimar:
<http://www.unimar.br/pos/trabalhos/arquivos/2B935505481A3D5975A86D762FB75
32F.pdf> Acesso em 22 de março de 2016 às 13h00.
O primo Basílio – Eça de Queirós. Disponível em Literatura Brasileira:
<http://www.literaturabrasileira.net/index.php?option=com_content&view=article&id=
84:o-primo-baso-ede-queiroz&catid=16:todos&Itemid=28> Acesso em 26 de março
de 2016 às 10h41.