O Povo paga!

O povo paga, mas até quando?

Até quando tomarão de nós os impostos, as taxas e as outras formas de nos extorquir sem nada, quase nada ou muito pouco nos dar em troca? Pelo menos é esse o princípio: os impostos são recolhidos para que o poder público tenha condições de prestar os “serviços públicos”.

Entretanto não é isso que vemos: deveria haver recolhimento para redistribuição; entretanto ocorre apenas a extorsão. E, o que é lastimável, usam de um poder quase sagrado (pois origina-se do povo) para enganar o povo.

Porém é bom lembrar que eles têm esse poder não porque o merecem, mas porque o tomaram. E tomaram não porque tenham poder para isso, nem porque tenham esse direito, mas porque usurparam o direito e o poder. Usurparam o direito porque, ao tomar o poder, criaram leis que os favorece e com isso prolongam seu poder antipopular.

Usurparam o poder não por um golpe de Estado, mas porque nos enganaram: lobos, vestiram-se de cordeiros e, crédulos que somos, caímos em seu engodo de uma falsa democracia. Por esse motivo, infeliz de nós, votamos neles que agora nos oprimem, nos exploram, nos enganam...

O pior é que, por vezes, ameaçam de nos roubar até o direito de reclamar. Na realidade não temos o direito de reclamar, pois os mecanismos de reclamação (ministério público, PROCON, e outros) são mecanismos distantes do povo. Muitos de nós ainda não temos acesso ou não conhecemos os caminhos e mecanismos para cobrar, reclamar e fazer valer os direitos que dizem que temos. E, com isso, eles nada de braçada sobre nós... contra nós...

E tem mais. Não só nos oprimem, nos exploram, nos enganam como também querem nos fazer crer que essa situação está correta. A cara de pau da safadeza institucionalizada é tanta que o poder público insiste em dizer que as coisas estão se normalizando; que estão sendo tomadas as “devidas providências”... De fato, as providências são devidas, pois nos devem não só providências, mas soluções. Devem porque se apropriaram de todos os impostos. O problema é que as providências, que são a dívida, que são devidas, não chegam. Ou seja, quando o poder público diz que serão tomadas as “devidas providências” está apenas reconhecendo que: a) não tem capacidade para resolver o problema em questão e, por isso, engambela com belas palavras; ou b) reconhece a dívida para com o povo, mas, na cara dura, confessa que a solução não virá, pois o sofrimento do povo não atinge a quem está no poder. Em ambos os casos esse representante do poder público (não importa se eleito ou nomeado pelo que foi eleito) não merece continuar no cargo, pois não está lá em favor do serviço público, mas contra o povo que lhe paga o salário.

Triste mesmo é que alguns servidores públicos, que por meio de um concurso, aboleta-se no cargo esquecendo-se de que são “servidor público”. Com honrosas exceções, podem até ter tido o mérito de passar no concurso, mas sua função é prestar serviço ao povo e não humilha-lo com sua incapacidade de servir, amparando-se no câncer do serviço público: a “estabilidade”.

A lista de reclamações é longa. Ela é uma evidência do descontentamento que, por sua vez, é um indício de que um dia, talvez não muito longe, não mais seremos manipulados e enganados. Chegará o dia em que assumiremos as rédeas que conduzem nossos destinos. Como diz a letra daquele canto das comunidades eclesiais de base. Aquela música baseada no Magnificat, de Maria Mãe de Jesus: “Virá o dia em que todos, ao levantar a vista, veremos nesta terra, reinar a liberdade. Minh'alma engrandece ao Deus libertador, se alegra meu espírito em Deus, meu salvador, poie Ele se lembrou do seu povo oprimido e fez de sua serva a mãe dos escolhidos”

Enquanto isso não acontece, o povo paga e continua pagando.... até quando?

 

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador.

Rolim de Moura - RO