O povo que tem conhecimento, cultura, percepção e sabedoria sabe valorizar seu produto, sua mão-de-obra e suas riquezas. Caso contrário, sucatearia seus recursos naturais, seus produtos brutos, e até sua cultura. Uma nação que exporta a maior parte de sua riqueza na forma bruta não se desenvolve, e ao contrário, empobrece, e vive em decadência.

Por exemplo, exportar algodão bruto é uma forma de queimar o estoque. Este produto se transformaria num produto fino como tecido ou roupas; com valor agregado se torna precioso. Uma peça de roupa de algodão trabalhada e fina pode valer até três vezes o salário de um trabalhador rural, o mesmo que produziu toneladas de algodão.

O Pau-Barsil foi explorado e exportado para fora do Brasil durante séculos, assim foi com ouro e diamantes. Hoje, este ritmo de exploração não diminuiu, apenas se expandiu para outros commodities, a exemplo de algodão, ferro, e alumínio.

Entretanto, a matéria-prima enriquecida com valor através de processos de manufatura e mão-de-obra especializada possibilitaria a chance de aproveitar a criatividade inerente a cada alma humana, e ainda, garantiria a prosperidade de seus produtores e o enriquecimento da nação. A indústria poderia gerar muitos mais empregos e produzir inúmeros produtos de utilidade universal.

O Brasil não deve desfazer da sua matéria-prima com tanta facilidade. É lamentável o país tornar-se um grande produtor e exportador de commodities; minérios e gêneros agrícolas produzidos em larga escala, comercializados e negociados em bolsas de mercadorias,  com valores reduzidos, uma vez que seus preços são definidos em nível global pelo mercado internacional. Obviamente, num quadro de recessão mundial estes commodities se desvalorizam, suas ações negociadas em bolsa de valores despencam e consequentemente prejudicam as empresas produtoras e empobrecem o país.

Portanto, há necessidade de se criar mecanismos que protejam produtores e trabalhadores contra aqueles que exploram a produção, a mão-de-obra e a matéria-prima.  O governo deveria mobilizar-se para reverter este quadro, e em vez de apoiar a exportação em larga escala, criar setores e linhas especializadas em indústria de transformação, para transformar estas matérias-primas em produtos que possam atender à demanda do consumo interno e até externo, a exemplo da China. Assim, não seria necessário desperdiçar a riqueza do país e do povo. Ao contrário, evitaria o desemprego e a pobreza, e asseguraria a soberania da nação.

Os produtos brutos tais como petróleo, café, soja, algodão, milho, e minérios de ferro e de alumínio deixariam de ser commodities, e passariam a ser ingredientes de inúmeros produtos acabados de utilidade interna e externa, e com geração de muitos empregos. Esta política seria auto-sustentável e ajudaria o país a se modernizar e se prosperar.

Além das providencias a serem tomadas na instância dos governos, algumas outras no nível de indivíduos, com apoio de instituições, podem colaborar para valorização da mão-de-obra e da matéria-prima, como: a Agricultura Familiar, a Produção Local, Oficinas de Artesanatos, Trabalhos Criativos em Casa, Sistemas Cooperativos, e Projetos Sociais.  

Tais políticas permitiriam o desenvolvimento das vastas regiões não-favorecidas, distantes dos grandes centros urbanos e que historicamente foram abandonados à sua própria sorte, a se erguerem e se tornarem como centros de progresso, e aproveitarem a sua vocação regional. O resultado final seria o que todos almejam: um desenvolvimento com ritmo sustentável.

Do Livro: Trabalho e Reencontro de Interesses da autoria Felora Daliri Sherafat