Um Possível Novo Mundo Tripolar
Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 14/07/2025 | PolíticaSempre atrás de um governante há uma mente brilhante. No caso do Czar Nicolau Romanov e sua esposa, Alexandra Feodorovna Romanova, havia um místico de confiança que curou seu filho Alexei da hemofilia: o guru Grigory Yefemovicht, mais conhecido Rasputin. Isso fez com que a família imperial o fizesse seu conselheiro, mas não durante muito tempo, já que viria a ser assassinado. Na atualidade há algo parecido. Por trás das ações agressivas de Vladimir Putin está o filosofo criador da doutrina do Eurasianismo, Alexander Dugin. Para ele, a Rússia deveria recuperar sua condição de grande civilização com um novo império, fazendo, pela força, com o norte da Eurásia, de Vladivostock a Lisboa, pertença aos russos.
A Rússia já possui de dezessete milhões de quilômetros quadrados, ao longo da Eurásia. Mas não é só: ela domina, sozinha, as Ex-Repúblicas Soviéticas da Ásia Central (Cazaquistão, Uzbequistão, Turcomenistão, Tajiquistão e Quirguistão, cujos governantes lhes são fantoches). É o primeiro passo para uma futura fusão, reconstituinte de parte do território soviético, ainda não dominado em razão das rebeldes Ucrânia e Geórgia, bem demais dos países caucasianos (Armênia e Azerbaijão) e bálticos (Lituânia, Letônia e Estônia). Para cumprir a filosofia de seu guru Dugin, Putin teria também que dominar esses países, com PIBs nominais, e, assim, nenhuma importância para uma OTAN já desfalcada pelos EUA.
Desta forma, é bastante factível o relatório da Inteligência alemã, que afirma vir Putin a atacar a Europa Central e Ocidental nos próximos dois ou três anos. O Reino Unido e a França, que possuem cerca de duzentas e cinquenta armas nucleares cada, não se atreveriam a lançar o primeiro artefato atômico contra o território russo, pois Putin tem por volta de sete mil. Então, o ditador russo, em tese, usaria apenas suas forças convencionais em face dos ocidentais, eis que nem a ele aproveitaria herdar uma Europa potencialmente radioativa. Dugin, o filósofo Guru (que teve a filha, Darya, morta num carro bomba plantado pelos ucranianos, cujo alvo seria ele) observa muito bem esses futuros movimentos e não se importa com a quantidade de russos eventualmente mortos pelos ocidentais, que têm armas exponencialmente mais modernas. Mas a Rússia tem milhões a mais de reservistas, que enviaria, em hordas, a pressionar os seus inimigos na direção ao Atlântico, morrendo e matando rumo ao oeste. No mundo militar, muitas vezes mais se sobressai o número de soldados que a qualidade do armamento. E os russos são os velhos cães de guerra, tendo provado-o em Stalingrado.
Vencida a guerra pelos russos, com a OTAN destroçada pela ausência dos EUA, ressurgiria a nova União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, desta vez maior, vez que se estenderia do Pacífico ao Atlântico. Haveria a imposição de adoração à Igreja Ortodoxa Russa pelo futuro governo soviético, numa doutrinação espiritual e política, eis que seus Patriarcas sempre apoiaram Putin. O aprendizado do idioma russo seria coativo, o que, aliado ao interminável território conquistado, faria com que a semente do Eurasianismo de Dugin viesse a ser plantada, deles usufruindo Putin.
Três polos de poder subsistiriam no mundo: os EUA, que perderiam muito poder e influência ao leste, mas seguiriam na condição de segunda potência econômica do globo (depois da China, mas, ainda, suplantando a nova União Soviética), buscando mais oportunidades nos fiéis e fracos vizinhos ao sul (como a Argentina e outros bem menores), ao passo que potências regionais como o Brasil e a Venezuela estariam sino-sovietizados e hostis, conforme se depreende do atual uso do capitalismo para as presentes alianças com a Rússia e a China. Os EUA, regionalmente, só se aliariam relevantemente ao Canadá, enquanto o México subsistiria sob iminente ameaça militar do grande vizinho do norte, temeroso de sua eventual adesão à Nova Ordem Mundial. As órbitas diplomáticas, militares, econômicas e políticas gravitariam em torno dos dois gigantes do Oriente, cujas históricas tensões mútuas aflorariam mais ferozes que nunca, e das quais os EUA se aproveitariam para neutralizá-los e retomar, da China, a liderança econômica mundial.
Alexander Dugin quer mudar o mundo por um novo Eurasianismo. Instiga Putin a fazer desta forma. Que, convenhamos, não é nada impossível.