O POR QUE DA DIVERSIDADE CULTURAL BARRAGARCENSSE.

Por Jorcelei Inês Tezori.

RESUMO

Essa pesquisa procura analisar as diferentes culturas que povoam a sede do município de Barra do Garças. E com essa analise foi observado que há traços, ou melhor, um pouco da cultura das cinco (5) regiões geográficas do Brasil (Sul, Norte,Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste), de uma forma diferente, ou seja, bem mescladas as demais culturas (costumes) que são encontradas na sociedade barragarcense. E para tanto, foi enfocado de forma especial á cultura do Brasil de um modo geral para depois enfocar a cultura de Mato Grosso para então chegar ao nosso objetivo que é mais precisamente, a cultura de Barra do Garças, local onde ocorreram  as migrações que acabam formando em Barra do Garças uma cultura diferenciada das demais culturas, não só no Vale do Araguaia.

Nosso objetivo é demonstrar como a cultura dos migrantes formou a sociedade barragarcense, observando como e quantos moradores são de outras regiões brasileiras e quantos são naturais da região de Barra do Garças. Dessa forma, acreditamos, será mais a compreensão sobre a aculturação e a miscigenação que aqui ocorrem num processo continuo.

Observamos durante a pesquisa que algumas famílias conseguiram manter integralmente ou parcialmente os costumes que trouxeram da sua região de origem e a estes costumes (cultura) acrescentaram os que encontraram aqui na região de Barra do Garças, e ou, ainda outros que chegaram aos poucos com outros migrantes. Devido a esse fato é que percebemos que necessário que se faça um conceito rápido e breve sobre o que é cultura. Em poucas palavras, e de maneira bem simples cultura é ao mesmo tempo o todo e o individual de cada povo, é a identidade de um povo, um país ou nação, de uma comunidade ou região. Dentro do Brasil há uma grande diversidade cultural devido aos colonizadores (geralmente europeus) de cada região e das culturas afro (que nem sempre eram da mesma região do continente africano, e ainda as culturas indígenas locais.

Enfim de um modo geral e simplificado cultura são os hábitos e costumes de cada grupo humano que habita um determinado espaço e procura se adaptar ao mesmo, copiando, e ou, remodelando costumes e hábitos(aculturando) desenvolvendo assim a sua característica que lhe é peculiar e os diferencia dos demais grupos, sendo essa a cultura que o identifica pode-se dizer que ela é uma forma de identidade desse grupo humano.

Palavras- chave: Cultura, Sociedade barragarcense, comunidade, aculturação. 

INTRODUÇÃO

Para que fique mais claro nosso objetivo, julgamos que se faça necessário esclarecermos alguns conceitos. Assim, sabendo que o estudo da cultura esta diretamente ligada á história, ciência que pode ser usada para esclarecer muitos pré- conceitos, hoje muitos historiadores usam vários recursos para a sua pesquisa: literatura, imagens (fotos, etc.), documentos, atas, notas, diários, enfim tudo o que estiver ao seu alcance e que possa ser utilizado como fonte para esclarecer um ponto obscuro de um determinado fato histórico.

Dessa forma nós utilizamos a história como uma importante fonte de informação para explicar nosso passado distante, para uma compreensão adequada da nossa realidade. Por ser uma ciência em constante construção ela não esta pronta e acabada sendo sempre possível ser acrescentado novos dados aos fatos já conhecidos de um povo, de um local, uma vez que os homens fazem a história dentro das condições reais, e não dentro dos ideais com que sonhamos, e é esse fator, a razão, a justificativa de que a história e a cultura nos fazem entender junto com outras formas de conhecimento (ciência) as verdadeiras condições da nossa realidade.

A história por preocupar-se com o estudo das mudanças da sociedade humana, tomando muitas vezes um determinado modelo de sociedade para analisar outras sociedades e seu desenvolvimento, transformando os acontecimentos do passado em objeto de estudo do conhecimento histórico com objetivo de fornecer informações mais concretas á sociedade (estudada) sobre seu passado desconhecido. Para realizar esse estudo (pesquisa) o historiador pode  ser auxiliado por outras ciências afins que possam lhes fornecer os dados necessários para os devidos esclarecimentos(sociologia, filosofia, psicologia,matemática, literatura, geografia, entre outras).

Como estamos usando a historia com objetivos educacionais e de esclarecimento essa pesquisa procurou analisar as cinco regiões brasileiras em suas peculariedades dentro do âmbito cultural, enfocando de forma particular a região de Barra do Garças(Centro-Oeste). Região onde as migrações ocorreram na forma de integração entre as diversas culturas, formando assim uma cultura diferenciada das demais culturas do Vale do Araguaia.

Nosso objetivo é demonstrar como a cultura dos migrantes formou a sociedade barragarcense, canalizando essa analise cultural para a comunidade escolar de Barra do Garças. Tornando assim mais acessível a compreensão sobre aculturação e miscigenação que ocorreram e ocorrem num processo continuo. Dessa maneira  percebemos que necessário que se faça um breve esclarecimento sobre o conceito do que é cultura. Em poucas palavras, e de maneira bem simples: Cultura é ao mesmo tempo o todo e o individual de cada povo, é a identidade de um povo, um país ou nação, de uma comunidade ou região. Dentro do Brasil há uma grande diversidade cultural devido aos colonizadores (geralmente europeus) de cada região e das culturas afro (que nem sempre eram da mesma região do continente africano, e ainda as culturas indígenas locais.

Enfim de um modo geral e simplificado cultura são os hábitos e costumes de cada grupo humano que habita um determinado espaço e procura se adaptar ao mesmo, copiando, e ou, remodelando costumes e hábitos(aculturando) desenvolvendo assim a sua característica que lhe é peculiar e os diferencia dos demais grupos, sendo essa a cultura que o identifica pode-se dizer que ela é uma forma de identidade desse grupo humano.

Com esses esclarecimentos, podemos dizer que nossa pesquisa vai além da Marcha para Oeste, empreendida pelo então presidente Getúlio Vargas, que tinha como objetivo povoar essa região com o empreendimento Fundação Brasil Central. Mas poderemos observar que foi com essa iniciativa que houve a grande migração para o Centro-Oeste. E que essa migração será dividida em três fases para facilitar o estudo.

No inicio falaremos dos desbravadores da região do Mato Grosso, e de sua formação étnica, para assim atingirmos o objetivo que é a formação cultural da região barragarcense.

Depois falaremos do povoamento inicial de Barra do Garças, sua política, economia, migrantes sonhadores, que irão formar a diversidade cultural local.

Palavras- chave: Cultura, Sociedade barragarcense, comunidade, aculturação. 

CAPITULO I

CULTURA, HISTÓRIA E CONHECIMENTO

Segundo o autor Edgar Morin todas as comunidades sociais, por mais antigas que sejam, o seu conhecimento e a sua cultura serão preservadas, pois já se sabe que não existe cultura sem conhecimento. Sendo, que a cultura faz parte de uma sociedade organizada sob o vínculo do conhecimento lingüístico e dos conhecimentos coletivos adquiridos.

As normas culturais geram processos de mudanças sociais e direcionam a vida e o comportamento do indivíduo dentro da sociedade, ou seja, a cultura é produtora e geradora daquilo que produz ou gera, numa relação mútua, sendo que os homens são portadores/ transmissores de cultura e quando interagem na regeneração da sociedade, a qual regenera a cultura. Cultura na visão de Morin, é uma questão muito subjetiva, por ser “ um tronco comum indistinto entre conhecimento, cultura e sociedade”.

O fenômeno da relação entre cultura e conhecimento é que um depende do outro o que os torna inseparáveis, mais permite-nos segundo a concepção da autonomia / dependência, perceber a autonomia relativa dos indivíduos com conhecimento.

Antes mesmo de nascer o ser humano é introduzido numa esfera sociocultural (meio- ambiente no qual a mãe vive, sons, alimentos e hábitos maternos são repassados ao feto no ventre da mãe) após o nascimento as interações relativas ao conhecimento iniciada no período intra-uterino (embrionário) aprofunda-se na primeira infância. Esse aprofundamento será o responsável pela eliminação de vários elementos cognitivos, reforçando ou atenuando desta forma a dominação de um hemisfério cerebral sobre o outro, sendo portanto responsável pelas normas,  tabus, prescrições, etc... , que o homem irá incorporar, e por fim a educação informal irá se manifestar impondo novas regras e princípios ou complementando os já existentes, cercando a humanidade  por todos os lados, tornando assim claro que a cultura age e retroage sobre o individuo sendo sempre a co-produtora do conhecimento concebido por cada um.

Como se produz cultura? A cultura é produzida pelos homens de uma determinada sociedade, segundo o conhecimento que esta sociedade possui, ou seja, a cultura afro- brasileira nasceu ou ressurgiu das diversas culturas daquele continente. Miscigenadas aos novos conhecimentos por eles adquiridos no Brasil, esse conhecimento não é só cultura brasileira mas de outras culturas africanas resultou numa nova cultura, a cultura “afro-brasileira”.

Fica claro assim o porque Morin diz que o conhecimento de uma cultura, depende dela  e de sua integração. Assim conhecimento e cultura estão interligados á organização social e á práxis histórica, como condicionante, determinante e produtor.

1.1 NARRATIVA VERSUS ESTRUTURA.

A historiografia é, segundo Peter Burke, ou deveria ser uma sequência de uma narrativa dos acontecimentos sociais de um povo, época, grupo, entre outros. Voltaire, John Millar foram críticos dessa historiografia narrativa positivista, assim provocaram uma revolução no campo da historiografia, que ficou conhecida como “Revolução Copérnica”.

E assim a historiografia entrou no século XX cada vez mais criticada, agora por positivistas, marxistas, neo-marxistas.

Mas recentemente a narrativa histórica esta retornando a narrativa, e mesmo escritores ligados aos Annales aderem a ela, como Georges Duby, Emmanuel Lê Roy Ladurie entre outros.

Essa nova tendência narrativa afetou outras ciências auxiliares da história, como a antropologia e outras. A narrativa histórica tornou-se temas de dois debates independentes mas relevantes um para outro.

De um lado ficam os historiadores estruturais para mostrarem como as narrativas tradicionais passam por cima de uma série de aspectos importantes, sendo por isso incapaz de conciliar a estrutura econômica, social, política de um povo desde a elite aos mais populares. Do outro lado os defensores da narrativa observam que a narrativa é estática, e portanto de certa forma não histórica. Entre esses autores esta Braudel que quase não faz escalas entre os espaços de tempo (o longo, médio e curto prazo) em sua obra Mediterranean, os seguidores de Braudel inclinam-se a reduzir seu projeto. Atualmente os Annales divide em duas partes estrutura e conjuntura.

Os historiadores desses dois campos estrutural e narrativo são diferentes não apenas na escolha na forma de escrever a história do passado, mas em sua modos de explicação sobre os fatos observados. Os tradicionais tendem – não de maneira geral – exprimem-se de forma individual. O renascimento da narrativa também gera desconfiança e é frequentemente criado como reducionista e determinista.

A prolongada discussão entre historiadores narrativos e estruturais, gerou a perda do entendimento histórico potencial que ele envolve, essa perda pode ser sentida na comparação de dois estudos do século XIX (motim Indiano, 1857 – agora Grande Batalha Christopher Hibbert, 1978), o livro é superficial, ou seja, ele não da ao leitor uma idéia do porque dos acontecimentos, assim como são contextualiza os locais e acontecimentos. Eric Stokes apresenta uma minuciosa analise da Revolução Francesa, onde é analisada a geografia, regiões, contextos locais. Com a leitura das duas obras foi possível para o autor Peter Burke visualizar a produção de um terceiro com a união da literatura e da analise.

Devido à imprecisa definição de fatos, Burke propõe seguir Mark Philips que sugeriu “pensar nas variedades de modos de narrativa e de não-narrativa, existentes ao longo de uma série contínua”(On Historiographic, 1983: p. 157).

1.2-NARRATIVA TRADICIONAL VERSUS NARRATIVA MODERNA

As visões expressas nesse texto se referem aos historiadores de diversas partes do mundo em relação ao segundo debate sobre narrativa literária que aconteceu nos Estados Unidos da América nos anos 60, pelo texto de Burke é possível observar que aparentemente o primeiro a sugerir que a “decomposição da continuidade temporal” oferece um desafio ao historiadores de negligentes com as reflexões literárias de sua própria época (descontinuidade dos acontecimentos), Grossmann também diz ser difícil seguir a historiografia moderna.

Já Golo Mann segue as evidencias histórica apresentando ao leitor uma reconstrução hipotética dos fatos, aparentemente não sentindo as dificuldades citadas por White e Grossmann. Assim como Burke cita: “..., não estou afirmando que historiadores sejam obrigados a se engajar em experiências literárias, simplesmente por viverem no século XX,.... Objetivo de buscarmos uma nova forma literária é certamente a consciência de que as velhas formas são inadequadas aos nossos propósitos”(A escrita da história, p.336)

Algumas inovações são evitadas por historiadores. Há experiências sendo feitas para melhorar a historiografia mas são três os problemas apresentados: o primeiro, como tornar as guerras e outros conflitos escritos de forma mais inteligíveis seguindo-se o modelo dos romancistas, para tanto o historiador também deve praticar a heteroglossia. O segundo: cada vez mais historiadores começam a perceber que seu trabalho representa um ponto de vista particular. Nesse sentido Golo Mann faz uma autocrítica “tentar fazer duas coisas simultaneamente, nadar com a corrente dos acontecimentos” e “analisar esses acontecimentos da posição de um observador posterior, mais bem informado”. O terceiro é o novo tipo de narrativa poderia fazer frente às necessidades dos historiadores estruturais ao mesmo tempo em que apresenta um novo fluxo do tempo do que em geral fazem as analises.

1.3-DENSIFICANDO A NARRATIVA

Segundo Burke o problema da historiografia esta em uma narrativa densa o bastante para lidar com a seqüência dos acontecimentos se intenções dos protagonistas desses fatos. Então como seria uma narrativa? Pergunta Burke.

Em busca dessa resposta Burke encontrou escritores como Tolstoi e Shimazaki, que a partir da técnicas narrativas de seus romances auxiliam os historiadores, mas lembra que os historiadores não são livres como os romancistas para inventar seus personagens, palavras ou pensamentos. Poder-se-ia esperar que o chamado “romance de romance não ficção pudesse ter algo a oferecer mas esses autores não tinham problemas estruturais. E ao que parece os historiadores tem desenvolver suas próprias técnicas para suas obras”.

Felizmente, diz Burke, alguns historiadores estão refletindo sobre o problema e seus estudos já esboçam uma resposta, ou varias respostas, das quais Burke destacou quatro. A micro narrativa-história de pessoas comuns - ; a história vista de cima – o auto retrato de um povo ou sociedade montando a partir de fatos e fotos obtidos - ; contar os fatos de traz pra frente,  o que pode ser mais difícil e omitir muitos fatos importantes. Analisa entre estrutura e acontecimento.

Se historiadores estão em busca de modelos de narrativas que sobreponham estes modelos e sigam o que mais se adequar ao seu modo de escrever.

CAPITULO II

HISTÓRIAS DE MIGRANTES

A obra de Zélia Diniz-1998 contém alguns trechos muito interessantes sobre a ocupação dessa região do Vale do Araguaia. Trechos que falam da migração em Barra do Garças, citando as regiões das quais migram, como e porque.

E são algumas dessas citações que aqui transcreveremos.

Nós, nordestinos, invadimos a região. Nos não fomos chamados. Não fomos convidados por ninguém. As necessidades, as durezas do nordeste, a luta pela vida impulsionou a todos nós para cá. Foram os garimpeiros os primeiros que aqui chegaram. (...). Nós nordestinos firmamos a presença em Mato Grosso nessa região. Foi uma região violenta onde o mais forte, o mais valente mandava (...). (Florisvaldo Flores Lopes, natural de Angelical; Bahia)”.

Segundo as observações do professor Ney I. Reynaldo (paraense) a história de Barra do Garças esta mergulhada em um passado de ocupação, conquista e colonização, a trilogia “perfeita” e cumprida a risca pela já extinta Fundação Brasil Central, que chegou para ocupar os espaços “vazios”, uma vez que não consideravam os povos indígenas que aqui residem. Com a visão de desbravamento dos bandeirantes é que essa ideologia “progresso e civilização” passa a super valorizar os pioneiros, tornando-os “heróis”, por terem deixado para traz a família e o conforto, ou o conhecido para desbravar outras terras ainda “hostis”.

Já na visão da goiana Hilda G. D. Magalhães, percebemos que ela procura mostrar a importância da literatura regional e acrescenta que a torna uma região diferente das demais. Com uma literatura bonita e carregada  de romantismo regional e uma forte presença moralista em seu teor.

Temos ainda na história barragarcense dois cearenses de destaque que não podem ser esquecidos jamais por amarem tanto a cidade: um na educação (Zélia Diniz) e outro na política (Valdon Varjão) e também como “historiador auto didata que preservou a memória barragarcense Valdon Varjão se destaca na região.

O mineiro Daphinis Oliveira relembra a Revolta do Veloso na cidade de Aragarças, cidade co-irmã de Barra do Garças, e faz uma constatação interessante, de como as rebeliões eram extremamente comuns no Brasil naquele período da história brasileira, não foi somente o nome de Aragarças que obteve projeção nacional a revolta em si, ficou confinada à região.

Martiniano José da Silva, goiano e  que como historiador escreve sobre os quilombos no Mato Grosso(Quilombos do Brasil Central entre os séculos XVIII e XIX, obra). O Brasil central nos séculos XVIII e XIX era o sertão ocidental (atual Centro –Oeste), e abrangia uma área imensa como os atuais: Tocantins, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e o Triângulo Mineiro o desbravamento de mais ou menos 54 mil Km2. Segundo Martiniano,o desmembramento dessa região ocorre mais por interesse econômico que por qualquer outro motivo.

Devido ás dificuldades de acesso e de sobrevivência é que talvez os quilombos são em maior número no Mato Grosso, sendo que um deles teve vários nomes por ser destruído e reconstruído com um novo nome mas há um que é de origem duvidosa, Primeiro nome foi o do Quilombo da Quitéria, o segundo nome foi Quilombo do Piolho e o polêmico e duvidoso é o nome de Quilombo da Carlota( por se tratar do nome de uma rainha portuguesa), mas segundo o historiador Roquete Pinto, esse nome foi uma imposição, porque após duas invasões oficiais desse quilombo nas quais foi destruído, na ultima invasão o governador da capitania de Mato Grosso permitiu que os escravos mais velhos, mulheres e aleijados, ou seja os que estavam impossibilitados de trabalhar, continuassem no quilombo com o objetivo de impedir que as invasões bolivianas tomassem o território brasileiro, daí o nome determinado pela Coroa e não pelos escravos. No Triângulo Mineiro e no estado de Goiás houveram vários quilombos(cerca de quatorze) sendo o que oferecia maior resistência era o quilombo do Ambrosio, e no final do século XX e inicio do século XXI foi encontrado em Goiás o Quilombo do Kalunga que os quilombolas viviam ainda como seus antepassados há quase duzentos anos sem a menor idéia em ano ou século estavam.

2.1- IMIGRANTES E EMIGRANTES ESCREVERAM A NOSSA    HISTÓRIA.

A história barragarcense esta recheada de personagens ilustres que vieram de muito longe ou de bem perto mas que com suas ações mudaram o curso da “história e o destino” da então Vila Da Barra Cuiabana.

Dentre tantos pioneiros e personagens que de um modo direto ou indireto participaram da construção da história do município de Barra do Garças, iremos citar alguns, embora sabemos que a participação de todos eles foi de fundamental importância para o crescimento dessa região no Vale do Araguaia.

Assim começaremos por citar o senhor Antonio Paulo da Costa Bilego (maranhense, natural de Mangabeira),chegou á Barra do Garças aos treze anos e desde cedo começou a trabalhar, exerceu diversos ofícios, entre eles a de político. E foi como prefeito (eleito duas vezes) Aripuanã e Araguaiana, e foi como prefeito dessa última, sede do município do qual fazia parte a Vila da Barra Cuiabana- Barra do Garças-, ele faz a transferência da sede do município para o distrito de Barra do Graças no dia dezoito de julho de um mil novecentos e quarenta e oito( 18/07/1948), e o emancipando no dia quinze de setembro de um mil novecentos e quarenta e oito (15/09/1948), sendo assim o primeiro prefeito do recém formado município de Barra do Garças.

Do Piauí, navegando chegam a essa região os precursores da família Lira aqui, no ano de 1924, o senhor Francisco e dona Ana Lira, se tornaram uma das famílias mais numerosas da cidade. De Goiás(região do atual estado do Tocantins) chegou o coronel Antônio Cristino Côrtes, que exerceu diversos  cargos, como de professor, auxiliar de juiz de direito, juiz e intendente do Araguaia e do Garças, prefeito, vereador e presidente da Câmara Municipal. Também de Goiás chegam no ano de 1927 os irmãos Basílio e Antonio Dourado , em busca de ouro. De Minas Gerais (Uberlândia) em 1933,parte Herônides Araújo que chega após trinta dias de viagem, foi deputado estadual eleito por duas vezes, foi um dos responsáveis diretos pela emancipação de Barra do Garças e de Torixoréu.  Da Itália( Ferno Varese) chega a irmã salesiana Marta Cerutti, foi quem deu inicio a instituição de ensino que hoje tem o seu nome Madre Marta Cerutti . podemos ainda citar outros nomes como Raphael Cardoso de Moraes- Goiás-; Pedro Barbosa- Goiás-; Waldir Rabelo -baiano-; Dom Aquino, arcebispo; Laudelino de Souza Santos- baiano-; General Filinto Müller - cuiabano-; Bruno Valoes -baiano-; Padre Cobalchini; Juscelino K. De Oliveira –Presidente do Brasil-; Raymundo Mello-Piauí-; os irmãos Domingos e Clemente M. da Silva –Pará-; José Pedro Vieira,nortista, considerado o primeiro morador de Barra do Garças; Couto Magalhães; Arthur Bernardes; Moreira Cabral; Benedito Rodrigues –Piauí-; Egidio Cipriano de Carvalho,  Joaquim Mendes de S. Guardiato; Norberto Schwantes, fundador da Coopercana; Padre Ernesto Capucci -Nápoles-; Marechal Rondon; Padre João Funcks- suíço, Padre Pedro Sacelotti, paraibano, mártires dos Xavantes.

 

CAPÍTULO III

DESBRAVANDO O BRASIL CENTRAL.       

Foi aos dirigentes da Coluna Prestes que coube o comando da famosa “ Marcha para Oeste” idealizada pelo presidente Getúlio Vargas. Seu objetivo era a colonização, João Alberto Lins de Barros, obteve um grande destaque nessa marcha como capitão do exército.

Com a Primeira Guerra Mundial, a idéia da consolidação , de posse e desenvolvimento do Brasil Central se acentuou. Mas a entrada do Brasil na guerra teve como conseqüência o recuo de Vargas na meia- tendência a seu favor e a retomada da política de penetração e colonização permanente. Com o grande número de navios sendo afundados o Estado Maior brasileiro sentiu o quanto era vulnerável uma capital litorânea.

Assim, logo foi organizada a “ expedição Roncador- Xingu” que sob o comando do Flaviano M. Vanique, Francisco Brasileiro, Acari de P. Oliveira, deveria, a partir da margem do Rio Araguaia, abrir picada continental, passando pelo Rio das Mortes até alcançar o vale do Rio Xingu, dobrar a sudeste alcançando o Tapajós, chegar a Santarém completando a ligação com a Amazônia. O  empreendimento era enorme, pois a partir dos Rio das Mortes, o território era desconhecido e ainda com exceção de Francisco Brasileiro pouco ou nada conheciam do sertão, organizados em comitivas iniciaram a exploração.

O tenente Basílio mudou o ponto de partida da cidade de Leopoldina para Barra Goiana do Araguaia –atual Aragarças- essa mudanças implicou tremendo esforço para reembarcar todo o material, mudar o rumo da comitiva, uma vez que se aproximava a época chuvosa. Os grupos chegados a Aragarças em quinze de agosto de um mil novecentos e quarenta e três (15/08/1943) e partiram para o Rio das Mortes em quatro de dezembro do mesmo ano( 4/12/1943).

Devido ao longo período de imobilidade os expedicionários Ignácio P. S. Teles e Luis Pini Neto na contemplação do Araguaia viajaram em duas mulas levando apenas o essencial para a sobrevivência, fotografando tudo que podiam, não escreveram sequer uma linha com o objetivo de registrar o que viram. Na véspera da penetração fizeram um curioso pacto: “Não se queixar, não lamentar, não reclamar contra as possíveis agressões do ambiente: dificuldades de marcha e de pouso”.

Na volta a viagem foi pelo Rio das Mortes, após mergulharem na Cachoeira da fumaça, onde Luis de tão inebriado com sua beleza a reproduziu em um quadro tendo em primeiro plano, Ignácio e o artista em auto retrato. Dali retornaram a Barra do Garças satisfeitos e amadurecidos nas asperezas do pioneirismo desarmado.

Foi durante esse período de inércia ocorre o choque entre os paulistas e os demais expedicionários, a desarmonia se instalou em Aragarças. João Alberto não aceitou o plano dissidente (era um plano detalhado para chegar em dez meses a Santarém vencendo a distancia teórica de 1.800 km, mas estimada, na realidade, em 3.000 km). A comitiva reduzida parte no dia 04/12/1943 sob o comando estremecido mas não derrubado o tenente-coronel Flaviano M. Vanique, e em seu Boletim oficial nº5, cita o episodio da secessão paulista com o seguinte texto “Àqueles que nos abandonaram, por comodismo ou covardia, o nosso desprezo. Não são dignos de nossa atenção”. E enfático encerra o precioso boletim da seguinte forma: “Para frente, sempre para frente, é o nosso lema, aconteça o que acontecer”.

O primeiro acampamento permanente (e no desejo de João Alberto a primeira cidade), é hoje a cidade de Nova Xavantina. Nessa marcha foram gastos três meses numa distancia aproximada de 200 km, e no dia 28/02/1944 completam a primeira etapa da Expedição. A finalidade da Expedição é restabelecida (abrir picadas e construir pontes e pistas de pouso para o trafego aéreo).

Sendo que na primeira fase haviam sido abertos 280 km de picadas, construídos postos, 14 pontilhões e dois campos de pouso, que dariam inicio a segunda etapa ruma ao Rio Xingu. O segundo Escalão da Expedição Roncador – Xingu venceu em dezesseis dias o mesmo trajeto (200 km), contra os noventa dias gastos pelo primeiro escalão comandado pelo coronel Vanique.

No dia 24/05/1945 pousa no campo recém inaugurado o trimotor “Page” trazendo o presidente Vargas o ministro Eurico Gaspar Dutra e Luiz Vergara, Pedro Ludovico, João Alberto Lins Barros e Luiz Simões Lopes. Após discursos inflamados, o coronel Vanique, faz o pedido de mantimentos fixam a data de 12/06/1945 como partida do novo contingente constituído de dezoito homens do sertão, garimpeiros e peões. É este grupo que inicia a verdadeira conquista do Brasil Central. O coronel Vanique devido a problemas familiares teve que se afastar do grupo e entrega o cargo de comando da expedição a três irmãos, os irmãos Villas Boas (Cláudio, Leonardo e Orlando), que deixam varias obras registrando esse período da historia do Brasil Central.

A área de ação da Fundação do Brasil Central e da Expedição Roncador – Xingu, sob a responsabilidade dos irmãos Villas Boas abrangendo e desenvolvendo.

3.1-A AERONÁUTICA E A NAVEGAÇÃO NO VALE DO ARAGUAIA

O Rio Araguaia, presenciou muitos conflitos sociais ou políticos, ou seja, algumas regiões como por exemplo a ilha do Bananal, são Felix, Aragarças recebem uma atenção especial pelo tipo de rebeliões que ali aconteceram, marcando a história.

Aragarças com sua revolução levada nas asas metálicas roubadas em terra ou seqüestrados durante o vôo. Em São Felix foram as guerrilhas. E ambos – movimentos – se mantém fiéis a filosofia nacionalista ruidosa. Nesse período Aragarças e Barra do Garças, são então os mocinhos dessa Guerrilha.

Outro episódio com aeronaves que marcou e projetou Aragarças no cenário nacional, foi a Revolta do Veloso. O então comandante do Posto e do Setor Rio – Manaus, o major Haroldo Coimbra Veloso auxiliado pelo major Paulo Vitor e pelo capitão Chaves Lameirão iniciam uma revolta que foi logo debelada ( dois dias), e o líder major Veloso é preso em Pimentel por um contingente vindo do Rio Tapajós.

Em 1959, o mesmo oficial indultado Haroldo C. Veloso toma parte na Revolução de Aragarças, essa revolução era bem desorganizada, e Aragarças era nesse tempo apenas um centro oficial, o burburinho criador (emancipação) de Barra do Garças, da base da FAB e da Fundação Brasil Central, era porem grande a sua importância geográfica porque erro o ponto de encontro de aeronaves, que ali paravam geralmente para se reabastecerem.

Além da importância da aeronáutica na região o Rio Araguaia muito contribuiu para o desenvolvimento e colonização de Barra do Garças e da região de um modo geral, pois com a navegação muito contribuiu para esse desenvolvimento.

 

CAPITULO IV

BARRA DO GARÇAS NA VISÃO DE QUEM VIVENCIOU OS FATOS HISTÓRICOS

Segundo notas do historiador da região Valdon Varjão a história de Barra do Garças foi marcada por um desenvolvimento que pode ser dividido em quatro fases: a fase garimpeira – 1924/1942 – a fase Fundação Brasil Central – 1943/19664 – a fase agropecuária e incentivos fiscais – 1964/1973 – a fase contemporânea: os gaúchos e a agricultura – 1973 até os dias atuais.

De acordo com as pesquisas de Valdon Varjão a primeira fase, ou seja, a Fase Garimpeira foi liderada por Antônio Cristino Côrtes e Francisco Bispo Dourado, que instalou-se na região com um pequeno grupo de garimpeiros, e ali edificaram as primeiras casas e alinharam as primeiras ruas e com a chegada dos nordestinos atraídos pela propaganda, deram inicio a povoação.

Antes desta data – 1924 – na foz do Garças havia apenas um morador – José Pedro – o qual cedia sua moradia para as pernoites de viajantes que por ali passavam e assim permaneceu por anos por isso há tão poucas notas de destaque (Simeão S. Arraya e Marcos Afonso de Oliveira, lenda dos diamantes na garrafa).

Tanto Antônio C. Côrtes como seu compadre, Francisco Dourado saíram de Registro do Araguaia em direção aos garimpos do Garças, ao pernoitarem na casa de José Pedro, obtiveram do mesmo a informação de que nos arredores do córrego Voadeira havia encontrado umas pedrinhas de diamante, os garimpeiros para lá se dirigiram. Em 1925, já era grande o número de garimpeiros no local, apareceram os primeiros comerciantes. Foi também neste ano deflagrada a revolta “Morbeck & Carvalhinho”.

A maioria dos homens da região seguiram para a revolução, e ainda surgiram as desordens locais entre os que ficaram, o que provocou o despovoamento do lugar.

Entre os anos de 1926 e 1933 foi um período de paz, e com um reduzido número de habitantes, que só voltou a crescer após a descoberta do garimpo da Praia por Joaquim Guardiato. Em 1936 foi criado o distrito e o povoado foi elevado a categoria de vila (governador Mário Correa).

O primeiro nascimento em Barra do Garças foi na família Lira, Madalena Lira, no ano de 1924, os primeiros professores foram D. Nenzica – Antonia Almada de Souza – 1932 – e Newton do Carmo em 1934, como primeiro professor estadual. Joana Cristina Côrtes foi a primeira autoridade administrativa (sub-prefeita) da Vila Barra do Garças- ato nº 03/-16/07/1926 – baixado pelo prefeito de Araguaiana Eurico Teixeira. Primeiro subdelegado foi Claro Magalhães, nomeado em 1936.

Foi também no ano de 1936 que foi construída a primeira estrada de rodagem ligando a Barra Goiana e a Barra Cuiabana a Bom Jardim, essa estrada teve a iniciativa dos comerciantes das duas localidades Rafael Cardoso de Morais e Pedro Martins.

Em 1937, espalha-se a noticia de que os estados de Goiás e Mato Grosso acertaram os limites dos estados até as margens do rio das Mortes, assim Barra do Garças passa a pertencer ao estado de Goiás.

Em 1939 a descoberta de diamante próximo ao Poço das Águas Quentes fez surgir a comunidade Aroeira, e trouxe mais migrantes para a região que chegou a ter ali cerca de 5.000 garimpeiros, até que Antônio C. Côrtes, Zeca Costa e Antonio Bilego fundaram uma sociedade garimpeira e descobriram na praia do Porto do rio Garças a maior mancha diamantífera da região. Com essa virada Barra do Garças experimentou o afluxo de mais de 6.000 garimpeiros vindos de todas as regiões do Brasil, principalmente das regiões Norte e Nordeste.

 O primeiro vigário da paróquia da cidade chega no ano de 1952, Pe. Guilherme Müller, à 24/02/1956 chega em Barra do Garças as Irmãs Salesianas para serem as educadoras da escola Cel. Cristino Côrtes, sendo a diretora a Irmã Diva Pimentel, a secretaria a Irmã Joaquina Figueiredo, e ainda as Irmãs Dionísia Pivot e Beth Faria Pires.

Na segunda fase: 1943/1964 é marcada principalmente pela chegada dos migrantes vindos principalmente do sudeste do país para “desbravar e povoar” o Brasil Central.

Foi nesta fase que Barra do Garças conseguiu suplantar os demais municípios ao se emancipar em 15/09/1948.

LEI Nº 121, DE 15 DE SETEMBRO DE 1948

Dá nova denominação ao Município de Araguaiana.

O Governador do Estado de Mato Grosso: Faço saber que a Assembléia Legislativa do Estado decreta e eu sanciono a seguinte lei:

Artigo 1º O Município de Araguaiana passa a ter a denominação de Município de Barra do Garças.

Artigo 2º Fica a sede do município transferida para Barra do Garças, que é elevada à categoria de cidade.

Artigo 3º Esta lei entrará em vigor em 1º de janeiro de 1949, conjuntamente com a lei fixar o novo quadro territorial do Estado.

Artigo 4º Revogam-se as disposições em contrário.

Palácio Alencastro, em Cuiabá, 15 de setembro de 1948; 127º da Independência e 60º da Republica. – Arnaldo Estevão de Figueiredo

LIMITES DO PATRIMÔNIO

Criado pelo Decreto Estadual nº 134, com uma área de 3.600 hectares, foi ampliado para 6.000 hectares, conforme o Decreto nº 799, de 23/11/49, assinado pelo então Governador Arnaldo Estevão de Figueiredo e publicado no Diário Oficial de 26/11/49.

DECRETO Nº 799, DE 23 DE NOVEMBRO DE 1949

Eleva para 6.000 hectares a área de terras reservadas para patrimônio do então povoado de Barra do Garças, hoje município do mesmo nome, pelo Decreto nº 134, de 17/1143.

O Governador do Estado de Mato Grosso, usando da atribuição que lhe confere o artigo 33, item 1, da Constituição do Estado, decreta:

Artigo 1º Fica elevada para 6.000 hectares a área de terra referida pelo Decreto nº 134, de 17 de fevereiro de 1943, para patrimônio do então povoado de Barra do Garças, hoje município de igual nome, com os limites constantes do citado artigo”. (Ata de emancipação política de Barra do Garças publicada no Diário Oficial de 18/09/1948 sob o nº 10242. Fonte Obra de Valdon Varjão).

A chegada da Expedição Roncador – Xingu e as realizações da Fundação Brasil Central motivaram o progresso de Barra do Garças, até então lento. O sonho do Presidente Getulio Vargas a “Marcha para Oeste” tinha o objetivo de interligar o Brasil de Sul a Norte por via terrestre. A Segunda Guerra Mundial no entanto retardou um pouco a expansão para o Oeste.

E a Expedição Roncador – Xingu vinha para desbravar territórios ainda desconhecidos e ali fundando núcleos e bases que serviram de alicerces para as novas cidades ao longo do eixo de penetração. O espírito bandeirante do século XX por visar uma penetração ousada e aventureira que deixava por onde passava a sua marca e alguns de seus integrantes que ali firmaram residência e dessa forma constituindo a nossa cultura com as de tribos silvícolas que ainda se mantinham afastadas de qualquer contato com as civilizações aqui existentes.

Em 1945 houve a primeira eleição em Barra do Garças no qual foi eleito presidente da República Eurico Gaspar Dutra, e no ano de 1947 elegeu-se deputado estadual Heronides Araujo, que no ano seguinte apresenta o projeto de lei que transfere a sede do município de Araguaiana para a Vila de Barra do Garças, que passou a ser cidade sob a Lei nº 121 de 15 de setembro de 1948 e que em outubro deste mesmo ano passa ser município.

Houve por parte dos integrantes da Expedição Roncador – Xingu um verdadeiro pioneirismo para implantar a semente de uma “prodigiosa civilização moderna”. Era a primeira vez que a penetração desbravadora consegue ultrapassar a Serra do Roncador e o Rio Xingu até então só habitados por Xavantes e outras tribos menos conhecidas.

Na terceira fase da expansão para o Oeste chegaram os sulistas. Um dos maiores empreendedores dessa migração sulista foi o senhor Norberto Schwantes, que fundou uma cooperativa para auxiliar os colonos recém chegados do sul do país, embora eles tenham se instalado na atual cidade de Canarana, Terra Nova, Primavera do Leste, era Barra do Garças o ponto de referencia, e muitos ficaram aqui por haver comércio.

4.1-POVOAMENTO DO LESTE DE MATO GROSSO PELOS GARIMPEIROS.

Segundo dados obtidos por Luiz Sabóia Ribeiro, foram os garimpeiros os primeiros a chegarem no leste mato-grossense para colonizá-la. Pelos documentos o sertanejo João José de Morais - Cajango- chegou de Minas Gerais, aqui se estabeleceu em uma fazendola(a primeira da região).

Decorrido algum tempo Cajango fez amizade com um índio bororo- André- a este interpelou sobre a existência na região de pedras brilhosas( diamantes), devido a dificuldade na comunicação devido á língua, foi usado um artifício para ser compreendido (pedra de cristal refletida no sol), o índio André lhe indicou então a confluência do córrego Cassumunga com o Rio Garças. Com o passar do tempo outros sertanejos em busca de diamante chegam a Vila da Barra Cuiabana sempre tendo como guia o índio André que adotou o cognome de Cajango devido a sua amizade com João José, entre esses garimpeiros que singravam o Rio Garças haviam baianos, cuiabanos, mineiros e nordestinos.

E foi assim com um pequeno grupo de caçadores de riquezas que se formou a célula germinativa do povoamento das margens dos Rios Araguaia e Garças. Após terem encontrado as primeiras pedras a notícia se espalhou pelo Rio de Janeiro e Minas Gerais, era 1916, a Primeira Guerra Mundial estava em pleno fervor, e o Brasil combate a Alemanha quando se tem noticia de que o grupo liderado por Daniel lima, responsável pelas novas minas de Mato Grosso, esta sendo chefiado por oficiais alemães a serviço do Reich no Brasil.

Se era verdade ou não, nunca foi descoberto de fato, mas a verdade era que havia na região muitos alemães, mas como foi Luiz Rezende o responsável pela noticia devido ao seu prestigio junto ao general Rondon e ao senador Azeredo, tratou de desfazer o mal entendido poupando assim Daniel Lima da taxação que lhe foi imputada e evitando a ação do exército na região. Logo várias currutelas começam a surgir de forma bem irregular no Mato Grosso, assim como mascates, a jogatina, e a cada achado aumenta o número de aventureiros nas currutelas, assim teve início o povoamento da grande maioria dos municípios mato-grossenses.

4.2- DEFININDO O TERMO CULTURA EM BARRA DO GARÇAS.

Após a verificação dos fatos históricos relatados no decorrer da pesquisa sobre Barra do Garças, vamos analisar a cultura que esses homens trouxeram consigo para a formação cultural deste município. E como sabemos todo povo, digo, toda a sociedade é marcada por sua própria cultura. E dentro dessa cultura está incluído hábitos, costumes, alimentação,linguagem, etc.

Para abordar o período de expansão da cultura, pode-se chamar a atenção para um ponto paradoxal e importante que acompanha toda expansão de um povo e o domínio que ele estabelece nas regiões ocupadas:  a recíproca contaminação cultural. Este intercâmbio de idéias e costumes entre o povo dominador e dominado é muito comum que uma se sobre ponha à outra, mas pode ocorrer o contrário como aconteceu os romanos em relação aos gregos e com os germânicos em relação aos romanos, assim ela só tende a se ampliar e a preservar valores e conhecimentos, permitindo também desenvolver nas pessoas um olhar mais crítico em relação à sua própria cultura. E foi o que aconteceu em Barra do Garças. Podemos dizer que aqui não há um vestuário típico, assim como um prato típico, mas que há vários trajes típicos bem como diversos pratos, podemos dizer que de todas as regiões do brasileiras estão representadas tanto nos trajes  como nos pratos típicos.

E todos eles coexistem sem choque, podemos identificar a cultura nordestina, principalmente na linguagem e em alguns tipos de alimentos, que aqui chegaram na fase do garimpo; da fase da Fundação Brasil Central- os paulistas do sudeste, na vestimenta e também na forma de agir mais  consumista e receptivo; dos sulistas do período da Marcha para Oeste tem os trajes típicos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná vieram as danças os Centros de Tradições Gauchas (CTG) cada um com uma forma ou dança diferente típica da região de origem podendo ser mais pro lado da origem alemã, italiana ou uma mistura das duas com outras culturas(danças) e os alimentos e bebidas típicas como o chimarão, do Centro- Oeste os goianos trouxeram as quitandas, ou seja, quitutes, nome dados a iguarias e guloseimas da culinária goiana, que se juntaram com as danças e comidas típicas mato-grossense assim como também foi incorporado pela sociedade não indígena alguns hábitos, costumes, e alimentos, e nomes indígenas.

Com o estudo dessas culturas nos foi possível observar que nenhuma delas perdeu suas características originais. Pois, embora a sociedade de modo geral tenha adotado um pouco da cultura do outro e, devido a essa coexistência das diversas culturas em harmonia é que podemos afirmar que não há uma cultura definida, própria dos barragarcenses, mas um respeito harmonioso entre as várias culturas que colonizaram a região, havendo assim uma aculturação na qual podemos observar traços das diversas regiões brasileiras num único local.

Com base no conceito de cultura, que aqui foi definida de forma bem simplificada, como um conjunto de atividades e de desenvolvimento intelectual, de valores religiosos e materiais, repassados de geração em geração. É dentro dessa definição simples que se encontram a cultura erudita (escolar- formal-, intelectual) e a popular ( folclore, lendas).

A cultura popular da região é riquíssima e geralmente são expressas em festas pagãs (carnaval, micaretas) ou religiosas, crendices, literatura, lendas, mitos, jogos e brincadeiras, artesanato e comidas. Ela é muito marcante na sociedade barragarcense, dentre as festas populares mais apreciadas podemos destacar a festa de Santo Antonio, padroeiro da cidade e que, segundo a crendice popular foi esse santo que salvou a vida de Antonio Cristino Cortes (febre) quando menino saiu do leito e foi encontrado numa ilha. A festa de natal com presépio, as Pastorinhas; uma procissão organizada por moças que saem de madrugada entoando cantos e danças em homenagem ao menino Jesus o que recebem pela serenata é revertido em prol do natal das famílias carentes. Folia de Reis; faz parte dos festejos natalinos. É a forma popular de reviver os três Reis Magos do oriente. Os foliões percorrem a cidade em visitação as casas dançando e cantando ao som de instrumentos rudimentares como a Zabumba, caixa, reco-reco e piafono (nordeste). Folia do Divino ou Bandeira do Divino; é a festa realizada em homenagem a terceira pessoa da Santíssima Trindade realizada no inicio de junho se apresenta como festa de Pentecostes. É semelhante as Pastorinhas e a Folia de Reis, o Estandarte é de cetim vermelho, na cidade o povo segue a pé o cortejo, na zona rural o mesmo segue a cavalo passando de propriedade em propriedade, ambos (cidade e zona rural) os integrantes do cortejo vão recolhendo doações para posterior leilão a realizar-se no ultimo dia dos festejos.

Festa Raízes; é anual seu objetivo é reviver e difundir hábitos e costumes e fatos pitorescos dos primeiros colonizadores da região. Para os jovens é uma oportunidade de volta ao passado e conhecer o folclore dos povos que constituíram a atual cultura barragarcense entre as crendices que são muito fortes na região podemos citar, as benzeções, garrafadas ou raizadas (existe na cidade um ateliê de raízes – Bem-te-vi), bentinhos ou amuletos, simpatias, adivinhações.

Na recreação os jogos mais comuns como em todo Brasil é o futebol seja ele profissional ou não, há outros esportes e clubes para recreação e lazer da população.

4.3 FIM DE VIAGEM

Para finalizarmos nosso trabalho deixamos a citação de Durval Rosa Borges, o médico pernambucano radicado em São Paulo que se apaixonou por essa região, devido ao seu convívio (cerca de 30anos) com a equipe Brasil Central e com o Rio Araguaia.

“É possível, com alguma boa vontade, situar no tempo os acontecimentos e assuntos humanos dentro do curso natural do Rio Araguaia. Indígenas, bandeirantes, exploradores, missionários, garimpeiros, colonizadores, implantação da agricultura e da pecuária, questões fundiárias, política de desenvolvimento econômico empresarial e construção de represas ao longo das nascentes e da formação da rede fluvial das enchentes e vazantes , a ilha do Bananal, as margens férteis, a floresta Amazônica, os travessões e a proximidade do oceano.

A viajem, que agora termina, foi apenas roteiro. Na pesquisa e na observação das etapas, multiplicaram-se os mananciais, avolumou-se o curso de conhecimento, intensificou-se a cheia/vazante do mistério, e ao fim permaneceu a melancólica sensação de se ter contado apenas o superficial, ou melhor, a superfície do rio.

Com a intimidade de que o próprio Rio Araguaia me concedeu julgo falar em seu nome pedindo aos sensitivos da natureza e do Brasil que embarquem em seus ubás específicos e preencham os vazios e omissões, corrijam a narrativa e enriqueçam com seus talentos, suas vozes instrumentos, a imagem do Velho Ber-ô-Can.

Não posso reclamar do pouco que contei. Ele mesmo, o Rio Araguaia me avisou, de começo, que isso aconteceria”. (Durval Rosa Borges, Rio Araguaia: corpo e alma. 388-1987).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Resumidamente o nos foi possível observar com a leitura deste texto de Peter Burke é a constante preocupação com a forma de escrever os fatos históricos.

Em vários trechos da obra Burke deixa claro a importância da literatura ser auxiliar do historiador no momento de escrever sua obra, por torná-la mais acessível ao leitor e não apresentar uma única visão mas que o próprio leitor ao ler a obra possa visualizar os fatos que estão sendo narrados pelo autor. Embora ele apresente diversas formas de como um historiador moderno deve escrever, deixa implícita sua intenção pelo romance literário usa, mas pode recorrer ao recurso da micro historia sempre para chegar à macro história. Também ficou claro para nós como final destas observações na cultura da sociedade de Barra do Garças, que as varias culturas aqui existentes convivem sem conflitos por respeitarem o conhecimento do outro, e nessa troca de conhecimento eles recriam culturas.

Ficou evidente que os descendentes e migrantes das diferentes micro regiões do Brasil se agrupam, ou melhor, procuram conviver com seus conterrâneos. Assim foi possível observar uma concentração maior de sulistas no jardim Amazônia (BNH) e Recanto das Acácias, se bem que há alguns no setor central da cidade. Já os nordestinos e migrantes do interior de Mato Grosso e Goiás habitem as regiões periféricas como Vila Maria e bairros próximos (São José, Nova Barra – Norte e Sul, Palmares).

Como nosso trabalho foi de observação e pesquisa e não de entrevista o contato mantido com os migrantes não foram tão profundos para saber o quanto esse convívio afetou a cultura original. Vale citar que foi feita uma analise da cultura regional com as que foram encontradas em Barra do Garças, sendo que eu mesma sou migrante nessa região, essa experiência também foi considerada, nesse caso observei quais os costumes que a família abandonou e quais foram os adquiridos.

Enfim posso afirmar que é um tema interessante e que requer mais um tempo de pesquisa e observação. Para poder definir com mais clareza qual seria a cultura em Barra do Garças.

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