A vitória de João Dória, apesar de melhorar a performance do PSDB depois do fracasso em nível nacional, longe de resolver os problemas, tudo indica que complicou ainda mais a crise da sigla. Caso Dória tivesse perdido, não seria difícil expulsá-lo do partido sob a acusação de trair o candidato a presidente, mas com a vitória ele se torna mais forte e em condições de se tornar uma liderança inconteste nos quadros partidários.

Sua guinada à extrema direita incomodou os antigos próceres do PSDB, cuja fundação foi alicerçada sob a égide da social democracia europeia, como FHC, Goldman, Serra entre outros. O que fazer com o neófito que terá grande poder de cooptação no estado mais importante da federação?

A velha máxima de que os incomodados é que se mudem, talvez seja uma alternativa para a velha guarda derrotada do partido. Mas parece ser um movimento difícil, pois os criadores não gostam de se afastar da criatura. Porém, a sorte está lançada: ou aceitam a nova liderança e se acomodam ao que é inevitável ou partem para outra.

Mesmo sem ter objetivos políticos em razão da idade, os tucanos de alta plumagem teriam dificuldade em mudar de casa no atual andar da carruagem. O PSB poderia ser uma alternativa, pois tem alguma afinidade ideológica com a social democracia, mas faria sentido se algum deles tivesse disposição de se candidatar, o que é improvável.  A única possibilidade de candidatura é do Alckmin que ainda pode visualizar algum futuro político. Como precisará disputar com Dória, a melhor alternativa para ele é mesmo migrar para o PSB.

O Alckmin, é bom lembrar, foi o inventor da criatura que gerou a divisão no partido. Sentindo-se traído pelo seu pupilo, parece que não há também saída possível para ele a não ser arrumar as malas caso ainda tenha pretensões políticas. Tentar novamente a presidência da república, a sua grande ambição, só poderia ser possível numa nova sigla, pois  Dória, se fizer um bom governo em São Paulo, será o candidato natural do PSDB. A outra saída para o ex-governador é tentar uma cadeira no Senado, posição que teria mais chances, mesmo pelo PSDB.

Quanto ao Dória, manterá a aliança com Bolsonaro até quando lhe for conveniente. Se ele tiver sucesso na economia, os laços serão mais fortes. Caso contrário, será o primeiro a pular do barco antes que afunde. De qualquer forma, o futuro governador já é um candidato ao Planalto, aconteça o que acontecer, e usará todos os seus recursos de marqueteiro para chegar lá.

Por outro lado, o seu discurso de extrema direita, atacando os partidos de esquerda, pareceu que se transformou em seguidor do macarthismo tropical, esquecendo que seu pai, por ser de esquerda, foi cassado pela ditadura, além de outros velhos amigos.

Mas ele é bastante pragmático e mudará de posição quando isso lhe for conveniente para alcançar os seus objetivos. Quem viver verá.