Dias atrás, participava de uma Celebração Eucarística com minha esposa, senti a ausência de uma pessoa muito presente em nossas vidas. Avistei sua esposa sozinha.

-  E lá estava ela, com olhar tristonho, cabisbaixa. Seu semblante fazia dó em vê-la. Parecia sem rumo, Sabe aquela pessoa que fica num lugar só de corpo presente e o pensamento muito distante. E as reações de feedback  mergulhava em turbilhões em pensamentos já de outrora.

Confesso aos amigos que pelo semblante de seu rosto todas as passagens o afligiam no passado representado pelo seu olhar e na sua face. Como fosse um sonhar repetido e um pesadelo conflitante entre a vida real e o imaginário.

Era a esposa de um amigo Ele, porém, já está com idade bem avançada. Confesso que os bons dias vividos antes de sua enfermidade trouxeram-lhe um despertar pela vida abundante em alegrais, trabalho, família, amigos. Tenho a convicção da sua harmonia em viver bem. Sempre de bem com a vida e nos apoiando em tudo.

Mas, somos sabedores das mazelas que a vida nos prega. Mesmo que vivamos em paz consigo mesmo. Um dia chega o nosso dia. A idade pesa, os amigos se afastam. Aparecem os cabelos brancos, nos ausentamos dos eventos comuns, das brincadeiras. A maturidade e rugas no corpo aparecem e não somos nós mesmos. A família de muitos isola, deixa de lado aquele que um dia foi tão importante e essencial em nossa vida. Sua capacidade de pensamento não é a mesma, a lentidão no andar, falar, levantar-se compromete seu corpo e organismo.  Chegam a insônia, os remédios em hora em hora. Dá trabalho para alimentar-se, deitar-se, banhar-se.

Penso no quesito do poder de uma amizade. Amizade de um filho com o pai, amizade de um irmão com o outro. Amizade de um amigo que você já tem há mais de três décadas. E algumas, mesmo que seja por um semestre, um ano. Senti que a palavra amigos é formada de são cinco sílabas, assim o que está em nossa mão. Cinco dedos, e meu velho sempre usava essa frase. Amigos meu filho, você não tem mais o que está em sua mão. Hoje acredito! Já colegas têm demasiadamente. No trabalho, na escola, no bar, na feira...  

Refletindo sobre esse paradigma, na razão de meus questionamentos resolvi ir ao encontro da esposa desse amigo para ser um pouco solidário e por em prática o que me atormentava.

- Aproximei e saldei com muito calor humano. De prontidão; a esposa do amigo fez a primeira confissão. Cerzinha estava doentio, e devido sua idade já não lhe cabia tanta força física para enfrentar a lei da natureza. A segunda confissão veio quando falei que tinha um presente para ele. Categoricamente ela retrucou que ele gostava demasiadamente de minha pessoa. Respirei fundo, e contive às lágrimas para não deixar Constrangida com sua confissão.

 Disse-lhe:

- Queria presenteá-lo um livro de minha autoria. Coisa que ele já me confessara quando recebeu meu primeiro como gratidão e uma singela dedicatória. Sempre cauteloso e perspicaz; a leitura era uma de suas paixões. Falou-me com vivacidade quando lhe presenteei.

Em meus pensamentos, pensei na saudade de meu velho, que já partiu algum tempo e hoje está no Plano divino. Tenho em meu escritório seu retrato e sempre conversamos. Ele, diariamente está comigo e sempre troco olhares e lhe solto um sorriso de gratidão por ter ensinado as boas maneiras estendendo minha mão direita e pedindo sua benção. Sei que para alguns pode parecer estranho, mas uma força me eleva a vencer meus obstáculos. Ele está lá em cima, na eternidade rogando e orando por mim para que aqui, nessa terra de gigantes dará tudo certo se for persistente em meus ideais.

O que me restaram foram os bons momentos vividos e a saudade eterna de um bom amigo e o PODER DE UMA GRANDE AMIZADE!

 

Em 27.05.2019

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Wilamy Carneiro é professor, palestrante, poeta, historiador, cordelista e memorialista. Esse artigo é real, faz parte de sua vida e de uma amizade que será sempre lembrado, apesar das diferenças de idade entre o autor e Cesar seu amigo sempre tiveram um laço verdadeiro no Poder de uma grande amizade.