1. INTRODUÇÃO

A felicidade do homem é o poder. A motivação humana de existir se funda na possibilidade de se exercer certo domínio sobre os outros à sua volta. O homem não dissipa nenhuma oportunidade que o ofereça algum poder, uma vez que, essa vontade circunscreve-se também em sua essência. Ora, desde sua nascença, o homem recebe uma educação que, de certa forma, promove a busca por camadas mais estimadas da sociedade, por títulos, por respeitos, por enaltecimentos e consequentemente por poder. Nesta busca, o homem tende a querer transparecer alguma superioridade a tudo e todos à sua volta. Mediante a esta constatação, o presente artigo pretende apresentar um panorama geral de como esta vontade de poder está amplamente intrínseco ao ser humano e de como esta vontade afeta as relações humanas.

      2. REFLEXÕES SOBRE O PODER

Relactivamente a esta compreensão do poder como parte natural do homem pode-se fazer algumas reflexões apoiando-se aos pensadores da modernidade cujas ideias têm grandes relações com o tema, como pode-se ver nos parágrafos seguintes.

Tomas Hobbes (1588-1679), filósofo e matemático inglês, afirmou que o homem nascera mau. Ora, pode-se entrelaçar esta ideia à natureza hegemónica do homem, uma vez que, na tentativa de buscar poder, o homem não hesitará em favorecer a maldade caso isso seja necessário para sua hegemonia. As guerras justificam essa vontade que o homem tem de sobrepor-se aos outros e os dominar, afinal, que finalidade teriam as guerras e os outros conflitos da humanidade senão o exercício do poder de uma nação sobre a outra? É verificável que desde os primórdios humanos o conflito entre impérios e reinos sempre foi notável e, certamente, não há outra motivação destes conflitos senão a busca pelo poder e pelo domínio sobre todos. Como dizia o próprio Hobbes, o homem é o lobo do outro homem, o que condiciona a luta de todos contra todos.

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), filósofo e teórico político, que muito se opõe a Hobbes, também tem-se nos seus escritos, indicativos de como o poder caracteriza a natureza humana. Para este pensador o homem nascera bom, porém, a sociedade o corrompera, isto devido ao surgimento da civilização e consequente afirmação da ciência e da arte. Ora, pode assim se dizer que o homem sempre fora mau e que a civilização apenas viera potencializar esta condição.

Karl Marx (1818-1883), cuja fama estendeu-se com a sua famosa luta de classe, é também um pensador importante para a compreensão da natureza hegemónica do homem. É importante observar que a luta de classe proposta por Marx, não se funda apenas na luta entre burgueses e proletários. É necessário que se amplie esta compreensão, levando-a em todos os espaços sociais, uma vez que, segundo Marx, esta luta de classe justifica as mudanças na sociedade. Ora, a compreensão de luta de classe explica a luta de todos contra todos por classes superiores da sociedade ou, se se preferir, pelo poder, como já insinuara Hobbes. O homem, na tentativa de alcançar lugares superiores e de exercer poder sobre os outros à sua volta, acaba por promover mudanças na sociedade.

Friedrich Nietzsche (1844-1900), que surgira mais recentemente em relação aos outros pensadores aqui apresentados, aprofunda a questão do poder como natureza humana na sua obra Crepúsculo dos Ídolos, publicada em 1889, onde afirmou que, a natureza do homem é a vontade de poder. Defendia em grande medida que o homem é, naturalmente, um ser insaciável de poder, o que o leva a querer mais e mais poder.

Ora, o homem, desde seu aparecimento no mundo, sempre provou sua insaciabilidade de poder, isto desde os nómadas do Paleolítico até aos sedentários da contemporaneidade. A vontade de dominar, de atingir os mais altos lugares da sociedade, de sobrepor-se aos de mais e de controlar todos ao seu redor sempre foi uma característica presente na jornada humana, daí a razão dos conflitos que diariamente se lançam na humanidade.

      3. CONFLITO DE FORÇAS

Nietzsche acrescenta em sua obra que os homens são na verdade forças que incansavelmente lutam entre si. Daí a ideia de forças activas e reactivas, onde as activas buscam o poder com suas próprias potências e as reactivas, na ânsia de não serem dominadas, tudo fazem para o insucesso das forças activas que tentam exercer domínio sobre elas. O mundo torna-se assim um palco onde forças opostas disputam os mesmos lugares, com vistas a exercerem o domínio sobre todos, o que resulta na luta de classe e na luta de todos contra todos como já insinuavam Marx e Hobbes.

A motivação humana é o poder que apresenta-se em cada episódio existencial. O homem vive buscando o poder e esta motivação acontece em todas as ramificações da sociedade. No mundo corporativo por exemplo, a luta de todos contra todos é estimulada pela vontade de se atingir o cargo mais alto e ganhar o salário mais alto que possibilite certo domínio sobre os de mais. Na política, a motivação é a conquista do maior cargo da assembleia que facilite o respeito e o poder sobre os outros. Na religião, a motivação volta-se a favor da vontade de se sentar nos lugares mais superiores da igreja e de se alcançar os mais altos títulos clericais. No desporto, a motivação é sempre a conquista do primeiro lugar na competição e o prémio de melhor jogador do torneio. No mundo académico, a luta de todos contra todos centra-se na obtenção dos mais superiores títulos académicos. E isto acontece não só nas ramificações sociais aqui citadas, mas em todas.

A sociedade centrou suas motivações na vontade de poder. Os discursos das forças que lutam pelo poder são sempre os mesmos; estes discursos mostram-se bons e escondem o poder que de facto todos buscam. Todos dizem que querem contribuir para o mundo, que desejam tornar o mundo um lugar melhor de se viver e que anseiam ajudar os outros ao seu redor; são discursos camuflados pela vontade de poder. O que as pessoas realmente querem e que não falam nos seus discursos é o reconhecimento, a glória, a fama, a superioridade, o domínio, o poder. É isto que, de facto, todos buscam e escondem nos seus discursos.

      4. CONCLUSÃO

Observa-se então a sociedade como um lugar de conflitos camuflados por discursos que disfarçam a real motivação de todos; um lugar onde forças lutam em nome do poder. Quem se recusa a lutar é chamado de fraco. A escola propaga ainda mais esta luta, ensinando para seus educandos que a vida é dura e que portanto devem vivê-la lutando se quiserem sobreviver. A vontade de poder vai-se formando de geração em geração, estimulando comportamentos conflituosos, males e outras consequências pouco sadias na sociedade.