Por Ludmilla Paniago Nogueira, Maria Zilda da Silva Barbosa e Simone Batista Campos 

Nas instituições que promovem o desenvolvimento dos conhecimentos formais, ou seja, na educação escolar, é o lugar em que, por excelência, se “produz” planejamentos acerca do que se trabalhará a cada ano.

Nesse sentido, na escola deve-se desenvolver planejamentos em diferentes níveis de abrangência e, de acordo com Vasconcellos (1999) os mesmos, podem assim ser elencados:

1 - Planejamento do sistema de educação:

Esse planejamento é o de maior abrangência, que equivale ao planejamento a nível nacional, estadual ou municipal. Nele são incorporadas e refletidas as grandes políticas educacionais, enfrentando dessa forma as problemáticas geradas, tais como: o atendimento, a demanda, a locação, gerenciamento de recursos, etc.

2 - Planejamento da escola:

Trata-se do que Vasconcellos (1999) denomina de PPP - projeto político pedagógico, que é o plano integral da instituição compondo-se do marco referencial, marco situacional, marco doutrinal e marco operativo, diagnóstico e programação. Envolvendo nesse processo três dimensões, intrínsecas: a pedagógica, a comunitária e a administrativa do ambiente escolar.

3- Planejamento curricular:

É a proposta geral das experiências de aprendizagens oferecida pela escola.

4- Projeto de ensino-aprendizagem:

É o planejamento mais próximo da prática do professor e da sala de aula. Corresponde mais restritamente ao aspecto didático - plano didático. Ele pode ser subdividido em duas partes:

• projeto de curso - será a sistematização da proposta geral de trabalho do professor naquela determinada disciplina ou área de estudo, numa dada realidade, podendo ser anual ou semestral;

• plano de aula - é o trabalho do professor para uma determinada aula, ou conjuntos de aulas (também chamado plano de unidade). é a parte mais

detalhada e objetiva do processo de planejamento didático “é a orientação para o que fazer no cotidiano”. Mas é bom lembrar que, o mesmo terá mais consistências e organicidade se estiver articulado ao projeto de curso e ao PPP da escola.

5- Projeto de trabalho:

É o planejamento da ação educativa baseada no trabalho por projeto; são projetos de aprendizagens (pedagogia de projetos) desenvolvidos na escola por um determinado período, geralmente de caráter interdisciplinar.

6- Planejamento setorial:

É o plano dos níveis intermediários (cursos, departamentos) ou dos serviços no interior da escola (direção, supervisão, etc.).

Por que é importante planejar?

Vasconcellos (1995) afirma que, não poucas vezes, o professor diante de problemas que não domina fica desaforado, não sabe como enfrentar, acusa, se irrita, agride, em suma, não sabe o que fazer. e por que não sabe? por que não sabe o que quer. E por que não sabe para onde quer ir. E porque não sabe onde está. Não sabe o que é que condiciona sua ação.

Assim, confrontando com a formação que teve, verificamos que esta, com frequência, foi de caracteres meramente prescritivo (conjuntos de orientações, quase mesmo receitas de como se deve agir) ou técnico (em sentido estreito, conjunto de passos a serem dados), ao invés de capacitá-lo a teorizar, se debruçar sobre a realidade para poder entendê-la e intervir de acordo com as necessidades e objetivos elaborados a partir da situação concreta.

O fato é que o educador (em muitos casos) costuma não ter método de pesquisa e de trabalho, para a transformação da prática. Por isso, tem-se afirmado, cada vez mais, a necessidade do educador reflexivo.

Nesse sentido, o planejamento pode ser entendido e colocado como um instrumento teórico-metodológico que possibilita interferir e agir sobre os acontecimentos da realidade. Todavia, mais que instrumento, ele deve ser vivenciado como “método de trabalho do educador” quer seja, encarado como

postura (algo reelaborado e interiorizado pelo sujeito), como forma de organizar a reflexão e a ação ou como estratégia global de posicionamento diante da realidade. Assim, diz Vasconcellos que “método de trabalho é o outro nome de planejamento” (1999, p. 75).

É importante salientar que o planejamento não é uma coisa que se coloca como algo a mais no trabalho do professor, muito pelo contrário, é o próprio eixo de organização e definição deste trabalho. Às vezes, da maneira como o professor se refere ao planejamento, parece que é uma coisa exterior, ou seja, vai pensar sobre seu trabalho, tomar as decisões e por fim desenvolver o planejamento. Entendemos que o ato de pensar sobre a prática, organizar as ideias e tomar as decisões sobre a ação a ser realizada já é planejamento. A proposta de planejamento que estamos aqui desenvolvendo, visa, justamente, organizar, sistematizar e direcionar, esta reflexão do educador.

De fato, o planejamento enquanto construção-transformação de representações é uma mediação teórico-metodologica para a ação que, em função de tal mediação, passa a ser intencional. Tendo por finalidade procurar fazer algo vir à tona, fazer acontecer, a concretizar, e para isto é necessário ‘amarrar’, estabelecendo as condições — objetivas e subjetivas prevendo o desenvolvimento da ação no tempo (o que vem primeiro, o que vem em seguida), no espaço (onde vai ser feita), as condições materiais (que recursos, matérias, equipamentos serão necessários) e políticas (relações de poder, negociações, estruturas), bem como a disposição interior (desejo, mobilização), para que aconteça.

É fazer história: uma tentativa de fazer elo consciente entre passado, presente e futuro. Independente de o sujeito planejar ou não, há um fluxo do tempo, dos acontecimentos. Planejar é tentar interferir nesse fluxo.

E se no processo de planejamento estamos visando certo tipo de ação, precisamos então buscar a teoria que a fundamente e, sobretudo, que possa servir de guia para prática. A teoria pode ser, então, um elemento importante na alteração da realidade econômica, social, política e cultural. Mas, esse fator subjetivo só pode ser decisivo sob a condição de integrar-se no movimento dos fatores objetivos (VAZQUEZ, 1977, p. 39).

Para planejar, é importante conhecer bem a realidade, as experiências anteriores, ampliando o leque de possibilidade de criação de novas representações (seja do aluno ou do professor).

Para Maximilliano e Martins (1991), o planejamento é importante, porque, o ato de planejar é uma preocupação que envolve toda a possível ação ou qualquer empreendimento da pessoa.

Então:

Planejar foi uma realidade que acompanhou a trajetória da humanidade, tanto que o homem primitivo, no seu modo e habilidade de pensar, imaginou como poderia agir para vencer os obstáculos que se dispunham na sua vida diária. onde este, no uso da sua razão sempre pensa e imagina o seu o que fazer, isto é, as suas ações cotidianas então o ato de pensar não deixa de ser um verdadeiro de pensar (MAXIMILLIANO, 1991, p. 15).

Com isso o planejamento sempre fez parte das necessidades e urgências que surgem a partir de uma sondagem sobre a realidade.

Esta é primeira parte do processo de planejamento, que requer habilidade para prever uma ação que se realizará posteriormente, por isso exige uma acertada e racional previsão de todos os meios e recursos necessários nas suas diferentes etapas de desenvolvimento e de efetiva execução para alcançar os objetivos previstos.

Esta previsão é um momento que envolve uma análise profunda da realidade, das disponibilidades, das possibilidades dos meios, dos recursos humanos e materiais. E uma das etapas principais do processo de planejamento é a definição e seleção dos objetivos. Porque são estes, que vão dar toda a orientação e direção à dinâmica de processo do planejamento, como também sua execução.

Nessa linha de raciocínio, pensamos que planejar não deve ser pensado e praticado para formar um tipo exclusivo de homem, ao contrário, em essência deve auxiliar este, para que possa determinar a sua escolha, a partir dos seus direitos e das suas possibilidades. Planejar um tipo de homem, através da educação, seria robotizar o próprio homem, sem possibilitar-lhe escolhas, pois uma educação inteiramente dirigida com a finalidade de, também, dirigir e manipular o homem, não lhe possibilita sua autodeterminação.

Não é verdadeira educação. Esta, planejada de modo rígido e inflexível poderá criar tipos de pessoas totalmente desengajadas da realidade.

resultando, então, em instrumentos dirigíveis, manipuláveis pela sociedade tecnocrata, seres alienados e massificados com poucas oportunidades de libertação.

Planejar o processo educativo é planejar o indefinido, porque a educação não é um processo cujos resultados possam ser totalmente pré-definidos, devemos, pois, planejar a ação educativa para o homem, não impondo diretrizes que o alheiem da realidade, permitindo que a educação ajude-o a ser criador de sua história.

Nesse sentido, deve ficar claro que o planejamento em si não transforma a realidade. Não adianta ter planos bonitos, se não tivermos “bonitos compromissos, bonitas condições de trabalho sendo conquistadas, e bonitas práticas realizadas”. O que vai, de fato, orientar a prática é a teoria incorporada pelos sujeitos.

Por isso, não adianta um belo texto que não corresponda ao movimento conceitual do grupo. e a educação sendo uma atividade humana, com a qual o homem se preocupa de maneira especial, deve ser planejada cientificamente para dar-lhe uma direção que venha atender às urgências humanas. sendo a pessoa o fim último da educação, faz-se necessário refletir, profundamente, sobre a essência da educação e sobre o próprio processo da educação que tem como meta final a formação integral do homem (VASCONCELLOS, 1995).

Assim, acreditamos que a ação contínua, reflexiva e flexível do planejamento pedagógico, é importante, pois promove uma organização sistematizada do trabalho e das atividades como um todo para serem desenvolvidas.

Além disso, é essencial porque, sendo uma ação pensada, define objetivos possíveis de serem alcançados, orienta o trabalho do professor, o que permite esse afastar-se ou eliminar o ato improvisado das atividades durante as aulas. e sendo ações planejadas promovem a participação da comunidade escolar, isto porque, cada um terá discernimento de seu compromisso, da necessidade de colaborar, possibilitando com a realização das ações de forma coletiva, a prática de trabalho participativo, em que todos em equipe trabalhem em prol da principal finalidade da educação (a nosso ver) que é a formação ampla de cidadãos.

Esta pertencente principalmente ao sujeito-educando, valorizando suas práticas, suas particularidades, culturas, valores enfim valorizando cada ser com sua identidade própria e coletiva construída na coletividade e particularizada em cada ser, pois sabemos que ninguém é igual a ninguém, mas que somos seres heterogêneos, necessitando assim, da construção (esta mutável e permanente) da identidade política e social que permitem participar diretamente das transformações sociais, apropriando-se de instrumentos (competências) para participar na sociedade. Assumindo de fato, um compromisso político-social que construa formas dignas de vivência para todos.

E o planejamento assim pensado e praticado assume sua função humanizadora, isto é, permite que todos envolvidos nesse processo ao educar-se (professor/alunos) apropriem-se de instrumentos para participar na sociedade de forma reflexiva e não apática, assumindo o verdadeiro compromisso com a mudança social (VASCONCELLOS, 1995).