1. COLONIZAÇÃO DAS RIBEIRAS DO COROATÁ (MACHADO) E FORTUNA

Antes da colonização da região conhecida como Várzea Alegre, ocorreram as Entradas, expedições de desbravamento territorial, empreendidas na época do Brasil Colônia entre os séculos XVII e XVIII. Essas entradas feitas por membros da sociedade civil brasileira, militares e religiosas ao vale do Jaguaribe-Mirim ou rio Salgado (Boqueirão de Lavras), teve início do século XVII, expandindo-se também, em direção as Minas de São José dos Cariris Novos (atual município de Missão Velha) (WIKIPÉDIA, 2020), aos riachos Coroatá (Machado) e Fortuna.

Os objetivos dessas expedições visavam principalmente a captura de indígenas e a busca do ouro nas ribanceiras desses rios, porém, a febre por esse metal precioso durou até a metade do século, uma vez que a extração se tornou onerosa às Cortes de Lisboa, que determinaram a sua suspensão, em 1758 (WIKIPÉDIA, 2020).

A colonização da região só foi possível com a doação de sesmarias, o que permitiu o surgimento de lugarejos e vilas.  Em 23 de fevereiro de 1718, o Capitão Agostinho Duarte Pinheiro e seu irmão o Alferes Bernardo Duarte Pinheiro recebera uma sesmaria às margens do Riacho Coroatá (Machado) com extensão de nove léguas, com uma légua para cada lado do riacho.

Dois anos depois, acompanhados de familiares os irmãos portugueses resolveram fazer uma excursão a propriedade. Quando chegaram ao local onde existia uma lagoa, toda circundada por floresta virgem, ficaram a contemplar aquela paisagem maravilhosa escutando o cantar de pássaros que voavam nos galhos de árvores frondosas. Admirados com aquele magnífico panorama um dos componentes proferiu essa concisa e significativa frase: "mas que Várzea Alegre"! Sendo sugerida a escolha do nome da fazenda. Tempo depois, o Capitão Agostinho, abalado por problemas familiares, resolveu doar sua parte na propriedade aos seus filhos e retornou a Portugal, enquanto o seu irmão Bernardo fixou residência definitivamente em Várzea Alegre, onde construiu sua casa no sítio Lagoas (MORAIS & COSTA, 1995).

O sesmeiro Alferes Bernardo Duarte Pinheiro recebeu três concessões: uma no rio Salgado, Coroatá (riacho Machado) em 1717; uma na lagoa Cariuzinho, ribeira do Riacho do Saco (atualmente município de Cedro) em 1717; e uma no riacho da Caiçara, afluente do riacho das Bravas (atualmente município de Cariús) em 1723 (SILB, 2020).

"O escrivão, Manuel Coelho de Lemos, informou ao capitão-mor, Manuel da Fonseca Jaime[[1]], em 23 de fevereiro de 1717, que as terras solicitadas pelos suplicantes, Agostinho Duarte Pinheiro, Vasco da Cunha Pereira e Bernardo Duarte Pinheiro, não haviam sido doadas anteriormente, exceto se por outro nome, portanto poderiam ser doadas" (SILB, 2020).

Com o estabelecimento definitivo do Alferes Bernardo Duarte Pinheiro, no sitio Lagoa, novas pessoas foram sendo agregadas a sua família, dando assim origem a maioria das famílias do atual município de Várzea Alegre e grande parte de Lavras da Mangabeira.

2. FAMÍLIA BERNARDO DUARTE PINHEIRO E SEU ENTRELAÇAMENTO COM A FAMILIA FERREIRA LIMA

 Bernardo Duarte Pinheiro, (álibi) Bernardo Duarte Pinheiro Passos, nasceu em 1700 na freguesia de Santa Eulália, concelho de Paços de Ferreira, distrito do Porto, Portugal. Chegou ao Brasil ainda muito jovem, acompanhado de um amigo conhecido com tenente coronel Vasco Pereira da Cunha. Posteriormente, fixou residência definitiva em Várzea Alegre, onde construiu sua casa no sítio Lagoas.

Bernardo Duarte Pinheiro Passos, da sesmaria Coroatá (riacho Machado), casou-se 1733 com Ana Maria Bezerraesta nascida em Santo Antão da Mata ou Tracunhaém, Pernambuco, filha de Antônio Bezerra do Vale e de Maria Álvares de Medeiros e desse enlace matrimonial nasceram 11 filhos: Maria Manoela de Medeiros (nasceu em 1734), Joana Maria dos Anjos (nasceu em. 1735), Luíza Pereira de Lira (nasceu em 1744), Tomaz Duarte de Aquino (nasceu em 1743), José Bezerra da Costa, Francisco Duarte Bezerra, Bernarda Duarte Pinheiro, Valentina Duarte Bezerra, Clara Teresa de Jesus Duarte, Inocência Duarte Pinheiro, Isabel Álvares de Medeiros (FAMÍLIAS CEARENSES, 2020).

Bernardo Duarte faleceu em 20 de novembro de 1768, na fazenda das Lagoas, ribeira do riacho do Machado, Várzea Alegre, Ceará.  Em 23 de novembro de 1768 foi rezada missa na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Expectação do Icó, esmolado por sua mulher, Ana Maria, em intenção de sua alma.

A ligação entre a Família Duarte Pinheiro e Ferreira Lima foi celebrada através do enlace matrimonial, entre o Tenente Francisco Ferreira Lima e Joana Maria dos Anjos, filha do alferes Bernardo Duarte Pinheiro. O Tenente Francisco Ferreira Lima, também, conhecido com Francisco Ferreira Rios nasceu em 1730 em Barcelos, Santa Maria Maior, Braga, Portugal. Francisco Ferreira Rios chegou ao Brasil, ainda muito jovem,  acompanhado de seus pais, Bento Ferreira Lima e Maria Ferreira Gomes Paes, estabelecendo-se na Fazenda São CosmeFreguesia do IcóCeará. como morador da capitania do Ceara.

Francisco Ferreira Lima (Rios), casou-se com Joana Maria dos Anjos (Duarte Pinheiro) em 22 de abril de 1754 no Sítio Lagoa, Várzea Alegre, Ceará, então Freguesia de Nossa Senhora da Expectação do Icó e desse enlace matrimonial tiveram três filhos: Francisco Ferreira Lima (nascido em 1755), João Ferreira Lima (nascido em 1755) e José Ferreira Lima (nascido em 1766).

Joana Maria dos Anjos esposa de Francisco Ferreira Lima (Rios), nasceu 1735, na Freguesia de Icó, atual Várzea Alegre e foi batizada no dia 12 de janeiro de 1735, não informado local, tendo como padrinho Inácio Dias Quaresma. Joana Maria dos Anjos era filha do capitão Bernardo Duarte Pinheiro e Ana Maria Bezerraesta, natural de Santo Antão da Mata ou Tracunhaém, Pernambuco.

Para facilitar o entendimento desse texto é necessário, colocar em ordem cronológica, os descendentes do Tenente Francisco Ferreira Lima e de Joana Maria dos Anjos, enfatizando os nomes dos chefes de família que deram origem aos Ferreira Lima da Fazenda Monte Alegre e Vacaria: Francisco Ferreira Lima, João Ferreira Lima, Raimundo Ferreira Lima, Martins Ferreira Lima, Aniceto Ferreira Lima e Antonio Ferreira Lima (Antonio de Anicete da Vacaria, Várzea Alegre, CE), abrangendo um período que vai desde o nascimento de Francisco Ferreira Lima, 1730 em Portugal, até a morte de Antonio Ferreira Lima na cidade de Crato em 2010, compreendendo assim um período de 280 anos.

Nesse texto será tratado apenas sobre a ocupação da sesmaria Monte Alegre por João Ferreira Lima, a partir da última década do século XVIII. Os dados da genealogia da família Ferreira Lima estão disponíveis na base de dados dos sites, Rodovid PT e no Family Search[[2]].

João Ferreira Lima, alcunha Zé Ferreira, filho do tenente Francisco Ferreira Lima (Rios) nasceu em 1766 na Freguesia de Icó, Ceará, filho Francisco Ferreira Lima (Rios) e de Joana Maria dos Anjos (Duarte Pinheiro), portanto, neto de Bernardo Duarte Pinheiro, morador mais antigo do Sitio Lagoa (Alagoas) e o pioneiro da sesmaria da beira do rio Machado, denominada por ele de Várzea Alegre até o dia de hoje.

João Ferreira Lima, alcunha de José, filho de Francisco Ferreira Lima, casou-se com Joana Joaquina de Mendonça (Joana Batista de Mendonça) no dia 4 de dezembro 1791, desse enlace nasceram Maria Magdalena (Ferreira Lima, em 1791), Joaquim Ferreira Lima (em 1792), Ana Ferreira Lima, quando a família ainda morava na fazenda São Cosme, Freguesia de Icó, Ceará. Os registros indicam que Ana Ferreira Lima, nasceu em 9 outubro 1795 na fazenda São Cosme, tendo como padrinhos de batismo José Duarte Passos e Joana Maria.

Joaquim Ferreira Lima, filho de João Ferreira Lima foi batizado no dia 4 de dezembro 1791 na Fazenda São Cosme, Freguesia de Icó, Ceará. Maria Magdalena Ferreira Lima, casou-se com José Duarte Passos na capela de São Vicente das Lavras (Lavras de Mangabeira, Ceará em 27 de janeiro de 1807). Ana Ferreira Lima foi batizada no dia 9 de outubro de 1795, na Fazenda São Cosme, tendo com padrinhos José Duarte Passos e Joana Maria.

Provavelmente no ano de 1796 a família fez a sua mudança para a Fazenda Monte Alegre, Várzea Alegre, Ceará, pois, os avós maternos de João Ferreira Lima eram Bernardo Duarte Pinheiro e Ana Maria Bezerra, os primeiros colonizadores portugueses da ribeira do riacho Coroatá (Machado), onde estabelecerem residência em Várzea Alegre. A sesmaria Monte Alegre foi comprada ou arrematada de algum sesmeiro por João Ferreira Lima, através da intermediação de seus tios: Tomaz Duarte de Aquino, José Bezerra da Costa e Francisco Duarte Bezerra, residentes no sito Lagoa em Várzea Alegre.
Já residindo na fazenda Monte Alegre, o casal foi agraciado com mais dois filhos, Antonio Ferreira Lima nascido (aproximadamente em 1799) e Raimundo Ferreira Lima (aproximadamente em 1801), os registros não foram encontrados, mas, talvez estejam disponíveis na Freguesia de São Mateus dos Inhamuns (Jucás, Ceará).
Joana Joaquina de Mendonça (Joana Batista de Mendonça), esposa de João Ferreira Lima era descendente do casal Dr. Vitorino Pinto da Costa Mendonça e de Teresa Bernarda Costa Lima. O Doutor Vitorino Pinto da Costa Mendonça foi o 40 Ouvidor da capitania do Ceará[[3]], cuja autonomia de Pernambuco só foi alcançada apenas no fim do século XVIII, pela Carta-régia de 17 de janeiro de 1799. Ele participou da criação da terceira vila da Capitania do Siará, a vila de Icó.
Os registros históricos relatam que "os moradores da Ribeira do Icó solicitaram a criação da vila que foi apoiada pelo desembargador Marques Cardoso, a criação da vila foi resolvida pela Ordem régia de 17 de outubro de 1735, em consulta do Conselho Ultramarino, mandada pôr em prática por Provisão de 20 de outubro de 1736, expedida ao Governador e Capitão-General de Pernambuco, sendo a instalação em 4 de maio de 1738, pelo 4º Ouvidor do Ceará Vitorino Pinto da Costa Mendonça, com o nome de Arraial da Ribeira dos Icós" (GIRÃO e MARTINS FILHO, 2008)
Todos esses fatos históricos indicam que João Ferreira Lima, goza de prestigio político junto a governança da região, tanto em Várzea Alegre, quanto em Icó. As terras adquiridas por João Ferreira extremavam a leste com as referidas datas cedidas aos irmãos portugueses Capitão Agostinho Duarte Pinheiro e ao Alferes Bernardo Duarte Pinheiro, tendo como referência de divisa, o ponto mais alto da serra da Vaca Morta.

3. OCUPAÇÃO DA RIBEIRA DO RIACHO FORTUNA A OESTE DE VÁRZEA ALEGRE

A ribeira do riacho Fortuna já era visitada desde início do Século XVII, quando os explorados portugueses encontraram ouro que brotava dos seus cascalhos e barrancos, porém, a febre por esse metal precioso durou até a metade do século, uma vez que a extração se tornou onerosa às Cortes de Lisboa, que determinaram a sua suspensão, em 1758 (WIKIPÉDIA, 2020). Talvez por esse motivo, alguns sesmeiros tenham desistido de sua ocupação, ou procurado terras mais férteis no vale do Cariri ou na ribeira do rio Cariús, mais favoráveis ao pastoreio e com água mais abundante. Provavelmente, foi este o caso da sesmaria Monte Alegre, banhada pelos riachos Fortuna e dos Porcos caititus, vendida Ao Sr. João Ferreira, um destemido desbravador que estava pronto a enfrentar todos os desafios do sertão, não muito distante de uma bela lagoa conhecida como Várzea Alegre.

O povoamento na ribeira do Salgado, Coroatá e Fortuna no centro sul do Ceará, não foi um processo pacifico, pois, havia muita resistência dos índios da região havendo consequentemente, muitos recuos e desistências, pois muitos sesmeiros não conseguiam efetuar a sua posse.

Segundo Pompeu Sobrinho (1956), "essa ocupação nem sempre se fazia continuamente, mas com saltos mais ou menos grandes e lacunas, deixadas pelos sesmeiros que não conseguiam tomar posse das suas concessões, o que não era raro. Tal circunstância deu lugar à convergência de novos povoadores para o vale Jaguaribe, vindos ordinariamente do Rio Grande do Norte ou já do litoral cearense, raros da Paraíba e Pernambuco". Portanto, conclui-se que não foi difícil para João Ferreira Lima, adquirir a sesmaria Monte Alegre, devido a constantes desistências de sesmeiros motivadas pelas dificuldades de ocupação das ermas terras do agreste, povoadas por animais selvagens e silvícolas nativos, prontos a resistirem aos invasores brancos.

Somente depois de 1714, os colonos alcançaram melhor firmeza na posse das suas terras na ribeira do Salgado e conquista de terras no vale do Cariri, "graças, especialmente, à ação evangelizadora de dedicados missionários. Muito pouco, até então, se tinha logrado no sentido do povoamento" (POMPEU SOBRINHO, 1956).

4. POSSE E ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NA FAZENDA MONTE ALEGRE

A sesmaria Monte Alegre foi ocupada definitivamente na última década do século XVII, quando houve a mudança da família de Sr. João Ferreira Lima da fazenda São Cosme, Freguesia de Icó para Várzea Alegre.

Na ocupação dessa sesmaria, Sr. João Ferreira Lima, trouxe consigo seus animais de criação e de estimação, tais com: gado, ovelhas, cabras, cavalos, asnos, aves e cães. Durante a viagem que durava em média uma semana, a família sempre vinha acompanhada de outros familiares, de seus escravos e de um grupo de homens armados a fim de garantir a segurança, até o local de destino. 
Ainda, segundo o depoimento de Antonio Ferreira, a propriedade do Cipó ou Riacho da Ursa, atualmente Monte Alegre, tinha uma extensão de mais de uma légua e meia (1 légua = 6,0 a 7, 0 km) por uma légua e meia de mata virgem. As dimensões dessa sesmaria compreendiam os sítios Monte Alegre, Cajazeiras, Recanto, Gangorra, Baraúna, Pau D'Arco, Salão, Queimadas, Moça, Malhada Grande e a Vacaria, ou seja, as terras que fazem parte atualmente da bacia do Riacho Fortuna, desde do sitio Oitis, a oeste, até os limites da Cachoeira dos Dantas, a leste do município de Várzea Alegre.
Naquelas matas nativas se encontravam todo tipo de abelhas nativas que faziam suas colmeias nos troncos de árvores, cupinzais e no solo. Em cada roçado feito anualmente era necessário levar potes de barro, cabaças e cuias de porango para armazenar os deliciosos favos de mel, extraídos de vários tipos de abelhas meliponídeas, tais como:  Jandaíra (Melipona subnitida), Mandaçaia (Melipona mandacaia), Jataí (Tetragonisca angustula), Moça branca (Frieseomelitta  tricocerata), Mané-de-abreu (Frieseomelitta doederleini), arapuá (Trigona spinipes), Cupira (Partamona cupira), Sanhro (Trigona silvestriana), mosquito verdadeiro (Tetragonisca angustula), e ainda, o enxu-verdadeiro (Brachygastra lecheguana) e o vespideo Capuchu (Myschocyttarus ater).
A cera retirada da abelha arapuá era utilizada para fazer um tipo de murrão, parecido com uma vela com pavio de algodão, dessa maneira a maioria das casas eram iluminadas durante a noite, naquele vazio silencioso do sertão, às vezes, rompido subitamente pelo rosnar dos guarás, onças e pelo ladrar frenético dos cães nos terreiros da fazenda.

As matas ainda nativas eram repletas de aves silvestres, zabelês, canários, sericóias (saracura-três-potes), graúnas, rouxinóis, xexéus, papagaios, jandaias (de pescoço amarelo), maracanãs, sabacus, periquitos, joões-de-barro, asa-brancas, arribaçãs, tucanos de bico vermelho, seriemas, jacus e zabelês, no dizer do homem do sertão: 'eram tantas que faziam nuvem'. Era impossível distinguir no amanhecer festivo do sertão, os diferentes sons emitidos pela passarada, dentre silvos, gorjeios, arrulhos, o carcarejar de galos ainda empoleirados e o ladrar cães nos terreiros do casarão da fazenda.

Tinha, também, o urubu-rei e até a mãe da lua! A mãe da lua era uma ave conhecida, também, como urutau na língua do tupi, parecia com um fantasma, cujo canto agoureiro nas noites claras de lua cheia, metia medo no caboclo. Ela se punha em cima da cabeça de uma estaca, onde botava ovos e ali mesmo chocava. Tinha uma espécie de camuflagem para confundia os predadores, a sua cor era semelhante a ponta de um pau seco ou de uma estaca[[4]].

Os animais mais encontrados no sertão de Monte Alegre eram os veados, guaxinins, guarás, onças pardas, vermelhas e pintadas, tatus, pebas, cassacos, tamanduás, caititus, furões, gatos-do-mato, veados, mocós, punarés e vários tipos de répteis cascavéis, corais, jararacas, cobras de veado, salamantas, teus e camaleões. Porcos do mato eram tantos, às margens dos riachos que um dos afluentes do Fortuna ficou conhecido com riacho dos Porcos.

José Ferreira Lima teve uma vida pacata e sossegada no sítio Monte Alegre dedicou-se a agricultura, sendo a sua principal atividade a criação extensiva de gado em pastagem nativa, onde o capim mimoso crescia abundantemente nas áreas de mata de vegetação menos densa. Além das culturas de subsistência, plantavam ainda o algodão que era muito utilizado na tecelagem doméstica e na confecção de redes e roupas. Outras atividades complementares foram desenvolvidas por esse pioneiro, destacando-se o plantio de cana-de-açúcar para produção de melaço, rapadura e alfenim, muito utilizados na alimentação, principalmente da mão de obra escrava. Ao redor da casa de farinha nas Cajazeiras, se reuniam aos sábados, os filhos, os escravos e os amigos, onde se prepara o beiju de tapioca com farinha fresca de aipim, enquanto era abatido algum boi cevado.

Depois de residir alguns anos na fazenda Monte Alegre, Antonio Ferreira Lima, filho de José Ferreira Lima, adquiriu uma propriedade no sítio chamado São Romão, Freguesia de Nossa Senhora da Expectação do Icó, para onde se mudou com a sua família, mantendo sempre contatos com o seu irmão Raimundo Ferreira Lima, morador que sucedeu as atividades do pai na fazenda Monte Alegre.

É importante salientar que grande parte da família portuguesa Ferreira Lima que chegou ao vale do Salgado e do Jaguaribe se estabeleceu em várias localidades dos municípios de Icó, Orós, Iguatu, principalmente nas seguintes fazendas: Tatajuba, Poço da Pedra, Canto, São Caetano, Sítio Jardim e São Romão. Na fazenda São Romão e Tatajuba os Ferreira Lima se entrelaçaram matrimonialmente com a família Rufino Lima, cujo morador mais conhecido foi Antonio Rufino de Lima, casado com Ana Carolina de Lima, filho de Francisco Rufino de Lima (Ferreira Lima) e Luiza Maria Rufino de Lima que migrou para Várzea Alegre na segunda metade do século XIX. Antonio Rufino de Lima foi em 1888, o morador mais conhecido das Guaribas, município de Várzea Alegre, Ceará (RODOVID, 2020).

Além das atividades agropastoris o Sr. João Ferreira, exercia influência política na região, pois, seus pais e avós eram militares da coorte portuguesa sediada na capitania de Pernambuco, facilitando assim a obtenção de títulos de nobreza que eram concedidos facilmente, especialmente, após a chegada da Família Real ao Brasil. Portanto, exerceu junto o cargo de Capitão Ajudante uma espécie de 'xerife' da região, tendo a sua disposição um grupo de homens armados, com objetivo garantir a posse das terras e dirimir conflitos locais, inclusive com os silvícolas insurgentes.  

Esses títulos de 'xerife' eram comprados pelos mais abastados, conferindo-lhes poderes policialesco regional, dando origem ao coronelismo, que até hoje, mantem a estrutura de poder político no Nordeste brasileiro. A partir de 1808 com chegada da Família Real, o Brasil passou por muitas transformações, saindo da posição de uma simples colônia e se tornando uma grande nação unificada através de D. João VI.

Dom João VI ao chegar ao Brasil trouxe toda sua máquina burocrática e precisava manter a ostentação e o conforto que lhe era peculiar em Lisboa, portanto, era necessário conquistar os súditos, manter apoio político, aumentar as receitas, para isso não teve parcimônia na distribuição de títulos de nobreza, cartas de sesmarias, cargos na máquina burocrática e outras mercês para os ricos nativos, principalmente os poderosos comerciantes residentes no Rio de Janeiro, mas também de São Paulo e Minas Gerais e em outras províncias brasileiras (JORNAL DO COMÉRCIO, 2008).

5. DESCENDENTES DE JOSÉ FERREIRA LIMA

São filhos de José Ferreira Lima e Joana Joaquina de Mendonça: Maria Magdalena Ferreira Lima, Joaquim Ferreira Lima, Ana Ferreira Lima, Antonio Ferreira Lima e Raimundo Ferreira Lima. Raimundo Ferreira viveu 96 anos em Monte Alegre, dando continuidade aos empreendimentos de seu pai João Ferreira, após a sua morte em 1845 (Tabela 1).

Tabela 1. Descendentes do Tenente Francisco Ferreira Lima nascido Barcelos, Santa Maria Maior, Braga, Portugal.

8ª Geração

7ª Geração

6ª Geração

5ª Geração

Ten. Francisco Ferreira Lima (Ferreira Rios) x Joana Maria dos Anjos (Duarte Pinheiro)

João Ferreira Lima (cognome Jose) x Joana Joaquina de Mendonça

Cap. Raimundo Ferreira Lima x

Joana Batista Ferreira

Martin Ferreira Lima X Carolina Ferreira Lima

De 1730 a 1805

De 1772 a 1841

De 1801 a 1897

(a) De 1833 a 1929

LN. Barcelos (Santa Maria Maior), Braga, Portugal

L.N. Fazenda São Cosme, Freguesia de Icó, Ceará

LN. Monte Alegre, Várzea Alegre, CE 

(b) LN. Monte Alegre, Várzea Alegre, CE 

Sobrenomes constituintes da família "Ferreira Lima" através de entrelaçamentos familiares: Simões, Colaça (Colassa), Martins, Rodrigues, Barbosa, Calado, Lima, Ferreira, Gomes, Paes, Moreira, Rios, Duarte, Pinheiro, Costa, Mendonça, Pereira, Rodrigues. Obs. Judeus perseguidos e listados na Torre de Tombo [[5]].

 (a) Datas de nascimento e falecimento dos chefes de cada família; (b) Local de nascimento.

Fonte: RODOVID, 2020 e FamilySearch (software de genealogia).  Adaptado por Lima, A.A. 2020.

A história de Raimundo Ferreira Lima será abordada no próximo capitulo, os seus descendentes diretos nascidos em monte Alegre foram: Lourenço Ferreira Lima, Vitalina Ferreira Lima, Martins Ferreira Lima, Sr. Ferreira Lima e Antônia Ferreira Lima.  Martins Ferreira Lima permaneceu em Monte Alegre durante todos os dias de sua vida, seus filhos foram: Aniceto Ferreira Lima, Manoel Martins de Lima, Antonio Martins de Lima, Francisco Martins de Lima, Ingraça Martins de Lima, Joaquim Martins de Lima, José Martins de Lima, Juliana Ferreira Lima, Manoel Martins de Lima, Petronílio Martins de Lima, Raimundo Martins de Lima (FAMILY SEARCH, 2020).

 

6. REFERÊNCIAS

FAMÍLIAS CEARENCES. Genealogia das famílias cearenses. Disponível em: <http://www.familiascearenses.com.br/>. Acessado em:  de junho de 2020.

FAMILY SEARCH. Disponível em: <https://www.familysearch.org/pt/>. Acessado em: 4 de junho de 2020.

GIRÃO, R.; MARTINS FILHO, A. O Ceará. Fortaleza, Ceara: Editora Fortaleza, 1ª Ed, 1939. 208 p.

JORNAL DO COMÉRCIO. 200 ANOS - A Corte nos trópicos -
Ausente há 13 anos, dom João VI volta para Lisboa sob pressão e deixa um Brasil com sede de liberdade. 21/01/2008. Disponível em: <http://jc3.uol.com.br/jornal/2008/01/22/not_266939.php>. Acessado em: 4 de junho de 2020.

MORAIS, P. A de; COSTA. A. L. Sete Gerações de Papai Raimundo. Fortaleza, CE: Gráfica Universitária, 1995.

SILB. Sesmarias do Império Luso-Brasileiro. PLATAFORMA, CNPq. . Acesso em: 2 de junho 2020.

POMPEU SOBRINHO, T. H. Povoamento do Cariri. Revista Cearense Da Academia Cearense de Letras 1956. . Acesso em: 2 de junho 2020.

RODOVID. Árvore Genealógica em idioma português. Disponível em: https://pt.rodovid.org/wk/P%C3%A1gina_principal. Acesso em: 5 de junho de 2020.

WIKIPÉDIA. Lavras da Mangabeira. Disponível em: . Acesso em: 2 de junho 2020.

Trechos de Meu Sertão, Minha Gente e Minha Vida

Antonio Anicete de Lima

Relatos de Antonio Ferreira Lima ('in memoriam')

Porto Velho, 6 de junho de 2020.

[[1]] Capitão-Mor Manoel da Fonseca Jaime, governou a Capitania do Ceará de 1713 a 1716, época em que Aquiraz era sede do governo. No centro de Aquiraz, está situada a casa do Capitão Mor é a mais antiga construção da cidade. A edificação, conhecida como Casa Capitão Mor é na verdade, a Casa dos Ouvidores, construída há cerca de 300 anos. Foi a residência da maior autoridade da capitania durante o século XVIII. Prefeitura Municipal de Aquiraz. Casa Capitão-Mor. Disponível em: . Acessado em: 4 de junho de 2020.

[[2]] Disponível em: ; . Acesso em: 5 de junho de 2020.

[[3]] Ouvidor (do latim audītor, ōris, 'aquele que ouve, auditor') era a designação dos magistrados que superintendiam na justiça das terras senhoriais, em Portugal. As suas funções eram semelhantes às dos corregedores nas terras diretamente dependentes da Coroa. As terras sujeitas a corregedores eram chamadas "comarcas" ou "correições" e as sujeitas a ouvidores eram chamadas "ouvidorias".

[[4]] A ave mãe-da-lua possui uma adaptação única em aves, chamada de "olho mágico". São duas fendas na pálpebra superior, as quais permitem que fique imóvel por longos períodos, observando os arredores, mesmo de olhos fechados. O mãe-da-lua é uma ave da ordem Nyctibiiformes da família Nyctibiidae. Wikiaves. Disponível em: <https://www.wikiaves.com.br/wiki/mae-da-lua>.

[[5]]Sobrenomes de judeus perseguidos na inquisição listados pela “Torre do Tombo”. Revista Virtual, Herança Judaica, 27 de dezembro de 2013. Título original: Family names from the inquisition archives of portugal “Torre Do Tombo”. Disponível em: https://herancajudaica.wordpress.com/2013/12/27/sobrenomes-de-judeus-perseguidos-na-inquisicao-listados-pela-torre-do-tombo/. Acesso em: 27 de maio de 2020.