Resumo: Sai em busca  de uma definição de brega a partir de uma definição de cult, e acaba encontrando uma definição de brega digital.

 

O pinguim na geladeira

 

Por acaso percebi que a partir da definição de cult abre-se a possibilidade de encaminhar uma definição de brega.   

Isso naturalmente depois de perceber o parentesco genérico das duas definições. Tanto uma quanto outra apontam para “tipos de conduta humana regulares e regulados”, que se podem envelopar sob  o rótulo de cultura.   Paralelamente, sempre alimentei a vontade de conhecer um pouco mais de perto esse modo de ser chamado brega, isto é, de torná-lo um pouco mais inteligível.

Sob o verbete brega o nosso Aurélio limita-se a apresentar dois possíveis sinônimos – deselegante e cafona – e na maior cara de pau dá a entender tautologicamente que brega é uma pessoa brega

A definição de cult o nosso Aurélio não disponibiliza. Por isso foi preciso apanhá-la no exterior, mais precisamente no Oxford Dctionary, que traduzido com a ajuda do Google reza o seguinte:

Cult - [geralmente como adjetivo] diz-se de uma pessoa ou coisa que é popular ou da moda, especialmente no âmbito de uma seção específica da sociedade.

Para testar o parentesco genérico das duas formas culturais saquei o termo cult da definição oxfordiana e preenchi a vaga colocando ali o termo brega. Ficou assim:

 Brega - [geralmente como adjetivo] diz-se de uma pessoa ou coisa que é popular ou da moda, especialmente no âmbito de uma seção específica da sociedade.

Então eu vi que se tratava de uma definição genérica a qual, por isso mesmo,   cobria duas realidades distintas, sem efetivamente chegar à origem cultural de nenhuma delas.

Para atingir as origens  será indispensável abrir a definição, decompor o que nela há de genérico.

De genérico decomponível só vejo na definição oxfordiana o conceito de sociedade.

Decomposta a sociedade, aí sim,  chega-se ao indivíduo, chega-se  à origem dos tipos de conduta humana regulares e regulados, chega-se à raiz do fenômeno cultural.

Se o fenômeno cultural que se procura entender chama-se brega, nada mais apropriado do que visitar a pessoa que pela primeira vez tomou a atitude de colocar sobre a geladeira um pinguim de porcelana. Da auscultação metódica dessa atitude – considerada clássica - poderá surdir a essência cognoscitiva da cultura brega.

Não farei isso agora. O texto já vai crescendo muito.  Contudo, posso adiantar o meu voto de simpatia pela tentativa de simbolizar na figura do pinguim  a relação de frialdade entre a geladeira e o polo sul. O brega é isso, é descobrir no banal a dignidade que a banalidade tem. É, enfim, a cultura que se expande exponencialmente entre os derivados da tecnologia moderna, à qual eu daria o nome de brega digital.

Sem embargo, não serei eu quem lhe atirará a primeira pedra.